Por João Paulo da Silva
Todas as noites eu deito minha cabeça num travesseiro confortável, me espalho numa cama bem quentinha e durmo tranquilo, embaixo de um teto erguido com muito suor. É por ter uma casa que não estou sob as marquises ou ao relento no centro da cidade. É por ter onde morar que não preciso me cobrir com papelões ou fazer uma fogueira para me proteger do frio. É por ter um lar que acho bonito a chuva batendo na janela. É para este lugar que eu sempre retorno, ao final de cada dia de trabalho, desejando apenas o descanso daqueles que lutam para ganhar a vida honestamente. Minha casa não é nenhum palácio, não ocupa uma rua inteira do quarteirão, não possui ostentações desnecessárias. No entanto, é nela que abrigo o meu sossego, a minha paz. A casa de um homem, de uma mulher ou de uma família é um templo inviolável. É o local onde nos encontramos protegidos, seguros de que ali ninguém irá nos incomodar. A casa da gente, na verdade, é a última trincheira da nossa dignidade. Foi isso que roubaram dos moradores do Pinheirinho.
O lugar levou oito anos para ser construído, mas virou pó em apenas quatro dias. Havia casas, igrejas, botecos, padarias. Havia seis mil pessoas, quase 1.700 famílias. Homens, mulheres, crianças, idosos. Havia gente morando no Pinheirinho. Entretanto, essa comunidade pobre de São José dos Campos viu de perto a Constituição ser rasgada, o direito à moradia ser ignorado e a dignidade humana ser violada. Não foi um terremoto, uma enchente, ou qualquer outra coisa que o valha. Pelas mãos da Justiça, do Estado e da polícia, seis mil seres humanos perderam tudo o que tinham; tudo aquilo que ergueram com as próprias mãos. Não. Corrigindo. Os moradores do Pinheirinho perderam mais do que isso. Mais do que televisores, camas, sofás, fogões, geladeiras. As balas de borracha (e até a munição letal), as bombas de gás lacrimogêneo, as viaturas, os cassetetes, os helicópteros e os tratores roubaram, na verdade, os sonhos de vida daquelas famílias. Gente igual a mim e a você. Tudo isso por um único motivo: garantir que a propriedade privada do bilionário Naji Nahas fosse respeitada. O Estado de São Paulo trocou as vidas de seis mil pessoas pelos negócios fraudulentos de um mega-especulador, já condenado por corrupção.
Pouco importava se crianças não teriam onde dormir, se mulheres e idosos ficariam amontoados em qualquer lugar. O que valia era cumprir a lei. E a lei disse que era legítimo desalojar famílias inteiras para beneficiar um homem rico e corrupto. E assim foi feito. Mas, por trás de cada disparo, cacetada e ato de violência, trabalhou a política. E a política é feita por homens que tem um rosto e uma classe. Nesse caso, por ratos que tem um rosto e uma classe. Em cada casa derrubada, em cada agressão cometida, havia a marca das mãos do governador Geraldo Alckmin, do prefeito Eduardo Cury e do PSDB, provando que as leis não possuem o mesmo peso social para todos. No julgamento do Estado, pesou mais o capitalismo, valeu mais a garantia da especulação imobiliária sobre um terreno onde viviam cerca de 1.700 famílias. O poeta Drummond, se fosse vivo, certamente diria outra vez: “As leis não bastam. Os lírios não nascem das leis.”. Um Estado Democrático de Direito que impede o direito à moradia de milhares de seres humanos não pode ter o direito de existir. Quando uma sociedade aplica leis injustas, é sinal de que precisa ser modificada. O caso Pinheirinho é a prova de que não há humanidade possível num mundo em que lucrar está acima de tudo.
Calar diante de uma injustiça é covardia. Mas poder interferir, decisivamente, nessa injustiça, e não fazê-lo, é pior ainda. Quando meu filho crescer, ele saberá, assim como as próximas gerações, que um partido, de nome PSDB, expulsou trabalhadores pobres de suas casas para beneficiar um bandido, e que um outro partido, chamado PT, os abandonou à própria sorte. O Pinheirinho será eternamente uma pedra no sapato dos culpados e omissos. Em nossos corações, será sempre uma veia aberta, pulsando com força até o dia do acerto de contas.
Todas as noites eu deito minha cabeça num travesseiro confortável, me espalho numa cama bem quentinha e durmo tranquilo, embaixo de um teto erguido com muito suor. É por ter uma casa que não estou sob as marquises ou ao relento no centro da cidade. É por ter onde morar que não preciso me cobrir com papelões ou fazer uma fogueira para me proteger do frio. É por ter um lar que acho bonito a chuva batendo na janela. É para este lugar que eu sempre retorno, ao final de cada dia de trabalho, desejando apenas o descanso daqueles que lutam para ganhar a vida honestamente. Minha casa não é nenhum palácio, não ocupa uma rua inteira do quarteirão, não possui ostentações desnecessárias. No entanto, é nela que abrigo o meu sossego, a minha paz. A casa de um homem, de uma mulher ou de uma família é um templo inviolável. É o local onde nos encontramos protegidos, seguros de que ali ninguém irá nos incomodar. A casa da gente, na verdade, é a última trincheira da nossa dignidade. Foi isso que roubaram dos moradores do Pinheirinho.
O lugar levou oito anos para ser construído, mas virou pó em apenas quatro dias. Havia casas, igrejas, botecos, padarias. Havia seis mil pessoas, quase 1.700 famílias. Homens, mulheres, crianças, idosos. Havia gente morando no Pinheirinho. Entretanto, essa comunidade pobre de São José dos Campos viu de perto a Constituição ser rasgada, o direito à moradia ser ignorado e a dignidade humana ser violada. Não foi um terremoto, uma enchente, ou qualquer outra coisa que o valha. Pelas mãos da Justiça, do Estado e da polícia, seis mil seres humanos perderam tudo o que tinham; tudo aquilo que ergueram com as próprias mãos. Não. Corrigindo. Os moradores do Pinheirinho perderam mais do que isso. Mais do que televisores, camas, sofás, fogões, geladeiras. As balas de borracha (e até a munição letal), as bombas de gás lacrimogêneo, as viaturas, os cassetetes, os helicópteros e os tratores roubaram, na verdade, os sonhos de vida daquelas famílias. Gente igual a mim e a você. Tudo isso por um único motivo: garantir que a propriedade privada do bilionário Naji Nahas fosse respeitada. O Estado de São Paulo trocou as vidas de seis mil pessoas pelos negócios fraudulentos de um mega-especulador, já condenado por corrupção.
Pouco importava se crianças não teriam onde dormir, se mulheres e idosos ficariam amontoados em qualquer lugar. O que valia era cumprir a lei. E a lei disse que era legítimo desalojar famílias inteiras para beneficiar um homem rico e corrupto. E assim foi feito. Mas, por trás de cada disparo, cacetada e ato de violência, trabalhou a política. E a política é feita por homens que tem um rosto e uma classe. Nesse caso, por ratos que tem um rosto e uma classe. Em cada casa derrubada, em cada agressão cometida, havia a marca das mãos do governador Geraldo Alckmin, do prefeito Eduardo Cury e do PSDB, provando que as leis não possuem o mesmo peso social para todos. No julgamento do Estado, pesou mais o capitalismo, valeu mais a garantia da especulação imobiliária sobre um terreno onde viviam cerca de 1.700 famílias. O poeta Drummond, se fosse vivo, certamente diria outra vez: “As leis não bastam. Os lírios não nascem das leis.”. Um Estado Democrático de Direito que impede o direito à moradia de milhares de seres humanos não pode ter o direito de existir. Quando uma sociedade aplica leis injustas, é sinal de que precisa ser modificada. O caso Pinheirinho é a prova de que não há humanidade possível num mundo em que lucrar está acima de tudo.
Calar diante de uma injustiça é covardia. Mas poder interferir, decisivamente, nessa injustiça, e não fazê-lo, é pior ainda. Quando meu filho crescer, ele saberá, assim como as próximas gerações, que um partido, de nome PSDB, expulsou trabalhadores pobres de suas casas para beneficiar um bandido, e que um outro partido, chamado PT, os abandonou à própria sorte. O Pinheirinho será eternamente uma pedra no sapato dos culpados e omissos. Em nossos corações, será sempre uma veia aberta, pulsando com força até o dia do acerto de contas.
Fonte: http://ascronicasdojoao.blogspot.com
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