terça-feira, 20 de abril de 2010

PIERRE BOURDIEU (1930 -

BOURDIEU E OS ESQUEMAS REPRODUTORES
Questões a refletir a partir do pensamento de Bourdieu: Será que a barreira da dominação social é intransponível?
Será que estamos condenados a reproduzir as estruturas indefinidamente?
Bourdieu é um dos principais sociólogos a analisar a educação contemporânea sob a influência do modelo de Durkheim.
Para levar a cabo a ambição de Durkheim de unificar as ciências humanas em torno da sociologia, Bourdieu introduziu uma síntese teórica entre o modelo durkheimiano e o estruturalismo.
O estruturalismo se conecta à sociologia de Durkheim na medida em que pretende desvendar o peso das estruturas sociais por trás das ações dos sujeitos. (O pensamento de Bourdieu é uma versão mais radical do modelo de Durkheim).
Para o estruturalismo (pensamento de Bourdieu na 1a fase de sua produção, década de 1960) = os sujeitos são uma espécie de marionetes das estruturas dominantes.
Os agentes sociais, mesmo aqueles que pensam estar liberados das determinações sociais, são movidos por forças ocultas, que os estimulam a agir, mesmo que não tenham consciência disso. (“condições objetivas” que o investigador deve desvendar, pois é nelas que residem as explicações)
Bourdieu compreende que: a teoria de Durkheim e o estruturalismo permitem demonstrar como os indivíduos, em sua ação, apenas reproduzem as orientações determinadas pela estrutura social vigente.
Para Bourdieu: Os sujeitos da ação estão ausentes daquele nível da sociedade em que são objetivamente determinadas as suas ações. O sujeito não existe. O que chamamos de ação, é o processo pelo qual as estruturas se reproduzem. O sujeito está submetido aos desígnios da sociedade, faz o que as estruturas determinam, não sabe disso e ainda é iludido pelos discursos dominantes, que o fazem pensar que sua ação é resultante de vontade própria.
Bourdieu e Passeron (em 1964) os herdeiros, livro no qual pretendiam combater uma idéia muito comum na França da época, segundo a qual os estudantes e o meio estudantil seriam uma classe social à parte na sociedade. E seriam responsáveis, em razão de sua juventude e de sua disposição para a ação, pela liderança da transformação social.
Em maio de 1968, em Paris, estudantes franceses saíram às ruas, culminando num processo de mobilização que teria um alcance bem maior do que a capital francesa.Ironicamente o livro serviu como estímulo para essas mesmas revoltas estudantis (por seu aspecto crítico).
Idéias presentes no livro os herdeiros:
  • Discordam do discurso dominante segundo o qual a conquista de uma “escola para todos”, de caráter igualitário, tornaria possível a realização das potencialidades humanas.
  • Compreendem que a instituição escolar dissimula por trás de sua aparente neutralidade a reprodução das relações sociais e de poder vigentes: encobertos sob as aparências de critérios puramente escolares, estão critérios sociais de triagem e de seleção dos indivíduos para ocupar determinados postos na vida.
  • Entendem que não há qualquer possibilidade de romper com as estruturas de reprodução e afirmam que as teorias pedagógicas são uma cortina de fumaça que procura ocultar o poder reprodutor do sistema que está nas mãos dos educadores. (Para os autores não há saída: o sistema de ensino filtra os alunos sem que eles se dêem conta e, com isso, reproduz as relações vigentes. Não há possibilidade de mudança).

1970: Bourdieu e Passeron refinam suas idéias, incorporando sistematicamente as idéias e Marx e Max Weber, publicando o livro “A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino”.- Tese central do referido livro: toda ação pedagógica é, objetivamente, uma violência simbólica.

  • Violência simbólica = imposição arbitrária que, no entanto, é apresentada àquele que sofre a violência de modo dissimulado, que oculta as relações de força que estão na base de seu poder.
  • Ação pedagógica = é uma violência simbólica porque impõe, por um poder arbitrário, um determinado arbitrário cultural.
  • Arbitrário cultural = concepção cultural dos grupos e classes dominantes, que é imposta a toda a sociedade por meio do sistema de ensino.

Tal imposição não aparece jamais em sua verdade inteira e a pedagogia nunca se realiza enquanto pedagogia, pois se limita à inculcação de valores e normas. A ação pedagógica implica o trabalho pedagógico (trabalho de inculcação daquele referido “arbitrário” que deve durar o bastante para que o educando “naturalize” seu conteúdo, encare-o como natural, como evidentemente correto em si mesmo, o bastante para produzir uma “formação durável”).

(...) Na media em que o educando interioriza os princípios culturais que lhe são impostos pelo sistema de ensino – de tal modo que, mesmo depois de terminada sua fase de formação escolar, ele os tenha incorporado aos seus próprios valores e seja capaz de reproduzi-los na vida e transmiti-los aos outros – Bourdieu diz que ele adquire um habitus. Uma vez que o arbitrário cultural a ser imposto é incorporado ao habitus do professor, o trabalho pedagógico tende a reproduzir as mesmas condições sociais (de dominação de determinados grupos sobre outros) que deram origem àqueles valores dominantes. (p.74).

O que explica, no pensamento de Bourdieu, a desigualdade que está na base do processo de seleção escolar?

A compreensão de que todo sistema de ensino institucionalizado visa em alguma media realizar de modo organizado e sistemático a inculcação dos valores dominantes e reproduzir as condições de dominação social que estão por trás de sua ação pedagógica.(...)

Os autores, valendo-se de dados empíricos, demonstram que as “condições de classe de origem” dos alunos que entram no sistema de ensino francês determinam tanto a probabilidade de passagem ao nível escolar seguinte, quanto, ainda, o tipo de estabelecimento de ensino ao qual ele tem acesso (se de melhor ou pior qualidade). Tal situação se reproduz, do ensino básico ao médio e ao superior e determina também, no final das contas, a “condição de classe de chagada”, deste aluno, isto é, o tipo de habitus que adquiriu, o “capital social” ao qual teve acesso e, em especial, a posição na hierarquia econômica e social a que chegou. (P.74).

REFERÊNCIA:

GADOTTI, Moacir. História das idéias pedagógicas. 8. ed. São Paulo: Ática, 2001
Fonte: http://sociedadeducacao.blogspot.com/2007/10/bourdieu.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário