quinta-feira, 26 de agosto de 2010

STRESS DOCENTE: A SÍNDROME DE BOURNOUT EM PROFESSORES. COMO IDENTIFICAR

Entrevista com Chafic Jbeili

Qual a definição da síndrome de Burnout?

Stress crônico laboral é a definição mais objetiva. Em espanhol o fenômeno é conhecido como Sindrome del Quemado. O termo Burnout (Burn + out) alude gíria inglesa utilizada por engenheiros aeronáuticos, desde 1940, para sintetizar o estado mecânico final de turbinas de jato que eram colocadas em teste de resistência até o seu limite final e, então, “burnout”, “queima total”, “fundiam”.

No meio médico e assistencial à época, a gíria era empregada com a mesma analogia para designar o estado biofisiológico e psicosocial dos jovens de rua, usuários compulsivos de drogas, conhecidos aqui no Brasil como “drogaditos”; nem tanto pelo uso específico das drogas, mas pelo estado deplorável de extremo comprometimento biopsicosocial a que chegavam. Posteriormente, a partir de 1974, com as pesquisas do psiquiatra dr Freudemberg a gíria foi também empregada para designar o estado de esgotamento físico e mental dos médicos residentes, que trabalhavam em sua equipe, apresentando sinais claros de stress crônico relacionado diretamente com a dinâmica e ambiência de trabalho.

Quais são as causas e os fatores determinantes?
A relação causa-fatores é muito subjetiva, pois ganha ou perde forças na dinâmica entre capacidade pessoal em lidar com o stress e a intensidade/frequência na dedemanda de fatores relacionados, exclusivamente, com o ambiente de trabalho, tais como: Cobranças excessivas, jornadas longas e desgastantes, remuneração inadequada, ausência de recompensas, falta de camaradagem entre membros da equipe, subemprego de competências pessoais, baixa perspectiva de assenção/promoção na carreira, sentimento de vulnerabilidade em relação a segurança pessoal, falta de apoio técnico-operacional e falta de reconhecimento no serviço prestado, entre outros fatores. Assim, de acordo pesquisas recentes a causa essencial do Burnout perpassa três dimensões, não necessariamente nesta ordem: a) Esgotamento emocional; b) Despersonalização, quando o profissional evita/desfaz qualquer tipo de envolvimento/vínculo com as pessoas que atende; c) Baixa realização pessoal no trabaho.

Tem algum paralelo com a depressão?
O Burnout apresenta sinais e sintomas comuns ao quadro depressivo, tais como: tristeza aparente, desânimo, pessimismo, inapetência, apatia geral, dificuldade em desempenhar papéis, queda brusca da libido, aumento no desejo de afastamento social, isolamento e absenteísmo. A pessoa tem vontade de “sumir” e não quer ver ninguém, não possui forças para fazer nada, nem mesmo a mais simples tarefa ou o que antes lhe dava muito prazer, culminando em descuido com a própria aparência e a própria saúde. A diferença está no fato de que a depressão é multifatorial, ou seja, tem várias causas distintas entre fatores endógenos, por disfunções hormonais, transtornos psicológicos etc; e exógenos, por perdas e danos sociais, materiais, profissionais, acadêmicos, afetivos etc.

A princípio parece tudo a mesma coisa, mas não é tão simples assim, pois como as causas são diferenciadas o tratamento só será eficaz se o diagnóstico for preciso. Não se tratam sintomas de burnout com diagnóstico de depressão e, por isso, o médico ou psicólogo que for realizar o diagnóstico deverá esmerar-se em decobrir as causas reais ao invés de considerar apenas os sinais e sintomas indicativos. Daí a importância de se aprofundar no assunto. Não apenas os profissionais em potencial para desenvolver a Burnout, no sentido de se prevenirem, mas principalmente os profissionais médicos e psicólogos, que são os mais indicados e procurados para a detecção e combate da síndrome.

Quais são os profissionais mais atingidos?
Pessoas que lidam com a dor e sofrimento do outro: Médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, psicanalistas etc; e outros profissionais que formam vínculos assistencialistas no trato com as necessidades alheias diversas, a exemplo dos gestores escolares, professores, psicopedagogos e demais educadores, em função da intensa e complexa dinâmica educativa.

No caso de docentes, quais sintomas apresentam e que consequências psicosocial eles sofrem?
O absenteísmo é o sintoma mais evidente, pois o docente priva a escola, seus colegas e seus educandos de sua importante presença física e institucional, pois está sempre de atestado ou licença médica, fica indiferente nas decisões tomadas em conjunto com a equipe e, na sala de aula, por estar com os sentidos à flor da pele, perde as características essenciais ao exercício de sua função docente, por diminuição da capacidade e qualidade de comunicação e aumento da resistência na interação com os educandos, representando perda significativa para a qualidade do ensino. Daí o Prof. Wanderley Codo, coordenador do labortaório de psicologia da Universidade de Brasília (UnB) afirmar que a síndrome de Burnout “pode levar à falência da educação”, quando considera em suas pesquisas o índice de incidência de burnout em professores da ordem de 43%. Em decorrência do esgotamento generalizado, com impacto na auto-estima do professor, muitos docentes perdem conideravelmente qualidade de vida em outras esferas sociais, a exemplo da vida familiar, conjugal, acadêmica, social e até mesmo espiritual. É um tsnumani na vida do professor, com consequências imprevisíveis, mas não irreversíveis se diagnosticada e tratada devidamente.

Como reconhecer os sinais de stress?
Os principais sinais físicos são: fadiga sem causa aparente; enxaquecas; dores “andarilhas” (cada hora dói num lugar diferente); constipação ou diarréia constantes; alteração do sono e queda na libido. Há porém outras alterações orgânicas, não visíveis, apenas detectadas por exames médicos específicos que irão determinar o diagnóstico.

Os pricnipais sinais psicológicos e comportamentais são: Sinais e sintomas semelhantes aos da depressão, já bastante conhecidos pela população; irritabilidade; ceticismo; indiferença e despersonalização.

Esse sofrimento é somente mental ou pode também trazer problemas físicos?
Mesmo que não saibamos exatamente o que está causando o que, isso somente o médico ou o psicólogoo poderá avaliar melhor, contudo tem-se a certeza que mente e corpo não estão dissociados em suas dinâmicas. São chamados os fenômenos somatopsíquicos, quando o corpo interfere na mente e psicossomáticos, quando a mente interfere no corpo. Sabe-se que o hormônio do stress, o cortisol, baixa a imunidade do organismo deixando-o mais vulnerável a infecções e viroses, além de causar irritação cutênea e queda de cabelos. Quem não perde o apetite quando está triste ou come compulsivamente quando está ansioso? Da mesma forma, o zelo com a aparência física e estética corporal/facial tem impacto direto na auto-estima das pessoas. Portanto, certamente o sofrimento mental pode sim trazer problemas físicos e não há notícias na ciência moderna a respeito de recursos técnicos e medicamentoso capazes de protegerem de forma permanentemente eficaz e, portanto, irrestrita e cabal a mente do sofrimento físico, nem o físico do sofrimento mental. É preciso harmonizar mente e corpo para gozar saúde satisfatória e prevenir doenças.

Como prevenir a Síndrome de burnout?
Primeiro conhecendo como ela surge e como é a sua dinâmica. Depois aprendendo técnicas mais eficazes e eficientes de lidar com o estress próprio e o stress alheio. O material produzido, compilado e disponibilizado no curso, tais como: slides, cartilhas, questionário, pesquisas, textos diversos e video facilitam a compreensão tanto do assunto quanto dos métodos de prevenção.

Quando deve-se procurar ajuda? Que profissional é indicado?
Ajuda é sempre bem-vinda em qualquer época e em qualquer momento. Infelizmente, muitas pessoas resistem à ajuda até chegarem ao limite, à cronicidade. Diante do eminente problema é comum negar o estado aparente de debilididade ou fragilidade. Depois de reconhecer a existência do problema a pessoa tende a investir muita energia para sustentar a postura de forte e durona. Na verdade estão apenas “encapsulando” o problema que encontra as condições ideais de desenvolvimento. Num terceiro momento, quando o problema eclode e torna-se visível a todos, então recorrem-se a auto-medicação, entre outras tentativas inadequadas e inócuas para resolver o problema. Somente quando essa dinâmica esgota todas as energias e consome toda saúde da pessoa é que ela procura ajuda profissional, isso quando procura.

Pensando nas pessoas mais maduras e que não necessitam sustentar essa postura de “super-herói” criei um questionário indicativo da Burnout, inspirado no Maslach Burnout Inventory, da psicóloga norte-americana Christina Maslach, cujo intuito não é diagnosticar burnout, longe disso, mas oferecer indícios muito elementares e orientar as pessoas a procurarem ajuda médica em tempo hábil, facilitando toda intervenção do médico ou do psicólogo, posteriormente.

É necessário tratamento medicamentoso?
Embora eu não seja médico, sabe-se que assim como toda e qualquer anomalia psicofísica, o quadro de Burnout é passível de intercorrência medicamentosa sim e somente o médico e mais ninguém aquém deste profissional tem condições de avaliar e prescrever a medicação mais indicada que pode variar desde analgésicos, ansiolíticos e até anti-depressivos, conforme cada caso. Tenho notícias de pessoas que se tratam por tabela. Comparam alguns sintomas com outro colega e, havendo similaridade, compartilham do mesmo medicamento. Isto é totalmente contra-indicado haja vista que cada pessoa tem um porte físico diferenciado e um histórico pessoal muito peculiar interferindo em seu metabolismo e absorção de muitos princípios farmacológicos.

Contudo, ao identificar os primeiros sinais e sintomas da síndrome, estes podem ser debelados com simples mudanças de hábitos ou de atitudes na rotina diária. À medida em que o quadro evolui e outros sintomas vão surgindo, faz-se necessária a interveção do psicólogo, em especial os especialistas em estress e biofeedback. Quando o sofrimento mental começa a causar transtornos psíquicos como ansiedade, pânico ou quadro depressivo e transtornos físicos, então o tratamento medicamentoso se torna não apenas necessário como imprescindível. O ideal é aprender a prevenir para não ter que remediar, como diz o sábio ditado!

Qual é a importância da identificação nos docentes?
De acordo com pesquisas encabeçadas pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação e do Laboratório de Psicologia da UnB nos anos de 1999 e posteriormente atualizado em 2002, comparadas com notícias recentes, divulgando última pesquisa (2008) divulgada pela Universidade de Brasília (UnB), mais de 40% dos professores regentes desde a educação infantil até o ensino superior apresentam pelo menos uma das três dimensões da Síndrome. Isso quer dizer que alguns têm o quadro do Burnout iniciado e outros estão em um estágio mais avançado da doença. Se associarmos esta informação ao que o Prof. Codo disse, percebemos que realmente o Burnout pode “levar à falência da educação”, torno a citar. Portanto, além desse risco, é ainda fator potencial de comprometimento da qualidade de vida desses profissionais, reafirmando a importância que se deve conferir ao conhecimento deste fenômeno tão ameaçador quanto simples de se identificar e prevenir.

Fale-nos sobre o curso a distância “Stress docente: a Síndrome de Bournout em professores. Como identificar”, a quem é dirigido e qual a importância deste conhecimento nos dias atuais?
O curso é para quem quer e pretende empreender melhorias na qualidade de vida sua e na de seus educandos/clientes/pacientes, sem o inconveniente das manobras mirabolantes e de qualquer gasto extravagante, mas por mudança de atitudes simples em função do conhecimento adquirido.

A formatação do curso na modalidade a distância surgiu em função do reconhecimento dos riscos públicos e pessoais que o Burnout representa em nosso contexto social e educativo, devendo as nuanças e características desta síndrome serem divulgadas de forma mais objetiva e abrangente possível ao maior número de profissionais interessados direta ou indiretamente sobre o assunto.

A disponibilzação deste curso pelo Portal Psicopedagogiaonline e Fundação Aprender vai muito além dos objetivos comuns a um bom curso a distância. Mais do que oferecer recursos teórico-práticos aos cursistas e uma certificação reconhecida e respeitada internacionalmente, pretendemos, eu enquanto tutor e toda equipe envolvida na produção e sistematização deste curso, oferecer informações estratégicas de identificação, tratamento e prevenção do Burnout, por meio de metodologia didática adequada, em linguagem de fácil assimiliação, não necessitando, portanto, fluência nas áreas médica e psicológica para compreender o assunto e aplicar as dicas oferecidas.

A matrícula e ingresso no curso não tem restrição acadêmica e foi desenvolvido tanto para atender as necessidades básicas de eslarecimentos a profissionais das áreas médica e psicológica, responsáveis pelo diagnóstico e tratamento da doença, quanto para oferecer dicas valiosas de prevenção aos demais profissionais com potencial de desenvolvimento da síndrome, tais como docentes, educadores de modo geral, assistentes sociais, secretárias, fonoaudiólogos, enfim, todos os profissionais que, de alguma forma, lidam de forma assistencialista com seus clientes/pacientes.
Mais do que conhecer o burnout estamos oferecendo a oportunidade aos cursistas em repensar paradigmas e melhorar significativamente a sua qualidade de vida pessoal e profissional com estratégias simples e de fácil aplicação. Daí a importância e pertinência de todos os profissionais, em especial aqueles da área educacional, não pensarem duas vezes em fazer este curso, pois conhecer o inimigo é o primeiro passo para vencê-lo. Capacite-se, previna-se e torne você também um agente multiplicador na prevenção e combate da Síndrome de Burnout.

Fonte:http://www.psicopedagogia.com.br







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