domingo, 23 de dezembro de 2012

Fim de ano, ano novo! Novo? Ou aparência de novo?



As práticas sociais, seguindo a lógica dos calendários das tradições político-religiosas, ano após ano, referendam o fim de ano e o início de outro ano novo, como uma passagem excepcional, mágica, encantadora, promissora de grandes novidades... 
Porém, a um olhar atento, depois dos fogos, festividades, sorrisos e prantos, o que se vê, no mundo econômico-ideológico-jurídico-discursivo, não passa de reprodução, repetição, o novo não passou de uma aparência ideologicamente construída!
Em outras palavras, o novo é apenas uma catarse temporária, uma emoção temporária, um êxtase temporário, antes de se voltar a velha roda da exploração capitalista. 
Passadas as primeiras horas, chegado o novo ano, as práticas sociais voltam ao velho, como se o velho fosse algo natural, eterno e necessário, e não houvesse outra forma de seguir caminhando senão pelas trilhas do velho. Assim, logo, logo, vão reaparecendo as rotinas de operários madrugando para sobreviver, deixando suas mais-valias – tempo de trabalho não pago aos trabalhadores – para enriquecer os donos dos meios de produção; logo, logo, vão reaparecendo os mesmos parcos salários com os quais se pagará o preço da sobrevivência; logo, logo, vão reabrindo as escolas públicas sem investimentos e uma rotina sem criatividade vai se construindo como se fosse o único caminho possível; logo, logo, as opressões machistas, racistas, homofóbicas, de bullying, vão seguindo com sua novas vítimas; logo, logo, os políticos empossados no ano novo vão mostrando que também estão a serviço da reprodução do status quo do capitalismo; logo, logo a violência seguirá criando seus novos mortos; e um longo etc..., facilmente previsível, poderia ser descrito, sem precisar de ser nenhum leitor de oráculos.
Em outros termos, o velho ofusca a promessa do novo, porque tudo foi montado para que a promessa do novo não passasse de uma grande festa à fantasia, regada por muito vinho, cerveja, champanhe e consumismo. As práticas políticas-econômicas-jurídicas-ideológicas-discursivas não sofrem deslocamentos profundos, não sofrem uma revolução com a chegada do ano novo, logo, nada há de novo no terreno da economia, da política, do jurídico, da ideologia, dos discursos dominantes. Resumindo: as festividades de fim de ano, à semelhança do carnaval, não passam de uma pausa temporária, um respiro temporário, para a brutal exploração rotineira do trabalho preso às regras de produção do sistema capitalista.
Onde estaria o novo? A única possibilidade do novo, nos marcos do sistema vigente, estaria em exercer cotidianamente nossa postura crítica perante a vida e perante as práticas socialmente construídas. Com o exercício da postura crítica cotidiana, logo perceberíamos que o novo somente seria novo se pudéssemos viver, a cada dia, de forma mais relaxada, com um tempo livre maior para se viver a vida. O novo verdadeiro estaria em uma parcela maior de tempo livre para festejar todos os dias a alegria de se estar vivo, porém, com postura crítica, logo veríamos que, no capitalismo, não há espaço para aumentar o tempo livre dos trabalhadores, pois a parcela do tempo dos trabalhadores, que poderia ser uma parcela de tempo livre, tem servido, nesse sistema econômico-jurídico-ideológico, para gerar mais-valia para os donos dos meios de produção. Ou seja, o que poderia ser tempo livre tem sido explorado como tempo de trabalho não pago. Esta é a alma do capitalismo: explorar uma parte do tempo de trabalho do trabalhador, levando-o a produzir mercadorias gratuitamente para os donos dos meios de produção. Com a venda dessas mercadorias produzidas gratuitamente pelo trabalhador, os investidores capitalistas adquirem mais-valia, mais-valor, mais lucro para seu próprio bolso. E o trabalhador, o que ganha com o capitalismo? Bom, não ganha, apenas sobrevive, e, por conseguinte, perde o tempo livre que poderia-deveria ser usado para viver a vida.
Portanto, vale a pena refletir com a teoria marxista e vale a pena lutar em nome da teoria marxista-socialista: é preciso transformar o mundo. Afinal, enquanto o mundo que organiza o trabalho for capitalista, grandes festas, grandes datas, grandes novidades, festas de fim de ano, não passam de um pequeno intervalo para que os seres sociais da classe trabalhadora consigam reproduzir, sem maiores reclamações, no ano seguinte, as jornadas de trabalho estafantes que tendem a se repetir durante todo o ano para gerar mais-valia aos empresários dos diversos setores de produção. Queremos aqui reivindicar Marx: somente no Socialismo, o trabalho não será um fardo, pois teremos uma parcela bem maior de tempo livre, já que não nos relacionaremos com base na exploração da força de trabalho alheia. Destarte, talvez, no Socialismo Livre, festividades como a de final de ano não seriam tão importantes e relaxantes como são, porque já estaríamos mais relaxados no decorrer do próprio dia a dia. Utopia, sonhar com um mundo Socialista? Talvez o seja, mas, enquanto socialista livre, marxista, não pretendo deixar de sonhar e de lutar por um mundo melhor.
São com essas palavras que fecho, neste Blog, o último post do ano de 2012. E afirmamos: para que o novo não seja simplesmente uma catarse, é preciso que ousemos seguir lutando para construir um mundo melhor para se viver, sem exploração do trabalhador, sem opressão, sem atrasos, sem obscurantismos. Postura crítica e luta para transformar o mundo! Essa proposição resume a Prática Político-Filosófica Socialista Livre. Parodiando Che, diria: “Festejemos, respiremos, mas sem perder o foco na Revolução Jamais”!
Por: Gílber Martins Duarte – Socialista Livre – Conselheiro do Sindute-MG e diretor da subsede do Sindute em Uberlândia - Professor da Rede Estadual de Minas Gerais – Doutorando em Análise do Discurso/UFU - Membro da CSP-CONLUTAS.

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