Dois meses após o início do ano
letivo, uma em cada três escolas estaduais da capital paulista enfrenta
falta de professores. Dados levantados pelo jornal Folha de S. Paulo na
primeira semana de abril, a partir de convocações das diretorias de
ensino, mostram que, dos 1.072 colégios, 343 têm vagas abertas. Faltam
professores, principalmente, nas disciplinas de arte, geografia,
sociologia e matemática.
A Secretaria Estadual da Educação diz
que o resultado não reflete a "realidade". Sem citar números
específicos, o governo afirma ter uma estimativa segundo a qual o
deficit é de apenas 0,6% em todo o Estado -não citou, porém, dados sobre
a capital, alvo do levantamento da Folha.
OUVINDO FUNK
Na escola estadual Gavião Peixoto, na
zona norte da cidade, alunos do oitavo ano do ensino fundamental dizem
que só tiveram duas aulas de geografia até agora. Na sétima série,
nenhuma de artes.
Os estudantes relataram que, algumas
vezes, o professor substituto das aulas vagas acaba ouvindo funk com os
jovens dentro da sala.
Na rede estadual, o déficit de
professores persiste mesmo após a Secretaria da Educação liberar a
convocação de profissionais reprovados em exame do Estado e de outros
que nem fizeram a prova -o número de docentes nessa situação não foi
divulgado.
Também foram chamados para lecionar estudantes universitários de licenciatura.
Segundo a secretaria, cerca de 2% do magistério está nessa condição -não possui ensino superior completo.
A regra autoriza a entrada até de universitários que nem cursaram 50% do curso.
A rede enfrenta problemas de
qualidade: no último exame estadual, só 4,2% dos formandos no ensino
médio apresentaram conhecimento adequado em matemática.
Na rede municipal, a situação da
falta de professores é menor. A prefeitura informou que, na primeira
semana de abril, faltavam 198 docentes nas cerca de 1.400 escolas.
O número de escolas com deficit
atinge, portanto, no máximo 14% das escolas, ou seja, menos da metade do
montante da rede estadual.
Ainda assim, afirma a prefeitura, os alunos não ficam sem aulas, pois já é previsto um número extra de professores por unidade.
REAJUSTE SALARIAL
Na tentativa de melhorar o quadro
docente, a gestão Alckmin (PSDB) implementou plano de reajuste salarial,
que prevê aumento de 42% até o final do mandato. Fez também concurso
público.
"O caminho está certo, mas [o
aumento] deveria ser mais agressivo", disse o presidente da Udemo
(sindicato dos diretores), Francisco Poli.
Segundo ele, muitos professores desistem da rede, atraídos por salários melhores em outras atividades.
PROVIMENTO
O pesquisador Ocimar Alavarse, da
Faculdade de Educação da USP, afirma que a falta de professores na rede
estadual "é injustificada".
Ele citou dois motivos. O primeiro,
disse, porque é possível estimar o número de professores que vão sair da
rede com base em dados históricos. Além disso, afirmou, o número de
estudantes na educação básica no Estado caiu 40% entre 1993 e 2011.
"O que se assistiu foi a falta de uma verdadeira política para o provimento de profissionais da educação", diz.
Fonte: Jornal Folha de São Paulo
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