domingo, 9 de setembro de 2012

Desejo de Posse como Ideal de Felicidade: uma doença econômico-social-ideológica do capitalismo!



É lamentável perceber os estragos que a reprodução das relações de produção capitalista provoca na consciência dos seres sociais em geral. Nesse artigo refletiremos sobre uma doença econômico-ideológico-social que nomeamos como “desejo de posse, custe o que custar, doa a quem doer!”. Marx dizia, em suas teorias, que as condições econômicas determinam o modo como os seres sociais concebem/pensam/enxergam o mundo. A prática ideológica doentia do desejo de posse, com certeza, é exacerbada por conta dessa determinação econômico-capitalista.
O que as pessoas veem, em seu dia a dia, que asseveram seus desejos de posses? Veem a eternização-legitimação-naturalização das propriedades privadas como o ideal máximo de felicidade. O sistema econômico-jurídico-ideológico-discursivo-capitalista interpela as pessoas a acharem que apenas são felizes aqueles que se realizaram como proprietários. Em termos mais simples: são felizes aqueles que conseguirem posses, conseguirem mostrar que são proprietários de algo. Se uma determinada pessoa não tem posses, ela é um ninguém, um nada. Quem é valorizado por simplesmente existir, por simplesmente estar vivo e consumir apenas o necessário para manter a vida? Ninguém. No capitalismo não se valoriza o estar vivo, não se educa para valorizar a vida como a maior das riquezas. Ao contrário, todos são bombardeados por propagandas que dizem: possuam propriedades para serem felizes!
Aqui cabe fazer uma constatação muita séria em relação à atual violência urbana, no que tange às diversas práticas consideradas criminosas como roubos, assaltos, sequestros que, muitas vezes, terminam em morte. Ora, esses crimes são a expressão máxima da doença coletiva chamada desejo de posse que o capitalismo incitou na consciência das pessoas. Se a ideologia-capitalista pregada é a de que são felizesapenas os que são proprietários, apenas os que possuem determinadas propriedades privadas, então, não é de se estranhar que uma parte da população, acometida por esse desejo de posse e impossibilitada economicamente de atingir o ideal de felicidade capitalista, também cobrasse a sua parte por outros meios, praticando, por exemplo, a “apropriação não legitimada de posses” que as leis capitalistas  chamam de “crime”.
Cumpre aqui observar que, quando o burguês ou pequeno proprietário explora a mais-valia dos seus funcionários para se enriquecer, não se pagando parte do tempo do trabalho realizado pelo trabalhador, isso não é chamado de roubo, ao contrário, o não pagamento de trabalho ao trabalhador é totalmente legitimado em contratos pela classe detentora de propriedades privadas. Disso concluímos, então, que: nem todo tipo de roubo é considerado crime no capitalismo. Na verdade, o que existe é: “apropriações legitimadas de posses” e “apropriações não legitimadas de posses”. Mas a doença capitalista de fundo é a mesma: desejo de posse como ideal de felicidade, custe o que custar, doa a quem doer.
Assim, não existe uma grande diferença ideológica -- como quer fazer parecer o aparato jurídico-ideológico-discursivo capitalista -- entre os que roubam, assaltam, sequestram, e arriscam suas vidas no chamado mundo do “crime”, em uma busca desesperada por posses, daqueles que exploram trabalhadores e vigiam a unhas e dentes suas posses, mandando prender, contratando seguranças particulares, instalando câmeras por todos os lados em seus estabelecimentos, fazendo seguros, exigindo mais e mais policiais nas ruas, etc, em defesas de suas propriedades privadas. Todos estão contagiados pela mesma doença econômico-ideológico-discursiva do capitalismo: todos estão enfeitiçados pelo falso modelo ideológico de que apenas se é feliz se possuir, apenas se é feliz caso sejam donos de determinadas propriedades privadas. O desejo de posse, custe o que custar, doa a quem doer, está dando o tom ideológico a essas consciências doentias.
Qual o problema? O desejo de posse a qualquer custo, doa a quem doer, tem provocado um verdadeiro banho de sangue em nosso planeta! Matam-se milhares, disputando posses a qualquer custo. Isso é ou não uma grande doença social? É necessária essa prática?
Todas as propostas que são feitas para acabar com a marginalidade, com a violência social, no crivo ideológico do capitalismo, estão fadadas ao fracasso, porque tenta-se tratar, na base da bala e das prisões, apenas uma parcela dos doentes sociais. Os principais criadores desse falso modelo de felicidade, os principais agentes e causadores da doença social do desejo de posse, a qualquer custo, doa a quem doer, que são os donos de propriedades privadas, ditos “bem sucedidos”, em suas mansões, em seus carrões, em suas roupas de grifes caras, com seus luxos eletrônicos de última geração, estes, não recebem nenhum tratamento: sequer são considerados doentes. Ao contrário, sob seus comandos, a todo momento, a mídia faz um novo propaganda discursivo-ideológico convidando os seres sociais a adquirirem um dado objeto de  ponta no mercado para serem felizes. Portanto, o aparato econômico-jurídico-ideológico-discursivo-capitalista não desqualifica, não desautoriza, não condena os criadores desse falso modelo de felicidade, em que se prega a felicidade única e exclusivamente por meio da aquisição social de determinadas propriedades privadas.
O capitalismo não quebra e não trata o seu próprio espelho doente, e depois quer tratar as pessoas que cegamente se deixaram fissurar por esse espelho econômico-ideológico-capitalista, os chamados bandidos! A felicidade por meio de posses, a felicidade por meio de propriedades privadas, custe o que custar, doa a quem doer, é a grande doença social que o sistema capitalista conseguiu criar. Desculpem-nos a sinceridade, mas donos de propriedades privadas, espumando de raiva, pagando a polícia para correr atrás de bandidos que atentaram contra suas posses ou mesmo revidando e perdendo a vida face aos assaltos, parece-nos a cena mais patética que o manicômio capitalista conseguiu gerar. As manchetes nos jornais sensacionalistas de plantão, se fossem consequentes em suas críticas, não diriam: “Bandidos tentam assaltar supermercado e troca de tiros deixam x mortos e x feridos”! Tais manchetes deveriam dizer: “Doentes, vítimas do sistema capitalista, acometidos pelo desejo de posse, a qualquer custo, doa a quem doer, trocam tiros mais uma vez e se matam mais uma vez, estupidamente!” Até quando?
Nós, socialistas livres, achamos que a vida é a maior das riquezas e a maior das felicidades. Defendemos o socialismo e a estatização das empresas, com consequente distribuição das riquezas produzidas, dando a cada qual segundo suas necessidades, preservando os limites do planeta, porque sabemos que o modelo de felicidade, baseado no estímulo crescente do desejo de posse, custe o que custar, doa a quem doer, é doentio, é esquizofrênico, é irracional, é contrário à paz. Somos, portanto, contra as propagandas que estimulam o consumismo e o desejo de posse como orientação para se atingir a felicidade. É preciso quebrar o espelho capitalista. Uns grandes proprietários possuírem muito e saírem por aí desfilando suas posses, custe o que custar, doa a quem doer, provocando desejos e invejas sociais destorcidas, é a demonstração mais atrasada de um sistema econômico-social doente. É preciso demolir esse modelo falso: a reverência à vida e a generosidade humana deveriam ser a nossa grande meta de felicidade!
Sem essa transformação radical, infelizmente, a prática ideológica doentia que naturaliza, eterniza, legitima o desejo de posse como orientação ideal para se atingir a felicidade, custe o que custar, doa a quem doer, seguirá ceifando muitas e muitas vidas. Sangue tingirá nossa história, ao invés de afetos!
Venham lutar conosco: juntos, podemos criar um sistema econômico-social sadio! Saudações Socialistas Livres.

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