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Nancy Corbett
A prostituta sagrada era uma mulher humana que encarnava a deusa do amor. Representava a sexualidade da mulher sendo reverenciada; havia vínculo entre a espiritualidade e a sexualidade pois, surgiu dentro do sistema religioso matriarcal. Portanto, a Prostituta Sagrada é paixão, espiritualidade e prazer. Caso o princípio patriarcal não seja contrabalançado pelo princípio feminino, tem-se uma vida, em certa medida, estéril.As deusas do amor e da paixão, algumas, também, da fertilidade são: Inana (Sumária), Istar (Babilônia), Isis ou Hátor e Bastet (Egito), Astarte (Fenícia), Afrodite (Grécia) e Vênus (Roma). A deusa do amor e a prostituta sagrada são dimensões do princípio de Eros. A deusa e a prostituta sagrada são arquétipos e, por isso, não podem ser integradas totalmente; apenas aspectos parciais chegam à consciência. A prostituição sagrada era um ritual do matrimônio sagrado, onde feminino e masculino se uniam sem qualquer preponderância, era a união da espiritualidade e da sexualidade. Já a prostituição profana declarava a separação absoluta da sexualidade e da espiritualidade. Com a preponderância do dinamismo patriarcal sobre o matriarcal foi retirado o aspecto sagrado do feminino, ele foi rechaçado, associado ao demoníaco, ao pecado. Assim, a deusa deixou de ser venerada. A Igreja Católica separou o corpo da espiritualidade e tudo o que dizia respeito ao corpóreo estava passível de ser associado ao pecado e afastamento da religiosidade/espiritualidade. A rejeição do que representava a prostituta sagrada traz insatisfação e neuroses tanto para as mulheres que dissociaram a sacralidade de seu corpo da alma, como para os homens que encontrarão intensas dificuldades no relacionamento com a sua anima como com as mulheres em geral. O feminino é, comumente, representado pela Lua. A mulher e a lua possuem fases, de um crescente de energia até seu total resplendor declinando até seu recolhimento e obscuridade. Praticamente, todas as deusas que representam o amor e a paixão possuíam um filho-amante, que devia ser sacrificado. Com isso, toda mulher deve sacrificar, abandonar esse aspecto do maternal, seja de viver única e exclusivamente para satisfazer os desejos de seu filho como de viver as realizações dele como se fossem suas. Mas um parceiro, um marido pode representar esse filho-amante. Se a mulher não faz tal sacrifício de renunciar o desejo de controle e poder do ego, nenhum dos dois poderá crescer, há um vínculo simbiótico de mútua dependência. Se o homem não se libertar da mãe ou mulher possessiva, será incapaz de manter um relacionamento maduro. É através da imagem arquetípica da prostituta sagrada que a mulher consegue compreender os atributos da deusa do amor. E cabe aqui lembrar que o arquétipo da Prostituta Sagrada, também, é uma parte da Anima do homem. Um dos exemplos mitológicos sobre uma mulher mortal encarnando os atributos da deusa é Ariadne (Teseu e o Minotauro) que é um mito correlato a libertação da mulher de sua identificação com o papel de filha do pai. “A prostituta sagrada é a mulher humana que através de ritual formal ou de desenvolvimento psicológico, conseguiu conscientemente conhecer o lado espiritual do seu erotismo, e vive-o na prática, de acordo com suas circunstâncias individuais.” (p.95). Nos cultos a deusa do amor, um emissário dos deuses ou mesmo um deus disfarçado, vinha para se relacionar com a prostituta sagrada, consagrando, assim, o ritual. Analogamente, nos processos psicológicos, o “estranho” revela um aspecto inconsciente que se faz consciente e promove a mudança. Denomina-se de estranho, também, por causar uma sensação de algo estranho ou diferente ocorrendo. É o princípio masculino, um aspecto do Animus. As mulheres que são frias emocionalmente, ou que apresentam ressentimentos profundos com relação ao homem ou que são promiscuas, são aquelas que vivenciam o Animus negativo (aspectos do Animus que denotam que ele não foi integrado, aparecendo como uma voz crítica) que as impede de vivenciar o amor. O Animus positivo, aquele que foi integrado, que penetrou o feminino, proporciona à mulher aspectos positivos em seu cotidiano. Dá-lhe segurança, confiança, abolindo a submissão, os sentimentos de inferioridade da sociedade patriarcal. Cabe lembrar que integrar o Animus não significa identificar-se com o mesmo, ou seja, a mulher não precisa atuar no mundo como um homem, nem possuir suas características. Portanto, não se trata de masculinização. O MATRIMÔNIO SAGRADO O ritual do matrimônio sagrado é a representação simbólica da união dos opostos, do masculino e do feminino diferenciados. Ele ocorre tanto na vida psíquica aparecendo em sonhos, como no mundo exterior através da união de duas pessoas. Como toda mulher carrega em si sua porção masculina – o Animus, o homem carrega sua porção feminina – a Anima, que é um elemento de propulsão e transformação na psique masculina. Ela, como o Animus, apresenta inúmeras facetas: a donzela, a mãe, a bruxa, a sereia, a prostituta, etc. Se o homem não integrar sua Anima acabará por se relacionar com a mulher e com o feminino de maneira equivocada e que lhe trará muitas dificuldades no relacionamento, pois impede que ele se relacione com a mulher de verdade. O adultério e o divórcio são conseqüências da maneira como o homem lida com sua Anima não integrada. Para fugir da Anima-Mãe ele assume a Anima-Esposa. Mas após a chegada dos filhos, a esposa se transformando em mãe e se identificando mais com esse atributo passa a ser vista pelo homem como Anima-Mãe. E ele vai buscar a Anima-Mulher-Fêmea novamente. Com essas dificuldades para lidar com o feminino, o homem acaba por se afastar do mundo dos sentimentos, que pertence aos domínios do feminino. Jung descreveu quatro estágios do desenvolvimento da Anima que são análogos aos da Prostituta Sagrada: - 1º estágio: EVA: no qual a anima manifesta sua energia biológica, instintual e sexual. Ela deseja o homem mas um homem. - 2º estágio: HELENA: no qual a anima utiliza-se da sedução, com beleza e graça, ela não é mais apenas um objeto sexual. - 3º estágio: VIRGEM MARIA: implica na transcendência do físico e do sexual, onde há uma ligação com divino. - 4º estágio: SOFIA: a sabedoria divina. Tanto o homem ao vivenciar estes estágios da Anima, como a mulher ao vivenciar tais estágios do Feminino, vão experimentando aspectos diferentes do princípio feminino. Com isso, o homem poderá transformar sua vida dando-lhe um sentido, criatividade e a oportunidade de relacionamentos positivos com as mulheres. E, a mulher, resgatando seus aspectos do feminino, transformará seu Animus em aliado ao seu desenvolvimento.
Referência Bibliográfica:
Qualss-Corbett, Nancy A Prostituta Sagrada Editora Paulus. |
Muito bom o artigo.Por ser o assunto muito denso e rico,sugiro a continuidade do mesmo.
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