domingo, 23 de junho de 2013

“A violência envergonha o Brasil” há muito tempo, Presidente Dilma!


Com tantas mobilizações sacudindo o país, não podemos concordar com o simplismo político e moralista ecoado no discurso nacional da Presidente Dilma. A Presidenta apresentou promessas vagas como “pedir deputados para aprovar todos os royalties do petróleo para educação” e “fazer um pacto com governadores e prefeitos pela melhoria dos serviços públicos”. Ora, pacto com governos e prefeitos? Tem dez anos que esses governos e prefeitos descaracterizam a lei do Piso Nacional da Educação e a Presidenta vem falar em pacto? Ora, tem duzentos anos que o movimento educacional brasileiro reivindica “10% do PIB para Educação Já” e Dilma vem falar em royalties do petróleo para a educação? Quanto é isso? Qual a produção de petróleo? 
O New York Times, jornal da burguesia americana, diz em sua manchete que não entende porque os brasileiros estão ficando tão zangados. Pelo visto, a Presidente Dilma, acostumada mais a ficar conversando com a burguesia brasileira e com a burguesia mundial, também não está entendendo o que se passa com os jovens excluídos e trabalhadores do Brasil. A irritação é simples: tem 500 anos que esse país apresenta profundas desigualdades sociais, deixando uma imensa classe social alijada de direitos básicos. Tal opressão-exclusão-exploração histórica antes era implantada pela bala dos jagunços, pela chibata dos escravocratas, pela pólvora dos bandeirantes assassinos de indígenas, pelas eliminações físicas das ditaduras. Nas décadas recentes, contudo, as desigualdades sociais são perpetuadas pelas políticas privatizantes e de total rendimento-subserviência aos banqueiros e empresários: tanto os governos do PSDB/DEM, tanto os governos do PT/PMDB/PSB/PDT, etc, tem priorizado governar para os ricos. É isso que está por trás dos protestos da juventude e dos trabalhadores: os governos ouvem a burguesia, não ouvem os excluídos, não ouve os trabalhadores.
Dilma ressaltou de modo simplista, em seu discurso típico de burguês, que “a violência envergonha o Brasil!”, como se a violência tivesse começado agora com as vidraças e portas quebradas nos grandes centros urbanos. Em que mundo vive a Presidente Dilma? Há 500 anos que o Brasil é um país violento. A classe dominante desse país é altamente violenta: chegou aqui matando índios, escravizando os negros, explorando trabalhadores em troca da comida. E o que mudou? Nada. As classes dominantes, com o apoio dos governos do PSDB/DEM/PT/PSB/PDT/PMDB, etc., continuam violentas e excluindo milhões de seres humanos no Brasil.
As classes dominadas excluídas já nascem sendo violentadas pelas classes dominantes, tendo de viver em favelas, empoleiradas em morros, em barracos mofados, sem saneamento básico, sem saúde de qualidade, sem educação de qualidade, sem lazer, sem cultura, sem salário digno, sem emprego, sem perspectiva de futuro, em meio a morticínios diários, vítimas dos mais variados preconceitos. Essa violência envergonha o Brasil, Dilma!
Os negros e pobres pertencentes às famílias historicamente escravas do sistema, perdidos em meio a tanto desamparo social, são os que lotam as favelas, são os que lotam as cadeias, são os que mais morrem na mão da polícia. Essa violência histórica envergonha o Brasil, Dilma!
Os homossexuais são vítimas de homofobia diárias nesse país, sendo que muitos são mortos e agredidos país afora e o Governo Federal coloca Feliciano, um homofóbico, na Comissão de Direitos Humanos para aprovar projetos reacionários como o "Cura Gay", uma violência brutal aos homossexuais do país. Os homossexuais não precisam de "cura", precisam de respeito. Essa violência envergonha o Brasil, Dilma!
Mulheres são assassinadas todos os dias nesse país e não se criam abrigos seguros, com amparos financeiros, para as mulheres agredidas terem reais condições de livrarem-se de ataques machistas que colocam em risco suas vidas. Essa violência machista envergonha o Brasil, Dilma!
Jovens excluídos socialmente e sem perspectivas têm sido recrutados desde cedo, em suas vidas, para o mundo do crime e estão "matando e morrendo" em escala cada vez maior nesse país, gerando inseguranças crescentes nas grandes cidades e os governantes insistem em suas políticas de transferir dinheiro público para os banqueiros e empresários, ao invés de gastar o dinheiro público para acolher estes jovens excluídos desde cedo, evitando que entrem para o mundo do crime. De fato, Presidenta, essa violência envergonha o Brasil!
Estudantes que não conseguem ser aprovados regularmente nas escolas vão para os programas de aceleração dos estudos. Em Minas Gerais esse programa é aplicado pelo PSDB e se chama PAV, mas, no fundo, tais programas apenas servem para dar diplomas superficiais para os jovens excluídos, evitando-se de gastar dinheiro público com eles, corrigindo suas dificuldades de aprendizagens. Geralmente esses jovens que sempre se reprovam na escola também já são reprovados na sociedade. Sentem-se violentados e excluídos em seus próprios barracos e em sua miséria econômica, e, dentro das escolas, também são excluídos pelo Estado, tratados como alunos de última categoria e não acolhidos. Essa violência com a juventude excluída de fato envergonha o Brasil, Dilma!
Enfim, a lista de violência é imensa, há 500 anos que esse Brasil é violento. Nesses dias de protesto, temos visto jovens excluídos apedrejando concessionárias de automóveis. Por quê? Porque sabem que nessa sociedade excludente apenas uma classe social os terá. A violência é resposta à violência dessa sociedade excludente. Temos também visto jovens excluídos quebrando bancos. Por quê? Sabem que apenas uma parcela da sociedade pode circular imperiosamente por esses espaços. Os bancos não são criados para eles. A violência é uma resposta à violência dessa sociedade excludente. Também estamos assistindo jovens excluídos quebrando lojas que escondem objetos de desejo social que podem ser adquiridos apenas por uma parcela da sociedade. Por quê? É uma resposta a essa sociedade violenta e excludente que propagandeia objetos de valor, mas não dá condições para que todos possam adquiri-los, apenas as classes sociais mais privilegiadas. Portanto, não sejamos simplistas, por favor, a exclusão social é a causadora de todas as grandes violências ocorrentes no país. Essa violência envergonha o Brasil, Presidente Dilma!
Sem acabar com os privilégios sociais em uma ponta e a exclusão social em outra ponta, o mundo capitalista é um convite à violência. Sem moradia digna para todos, sem salário digno para todos, sem saúde pública de qualidade para todos, sem escola pública de qualidade para todos, sem emprego para todos, sem lazer e cultura para todos, etc, não colocaremos fim à violência. A juventude excluída parece não estar mais disposta a viver apenas com as "bolsas migalhas" que os governantes oferecem a seus pais. Estariam errados esses jovens que lutam por uma vida digna? Pensamos que não! Ora, com simplismo político, os governos continuam a não entender a mensagem que a juventude excluída está dando nas ruas. Basta de exclusão social: essa violência envergonha o Brasil, Presidente Dilma!
Por: Gílber Martins Duarte – Socialista Livre – Conselheiro do Sindute-MG e diretor da subsede do Sindute em Uberlândia - Professor da Rede Estadual de Minas Gerais – Doutorando em Análise do Discurso/UFU - Membro da CSP-CONLUTAS.

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