Por Claudemir Mazucheli Canhin
O Programa Mais Educação[i] (PME), lançado em 2007 pelo MEC, tem
como finalidade, segundo o governo, fomentar
a educação integral por meio do apoio a atividades socioeducativas no contra
turno escolar. O objetivo principal do programa é a formação integral de
crianças, adolescentes e jovens por meio da articulação de ações e de projetos
desenvolvidos na escola. No entanto, o que estamos vendo é um conjunto de
políticas de destruição do sistema nacional de ensino público. O “Programa mais
Educação” juntamente com outros
projetos (Bolsa Escola, FUNDEB, IDEB, REUNI, PROUNI, FIES, etc) e seus
congêneres estaduais são verdadeiras “mascara”
para disfarçar os péssimos resultados oriundos das políticas educacionais
vigente.
Esse programa deveria se chamar “menos
educação”, pois, do ponto de vista da universalização da educação pública de
qualidade - voltado aos interesses dos trabalhadores, tem sido a expressão
concreta de uma política que procura, por varias formas, desconstruir o sistema
nacional de ensino público.
Em primeiro lugar, ele tem contribuído
para a precarização do trabalho dos profissionais envolvidos, corroborando
tanto na perpetuação do desemprego como na precarização dos professores
pertencentes à rede que são implantados. Isso se torna evidente quando
observamos as relações de trabalho envolvidas na contratação de pessoal.
Cada profissional recebe cerca de sessenta
reais (R$ 60,00) por turmas, podendo ministrar projetos com no máximo cinco (5)
turmas, no contra turno escolar.
Se fizermos as contas, o profissional poderá “ganhar” trezentos reais por mês.
(Uma fortuna!)
Engana-se quem acreditar ser um professor
o profissional contratado. Na maioria das vezes temos à contratação de
estagiários, de “oficineiros” e/ou do uso crescente do trabalho
voluntário (amigos da escola) oriundos das comunidades do entorno da escola. O
que é mais grave: muitas escolas, por não conseguirem professores eventuais
estão “colocando” em sala de aula os “oficineiros” e durante o período normal
de aulas. Isso é um verdadeiro absurdo!
Enquanto isso centenas de professores com
contratos precarizados não conseguem se manter na profissão (categoria
“O” e “F”), muitos estão buscando outras formas de sobrevivência, deixando
ano-a-ano o sistema educacional. É a verdadeira barbárie educacional!
Enquanto no inicio do ano letivo, muitos
professores são penalizados pelas malditas provas de OFAs, sendo
impedidos de dar aulas, no restante do ano letivo o Estado contrata
“oficineiros” para pajear os alunos estão sem aulas devido as própria políticas
governamentais.
Um outro ponto emblemático é a adaptação
de atividades desenvolvidas pelos “oficineiros” à infraestrutura precária
da escola. No lugar da ampliação dos espaços escolares estamos presenciando o
uso de instalações existentes na comunidade ou de lugares insalubres dentro das
próprias escola, podendo provocar graves riscos a saúde dos alunos e dos
próprios profissionais evolvidos no programa.
Pedagogicamente o resultado desse
programa, não tem sido positivo. No lugar da ciência, da aplicação das
teorias do ensino-aprendizagem, impera o
senso comum travestido de singularidades culturais locais. No lugar da escola voltada à educação
integral, a escola convertida em “prisão integral”, destinada à ocupação do
tempo livre com aquilo que é considerado capaz de garantir “proteção social”:
artes, cultura, esporte, lazer. Na rede Estadual Paulista, em uma
dobradinha Alkmin/Dilma (Programa Mais Educação /Escola da Família/ Projeto Pé
no Chão) algumas escolas estão se transformando em verdadeiras “boates”,
substituído algumas aulas por “baladas” regadas à "funk" e a musica
eletrônica, com direito a reprodução de videoclipes sensuais. É a politica do
“pão e circo”, reprodutora da alienação em substituição aos referenciais
teórico-pedagógicos gerador de transformação social e superação das
desigualdades.
O que é mais absurdo, em nenhum momento
estamos “ouvindo falar” em bibliotecas, teatros, salas com acústica
especial, equipadas e adequadas para o usufruto das artes. Mas de áreas da
escola, anteriormente gramadas, ou com árvores, ou com entulho, mas livres para
o movimentar-se autônomo, que são agora tomadas por cimento e concreto para a
construção de um retângulo com medidas e demarcação padronizadas e universais:
as quadras de esporte. Mesmo assim, esses espaços, diante da falta de
infra-estrutura para a aprendizagem, a prática, ou o treino do esporte estará
sempre restrita ao futebol de salão e voleibol, com uma pequena variação a
depender da formação e da disponibilidade dos chamados agentes locais.
Esses são apenas alguns apontamentos desse
processo degradante no ensino público provocado por tais programas, que
travestido de projeto de “Escola
de Tempo Integral” tem
provocado a desescolarização e o fortalecimento da precarização do trabalho
docente.
Mas a realidade é perversa! As mascaras
sempre caem! Por mais que se “pinte” uma escola alegre e envolvente,
a "barbárie diária" submerge. Os projetos governamentais
desmoronam mesmo diante das propagandas ilusórias governamentais: fervilham na
mídia denuncias de salas de aulas superlotadas, infraestrutura precária, professores
desmotivados pelos contratos precários e pelos baixos salários. Sabemos
que não há bibliotecas, não há laboratórios (informática, química, ciências,
etc), não há material esportivos, quadras precárias, quando existem), em
algumas escolas convivem até com mau cheiro devido à falta de manutenção em
seus ambiente internos.
Poderíamos enumerar centenas de outros
problemas, se fizéssemos uma varredura minuciosa somente na rede estadual de
São Paulo. Mas essa realidade não é visível a nível estadual. O que temos
presenciado em São Paulo, na gestão Serra/Alckmin são apenas tentáculos
do “monstro” criado à nível federal por FHC/Lula/Dilma.
Se analisarmos os pressupostos ocultos que
orbitam o núcleo dos últimos PDEs, veremos a verdadeira face do
Mesonychoteuthis. Elza Margarida de Mendonça
Peixoto em seu texto: Conformação e contenção disfarçadas em “Mais Educação”[ii] enumera
e desnudas seus tentéculos. Para ela a concepção de educação, que está
orientando o PDE aponta: “a)
a negação da luta e classes, apagada pela tese da desigualdade social
decorrente de discriminação e pelo objetivo vago redução das desigualdades; (b)
negação da formação política no interior das lutas sociais substituída pela
formação individualista crítica e criativa como tarefa da sociedade como um
todo e não da formação escolar sólida; (c) desresponsabilização e diluição
progressiva da responsabilidade do Estado com o custeio e condução da Educação
Pública e transferência desta responsabilidade para um esforço social mais
amplo; (d) enfraquecimento da noção de educação como ensino, entendido como
transmissão do patrimônio cultural acumulado pela humanidade, e sua
substituição pela vaga noção de construção da autonomia, isto é, formação de
indivíduos capazes de assumir uma postura crítica e criativa frente ao
mundo”.
Diante do exposto, é certo que não serão
esses projetos supostamente “milagrosos”, como o “Mais Educação” aplicados a
nível federal ou seus congêneres aplicados a nível estadual (Escola da
Família/Pé no Chão) que salvará a educação pública. Muito pelo contrário, o
caos educacional presente são resultados da aplicação das políticas
educacionais reformistas (presentes em tais programas) que tem visado somente
cumprir metas de desenvolvimento da educação estabelecidas por organismos
financeiros internacionais, requisitos condicionais para o acesso aos
empréstimos que resolvem as necessidades da burguesia brasileira, sem a menor
preocupação com a qualidade da educação pública.
Nesse sentido, não podemos cair no “canto
da sereia” dos governos e muito menos acreditar que projetos apedagógicos como
esses servem a classe trabalhadora. Devemos cobrar investimentos estatais
direto nas escolas (no mínio 10% do PIB) e incentivar o controle público dos
recursos e dos projetos via Conselho de Escola e de Grêmio Estudantil. Isso
será mais bem viabilizado quando, nós professores (as), desenvolvermos dentro
de nossas escolas uma ação sindical forte, organizada pela base. Pois a
realidade vivida pela classe trabalhadora só pode ser modificada pela própria
classe trabalhadora em luta contra a expropriação histórica dos direitos de
acesso aos bens que produzem com o seu trabalho.
Um projeto de educação voltado à classe
trabalhadora deve superar a redução de sua educação à preparação para o
trabalho. Deve produzir novas formas de sociabilidades. Assim, uma política
educacional séria deve ser aquela fundamentada na superação da exclusão, cujos
princípios devem convergir para o usufruto daquilo que, historicamente, o nosso
trabalho (enquanto classe trabalhadora) produziu. Queremos ter o direito ao
usufruto da ciência, da literatura e das artes, ou seja, de tudo que os humanos
construíram até hoje.
Referencias:
[i] Sobre o programa “Mais Educação” ; http://portal.mec.gov.br/;
[ii] Texto
publicado em: http://www.uel.br/
Acrescentaria apenas a seguinte questão: qual o lugar do sindicato nesse processo? Porque a luta pela educação de qualidade passa essencialmente pela valorização do professor e, isso diz respeito as precárias e perversas relações de trabalho que estabelecem assimetrias, desmobilizando, desqualificando, desmotivando e destruindo a categoria.
ResponderExcluirQual sindicato? Essa seria a questão central! Esse problema não será solucionado com um sindicato de "sindicalistas profissionais" e/ou de oportunistas ligados a partidos políticos! O sindicato de chão-de-giz tem um papel fundamental em contrapor esse processo. É aquele que efetivamente está organizado nos locais de trabalho que combate diariamente os desmandos dos governos.... é aquele constituidos realmente por professores ...
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