domingo, 1 de outubro de 2017

Milícias digitais: Sob a desculpa da “defesa da moral”, uma luta pelo poder.

Wagner Schwartz durante apresentação no 35º Panorama da Arte Brasileira no Museu de Arte Moderna. Foto: Atraves/Reprodução

É triste que turbas estejam despontando, aqui e ali, resolvendo fazer "Justiça com as próprias mãos", acusando pessoas ou instituições não de estuprar, roubar ou matar, mas de difundir uma ideia ou se manifestar artisticamente. Adotam a difamação e virulentos ataques virtuais - que, não raro, deixam traumas e sequelas mais graves que as agressões físicas - como modo de ação. Continuando nesse ritmo, passaremos para o linchamento muito em breve.

Não é à toa que esta situação remete a momentos da Inquisição que pensávamos ter deixado para trás.
Durante a Contra-Reforma, lideranças lançavam ao fogo quem questionava sua interpretação das palavras do Deus cristão. No fundo, não era a fé e sua doutrina que estavam defendendo, mas a manutenção de sua hegemonia sobre a população. Pois quem detém a interpretação sobre como deve ser a morte, a vida e, mais importante, a vida após a morte, controla o mundo.
Esse processo se repete ainda hoje com pessoas e movimentos que usam a justificativa da "moralidade" para atacar manifestações artísticas em desacordo com sua visão de mundo. Os mais inocentes acham que estão atuando em nome da vontade de Deus ou em defesa da família. Os mais espertos, que comandam o show ou sabem como dele se apropriar, querem promover sua imagem como "guardiões dos valores" de um determinado naco da população e serem vistos como sua "consciência crítica". Para quê? Ter poder sobre esse naco, aumentar sua capacidade de construir significados e sentidos coletivos. Mas também a fim de ajudar um político-amigo a se eleger ou contribuir com um empresário-amigo em sua empreitada contra os direitos trabalhistas.
No fundo, ninguém se importa em entender o sentido de uma notícia de jornal ou de uma mostra artística. Muito menos se promovia realmente a "pedofilia". Os líderes da turba despejam o significado que desejarem no alvo do ataque, conectando-o a ódios ancestrais e tabus. A turba, a partir daí, segue a lógica do linchamento. Ou seja, não importa o que aconteceu de verdade, se alguém está apanhando da turba é porque é culpado de algo.
(Leia a continuidade do texto no post do blog)

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