segunda-feira, 12 de abril de 2010

De Quem é o Mérito?


Por Domingos Amato
A Secretaria de Estado da Educação de São Paulo anunciou, recentemente, o resultado do primeiro concurso de promoção do Programa Valorização pelo Mérito. Os promovidos ganharão aumento de 25% em relação ao salário inicial de cada categoria.
O concurso de promoção do magistério contou com 135.841 candidatos inscritos, dos quais apenas 96.042 prestaram a prova e 81.526 foram aprovados. Desse montante, apenas 75.249 apresentaram os requisitos, 64.397 foram aprovados e 44.569 foram promovidos.
O Secretário da Educação parece ser o único que ficou feliz com o resultado. Afinal ele conseguiu encontrar 44.569 aprovados.
O Magistério de São Paulo é composto por cerca de 222.800 profissionais. Esse número na verdade é maior, mas o PSDB sempre fez questão de excluir os secretários, escriturários, inspetores de alunos, serventes e merendeiras desse número, mantendo-os na senzala. Desse total apenas 96.042 profissionais compareceram para a realização das provas. O fato de apenas 43% do total de funcionários estarem presentes ao certame indica claramente o descontentamento da grande maioria com o processo, ainda mais se levarmos em conta que boa parte desses 43% compareceu, mesmo não concordando com o processo, talvez por se julgarem incapazes de reverter o que foi imposto goela abaixo pelo ex-democrata, agora monarca José Serra.
O Resultado da prova impressiona muito. Dos 96.042 profissionais que prestaram as provas, 81.526 lograram promoção. Para uma avaliação dessa monta, obter 85% de aprovação é um resultado espetacular, principalmente se levarmos em conta que tudo foi feito as pressas. Bibliografia extensa e de última hora.
Com relação à bibliografia, chama à atenção o fato, que quase toda ela, ser anterior a 2002. Como se o mundo acadêmico tivesse parado de produzir a partir da saída do Sr Secretário do Ministério da Educação. Como se o País estivesse passando por um hiato, em virtude das prima-donas não estarem no poder central.
Ao contrário do que aconteceu com o resultado das provas realizadas em dezembro, quando a imprensa tripudiou, com a anuência da Secretaria da Educação, sobre a cabeça dos professores, não vimos nenhuma manchete destacando que, desta feita, 85% dos Professores que fizeram esta avaliação lograram aprovação.
É bem verdade que até o presente momento, a Secretaria da Educação não divulgou os dados relativos ao desempenho dos docentes nas avaliações. Até agora, temos acesso aos nomes e cargos dos promovidos. Individualmente cada um tem acesso aos resultados que obteve nas 60 questões objetivas, na questão dissertativa e na média das duas avaliações. Nas conversas sobre o assunto, temos ouvido de tudo e como não temos os dados, fica difícil uma analise mais apurada sobre o resultado, mas percebemos uma alegria imensa com relação ao resultado obtido na questão dissertativa.
Quem pensou no formato da prova sabia o que estava fazendo. Após décadas de discussão sobre avaliação, a Secretaria adotou o que existe de mais atrasado em termos de avaliação. Afinal tudo fazia parte do script de saída do Governador para vôos mais altos. Se tudo desse certo, além das inúmeras inaugurações de obras e maquetes, no mês de março, os professores estariam felizes. Pagamento do Bônus pelos resultados e o anuncio do aumento de 25% nos salários daqueles promovidos pelo mérito, ainda mais porque retroage a primeiro de janeiro, enquanto nas próximas edições, se ocorrerem, o pagamento será a partir de junho.
A perversidade é tamanha. Como os salários são muito baixos, motivo pelo qual o magistério está em greve, cinco por cento de aumento para todos, seria uma afronta e, não surtiria o efeito necessário em ano eleitoral. Já os vinte e cinco por cento de reajuste, mesmo que para uma minoria, além do impacto midiático, joga nas costas do professor a culpa pelo fracasso uma vez que no máximo dois em cada grupo de dez obtiveram o beneficio. Não podemos nos esquecer dos aposentados uma vez que em prevalecendo essa sistemática, nunca mais terão reajuste em seus proventos. Restou provado que alem dos pobres, eles não gostam de velhos.
O mês de março se transformou num verdadeiro desastre para a Secretaria da Educação. Só não foi pior, em termos de mídia, porque conseguiram preencher todas as vagas para a promoção. Há indícios muito fortes de que houve uma “flexibilização” na correção da questão dissertativa em favor dos avaliados, até pela pretensão de se utilizar esse processo politicamente durante a campanha presidencial. Se de fato ocorreu, distorceu o resultado final.
Acho que todos lembram daquela história do piloto (coisa antiga), que obteve nota dez na decolagem e nota zero na aterrissagem. Conseguiu seu brevê com a média cinco, mas todos os passageiros morreram. Por analogia, um professor de matemática que tenha obtido nota três na parte especifica e, acreditando ou não, conseguiu reproduzir o discurso do governo na parte dissertativa, obteve nota dez. Foi aprovado e provavelmente promovido, pois obteve a média seis e meio. Tal qual os passageiros daquele piloto, os alunos desse professor estarão numa saia justa.
É difícil falar sobre esse assunto, de dentro da corporação, afinal sujeito e objeto do processo, temos que levar em conta as implicações que isso pode trazer no dia a dia, trabalhando com alguns promovidos e muitos não. Afinal somos 178.000 descontentes e outros 44.000 nem tanto. Mas uma coisa é certa: a Secretaria da Educação deve, com urgência, publicar os resultados obtidos por cada um, afinal a sociedade deve ter conhecimento de que forma os recursos públicos estão sendo aplicados ou implicados.
Só com a intervenção da sociedade organizada, sairemos desse imbróglio em que nos meteu os interesses escusos daqueles que governam esse estado há quinze anos, como se isto aqui fosse uma monarquia, e não uma democracia representativa.
O mérito será exclusivamente deles.
Domingos Amato
Fonte: http://profdomingos.blogspot.com

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