quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Gênero, em tese


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Russell Harrison, Flickr, CC

Gênero. Não é pouca coisa. É coisa demais.
É aquele desespero quando uma criança chora nonstop. É achar que a criança chorando não é problema seu. É apender a encaixá-la no quadril quando pesa. É recusar o quadril diariamente.

Gênero é a curiosidade em aprender a cozinhar – ou a profissionalização da culinária. Ops, perdão, gastronomia. Chef versus cozinheira. Quem recebe o chapelão?

É a vozinha que me diz “quero filhos” e depois me mata de remorso a cada bobagem como mãe. Não sou mais gente depois que pari, sou santa-semideusa, respeitem. Não tem filhos? Sabe nada de educação.

É gênero também prover. Prover o campo emocional de cá, o material de lá. Enxergar essas duas possibilidades binárias, opostas, excludentes. É gênero.

Tomar anticoncepcional. Não usar camisinha. Usar camisinha. Que camisinha usar. Estudar Letras, cursar Engenharia, fazer residência médica em Pediatria. Ser doméstica. Contratar doméstica. Parar escola pra trabalhar. Beber a pior cachaça. Entender de uísque. Fumar charutos. Tensão com as contas no fim do mês. Chorar numa comédia romântica. Preferir filmes de ação. Ler quadrinhos. Assistir futebol. Ver novela.

Gênero é controlar o corpo. É o corpo que precisa ser rijo; é o corpo que tem que ser mole. São as curvas e sua ausência, obrigatórias. Sob a pena da margem. Ninguém quer estar à margem.

Somos nós. Gênero é o que pensamos de tudo isso. Por que fazemos e, mais importante: cobramos e controlamos para que os outros – e as outras – façam.

É ver o mundo como homem e como mulher.
Não importa o corpo que se tenha.
Fonte: http://www.mulheralternativa.net/

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