Por Leonardo Sakamoto
– Amor, fecha rápido o vidro que tá vindo um “escurinho'' mal encarado.
– Aquilo são ciganos? Vai, atravessa a rua para não dar de cara com eles!
– Não sou preconceituoso. Eu tenho amigos gays.
– Tá vendo? É por isso que um tipo como esse continua sendo lixeiro.
– Por favor, subscreva o abaixo-assinado. É para tirar esse terreiro de macumba de nossa rua.
– Bandido bom é bandido morto.
– Tinha que ser preto mesmo!
– Vestida assim na balada, tava pedindo.
–
Por que o governo não impede essas mulheres da periferia de ter tantos
filhos assim? Depois, não consegue criar e vira tudo marginal.
– Baiano quando não faz na entrada faz na saída.
– Mulher no volante, perigo constante.
– Sabe quando favelado toma laranjada? Quando rola briga na feira.
– Os sem-teto são todos vagabundos que querem roubar o que os outros conquistaram com muito suor.
– A política de cotas raciais é um preconceito às avessas. Ela só serve para gerar racismo onde não existe.
– Ai, o Alberto, da Contabilidade, tem Aids. Um absurdo a empresa expor a gente a esse risco.
– Esse aeroporto já foi melhor. Hoje, tem cara de rodoviária.
– Por mim, tinha que matar mulher que aborta. Por que a vida do feto vale menos que a da mãe?
– Os índios são pessoas indolentes. Erram os antropólogos ao mantê-los naquele estado de selvageria.
– Criança que roubou não é criança. É ladrão e tem que ir para cadeia.
–
Tortura é método válido de interrogatório.
– Um mendigo! Vamos botar fogo nas roupas dele. Assim ele aprender a trabalhar.
– Pena de morte já.
– Eutanásia? Pecado. A vida pertence a Deus, não a você.
Não precisamos defender direitos humanos no Brasil. Precisamos de uma terapia coletiva. Urgente.
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