domingo, 6 de dezembro de 2009

Brasil: A República da Burocracia Sindical



Os trabalhadores brasileiros estão a ter grandes decepções com o governo de Lula. O PT (Partido dos Trabalhadores) chegou ao poder em 2002, após mais de 20 anos de lutas sociais. Para surpresa de todos, ao terceiro mês de mandato, se pôs a desmantelar a Previdência Social, destruindo as aposentadorias. Aprofundou as reformas neoliberais de Fernando Henrique, mas com uma agravante: o partido de esquerda detém o controlo sobre os sindicatos e movimentos sociais, o que impede a reação organizada dos trabalhadores.

A história do PT se confunde com a da CUT (Central Única dos Trabalhadores). Fundada em 1983, no processo de lutas iniciado com as grandes greves de 1978/79 nas regiões industriais do ABC, a CUT desde o início foi palco do conflito entre duas tendências antagônicas: as comissões de fábrica (tendência de base) e a “articulação sindical” – tendência cupulista de orientação parlamentar. No final, a “articulação sindical” venceu. Com delações aos patrões, práticas truculentas e assistencialistas, destruíram as comissões de fábrica e o movimento de base.Optou-se pela via parlamentar, em detrimento das lutas de base. E por manter o aparato sindical burocrático existente. A degeneração agravou-se, à medida que o dinheiro do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) entrava nos cofres da CUT. E no fim, a ruptura com o projeto socialista foi inevitável: “a esquerda socialista deixa de ser socialista quando os membros começam a contar dinheiro”, diz o velho adágio.Enfim, a CUT se tornou o trampolim para interesses eleitoreiros e o financiamento inescrupuloso das candidaturas do PT e PC do B . O cretinismo parlamentar tornou-se o grande mote dos dirigentes sindicais, que enterraram as lutas de base. Os sindicatos foram se burocratizando e formando uma poderosa hierarquia de técnicos, os “profissionais da luta”.Com a chegada do PT ao poder, a burocracia sindical passou a assumir cargos de governo e vai colonizando o Estado de alto a baixo - fumam charutos cubanos, bebem whisky escocês, andam de Land Rover, possuem belas casinhas de praia.



Em nome do “crescimento econômico”, desmantelam a legislação trabalhista, a Previdência Social, privatizam serviços públicos, transferem recursos para os “companheiros” do PT, etc. E agora, baixam uma reforma Sindical que atrela os sindicatos ao Estado e acaba com o direito de greve para os trabalhadores.Diante deste duro golpe, os trabalhadores estão a se reorganizar, através de duas novas Centrais Sindicais: a CONLUTAS (Coordenação Nacional de Lutas) e a INTERSINDICAL. A má experiência com o governo Lula traz-nos grandes lições: sempre priorizar as lutas de base; não atrelar a luta a práticas e ilusões eleitoreiras; lutar contra a burocratização e a profissionalização dos dirigentes (causa da separação entre estes e a base); e retornar à organização no local de trabalho - uma crítica radical das próprias estruturas de organização. Faz-se imprescindível estabelecer o objetivo das lutas: de nada adianta “gerir o Capital”, é preciso lutar para destruí-lo.Os trabalhadores precisavam passar por essa experiência. Agora chegou o momento de se reorganizar e ir pelo caminho da verdadeira luta contra o Capital.

Por Paulo Marques e Marcelo de Souza, ambos professores e membros da APEOESP (Associação dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo – é um dos maiores sindicatos da América Latina, com cerca de 200.000 trabalhadores de base, atuando na educação pública.)


Artigo publicado em Portugal, no Jornal Mudar de Vida - http://jornalmudardevida.net


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