Nossa classe conhece muito bem a importância das nossas lutas, pois, foram através das greves que garantimos tanto a maioria das leis que hoje nos protege do assédio do governo como também impedimos a destruição do ensino público.
Tomemos como exemplo dois momentos históricos dessas lutas: Em 1989 fizemos uma greve de 90 dias, inclusive com repressão da polícia militar, essa luta impediu a concretização da privatização da educação pública (via modelo chileno), impediu também a municipalização do ensino e derrubando o secretário de educação do “governo Quércia”, em 1993 organizamos uma greve de 89 dias, com ações que iam desde a ocupamos da Assembleia Legislativa por 4 dias colocamos até atos com paralização de vias públicas. Essas ações colocaram em xeque o projeto privatizante chamado de “escola padrão” imposto pelo “governo Fleury”.
Portanto, sabemos os significados que têm greves bem organizadas e nossas lutas por direitos ou para defendê-los. Sabemos também que se cada professor por si só é de todo impotente, em sua luta contra o governo, torna-se claro que os professores devem necessariamente defender juntos as suas reivindicações, devem necessariamente declarar-se em greve para impedir que os governos baixem os salários, ou degradem o ambiente de trabalho. Em todos os lugares, os trabalhadores se sentem impotentes quando atuam individualmente e só podem opor resistência aos patrões e governos se estiverem unidos, quer declarando-se em greve, quer ameaçando com a greve.
É na greve, que tomamos consciência da exploração. Se agirmos individualmente o governo nos sufoca com suas leis quando, porém, nós professores lutamos juntos a coisa muda. Quando os professores enfrentam sozinhos os governos continuam sendo verdadeiros “escravos”, que trabalham eternamente para um estranho, por um pedaço de pão, como assalariados eternamente submissos e silenciosos. Mas, quando os professores levantam juntos suas reivindicações, e se negam a submeter-se a quem tem a “caneta de ouro”, deixam então de ser escravos, convertem-se em humanos começam a exigir que seu trabalho não sirva somente para enriquecer a um punhado de parasitas, mas que permita aos trabalhadores viver como pessoas. Os “escravos” começam a apresentar a reivindicação de se transformar em donos: trabalhar e viver não como queiram esses parasitas, mas como queiram os próprios trabalhadores.
As greves são sempre temidas pelos patrões e pelos governos porque começam a fazer vacilar seu domínio. Quando os professores se negam a trabalhar, todo o processo educacional ameaça paralisar-se. Cada greve lembra aos governos que os verdadeiros “donos da educação” não são eles, e sim os professores, que proclamam seus direitos com força crescente. Cada greve, desde que bem organizada, lembra aos professores que sua situação não é desesperada e que não estão sós. Vejam que enorme influência exerce uma greve tanto sobre os grevistas como sobre os professores das escolas vizinhas ou próximas. Atualmente, nós professores pacíficos, arrastamos em silêncio nossa carga, não reclamamos, não refletimos sobre nossa situação, pois até os HTPCs nos foram furtados. Mas, durante uma greve, o professor proclama em voz alta suas reivindicações, lembra aos governos todos os atropelos de que tem sido vítima, proclama seus direitos, não pensa apenas em si ou no seu salário, mas pensa também em todos os seus companheiros, que abandonaram o trabalho junto com ele e que defendem a mesma luta sem medo das provações. É bem verdade que toda greve acarreta ao professor grande número de privações: atraso no aluguel, na prestação do carro, perda do salário, e até em casos extremos, detenções. Mesmo diante desses problemas muitos professores das escolas próximas sentem entusiasmo sempre que veem que seus companheiros iniciaram a luta.
Quando a greve é bem organizada, basta que se declare em greve uma escola para que imediatamente comece uma série de greves em muitas outras escolas. Como é grande a influência moral das greves, como é contagiante a influência que exerce nos professores ver seus companheiros, que, embora temporariamente, se transformam de “escravos” em pessoas com os mesmos direitos dos ricos!
A greve ensina os professores a compreenderem onde repousa a força dos governos e onde a dos professores, ensina a pensarem não só em seu “patrão” e em seus companheiros mais próximos, mas em todos “os patrões”, ensina a questionar todo o sistema lastreados por leis e regras injustas.
Muitos professores ignoram as leis, acreditando nas falácias do governo, em particular os altos funcionários (Coordenadores, Diretores, Supervisores e Dirigentes de Ensino), razão pela qual dá, frequentemente, crédito a tudo isso. Quando eclode, porém, uma greve, apresentam-se na escola o diretor, o coordenador, o supervisor, e então os professores percebem que infringiram a lei: a lei permite aos diretores "reunir-se e tratar abertamente sobre a maneira de conduzir antidemocraticamente uma escola, ao passo que os professores quando questionam as arbitrariedades impostas pelos governos, logo, são tachados de delinquentes, subversivos “desconstrutores” do projeto coletivo.
A repressão faz o professor começar a entender que as leis são ditadas em benefício exclusivo dos ricos para naturalizar a barbárie, o professores passam a observar também quem são aqueles que equivocadamente defendem os interesses do governo, que tenta “tapar a boca do povo trabalhador” que silencia o trabalhador para que não exprima suas necessidades.
O professor também percebe nesse momento que a classe trabalhadora deve necessariamente arrancar o direito de greve, o direito de participar numa assembleia popular representativa encarregada de promulgar as leis e de velar por seu cumprimento.
Por sua vez, o governo compreende muito bem que as greves abrem os olhos dos professores, razão por que tanto as teme e se esforça a todo custo para sufocá-las quanto antes possível. Nesse sentido, durante cada greve cresce e desenvolve-se nos professores a consciência de que o governo é seu inimigo e de que a classe trabalhadora deve preparar-se para lutar contra ele pelos direitos do povo.
Assim, as greves ensinam os professores a unirem-se, as greves fazem-nos ver que somente unidos podemos aguentar a luta contra os patrões e governos, as greves ensinam os professores a pensarem na luta de toda a classe trabalhadora contra toda a classe patronal e contra o governo “autoritário” e policialesco.
Vendo a força que representam a união dos professores e até mesmo suas pequenas greves, pensam alguns, que basta aos professores deflagrarem a greve para poder conseguir dos governos tudo que queiram. Esta opinião, porém, é equivocada. As greves são um dos meios de luta da classe trabalhadora por sua emancipação, mas não o único, e se os professores não prestam atenção a outros meios de luta, atrasam o desenvolvimento e os êxitos da classe trabalhadora.
Com efeito, para que as greves tenham êxito são necessários os fundos de greve, organização no local de trabalho, reuniões de comandos de greve, comunicação com a comunidade escolar, uso da mídia, sínteses regionais e estaduais e outras que se fizerem necessárias; a fim de manter os trabalhadores mobilizados enquanto dure o conflito. É interessante os professores (comumente os de cada escola) organizarem seus próprios fundos de greve. As greves só são vitoriosas quando os trabalhadores já possuem bastante consciência, quando sabem escolher o momento para desencadeá-las, quando sabem apresentar reivindicações.
Elas mostram aos professores, como vimos, que o governo é seu inimigo e que é preciso lutar contra ele. Com efeito ensinam gradualmente à classe trabalhadora, em todos os países, a lutar contra os governos pelos direitos dos trabalhadores e pelos direitos de todo o povo.
“Ai daqueles que pararem com sua capacidade de sonhar, de invejar sua coragem de anunciar e denunciar. Ai daqueles que, em lugar de visitar de vez em quando o amanha pelo profundo engajamento com o hoje, com o aqui e o agora, se atrelarem a um passado de exploração e de rotina”. (Freire)
Fonte: MEOB - Movimento Educadores Organizados pela Base - Somos professores da zona sul da cidade de São Paulo, organizados na Oposição Alternativa da Apeoesp, na luta por uma escola pública de qualidade para os trabalhadores; por uma prática sindical com independência de classe, combativa e alicerçada na ação dos trabalhadores organizados em seu local de trabalho.
Participe conosco da construção da escola pública que queremos. Sugira, critique, opine. Organize sua escola, traga propostas e ideias.
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