domingo, 23 de junho de 2013

Não estávamos dormindo...........


O Brasil atravessa uma fase extraordinariamente delicada... é evidente que, despertada do sono cataléptico que dormira, ao embalo dos cantos de sereia... a Nação vê renascer sua consciência política...” General Waldomiro de Lima. Interventor no Estado de São Paulo (1933)
  Essa octogenária citação, reproduzida na íntegra pelos historiadores Carlos Alberto Vesentini e Edgar de Decca em artigo de 1976, nos faz pensar numa falácia sobre o suposto sono do povo brasileiro, pretensamente despertado nos últimos dias.
   Senão, vejamos:
  Não estavam dormindo as faxineiras, diaristas e toda essa pletora de trabalhadoras e trabalhadores que estão lutando pelos seus direitos, madrugando nos pontos de ônibus, enquanto boa parte dos filhos de nossas classes médias e altas gozam de seu dolce far nienteapenas para torrar o dinheiro dos pais. E não dormem aquelas e aqueles que são responsáveis pela condição de funcionamento de empresas, Universidades, shopppings, repartições públicas e todo o tipo de estabelecimentos pelo país afora.
  Não estavam dormindo os trabalhadores rurais, que lutam pelo fim da escandalosa concentração fundiária no nosso país. Gente que herda a luta secular expressa em Canudos, Contestado, Ligas Camponesas e os mais diversos e bravos movimentos de trabalhadores que batalharam e batalham pelo acesso à terra na qual depositam seu pesado labor.
Não estavam dormindo os povos indígenas, que lutam secularmente pelos seus direitos à terra, pelo respeito às suas culturas e que são vítimas diretas do vergonhoso esbulho que se pratica há cinco séculos contra seus direitos nesse país tropical. Eles estão despertos e continuam a resistir.
   Não estavam dormindo os trabalhadores urbanos, que reivindicam direitos de moradia (contra os escandalosos latifundiários urbanos, que especulam e encarecem as moradias), ou lutam contra a carestia que abate os mais pobres (em movimentos como o Quebra-quilos, a revolta do vintém, contra o aumento das passagens de bondes, entre muitas e muitas lutas pelo transporte popular e outros serviços públicos), que apenas favorece o apetite daqueles que se locupletam com a exploração do suor do povo.
Não estavam dormindo aqueles que lutam contra a maior e a mãe de todas as corrupções, a injustiça social, que é geratriz de todas as demais. Não dormiam esses que tentam garantir serviços públicos de qualidade e respeito, serviços esses que são aviltados por interesse de grandes e pequenos esquemas que sugam as energias de nosso trabalho. Lembremos que a macro e a micro-corrupção se alimentam nas mesmas tetas.
Não estavam dormindo os movimentos de negros, de homossexuais, de mulheres, de direitos humanos, enfim, de todos os grupos vítimas das mais diversas formas de opressão física e moral que batalham com ardor por respeito, por direitos iguais para as muitas diferenças. Estes estão avançando, para desespero dos fascistóides de todos os matizes que querem padronizar vidas e comportamentos. Querem padronizar segundo seus velhos modelos para excluir.
Não estavam dormindo aqueles que sabem que a grande mídia é um oligopólio que manipula as notícias ao bel prazer dos inconfessáveis interesses de grupos de poderosos e privilegiados que têm instrumentalizado secularmente o Estado brasileiro para manter toda uma sociedade jungida ao seu gosto por mandar e explorar.
Estejamos alertas: estavam e estão muitíssimo acordados os grupos de direita e extrema-direita e os oportunistas e arrivistas de plantão, que tentam usar agentes provocadores para desestabilizar a democracia pela qual nossa sociedade tem lutado tão longamente, com coragem cívica e com o sangue de muitos e muitos massacrados em nome de uma suposta ordem, que apenas pretende manter boa parte do povo como mera massa produtiva, enquanto esnobam dinheiro nas colunas sociais e arrotam seu pseudo-patriotismo de ocasião.
Não podemos cair nessa falácia: o povo está acordado há muito tempo, e não podemos nos deixar iludir pelas artes da manipulação que tão solertemente tentam se infiltrar nos legítimos reclames da sociedade. Lembremos: alguns de nossos piores inimigos estão disfarçados nas passeatas.
Por Ângelo Emílio da Silva Pessoa - Professor de História

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