quinta-feira, 24 de maio de 2012

O casamento


Por João Paulo da Silva


Por que é mesmo que os casamentos acabam, hein? Uma amiga minha costuma dizer que o casamento é uma instituição social falida. Não sei. Talvez até seja mesmo. Mas imagino que ela esteja se referindo àquela tradicional e conservadora forma de casamento, surgida de uma das costelas da propriedade privada, lá nos primórdios da humanidade. Um tipo de matrimônio que previa a união entre um homem e uma mulher com o objetivo principal de garantir um herdeiro ao marido para que este não perdesse suas propriedades para o vizinho. No fim das contas, uma espécie de negócio. Vale lembrar, ainda, que essa era a única razão para que as mulheres fossem obrigadas a casar virgens (algo hoje bem mais fraco, é verdade). A história de manter a pureza do corpo até as núpcias e todo o blábláblá as religiões idealizaram depois. A exigência da virgindade era só para que o homem tivesse a certeza de que ao menos o primeiro filho seria seu. Quer dizer, quando inventaram a propriedade privada e o casamento monogâmico (este só para a mulher, é claro), inventaram também, de quebra, o machismo. Bom, mas a julgar pelo positivo avanço das atuais formas de união, inclusive homossexuais, talvez seja aquele casório démodé que tenha se tornado, sim, uma instituição social falida e com os dias contados.
Entretanto, antes de seguirmos em frente com a busca da resposta para a pergunta que abriu esta crônica, me permitam mais algumas digressões sobre a absurda exigência da virgindade feminina. Quando se obriga uma mulher a casar virgem, impõe-se a ela, por consequência, a desgraça de só dormir pela primeira vez com o marido na noite de núpcias, o que pode render à esposa muitas surpresas desagradáveis. O ronco é uma delas, por exemplo. Já que o casamento é um contrato, precisando até de juiz e testemunhas, a mulher estaria sendo lesada em seu direito ao sono tranquilo ao desconhecer os hábitos noturnos do homem com o qual irá dividir a cama, talvez pelo resto da vida. Afinal, o casamento fala em “até que a morte os separe”. Mas não diz nada sobre o ronco.

Por isso, acredito que uma das melhores coisas do matrimônio é a prerrogativa do divórcio, que tem salvado muitas mulheres da tragédia de viver a vida inteira ao lado de uma bola de banha, grude e metano, pois é nisso que a maioria dos homens normalmente se transforma depois do casamento. De qualquer forma, deixo uma dica que deveria ter status de lei para o sexo masculino: se você encontrar uma mulher que não se incomode com o seu ronco, case-se com ela. Garantido isso, o que vier a mais é lucro.

Enfim, sem mais delongas, vamos ao que interessa. O que será que leva um casamento ao fim? Essa é uma pergunta que deve atormentar muita gente, eu suponho. Seria a extinção do amor a explicação? Ou ainda, quem sabe, o término do desejo? É, pode até ser. Mas estou convencido de que o que acaba com um casamento é a perda do encanto com o outro, o que por tabela também acaba com o amor e o desejo (leia-se sexo). Agora, acreditem vocês ou não, na maioria esmagadora das vezes a culpa é do homem. E digo isso com a maior segurança do mundo, com as mãos limpas e a consciência tranquila de quem não recebeu um mísero centavo de propina do Carlinhos Cachoeira. Aliás, que Cachoeira?! Não conheço nenhum Carlinhos Cachoeira!

Bom, voltando ao assunto, o fato é que quase sempre a responsabilidade é nossa. Não estou com isso querendo isentar as mulheres, mas é que conheço a minha espécie e sei do que ela é capaz. A verdade é que “99% dos homens arruína a reputação do resto”, como diz uma frase em alguma parede do mundo, citada por Eduardo Galeano em um dos seus livros. Não tenho dúvidas. É o fim do encanto que derrota a relação. É o aniquilamento daquela magia, construída com muito esmero durante o namoro, que faz murchar aos poucos o que deveria ser “eterno enquanto dure”. Mas o que faz o encanto acabar?

O namoro, como todos sabem, em geral é o estágio probatório do casamento. E é nesse período que quase a totalidade dos homens faz propaganda enganosa de si mesmos. No início, eles tomam banho todos os dias, usam desodorante e perfume, limpam as orelhas, trocam a cueca e escovam os dentes. Alguns, julgados pelos outros como extremistas, até utilizam o fio dental. Vale tudo para conquistar as mulheres e causar uma boa impressão. Enquanto estão estagiando no coração alheio, a maioria dos homens faz poemas, leva flores, manda mensagens românticas e dá inúmeras demonstrações de carinho e atenção. Até erros de português eles se esforçam para não cometer. No começo do namoro, é sempre assim: “meu amor isso, meu amor aquilo, paixão, benzinho, bombonzinho”. Depois do casamento, muda tudo. Não imediatamente, claro, que é para não dar na vista. Mas aos poucos a verdade vai aparecendo.

Banho agora só aos domingos, e apenas no caso de visita em casa. Se a visita for a sogra, então, pode esquecer. Desodorante e perfume, por exemplo, passam a ser usados exclusivamente no dia do aniversário. Com a quantidade de cera acumulada nos ouvidos, é possível encerar todo o assoalho da casa. A última vez que trocou a cueca? Ele nem lembra mais. Talvez na noite de núpcias. Escovar os dentes, meu Deus, virou uma lenda. Tanto que a escova já acumula fungos. Poemas, flores e mensagens românticas agora são coisas de veado. O carinho é substituído pela frieza da rotina e a atenção é dedicada quase totalmente ao futebol, que ele assiste esparramado no sofá, usando uma cueca borrada no fundo, e agarrado a uma latinha de cerveja, arrotando e bufando como se estivesse sozinho. Depois do casamento, a maioria dos homens se revela e até “menas” eles passam a dizer.

Resta alguma dúvida sobre o que faz o encanto acabar? Acho que não, né?! Fica aí a dica. Que os deuses abençoem o divórcio e os homens também, se der tempo. Eles vão precisar.

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