domingo, 22 de novembro de 2009

Denúncia de fraude no exame de alunos de São Paulo

Depois do vexame do governo federal com o vazamento e tentativa de venda de questões do Enem, agora aparecem fraudes do Serasp, o sistema de avaliação de matemática, língua portuguesa, história e geografia usado pelo governo paulista. A denúncia partiu da repórter Ana Aranha, especialista na cobertura de educação da revista Época.
Como a avaliação premia financeiramente as escolas melhor colocadas, há professores e diretores que deram uma ajudinha para os alunos acertarem as questões. Até apagar respostas e refazer provas para aumentar a nota média da escola teria acontecido. Ocorre que as fraudes, se vantajosas para os educadores, também o são para o governo estadual, que vai poder mostrar em ano eleitoral o salto de qualidade que a área viveu sob a atual administração. Ou alguém tem dúvida que, daqui a alguns meses, os resultados do exame vão aparecer no horário eleitoral em comparativos do tipo “veja como São Paulo é melhor do que…”
Segue um trecho da matéria:
Em Franco da Rocha, na Grande São Paulo, uma inspetora afirma ter visto professores passar cola aos alunos na prova de matemática. Rozenaide Silveira, que trabalha na Escola Estadual Benedito Aparecido Tavares, conta que ouviu um aluno reclamando no corredor. “Ele disse que as professoras estavam ajudando a 8a série C”, afirma Rozenaide. Ela diz ter visto as professoras fazendo contas na lousa e conversando sobre as questões com os alunos. Seu relato foi confirmado por três alunos da turma. “A professora explicou como fazer os cálculos”, diz uma aluna. “Elas iam em cada mesa ajudar”, afirma outra. “Teve uma que eu nem chamei. Ela chegou, virou a página da prova e disse como resolver a questão. A prova estava difícil, acho que só acertei essa.” Rozenaide diz que avisou a coordenação e foi orientada a fazer “vistas grossas”. Ela registrou tudo em uma carta enviada à diretora.
Diante da situação, o poder público deveria cancelar o exame. Mas se a prova funcionasse como deve muita gente sairia perdendo pelas razões já expostas. Talvez isso explique a inexplicável declaração do secretário estadual e ex-ministro da Educação, Paulo Renato Souza: “Se o caderno vazado estivesse nos jornais, o exame seria cancelado”. Afe!
Caminhando por esse ponto de vista torto, o grupelho que tentou vender a prova do Enem também causou um problema localizado, uma vez que as questões não apareceram no Programa do Gugu e, por isso, o exame não deveria ter sido adiado como efetivamente foi.
Provavelmente, as escolas denunciadas pela reportagem vão ser investigadas e punidas. Mas quem lida com o tema sabe que esses não são casos isolados, mas espalham-se pelo estado (vale dar uma olhada nos comentários sobre matéria de Ana no site da Época). Um sistema criado exatamente para gerar esse tipo de distorção, contando com uma estrutura de fiscalização falha, em que professores da própria escola aplicam provas aos alunos – o que não poderia acontecer em hipótese alguma – pensando nos frutos financeiros. Mas se os docentes ganham algumas migalhas, o bônus político de uma boa avaliação para o governador Serra será bem maior. Portanto é dele a responsabilidade em combater as fraudes, tendo a coragem de cancelar o exame ao invés de jogar o problema para baixo do tapete.
E garantir que nada aconteça com pessoas como Rozenaide Silveira, a funcionária da escola de Franco da Rocha que teve coragem de dizer publicamente o que estava errado e que, provavelmente, sofrerá retaliações por isso. Já disse mais de uma vez: enquanto premiamos jogadores de futebol, nadadores e atores de TV como heróis nacionais, os heróis de verdade vivem na penumbra da sociedade por ela maltratados.

3 comentários:

  1. APEOESP DE VEZ EM DAR IMPORTANCIA A DENUNCIA EVAZIVA - COMO DA SRA. ROZENAIDE; DEVERIA LUTAR PELA CATEGORIA TÃO MASSACRADA.

    COMO O PROPRIO ESCRITOR/CRITICO ALERTOU EM TEXTO ACIMA, REALMENTE O CASO ESTÁ SENDO APURADO. ENTÃO, ASSIM, ESPERO QUE ACOMPANHEM BEM DE PERTO.

    POIS VALE LEMBRAR, QUE DIFAMAÇÃO TAMBÉM É CRIME E GERA INDENIZAÇÃO.

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  2. Não estou difamando ninguém!!!
    São Os fatos camarada!
    Esse goveno se mostrou incompetente e sem nenhuma habilidade.
    Veja a "barbárie" desse ultimo saresp. Além do mais, o SARESP só serve para punir o professor!

    Saiu na Mídia...
    Folha, 1º de dezembro

    Governo vai investigar fraudes no Saresp
    Secretaria da Educação de SP publica relação de 15 escolas da rede estadual onde aplicação do exame está sob suspeita

    Secretário Paulo Renato Souza diz que problemas são pontuais; dirigente da Apeoesp afirma que "todo o processo está em xeque"

    FÁBIO TAKAHASHI
    DA REPORTAGEM LOCAL

    A Secretaria de Estado da Educação anunciou que vai apurar denúncias de fraudes no Saresp, prova que avalia os alunos da rede e serve de base para pagamento de bônus a professores. Está sob suspeita a aplicação do exame em 15 escolas.

    Professores e dirigentes ganham gratificação em dinheiro caso sua escola melhore no exame. Fizeram a avaliação, no mês passado, 2,5 milhões de alunos, em 8.759 colégios.

    A gestão José Serra (PSDB) diz que os problemas são pontuais e que, onde houver comprovação de fraude, o resultado da unidade será anulado e passará a valer a média da região para o pagamento de bônus.

    Segundo as denúncias, pacotes com provas chegaram com exemplares a menos em alguns colégios. A suspeita é que cadernos tenham sido extraviados e divulgados antes do teste.

    Já na escola Benedito Aparecido Tavares, em Franco da Rocha (Grande São Paulo), há a denúncia de que professores ajudaram os alunos a resolver as questões. O caso foi divulgado pela revista "Época", que relatou problema na distribuição dos aplicadores, que deram o exame para as unidades onde lecionam. A regra determina que o exame seja aplicado por docentes de outras escolas.

    A relação das 15 escolas foi divulgada no "Diário Oficial" do Estado do último sábado. A primeira apuração será feita pelas diretorias de ensino. Se for comprovada a fraude, o caso será enviado à polícia. "Se o professor passou cola aos alunos, ele será processado. É uma fraude", disse o secretário da Educação, Paulo Renato Souza.

    Crítica ao sistema

    Os casos divulgados "colocam em dúvida todo o processo", afirma a presidente da Apeoesp (sindicato dos professores), Maria Izabel Noronha. "Como garantir que não houve outras fraudes? Não concordamos com a política de bônus por desempenho, mas, se tem, que seja bem feita", disse.
    Segundo o secretário, o sistema não está em xeque porque há poucas denúncias em relação ao número de provas (26 para cada série) e de escolas. "Só seria o caso de pensar em anulação geral se vazassem todos os cadernos", afirmou.

    Educadores divergem sobre o uso de exames como base para remunerar professores -para alguns, é o melhor método para avaliar o mérito do docente; para outros, ao colocar essa carga na prova, a avaliação educacional fica prejudicada por estar mais suscetível a fraudes.

    A suspeita de irregularidades na sua aplicação não foi o único problema do Saresp deste ano. A prova foi adiada por uma semana, pois a empresa contratada (Caed) não conseguiu imprimir e distribuir o exame a tempo. Além disso, parte dos alunos recebeu provas em que a folha de respostas não era compatível com o caderno de perguntas -numa questão do ensino médio faltou uma figura.

    Outro problema em exames educacionais neste ano ocorreu no Enem, do governo federal. A prova vazou, e o Ministério da Educação teve de adiá-lo.

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  3. Meu sonho era ser professor. Em 2005 consigui realizar. Entrei na rede pública estatual de SP em 2008, e tive umas das maiores decepções de minha vida. Minha disciplina é educação física , muito desvalorizada, ´salário muiiiiiiiiiiiiiito baixo, não temos ajuda de alimentação adequada, gasto por mês 250 reais de combústivel para dar aulas em diferentes cidades, e recebo ma faixa de 700 reais por mes, menos os 250 reais meu salário base é de 450 reais por mês. tenho que trabalhar em dois empregos para aumentar minha renda salarial, faço feira vendendo tapioca, não que seja vergonhoso, pelo contrário ganho três vezes mais do que dando aula pelo governo estadual do estado de são paulo,mais eu acho que um professor deveria ser mais valorizado.Hoje continuo dando aula ,mas com o pensamento de sair da rede estadual, pois não compensa passar nervoso com alunos , receber uma esmola do governo.Conheço vários colegas de trabalho, de várias disciplinas que estão aderindo este pensamento de passar em um concurso e sair fora dessa humilhação. Por isso eu creuo que chegará um dia , em que não haverá mais professor para dar aula então talvez pediremos ao mnosso EX governador , e espero que seja sempre EX governador que venha dar aula na rede estadual. SERRA FORA!!!!!

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