Sei que com este post, vou me aventurar
em outro campo que não é o da educação ambiental crítica (o foco do
blog), mas é sobre educação, e me sinto a vontade para falar sobre esse
assunto pois sou professora. É também uma reflexão sobre alguns
fenômenos que ocorrem nas redes sociais, que apesar de eu não possuir
uma profundidade teórica grande, exercito diariamente um olhar de
observação sobre o que acontecem por aqui, no ciberespaço.
Estou falando do mais recente fenômeno do facebook, e não é o da Gina Indelicada, rs, é sobre o Diário de Classe de Isadora Faber. Por conta desta reflexão ter se realizado em um curto espaço de tempo (alguns dias), desde que a nova intelectual da educação brasileira
estudante de uma escola pública em Florianópolis, resolveu criar uma
página no facebook para denunciar as mazelas da educação nacional.
A página já conta com milhares de
seguidores, que assim como a jovem, talvez possuam a melhor das
intenções em querer “melhorar” a educação brasileira. Muitos se rasgam
em elogios a Isadora, que sim, ao contrário de muitos jovens de sua
idade, mostra um poder de crítica louvável, e a partir de um
posicionamento político de denuncia, criou uma página para expor alguns
problemas de sua escola (e não da educação brasileira, como muitos tem
dito).
Enfim, esse mais recente fenômeno do
facebook, poderia passar sem uma crítica, mas acho que alguma coisa em
minha cabeça sinalizou que existe algo errado nessa história toda, e
pretendo ao menos listar os pontos que considero no mínimo
incompatíveis, a minha adesão a esse fenômeno. Estando imersa em
leituras sobre educação (por conta do mestrado), ou talvez por eu ser
professora de escola pública, o fato é, que eu tive outro olhar sobre
essa questão.
O intuito desta análise eu adianto, não é
desmerecer a atitude da jovem, mas sim contribuir com algumas reflexões
além, que acredito que ficaram perdidas no processo, aliás, acredito
que diante de toda a repercussão, pouca gente tenha realizado um
movimento de reflexão, um contrapondo… E por isso vou colocar o que eu
consegui alcançar:
Em primeiro lugar tenho certa ressalva a
quem faz denúncia vazia, sem uma reflexão das causas dos problemas, para
mim isso não leva a nada, apenas a revoltas momentâneas e
inconformismos futuros. Apontar alguns problemas da estrutura física da
escola como por exemplo: porta sem maçaneta, bebedouro interditado e
quadra sem manutenção, e dizer que esse é um grande problema na educação
pública é no mínimo um erro, pior do que dizer são as pessoas
acreditarem nisso. Isso é pouco, muito pouco comparado aos processos que
levam a desvalorização sócio-histórica e depreciação da educação
pública brasileira pelas classes governantes e elites dominantes. Claro
que não queremos que uma jovem de 13 anos tenha o alcance dessa
reflexão, mas ela é importante de ser lembrada e feita.
O segundo ponto, me parece que a jovem
fez algumas gravações dentro da sala de aula do professor de matemática,
e alega que dentro de espaços públicos não tem que existir privacidade…
Transcrevo aqui a fala dela: “Quanto as câmeras elas já fazem parte
do nosso dia não tem o que discutir elas já estão por toda parte, numa
instituição pública não podemos querer privacidade.” Peraí… Não é
corporativismo vão, pois sou também professora, mas gravar aula de um
profissional, colocar na internet, expondo e criticando o professor… Não
me parece uma atitude ética. Será que o professor teve chance de se
defender? Só a título de informação, o uso do telefone celular, e isso
inclui câmeras é proibido dentro de sala de aula (pelo menos aqui no
Estado do Rio de Janeiro, mas acredito que em outros Estados também).
Bem Isadora, menos um ponto para você.
Para não me estender muito, um último
item. Uma coisa que chama atenção foi o contexto que a jovem estuda: Uma
escola pública em Florianópolis, que apesar de alguns problemas na
estrutura (fechaduras quebradas, quadra de esporte ruim, entre outros), e
algumas divergências com os métodos dos professores… A escola possui um
IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica de 6,1 e 4,8 isso
é índice de país desenvolvido… Só para compararmos, aqui no Rio de
Janeiro o Governo do Estado ficou imensamente feliz por ter alcançado um
IDEB de 3,2.
Não é o caso da Isadora, mas muitos que
falam da escola pública, não conhecem a realidade de como é a educação
nesses espaços. O que a jovem está fazendo é interessante, do ponto de
vista da denúncia, do ciberativismo, mas volto a dizer sem reflexão se
torna vazio, mais por parte dos que estão curtindo, do que dela mesma,
afinal ela é apenas uma adolescente… A questão da escola pública em
nosso país vai muito além e é muito mais grave do que está sendo
denunciado no Diário de Classe de Isadora. Bom para ela que alguns dos
problemas de sua unidade escolar tenham sido resolvidos com as
denúncias, mas e as demais escolas de Florianópolis? E as demais escolas
de Santa Catarina? E do Brasil?
Será que os problemas por ela denunciados, eram realmente graves
em um país cuja realidade da educação é extremamente desigual? O que é
uma porta pichada, uma maçaneta quebrada quando se tem um IDEB de 6,1?
Será que todas as escolas do Brasil estão nesse nível?
Espero ter contribuído com essas
reflexões, sobre a página do facebook Diário de Classe de Isadora Faber,
sobre algumas fragilidades que se puseram em sua ação, e mais ainda na
construção de como esses fenômenos da internet, às vezes, são anunciados
como salvadores (ouvi gente dizendo que é a revolução no ensino público),
inspiradores (alguns na verdade o são), mas que precisam ser pensados
antes de ser curtidos sem nenhum tipo de reflexão prévia.
Fonte : http://eacritica.wordpress.com/
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