domingo, 25 de agosto de 2013

Id, Ego e superego - Psicanálise de Freud



Nos primeiros trabalhos, Freud sugeria a divisão da vida mental em duas partes: consciente e inconsciente. A porção consciente, assim como a parte visível do iceberg, seria pequena e insignificante, preservando apenas uma visão superficial de toda a personalidade. A imensa e poderosa porção inconsciente - assim como a parte submersa do iceberg - conteria os instintos, ou seja, as forças propulsoras de todo comportamento humano.
    Nos trabalhos posteriores, Freud reavaliou essa distinção simples entre o consciente e o inconsciente e propôs os conceitos de *Id, **Ego e ***Superego. O "ID", grosso modo, correspondente à sua noção inicial de inconsciente, seria a parte mais primitiva e menos acessível da personalidade. Freud afirmou: "Nós chamamos de (...) um caldeirão cheio de axcitações fervescentes. [O id] desconhece o julgamento de valores, o bem e o mal, a moralidade" (Freud, 1933, p. 74). As forças do id buscam a satisfação imediata sem tomar conhecimento das circunstâncias da realidade. Funcionam de acordo com o princípio do prazer, preocupadas em reduzir a tensão mediante a busca do prazer e evitando a dor. A palavra em alemão usada por Freud para id era es, que queria dizer "isso", termo sugerido pelo psicanalista Georg Grddeck, que enviara a Freud o manuscrito do seu livro intitulado The book of it (Isbister, 1985).

    O id contém a nossa energia psíquica básica, ou a libido, e se expressa por meio da redução de tensão. Assim, agimos na tentativa de reduzir essa tensão a um nível mais tolerável. Para satisfazer às necessidades e manter um nìvel confortável de tensão, é necessário interagir com o mundo real. Por exemplo: as pessoas famintas devem ir em busca de comida, caso queiram descarregar a tensão induzida pela fome. Portanto, é necessário estabelecer alguma espécie de ligação adequada entre as demandas do id e a realidade.
      O ego serve como mediador, um facilitador da interação entre o id e as circunstâncias do mundo externo. O ego representa a razão ou a racionalidade, ao contrário da paixão insistente e irracional do id. Freud chamava o ego de ich, traduzido para o inglês como  "I"  (Eu"  em português). Ele não gostava da palavra ego e raramente a usava. Enquanto o id anseia cegamente e ignora a realidade, o ego tem consciência da realidade, manipula-a e, dessa forma, regula o id. O ego obedece ao princípio da realidade, refreando as demandas em busca do prazer até encontrar o objeto apropriado para satisfazer a necessidade e reduzir a tensão. 
    O ego não existe sem o id; ao contrário, o ego extrai sua força do id. O ego existe para ajudar o id e está constantemente lutando para satisfazer os instintos do id. Freud comparava a interação entre o ego e o id com o cavaleiro montando um cavalo fornece energia para mover o cavaleiro pela trilha, mas a força do animal deve ser conduzida ou refreada com as  rédeas, senão acaba derrotando o ego racional.
      A terceira parte da estrutura da personalidade definida por Freud,o superego,desenvolve-se desde o inicio da vida,quando a criança assimila as regras de comportamento ensinadas pelos pais ou responsáveis mediante o sistema de recompensas e punições. O comportamento inadequado  sujeito à punição torna-se parte da consciência da criança, uma porção do superego. O comportamento aceitável para os pais ou para o grupo social e que proporcione a recompensa torna-se parte do ego-ideal, a outra porção do superego. O comportamento aceitável para os pais ou para o grupo social e que proporcione a recompensa torna-se parte do ego- ideal, a outra porção do superego. Dessa forma, o comportamento é determinado inicialmente pelas ações dos pais; no entanto, uma vez formado o superego, o comportamento é determinado pelo autocontrole. Nesse ponto, a pessoa administra as próprias recompensas ou punições. O termo cunhado por Freud para o superego foi über-ich, que significa literalmente "sobre-eu".
   O superego representa a moralidade. Freud descreveu-o como o "defensor da luta em busca da perfeição - o superego é, resumindo, o máximo assimilado psicologicamente pelo indivíduo do que é considerado o lado superior da vida humana" (Freud, 1933, p. 67). Observe-se então, que, obviamente, o superego estará em conflito com o id. Ao contrário do ego, que tenta adiar a satisfação do id para momentos e lugares mais adequados, o superego tenta inibir a completa satisfação do id.
     Assim Freud imaginava a constante luta dentro da personalidade quando o ego é pressionado pelas forças contrárias insistentes. O ego deve tentar retardar os ímpetos agressivos e sexuais do id, perceber e manipular a realidade para aliviar a tensão resultante, e lidar com a busca do superego pela perfeição. E, quando o ego é pressionado demais, o resultado é a condição definida por Freud como ansiedade.

*Id: fonte de energia psíquica e o aspecto da personalidade relacionado aos instintos.

**Ego: aspecto racional da personalidade responsável pelo controle dos instintos.

***Superego: o aspecto moral da personalidade, produto da internalização dos valores e padrões recebidos dos pais e da sociedade.

Em outras palavras:

ID: Constitui o reservatório de energia psiquica, é onde se localizam as pulsões de vida e de morte. As características atribuídas ao sistema incosciente. É regido pelo princípio do prazer (Psiquê que visa apenas o prazer do indivíduo).
EGO: É o sistema que estabelece o equilíbrio entre as exigências do id, as exigências da realidade e as ordens do superego. A verdadeira personalidade, que decide se acata as decisões do (Id) ou do (Superego).
SUPEREGO: Origina-se com o complexo do Édipo, apartir da internalização das proibições, dos limites e da autoridade. (É algo além do ego que fica sempre te censurando e dizendo: Isso não está certo, não faça aquilo, não faça isso, ou seja, aquela que dói quando prejudicamos alguém, é o nosso "freio".)
Mais Sobre Id, Ego e Superego abaixo:
 
Outros:  

sábado, 24 de agosto de 2013

ENTREVISTA A MILTON SANTOS PROGRAMA PASSANDO A LIMPO, TV RECORD, 2001 VHS




 

Resenha - Por Uma Outra Globalização - Milton Santos 

Por: Jonas Fabiciaki   

 I – Introdução
            Vivemos em um mundo cheio de conflitos provenientes da atual fase da expansão capitalista no globo, varias são as discussões sobre esse processo em que vivenciamos na atualidade. Milton Santos traz nesta obra uma importante visão diferenciada de globalização, a globalização como perversidade, como abandono social tudo em nome de um projeto de reprodução do capital.
            Nesse texto a globalização é apresentada como fábula, como perversidade e como possibilidade – “por uma outra globalização”. O primeiro seria o mundo tal como nos fazem vê-lo: a globalização como fábula, o segundo seria o mundo tal como ele é, e o terceiro, um mundo como ele pode ser. Esse texto tem a função de desenvolver ideias em torno destas perspectivas apontadas por Milton Santos.
A globalização como Fábula - o mundo tal como nos fazem crer
            A globalização como fábula é imposta principalmente pelos meios de comunicação a todos que procura enfatizar o planeta em que vivemos como um amplo espaço e que podemos sim explorá-lo com o consumo. Como a padronização cultural, onde as pessoas são atraídas pelas mesmas coisas, mesmos hábitos, mesmos costumes e que ainda disfrutam de uma mesma rede que nós conhecemos como internet que fez com que nós ficamos presos numa gigante aldeia global, sem ter pra onde ir. Mas ao mesmo tempo nos dá uma importante noção de que o mundo está dentro da nossa casa, o capitalismo nos devorando e nós nem percebemos graças à globalização como fábula.
Um descaso com o estado que aparentemente ficou distanciado das demandas sociais, pois ele o estado precisa se apequenar as grandes corporações que hoje detém o poder sobre o próprio estado. Percebemos que vivemos em um único mundo, um mundo voltado a atender as necessidades das grandes empresas, vivenciamos uma nova tendência mundial de mercado.
O mundo como ele realmente é – a globalização como perversidade
A globalização como uma fabrica de perversidades tais como: fome, desabrigo, AIDS, mortalidade infantil, analfabetismo, enfim gravíssimos problemas sociais, quase sem solução na globalização em que vivemos, infelizmente para a maior parte da humanidade, o desemprego crescente consequentemente a pobreza aumenta e a classe media perdem em qualidade de vida, novas enfermidades se instalam e as velhas doenças retornam com força total. A perversidade está na raiz desta evolução negativa da humanidade e estes processos estão diretamente ligados com a globalização.
           
O mundo como pode ser – uma outra globalização
            Podemos pensar na construção de um outro mundo, uma globalização que volte seus olhares a esses problemas citados, uma globalização que se engaje sistematicamente a todas as pessoas, ou seja, um processo globalizado mais humano. Que em vez de apoiar sempre o grande capital internacional que possam servir a outros interesses sociais e políticos e não apenas econômicos.
           
            Alguns são os fatores que poderiam colaborar pra isso: a miscigenação de povos, culturas, valores, gostos, credos em todos os quatro cantos do globo possibilitaria uma outra globalização, um outro discurso é possível, uma nova visão de mundo, devemos urgentemente reaprender a ver o mundo.
II – A Produção da Globalização
A globalização é o apogeu do mundo capitalista de um processo que conhecemos como internacionalização do mundo globalizado os fatores que levaram a este processo são: a unicidade da técnica, a convergência dos momentos, o conhecimento do planeta e a mais valia globalizada.
As técnicas são oferecidas como um sistema, graças ao avanço da ciência fora produzido um sistema de técnicas da informação, que assim possibilitou um novo sistema de presença em todo o planeta. Globalização é o resultado deste sistema que resulta de ações que asseguram a emergência de um mercado global.
III – Uma Globalização Perversa
            Nestes últimos anos testemunhamos grandes mudanças em todo o planeta terra. Tornamos pessoas que habita em um único mundo nos impondo, infelizmente para a maior parte da população do nosso planeta a globalização perversa, o poder do dinheiro e da informação, vários retrocessos como a noção de bem publico e de solidariedade, perdemos a noção de ajuda mutua, vivenciamos cada vez mais a noção de isolamento social, mas o mundo continua em nossa casa. Enquanto isso os governos agem com descaso com as funções sociais, com o chamado de “enxugamento” da maquina publica, os governos estão cada vez menos atribuições, consequência disso: “aumento da pobreza”.
IV – O Território do Dinheiro e da Fragmentação
            No mundo globalizado tudo ganha novas “caras”, inclusive o espaço, com isso nosso espaço geográfico sofre profundas transformações, novos contornos, novas características, tem novas definições.
           
Nossos territórios tendem cada vez mais se fragmentar em função deste novo processo globalizado, novos espaços são criados tudo em nome do “progresso”, onde tudo entra em confronto direto e indireto, meio ambiente-sociedade e vice versa.
O dinheiro traz consigo um papel importantíssimo nessa dinâmica apresentada, ou seja, é ele que reorganiza essa distribuição no espaço geográfico. Novas perspectivas em favor do capital. Hoje vivemos em um mundo de rápido em que as coisas tendem a fluir de forma instantaneamente, desta forma quem consegue acompanhar ótimo, porém, vivemos uma tendência em que “se correr o bicho pega e se ficar o bicho come”, por isso por outra globalização URGENTE.
V – Limites à Globalização Perversa
            A análise do fenômeno conhecido popularmente como Globalização é o descaso social que ela impõe, com seus aspectos extremamente dominantes para a maior parte da população mundial. Cabe a nós analisar os limites desse processo se continuarmos assim, onde iremos parar?
Podemos afirmar que estamos entrando em um novo período de transição da história, o momento em que vivemos com a globalização parece indicar a emergência de novos valores, novas atitudes, que nos faz crer que estamos produzindo as condições para a realização de uma nova história.
Não aceitamos mais a tantas evidencias factuais deste processo penoso que é a globalização. A velocidade nem sempre colabora com uma distribuição generalizada, são as disparidades no seu mau uso que caracterizam cada vez mais o aumento das desigualdades. O mito em que as novas técnicas contemporâneas pudessem colaborar e melhorar a vida do ser humano na terra desabaram, pois o que se observa realmente é cada vez mais a expansão da pobreza.
VI – A Transição em Marcha
            No mundo atual em que vivemos sentimos a necessidade de transformar as coisas que estão por ai, não ficamos mais calados, com as injurias que acontecem, um processo natural pra sociedade que estamos criando, temos a necessidade de criar algo novo, de viver um novo período, mas estamos num processo lento, pois o que aprendemos é a utilização das técnicas e da ciência pelas formas do capital, apoiados por formas institucionais são de certa forma igual.
            Os indivíduos que estão inseridos nesse processo não são igualmente atingidos por esse fenômeno, pois se encontra muita resistência ainda, pelas características culturais e nas diversidades destes indivíduos em rever como o processo esta inserido nele.
            Diante dos fatos e do que temos sobre nosso mundo atual, acreditamos que as condições estão sendo distribuídas para que nós pudéssemos desempenhar um novo papel nesse contexto. Um novo mundo é possível e outra globalização também. Agora descobrimos o verdadeiro sentido da nossa presença no planeta, podemos dizer que uma nova historia verdadeiramente universal está começando.
            De um ponto de vista mais existencial tudo isso pode obter outro uso e ou outra denominação. Porem a globalização atual pode e deve ser diferente.
VII – Conclusão
            A Mudança ocorrerá em todos os aspectos em todos os níveis, mas o principal responsável por ela ocorrer de verdade, somos nós que estamos diretamente engajados nesse contexto. Pois temos que fazer uma reflexão sobre a essência do capitalismo, pois este é à base da atual fase da Globalização. Pois nenhuma barreira será erguida, nada irá mudar se a reprodução do capital e o lucro continuarem fortes como estão.
O capitalismo jamais na sua história conseguiu reproduzir o capital e o lucro consequentemente sem gerar crises, para tanto é preciso fazer essa relação, precisamos mudar o sistema em vigor e desenvolver uma nova globalização.
É preciso urgentemente avançar no sentido que o ser humano possa atribuir um novo sentido à sua existência no planeta, de uma forma sistemática frear um pouco as tecnologias quanto à ciência e ou as suas técnicas utilizadas, para sim se preocupar um pouco mais na essência do ser humano e seu verdadeiro papel aqui no globo.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Obra de Fernando Pessoa

Arca do Espólio de Fernando Pessoa

A nova mulher e a moral sexual - Alexandra Mikhailovna Kollontai

Aporrea - [Fernando Saldivia Najul, Tradução do Diário Liberdade] Artigo sobre o papel da revolucionária e feminista Alexandra Kollontai na análise do conceito de amor na moral burguesa e na moral proletária.

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Quando Alexandra Kollontai visitou a conhecida fábrica de tecelagem Krengolm que empregava 12.000 operárias e operários, se indignou de tal maneira que escreveu em suas memórias que ela não podia ser feliz se as mulheres e homens eram escravizados dessa forma tão desumana.
Os pais de Alexandra pertenciam à antiga nobreza russa, mas ela não era indiferente ao mundo que a rodeava. Desde muito pequena criticava a injustiça dos adultos. Parecia-lhe uma contradição que a ela lhe dessem tudo e aos outros meninos lhes fossem negadas tantas coisas. Sua crítica foi-se agudizando com os anos e cresceu o sentimento de protesto contra as diferenças que via em seu meio. De maneira que muito cedo adquiriu clara consciência das injustiças sociais, e decidiu lutar de maneira incansável pela libertação da mulher.
Sua conceção marxista do mundo fazia-lhe ver com absoluta clareza que a libertação da mulher só podia ocorrer com a vitória de uma nova ordem social e um sistema econômico diferente. Alexandra Kollontai chegou a se converter em integrante do primeiro Gabinete bolchevique nos anos 1917 e 18, e chegou a ser a primeira mulher a ser nomeada embaixadora. E deixou-nos uma ampla obra literária que inclui uma valiosa análise histórica e materialista do amor.
A camarada Alexandra, uma mulher sexualmente emancipada, fala-nos em seus escritos do "Eros de asas despregadas" e do "amor-camaradagem". Fala-nos de uma nova moral sexual, libertadora e necessária para criar o solidário tecido social. Uma moral que permita às mulheres e aos homens a possibilidade de estabelecerem múltiplos relacionamentos amorosos e sexuais necessários para a construção da nova sociedade que está nascendo.
O ser humano é, ao mesmo tempo que criador, resultado da sociedade em que vive. Portanto, se somos criadores, para construir um mundo melhor é necessário o aparecimento e formação de uma mulher nova e um homem novo, inclusive com uma nova moral sexual. A moral sexual faz parte da superestrutura que se deriva do sistema econômico da sociedade, mas não podemos esperar que se experimente a total transformação da base econômica da sociedade para que tenha lugar a moral sexual da classe trabalhadora. "A experiência da história ensina - afirma Alexandra - que a elaboração da ideologia de um grupo social, e consequentemente da moral sexual também, se realiza durante o processo mesmo da luta deste grupo contra as forças sociais adversas".[1]
Do mesmo modo como a burguesia sabe utilizar suas normas morais para guiar ao amor pela via que melhor sirva os seus interesses de classe, nós devemos ter em conta a importância da emoção amorosa em tanto fator que pode ser utilizado, como qualquer outro fenômeno psíquico social, em benefício da coletividade. O amor supõe um princípio de união valioso para a coletividade. Em todas as etapas de seu desenvolvimento histórico, a humanidade estabeleceu normas que determinam quando e em que condições o amor era considerado "legítimo", isto é, que respondia aos interesses da coletividade do momento, e quando é "culpado", criminoso, isto é, que vai contra os objetivos da sociedade.
Há tempos que o ideal burguês do amor não satisfaz à coletividade, mas a burguesia resiste. Podemos ver como a indústria cultural reforça os afetos no amor de casal a favor de seus interesses econômicos e políticos. Sem dúvida, um amor que mostram romântico, mas que na realidade está subordinado às leis do mercado e aos valores da sociedade capitalista, tais como: consumismo, classismo, racismo, padrões de beleza, etc.
A burguesia reforça os afetos no amor de casal porque lhe serve como mecanismo de divisão e controle da classe trabalhadora, também como mecanismo machista de dominação da mulher, e claro, para afirmar o individualismo liberal. Nosso inimigo de classe sempre lutou para frear o amor coletivo e o fazer retroceder. A ideia limitada de amor que se nos impõe hoje nos meios de comunicação, amor de casal e amor de família, é um amor que dificulta a expansão dos afetos para outras pessoas e inclusive para a natureza.
O amor de casal e da família nos é apresentado como um conceito universal, a-histórico e próprio da natureza humana. Mas não é assim. Conta-nos Alexandra Kollontai, que desde as primeiras etapas de sua existência social, a humanidade começou a regulamentar não só os relacionamentos sexuais, como também os sentimentos amorosos.
No mundo antigo, por exemplo, só se apreciava o sentimento de amizade. Só na amizade se via um conjunto de emoções, de sentimentos suscetíveis de alicerçar as ligações espirituais entre os membros da tribo e de consolidar um organismo social que, então, ainda era débil. Ao contrário, nas etapas ulteriores do desenvolvimento da cultura, a amizade deixou de ser considerada como uma virtude moral. Na sociedade burguesa "que ainda sobrevive", fundada no individualismo, concorrência desenfreada e emulação, não há espaço para a amizade considerada como fator moral.
Nas famílias de artesãos da Idade Média não se tomava em consideração o amor quando se concertava um casal. No sistema artesanal, a família era a unidade produtora, e sua coesão descansava no trabalho, em interesses econômicos e não no amor. O ideal de amor no casal só começa a aparecer na classe burguesa quando a família se transforma pouco a pouco de unidade de produção em unidade de consumo e, ao mesmo tempo, se volta guardiã do capital acumulado. Tudo o que antes se produzia no seio da família, passou a se fabricar em grandes quantidades nas oficinas e nas fábricas. Portanto, a burguesia requeria do ideal do amor para manter a coesão da família e cuidar o capital acumulado.
De modo que toda a moral da burguesia estava baseada nessa vontade de garantir a concentração do capital. Esse ideal era ditado por considerações puramente econômicas: a vontade de impedir a dispersão do capital entre os filhos naturais, e transmitir por linha direta o patrimônio adquirido. Com o utilitarismo que a carateriza, a burguesia se dedicou a tirar proveito também do amor, transformando esse sentimento em fermento de casal, em meio para consolidar a família.
Certamente, o sentimento amoroso não pôde encontrar seu sítio dentro dos limites que lhe atribuiu a ideologia burguesa. Nasceram, reproduziram-se e multiplicaram-se os "conflitos amorosos". O amor saía constantemente dos limites que lhe impunham os relacionamentos conjugais legítimos, para se estender tanto sob a forma de uniões livres como sob a forma de adultério, condenado pela moral burguesa mas realizado na prática.
O ideal burguês do amor não responde às necessidades da classe mais numerosa da população, a classe trabalhadora. Também não corresponde ao modo de vida dos trabalhadores intelectuais. De modo que a humanidade precisa estabelecer relacionamentos entre os sexos para que esses relacionamentos, ao mesmo tempo que aumentem a felicidade, não entrem em contradição com os interesses da coletividade. A humanidade trabalhadora, armada com o método científico do marxismo e com a experiência do passado, tem que reservar um espaço ao ideal de amor que responda aos interesses da classe que luta para estender seu domínio por todo mundo.
Cada época tem seu ideal de amor, a cada classe, em seu próprio interesse, quer introduzir na noção moral do amor seu próprio conteúdo. O conteúdo da noção de amor mudou segundo os graus sucessivos do desenvolvimento da economia e da vida social. Algumas das matizes das emoções que constituem o sentimento do amor se reforçaram, enquanto outros se têm atrofiado.
Na sua forma atual, o amor é um estado psicológico extremamente complexo que desde muito tempo se despreendeu de sua fonte originária "o instinto de reprodução", e inclusive com frequência se acha em clara contradição com ela. O amor é um conglomerado complexo de paixão, amizade, ternura maternal, inclinação amorosa, comunidade de espíritos, piedade, admiração, costume, e outras muito numerosas nuances de sentimentos e emoções. Ante tal complexidade de matizes e do amor mesmo, a cada vez é mais difícil estabelecer um vínculo direto entre a voz da natureza, "Eros sem asas" (atração física dos sexos), e "Eros de asas despregadas (atração carnal misturada com emoções espirituais e morais).
Sob a dominação da ideologia burguesa e do modo e vida capitalista-burguês, o caráter multiforme do amor engendra uma série de dramas psicológicos dolorosos e insolúveis. A moralidade burguesa, com sua família individualista encerrada em si mesma, baseada completamente na propriedade privada, cultivou com esmero a ideia de que um parceiro deveria "possuir" completamente o outro. A ideologia burguesa gravou na cabeça da gente a ideia de que o amor, incluído o amor recíproco, dava o direito de possuir completa e exclusivamente o coração do ser amado.
Ante esta triste realidade, nas Cartas à juventude operária, Alexandra pergunta a ela própria: pode corresponder tal ideal aos interesses da classe operária? Não é, pelo contrário, importante e desejável, do ponto de vista da ideologia proletária, que os sentimentos da gente se voltem mais ricos, mais diversos?
E responde:
"Quanto mais numerosos são os fios tendidos entre as almas, entre os corações e as inteligências, mais solidamente se enraíza o espírito de solidariedade, e mais fácil resulta a realização do ideal da classe operária: a camaradagem e a unidade.
(...) O fato de que o amor seja multiforme não está em contradição com os interesses do proletariado. Ao invés, facilita o triunfo desse ideal de amor nos relacionamentos entre os sexos que já está tomando forma e cristalizando no seio da classe operária. Trata-se precisamente do amor-camaradagem.
A humanidade patriarcal imaginou o amor sob a sua forma de afeto consanguíneo (amor entre irmãos e irmãs, amor pelos pais). A antiga antepunha a tudo, o amor-amizade. O mundo feudal elevava à categoria de ideal ao amor "platónico" do cavalheiro, amor independente do casal e que não levava consigo a satisfação da carne. O ideal de amor da moral burguesa era o amor conjugal, o casal legítimo.
O ideal de amor da classe operária, que se deriva da cooperação no trabalho e da solidariedade de espírito e de vontade dos membros dessa classe, homens e mulheres, se distingue naturalmente, tanto pela forma como pelo conteúdo, das noções de amor próprias de outras épocas culturais.
(...) O amor-camaradagem é o ideal que precisa o proletariado no período cheio de responsabilidades e dificuldades em que luta por estabelecer e afirmar sua ditadura. Mas não há dúvida de que, quando a sociedade comunista seja já uma realidade, o amor, "Eros de asas despregadas", se apresentará baixo uma feição completamente renovada, completamente desconhecido para nós. Nesse momento, os "laços de simpatia" entre todos os membros da sociedade nova, se terão desenvolvido e afirmado, a "capacidade amorosa" será bem mais alta e o amor-solidariedade terá um papel de motor análogo ao da concorrência e do amor-próprio na sociedade burguesa?. [2]
Mais nada que dizer.
Notas
[1] Alexandra Kollontai, Os relacionamentos sexuais e a luta de classes. Marxist Internet Archive.
[2] Alexandra Kollontay, O marxismo e a nova moral sexual: Cartas à juventude operária: Sítio a Eros alado. Editorial Grijalbo, S.A., México, 1977, p. 212 - 215.

Livro Digital

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Mikhail Bakunin versus Karl Marx – Conflito de titãs na Associação Internacional dos Trabalhadores (A.I.T.) – Livro

Escritos-contra-Marx-Mikhail-Bakunin
Experiência histórica dos trabalhadores europeus e a Internacional
O capitalismo industrial necessita para sua reprodução de um crescente mercado mundial que se revelará, ideologicamente dentro do discurso burguês, nos apelos à fraternidade entre os povos. de 1789 à ONU. Ao advogar a paz entre as nações (fundamenta] para o processo de circulação de mercadorias), a burguesia também engendra a centralização política;
o Estado Moderno e a inevitável disputa armada, ou não, entre os mesmos tomam-se paradigmas da evolução histórica. Somem as diferenças nacionais, étnicas e culturais; o capital, para reproduzir-se, necessita da destruição constante daquilo que lhe é diferente.
Junto à crescente centralização estatal e produtiva, o capital organiza, em seu proveito, os escravos modernos. A classe operária desde o seu nascer teve de encarar o internacionalismo do capital Já em 1833, um “Manifesto das classes produtivas da Grâ-Bretanha” dirigido “aos governos e povos da Europa e da América do Norte e do Sul” adotava uma postura internacionalista. No mesmo ano, a questão de uma aliança entre os trabalhadores da Inglaterra, França e Alemanha era discutida na imprensa operária britânica. Não só esta questão era discutida, mas também o foi a supressão do Estado burguês e a sua gestão por uma federação dos produtores (Thompson, pp. 912-913). Na cruz dos combates entre capital e trabalho, uma consciência coletiva e autonomista era gerada pela prática operária.
Ao fundar-se a Associação Internacional dos Trabalhadores em Londres, setembro de 1864, não tínhamos um ato conspiratório de alguns revolucionários ou a criação de mais uma seita entre os trabalhadores, mas sim uma decorrência necessária e datada historicamente da experiência concreta e imaginária dos trabalhadores europeus. Essa vocação internacionalista dos trabalhadores estava entrelaçada com o desenvolvimento de grandes Estados nacionais necessários ao capital. Desde as revoluções de 1848, em que a necessidade de unificação nacional encontrava-se com as reivindicações operárias, houve a percepção de que a luta nacionalista era apenas um estágio no desenvolvimento da autonomia operária.

Filosofia da Miséria de Pierre Joseph Proudhon – Livro

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Sistema das Contradições Econômicas ou Filosofia da Miséria (em francês,Système des contraditions économiques ou Philosophie de la misère) é um livro escrito em 1846 por Pierre-Joseph Proudhon que contém críticas ao sistema econômico. Costuma ser chamado de Contradições ou de Filosofia da Miséria e é composto por dois tomos.
A Miséria da filosofia, a resposta à Filosofia da Miséria de Proudhon, é um livro escrito em 1847 por Karl Marx e publicado em Paris e Bruxelas. Nele Marx critica a Economia e Filosofia de Pierre-Joseph Proudhon fazendo uma ironia com o subtítulo da obra do adversário. É um trabalho pequeno de volume único (tem metade do tamanho do Tomo I de Contradições) e saiu apenas um ano depois de Contradições.
Ambos os livros enfrentaram o boicote e o silêncio dos autores liberais em suas terras de origem, por isso “Contradições…” vendeu pouco na França e “Miséria…” pouco na Alemanha. O livro proudhoniano porém se tornou um sucesso no meio operário europeu, fora da França, tendo ganhado várias reedições na Alemanha (justamente a terra de Marx). Já Marx não enfrentou o boicote (mas mais tarde, com Engels, traçaria várias estratégias para enfrentar o boicote no lançamento de O Capital) e “Miséria…”, que vendeu pouco na época, se juntaria à lista dos livros pouco vendidos durante a vida do autor, até se tornar sucesso no meio operário, mas apenas no século XX.
Marx estava preocupado em estudar melhor a Economia Política desde a sua obra manuscritos econômico-filosóficos de 1844 e por isso tratou de responder com a objetividade dessa ciência ao livro Sistema das Contradições Econômicas ou Filosofia da Miséria de Proudhon, que também questionava a economia mas pelas inquietudes filosóficas do famoso autor anarquista.
O Título da obra de Marx é uma ironia com o subtítulo do livro de Proudhon. Proudhon chegou a esboçar um artigo que ironizaria Marx colocando como Título Sr. Marx (Marx escreveu um texto chamado Herr Vogt que quer dizer “Sr. Vogt”). Também chegou a esboçar uma sistematização sobre Economia Política com o nome de Curso de Economia Política (Assim como mais tarde Marx fez em O Capital) entre 1853 e 1856 pegando trechos de Miséria da Filosofia para contrapor com suas idéias. Tal obra faz parte dos escritos ainda não-publicados de Proudhon (Assim como Marx ainda não foram publicadas todos os textos de Marx-Engels).
Esse confronto entre as duas obras ficou conhecido como o rompimento definitivo entre os 2 autores, Marx como um dos ícone do movimento socialista e Proudhon do movimento anarquista.

Polêmica quanto ao conteúdo teórico

Marx estava preocupado em estudar a Teoria do valor-trabalho a fim de solucionar as contradições de Adam Smith e David Ricardo quanto à compra da força de trabalho e geração da mais-valia
Já Proudhon queria mostrar como os objetivos do sistema econômico eram contraditórios:
Cquote1.svgE quando a Academia pede que se determine as oscilações do lucro e do salário, ela pede por isso que se determine o valor. Ora, isso é precisamente o que repelem os senhores acadêmicos: eles não querem ouvir falar que se o valor é variável, ele é por isso mesmo determinável, que a variabilidade é indício e condição da determinabilidade. Eles pretendem que o valor, variando sempre, não pode jamais ser determinado. É como se sustentássemos que, sendo dado o número de oscilações por segundo de um pêndulo, a amplitude das oscilações, a latitude e a elevação do local onde se faz a experiência, não pudesse determinar o comprimento do pêndulo porque está em movimento. Tal é o primeiro artigo de fé da economia política.Cquote2.svg
 
Assim, enquanto Marx estava preocupado em determinar o valor, Proudhon estava desmontando os objetivos por trás dessa busca.
É possível que a rápida resposta de Marx ao livro de Proudhon se deva não só no objetivo de rivalizar as influências entre os autores dentro do movimento operário mas também por sentir necessidade de escrever algo para organizar e ordenar os pontos que estavam sendo desenvolvidos em sua mente para futuras críticas maduras que culminariam na redação de O Capital. Alguns proudhonianos acusam Marx de ter se valido da estrutura dos tópicos expostas por Proudhon o que poderia se transformar numa insinuação de que Proudhon teve as ideias contidas em O Capital antes de Marx.

Tabela comparativa dos conteúdos Contradições x O Capital

Para compor a tabela, foram utilizados o Tomo I (até capítulo VII) de Contradições e O Capital ou planos de redação do mesmo.
capítulo de Contradiçõesem O CapitalAssunto (Proudhon)Assunto (Marx)
PrólogoA partir da hipótese de Deus, mostra questionamentos quanto a certeza de conceitossobre religião e ideologia, consultar outros livros como Ideologia Alemã e Sagrada Família
Cap. I – Da Ciência Econômica, seção 1 – Oposição do fato e do direito na economia das sociedadesPrefácio da 2° ediçãoEconomia Política não seria nada mais que o código ou rotina imemorial da propriedade; Considera que tais estudos estão estacionados desde A.Smith, Ricardo, Malthus e J.B.Say; 2 cultos que disputam: a economia política -a tradição, e o socialismo – utopiaA Economia Política tem caráter científico enquanto a luta de classes é esporadica; Ignorando o proletariado ou suas reindivicações, tem-se a declaração da falência dos tais estudos; as teorias de Marx são uma continuação de Smith e Ricardo. Condenando a Econ.Pol. Burguesa, quer uma Econ.Pol. de interesse dos proletários
Cap.I, 2- Insuficiência das teorias e das críticas(em resposta) nota 38 Cap. II(trechos) continua a criticar os economistas e as proposições da Academia; Capital é uma ficção e a propriedade é um mito, mas cultuados pelos economistas defensores da usura (juros) como fundamento do crédito, assim como os antigos filósofos e padres da Igreja com seus conhecimentos defendiam a renda da terra mas condenavam o juro.(resposta) “Proudhon começa inferindo seu ideal de justiça” (…) “Quando diz que a agiotagem é contrária à ‘justiça eterna’ sabe-se, por acaso, mais sobre ela do que sabiam os padres da Igreja, quando afirmavam que ela era contrária à ‘graça eterna’, à ‘fé eterna’, à ‘vontade eterna de Deus’?”
Cap.II – Do valor, 1- oposição do Valor de utilidade e do Valor de trocaCap. I- A mercadoria, 1 – os dois fatores da mercadoria: Valor de uso e Valor, 3 – A forma do valor ou Valor de trocaValor de Marx refere-se a Valor-trabalho/MaisValia. Em O capital fala em Valor de uso e Valor e depois mostra o Valor de troca dentro do Valor, mas um outro procedimento, partindo do valor-de-uso e valor-de-troca para depois falar do Valor foi observado em Contribuição e no Compendio de O capital de Carlo Cafiero
Cap.II, 2- Constituição do Valor: definição da riqueza, 3- Aplicação da lei da proporcionalidade dos valoresCap. I, A) A Forma simples, singular ou fortuita do valor, A)2.b)Determinação da forma relativa do valorO Cap.I e suas sub-seções A, B e C falam da riqueza e das suas formas, proporcões e conversão para a forma dinheiro
Cap.III – Evoluções Econômicas – 1° Época – A divisão do TrabalhoParte Quarta – A produção da Mais-Valia relativa, Cap XII – Divisão do trabalho e Manufatura
Cap.III, 1- efeitos antagonistas do princípio de divisão
Cap.III, 2- Impotência dos paliativos. Os Srs. Blanqui, Chevalier, Dunoyer, Rossi e Passy
Cap.IV – Segunda Época – As MáquinasParte Quarta, Cap. XIII- A maquina ria e a indústria moderna