quinta-feira, 30 de maio de 2013

Mais-valia: o roubo legitimado do trabalho não pago!

A mais-valia, como demonstrou Marx, em O Capital, é o mesmo que uma parcela de tempo de trabalho não pago ao trabalhador, ou seja, o burguês somente obtém mais-valia (em linguagem comum, mais- dinheiro) por intermédio da exploração do tempo de trabalho não pago ao trabalhador. Em palavras mais críticas, diríamos, a mais-valia é o roubo legitimado do tempo de trabalho não pago ao trabalhador. Por que roubo? Porque essa apropriação do tempo de trabalho não pago ao trabalhador não se faz, às claras, ao contrário, se faz, às escondidas, no interior das fábricas e empresas. Por que roubo legitimado? Porque nenhum burguês ou empresário vai preso por enganar o trabalhador no intuito de obter mais-valia, mais-dinheiro, ao contrário, a lei diz que é legítimo o que a burguesia faz, é legítimo o jeito de a burguesia aumentar seu dinheiro, apropriando-se do trabalho não pago ao trabalhador.
Como esse roubo legitimado acontece? Um exemplo. O burguês contrata um dia de trabalho do trabalhador, oito horas, e faz esse mesmo trabalhador trabalhar essas oito horas por dia produzindo mercadorias para esse mesmo burguês na fábrica. No final do processo de um dia de trabalho de oito horas, vendendo as mercadorias feitas pelo trabalhador nesse um dia de trabalho, o burguês: 1- retira de volta o dinheiro investido nas matérias primas usadas na produção dessas mercadorias feitas pelo trabalhador nesse um dia de trabalho; 2- retira o dinheiro investido no desgaste e no funcionamento das máquinas repassado para as mercadorias produzidas nesse um dia de trabalho; 3- retira o dinheiro dos impostos cobrados às mercadorias feitas nesse um dia de trabalho; 4- retira o dinheiro investido na infraestrutura (aluguel, energia, limpeza, etc) da fábrica nesse um dia de trabalho; 5- retira o dinheiro equivalente ao salário do trabalhador nesse um dia de trabalho.
Onde fica a mais-valia, o mais-dinheiro obtido com a produção de mercadorias nesse um dia de trabalho de oito horas? Onde fica o roubo legitimado do tempo de trabalho não pago ao trabalhador? Todo o investimento em infraestrutura da fábrica, máquinas, matérias primas, impostos (capital constante, como diria Marx) é repassado para o valor final das mercadorias produzidas nesse um dia de trabalho e isso não dá lucro para o burguês, ou seja, não gera mais-valia, não gera mais-dinheiro. Se o burguês investiu R$500,00 nesse capital constante (máquinas, infraestrutura, matérias primas, etc), estes R$500,00 serão repassados para o valor final das mercadorias produzidas nesse um dia de trabalho de oito horas. Só uma coisa, então, gera mais-valia e consequentemente mais-dinheiro na venda final das mercadorias produzidas nesse um dia de trabalho de oito horas e é justamente o fato de que o salário do trabalhador não é equivalente à totalidade das oito horas trabalhadas por ele nesse um dia de trabalho.
Na prática, por exemplo, pode ser para mais ou para menos esse cálculo, a depender da empresa e da luta de classes travada nessa empresa (o sindicato é forte ou fraco? ou nem tem sindicato?), enfim, vamos supor que com três horas de trabalho o trabalhador faria as mercadorias suficientes para pagar o seu próprio salário nesse um dia de trabalho de oito horas, descontando aí os impostos, o desgaste da máquina, a matéria prima, etc, repassados para as mercadorias produzidas nessas três horas de trabalho. O que isso significa? Que no contrato de trabalho fica escondido o fato de que nas outras cinco horas de trabalho restantes, das quais não se descontará o salário, pois o mesmo já foi pago com as primeiras três horas de trabalho, então, nessas cinco horas de trabalho restantes o trabalhador produzirá mercadorias gratuitamente para o burguês, isto é, trabalhará de graça.
O burguês, portanto, usando do contrato de trabalho, que é legitimado, que é legal, segundo a lógica econômica capitalista, descobriu um jeito de obter mais-valia / mais-dinheiro com o seu negócio: basta roubar escondido e legalmente cinco horas de trabalho do trabalhador e vender as mercadorias feitas gratuitamente por esse trabalhador nessas cinco horas de trabalho gratuito que sua esperteza burguesa vai ser lucrativa. Sua mais-valia, seu mais-dinheiro obtido na venda das mercadorias feitas nesse um dia de trabalho de oito horas está exatamente nas cinco horas de trabalho não pago. Sendo a apropriação desse trabalho não pago um processo que se dá às escondidas do trabalhador, aproveitando-se da sua necessidade de sobreviver, trata-se de um roubo, mas um roubo legitimado e naturalizado pelas leis burguesas.
O peixe morde o anzol, porque tem fome, isso é fato, pois não sabe o peixe que por trás da isca está o seu assassino, o pescador, que quer devorar-lhe a carne. Fazendo um paralelo, o mesmo se dá com o trabalhador que não sabe que sob a isca do salário que aparentemente garante a sua sobrevivência também existe uma farpa escondida de seu explorador que lhe oferecendo a isca da sobrevivência, o salário, no fundo, quer-se roubar seu tempo de vida em forma de trabalho não pago, com vistas a obter mais-dinheiro.
O peixe de verdade, perante a isca, se fosse um ser social pensante, ainda poderia caçar e comer outras coisas no rio ou no mar, fugindo da isca que tem escondida, dentro de si, um anzol. O trabalhador, porém, no capitalismo, separado da possibilidade de sobreviver junto à mãe natureza, junto à mãe terra, como os indígenas de antigamente, pois de junto da terra e de junto da natureza o trabalhador fora expulso pelas classes poderosas, ladronas de terras, jagunços, assassinos, grileiros, latifundiários, e isso num longo e sangrento processo histórico de luta de classes, enfim, diferente do peixe, o trabalhador não tem sequer a alternativa de fugir da isca do salário que traz escondida dentro de si a exploração, o roubo… ou seja, o trabalhador não pode ir sobreviver em outro lugar na natureza, foi expulso da terra, está aglomerado nas cidades, logo, tem de necessariamente morder a isca oferecida pelo capitalista e por tabela morder o anzol de seu explorador ou daquele que rouba parte de seu tempo de trabalho, o burguês.
Mas, atenção, no capitalismo essa exploração do trabalhador não pode sequer ser chamada de roubo. A burguesia sequer admite que esse trabalho não pago seja uma exploração. O patrão acha que é justo ganhar dinheiro não pagando a totalidade do tempo de trabalho ao trabalhador, porque ele se julga o dono da fábrica. Mas a burguesia também esconde o fato de que sua fábrica também não nascera uma grande fábrica. Tornou-se uma fábrica desenvolvida à medida que se contrataram trabalhadores e, roubando o tempo de trabalho não pago a esses trabalhadores, esta mesma fábrica ou empresa foi se tornando cada vez mais lucrativa. Portanto, é claro que o patrão aproveita do fato de que o trabalhador não tem dinheiro e de que precisa sobreviver para forçá-lo a morder a isca do contrato de trabalho baseado no salário que é calculado de modo que reste uma parcela de trabalho não pago para dar mais-valia / mais-dinheiro ao patrão.
Assim, não há outra alternativa para o trabalhador, dentro do capitalismo, a não ser aceitar um contrato de trabalho que rouba uma parcela de seu tempo de vida para enriquecer o burguês. A mais-valia é, portanto, um roubo legalizado e legitimado do tempo de trabalho do trabalhador, trabalho que é a fonte de produção das riquezas do mundo e que, no caso, gera mercadorias gratuitamente para o patrão: vendidas essas mercadorias, os burgueses, às escondidas, se enriquecem em cima do suor do trabalhador. Todavia mesmo quando o trabalhador, organizado em sindicatos, descobre esse roubo, não é possível fazer muita coisa sob a lógica do Estado Burguês, porque, nesse Estado Burguês, esse roubo é legitimado, legalizado, naturalizado, colocado como inevitável para o bom funcionamento do mundo. A IDEOLOGIA BURGUESA faz parecer que esse roubo é necessário.
A saída do trabalhador, então, sob a luz do marxismo, e segundo visualizamos, está em fazer a Revolução Socialista Livre e por fim ao modo de produção capitalista que se baseia na exploração, na opressão e no roubo. Como? Estatizando os meios de produção e colocando-os para gerar riquezas para atender as necessidades de toda a classe trabalhadora e não para enriquecer, através da exploração e do roubo, uma classe dominante minoritária. Procurar entender as descobertas de O Capital de Marx é uma NECESSIDADE da classe trabalhadora que precisa libertar-se. Se esse texto o incentivou a fazê-lo, cumprimos nosso objetivo. Viva o Socialismo Livre.
Por: Gílber Martins Duarte – Socialista Livre – Conselheiro do Sindute-MG e diretor da subsede do Sindute em Uberlândia – Professor da Rede Estadual de Minas Gerais – Doutorando em Análise do Discurso/UFU – Membro da CSP-CONLUTAS.

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