terça-feira, 16 de outubro de 2012

Desvendando a Arqueologia: uma viagem ao passado (Parte V – A evolução do homem no quaternário)

Como pudemos observar na discussão anterior, o período Quaternário foi caracterizado por fortes instabilidades no clima. 

Em meio aos acontecimentos climáticos ocorridos, é importante ressaltar a questão humana, buscando-se compreender como se deu a evolução do homem com tantas modificações no ambiente. Assim, poderemos avaliar como o homem acompanhou as diversas fases ambientais e quais foram as consequências que essas fases causaram no processo evolutivo da espécie humana.

Existem numerosas hipóteses cientificas em relação ao aparecimento humano. Essas teorias, muitas vezes, entram em contradição umas com as outras pela ausência de dados precisos que venham a reduzir esta problemática.

As pesquisas de Antropologia biológica (área da antropologia que se dedica a estudar a estrutura humana passada), muito nos podem esclarecer e auxiliar na compreensão destes fatos.

A figura 1 apresenta algumas das características humanas percebidas nos estudos antropológicos e arqueológicos. Estas características, acompanhadas de datações radiocarbônicas, podem nos fornecer o momento aproximado em que se deu a passagem de um estágio humano para outro, relacionando esta evolução com as condições do ambiente, analisadas em nossa discussão anterior.

Tal associação permitirá abrir novas perspectivas sobre até que ponto o meio ambiente contribuiu para que houvesse mudanças nos grupos humanos, já que o homem teria que se adaptar ao meio em que estava inserido, causando modificações corporais que se foram moldando ao longo dos milhares de anos. Daí foram surgindo mudanças na estrutura genética do homem até atingir uma espécie nova e capaz de se adaptar à dinâmica do ambiente atual.

Relacionar estas hipóteses em meio às fortes mudanças ambientais existentes no Quaternário é uma tarefa bastante complexa e, ao mesmo tempo, muito instigante!.
Na medida em que houve estágios evolutivos da humanidade, puderam se constituir alguns grupos, dentro dos períodos pré-históricos, cuja capacidade de adaptação ao meio ambiente, resultaram em atividades que lhes garantiram a permanência e a ocupação dos espaços durante fases e períodos significativos.

Sendo assim, formaram-se, nos períodos pré-históricos, em decorrência das necessidades cotidianas e biológicas, algumas categorias de grupos, subdivididas em dois estágios: o arcaico e o formativo.

Os grupos classificados como Pescadores-caçadores-coletores estão, na escala evolutiva humana, inseridos no estágio arcaico, enquanto os grupos de horticultores/agricultores estão associados ao estágio formativo.

“O conceito de arcaico se refere a uma cultura de progressiva adaptação ao clima pós-glacial, mais quente, mais úmido, que vai se aproximando do nosso ambiente atual. A cultura desse período se diversificaria com o homem buscando novos recursos alimentares nas savanas, nas estepes, na beira do mar e dos lagos; a caça não seria mais especializada em megafauna, mas geral e diversificada; a coleta animal e vegetal aumentaria e a experimentação e o conhecimento acumulado levariam à domesticação de plantas e de animais que, no formativo, já se transformaria em sustento confiável, mesmo se ainda complementar” (Schmitz, 1999).

As evidências arqueológicas, recuperadas dos vestígios do homem primitivo, permitiram constituir as seguintes informações quanto aos estágios humanos: os grupos de pescadores-caçadores-coletores (PCC) eram formados por populações pré-históricas cuja subsistência esteve fortemente vinculada aos recursos captados no ambiente. Dentre as suas principais atividades estaria a produção das ferramentas de pedra lascada.
A maior parte da bibliografia disponível classifica estes grupos (PCC) como nômades, mas os estudos recentes colocam em dúvida esta assertiva, uma vez que o tempo de permanência destes povos, em alguns sítios arqueológicos, resultaram em ocupações mais prolongadas do que se supõe, complementando que, nesses mesmos sítios, evidências de vestígios cerâmicos, atribuídas até então aos agricultores, encontram-se presentes. Posteriormente discutiremos, detalhadamente, essas questões.

Quanto às populações de horticultores/agricultores, a sua principal característica se constitui como grupos sedentários que têm como evidência arqueológica a confecção de cerâmicas, artefatos líticos, a domesticação de animais, o processamento de vegetais e organizados socialmente em aldeias pré-históricas.

Vamos analisar, a seguir, os quadros comparativos dos estágios humanos, observando a adaptação e o desenvolvimento das suas espécies no tempo e no espaço:



Figura 1 – Esquema da sequência evolutiva do homem durante a pré-história
(Silvestre; Oliveira, 1998)

Diversos aspectos, apoiados nas características anatômicas dos restos humanos recuperados dos sítios arqueológicos, permitiram que os arqueólogos e os antropólogos físicos dividissem as fases humanas em quatro estágios, sendo eles:

1º) Pré-humano;
2º) Humano primitivo;
3º) Humano tardio;
4º) Humano moderno.

A associação do esquema classificatório humano acima (figura 1), com as características descritas na figura 2, permitem-nos embarcar numa viagem pelo túnel do tempo até a Pré-história!. Seguindo a escala temporal da evolução humana, estabelecida a partir das descobertas arqueológicas mais significativas, entre as décadas de 70 e 90, podemos sistematizar as seguintes informações:

a) Aproximadamente aos 4,2 milhões de anos, datado na escala do tempo como fase pré-humana, encontram-se registros dos primeiros hominídios da espécie Australopithecus na África.

b) Evidências datadas em 3,7 milhões de anos indicam o esqueleto Australopithecus afarensis conhecido como Lucy, encontrada em Hadar, na Etiópia.

c) Registros humanos datados entre 2 e 2,5 milhões de anos, encontrados na Tanzânia em jazidas do Olduvai, apresentam dados de um estágio humano primitivo (recebendo terminologia Homo por lembrarem características anatômicas mais modernas). Neste limite do tempo, encontra-se a espécie Homo habilis.

d) Entre 1,2 e 1,5 milhões de anos, a partir de dados arqueológicos advindos do Oriente Próximo e do Norte da África, situam-se as primeiras evidências da espécie Homo erectus, classificada como estágio humano tardio.

e) Ainda no período pleistocênico, entre 100.000 e 12.000 anos AP, na África Oriental e Meridional, estão as primeiras evidências do estágio humano moderno, cuja espécie é conhecida como Homo sapiens sapiens.

Grupos Taxonomicos
Área Geográfica de Ocupação
Capacidade Craniana

Dentição
Estágio do Bipedalismo
Australopithecus anamensis

África (parte leste)

Muito pequena

?

Inicial
Australopithecus afarensis (Lucy)

África (parte leste)

420cm3

?

Bípede/arbórea
Australopithecus aethiopicus

África (parte leste)

?
Molar / caninos e incisivos pequenos

?

Australopithecus boisei

África (parte leste)

510-530 cm3
 Caninos pequenos em relação aoAustralopithecus aethiopicus


Bípede
Australopithecus robustus

África (parte sul)

500-530 cm3
Molares e pré-molares grandes (menores que os dois anteriores)


Bípede


Australopithecus africanus


África (parte sul)


430-520 cm3
Possuía incisivos maiores e área molar menor que os da linhagem robusta:
(A. aethiopicus, A. boisei e A. robustus).




Bípede Primitivo

Homo habilis

África (parte leste)

750 cm3
Molar menor do que a linhagen robusta dos australopitecinos


Bípede Avançado

Homo rudolphensis
Surgido na África e migrado para a Ásia
Maior do que H. habilis (?)
Dentição robusta (área molar maior do que os incisivos)

?

Homo erectus
Surgiu na Ásia e migrou para a África

1000 cm3
Dentição posterior menor do que australopitecinos

Bípede
Homo ergaster
África
1067 cm3
?
?
Homo heidelbergensisou
Homo sapiens arcaico

África, Ásia e Europa

África – 1200 cm3
Ásia – 1120 cm3
Europa: mandíbula robusta e dentes grandes


?


Homo neanderthalensis


Europa e no Oriente Médio e no Usbequistão (Ásia)



1520 cm3
Os dentes da mandíbula iam para frente para encaixar no maxilar superior e os incisivos eram largos, com raiz larga




Bípede
Homo sapiens sapiens
Surgimento: África? Ásia?

1400 cm3

Arcada superciliar
Bipedalismo Excelente
Figura 2 – Quadro do Desenvolvimento Humano no Quaternário
(CANTO, 1995)
Como se pode observar no conjunto de análises, reflexões, construções hipotéticas, críticas, negações, comprovações e propostas sobre a origem, a antiguidade, a dispersão e a ocupação do homem na África, Ásia, América do Norte e América do Sul, os dados ainda são muito genéricos para sem incorporadas interpretações arqueológicas precisas.

Mas a teoria aceita universalmente, mesmo considerando que muitas das descobertas ocorreram de modo casual, é que a entrada do homem no continente americano teria se realizado através do Estreito de Bering, área situada entre a Sibéria e o Alasca, por volta dos 12.000 anos AP (antes do presente).

Apesar das análises antropológicas e arqueológicas sistemáticas e das datações realizadas nas frações ósseas, crânios e dentes pré-históricos recuperados das escavações, pelos arqueólogos, representarem dados relevantes sobre a origem e a dispersão dos grupos humanos passados, muito ainda se discute sobre a época em que estes grupos teriam ocupado a América do Norte e a América do Sul. No nosso próximo texto, vamos conhecer os artefatos utilizados pelo homem pré-histórico. Até lá!


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

CANTO, Antonio. 1995. Considerações arqueológicas sobre o Quaternário brasileiro. Universidade Federal de Pernambuco. Digitado. 30p.

CANTO, Antonio. 2003. Tópicos da Arqueologia. Rio de Janeiro: CBJE. 66 p.

SCHMITZ, P. I. 1999. Caçadores-coletores do Brasil Central. In: TENÓRIO, M. C. (Org.). Pré-História da Terra Brasilis. Rio de Janeiro: UFRJ: 89-100.

SILVESTRE, D.; OLIVEIRA, F.F. 1998. The bioscience webring site owned. (trad.) Internet.
Colunista Brasil Escola

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