Investigadores identificaram os seis genes-chave para o desenvolvimento do crânio e do cérebro
O genoma de 220 pessoas de 11 populações subsarianas, o maior estudo
africano realizado até agora, confirma que os Khoisan (nome unificado de
dois grupos étnicos do sul de África) ou bosquímanos são descendentes
em linha directa dos primeiros humanos modernos, que evoluíram no sul do
continente africano há mais de 100 mil anos.
Já se sabia que esta era a população com a maior diversidade genética
do mundo. Mas este estudo identifica os seis genes-chave para o
desenvolvimento do crânio e do cérebro, que foram objecto de selecção
'darwiniana' naquela época e que, provavelmente, criaram a anatomia
humana moderna num prazo relativamente curto. Outros fenómenos genéticos
posteriores, subjacentes às adaptações da população ao seu ambiente,
definiram a potência muscular, a protecção contra os raios ultravioleta e
a resposta imunológica contra infecções. Os resultados estão publicados
na «Science».
As línguas que falam estes povos, línguas khoisan, caracterizam-se pelo
uso de cliques como fonemas. O primeiro investigador a propor que os
Khoisan representavam a população mais antiga da humanidade foi
precisamente um linguista – Joseph Greenberg –, da Universidade de
Stanford. Nos anos 70 do século XX, sugeriu que as línguas dos
'cliques', faladas por pequenas populações espalhadas pelo sul e este de
África, formavam na verdade uma só família linguística – o khoisan.
Mas foram a genética e a arqueologia mais recente que resgataram a
hipótese de Greenberg, que depressa caiu no esquecimento. O linguista e
antropólogo morreu em 2001, antes das suas teorias serem largamente
aceites.
Este trabalho multidisciplinar contou com a colaboração de biólogos
evolutivos, antropólogos, neurocientistas e geneticistas, coordenados
por Himla Soodyall, da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo
(África do Sul), e Mattias Jakobsson, da Universidade de Uppsala,
Suécia.
“Os Khoisan têm algo de especial a acrescentar ao mundo tanto genética como cultural e eticamente”, defende Jakobbson. “A
importância do nosso estudo é que põe o património e a herança khoisan
na História. Fornece também o 'pano de fundo' para futuros estudos
genéticos”.
“A divergência mais profunda no seio da humanidade ocorreu há 100 mil anos”,
explica a Carina Schlebusch, investigadora de pós-doutoramento em
Uppsala, referindo-se à separação genética entre os Khoisan e os
restantes povoadores do planeta.
Quando duas populações estão separadas há pouco tempo, como, por
exemplo, as do Próximo Oriente e as do Mediterrâneo ocidental, os seus
genomas são muito parecidos, ou seja, mostram um escassa divergência.
Quanto maior é a divergência, maior é a antiguidade da separação. Com
dados deste tipo, os geneticistas conseguiram construir um mapa muito
detalhado da história das migrações humanas. A maior divergência, ou
seja, a separação mais antiga é a que se dá entre os Khoisan e as outras
populações.
Os investigadores focaram-se sobre os genes que sofreram um processo de
selecção evolutiva há mais de 100 mil anos, antes que este grupo
começasse a divergir.
Foram encontradas seis variantes genéticas sujeitas a uma forte pressão evolutiva na época, “e
que agora são património universal da humanidade. Podem ser os genes
que fizeram evoluir a espécie humana desde o hominídeo mais primitivo,
pensam os autores”.
Os Khoisan têm sido, nos últimos séculos, vítimas de extermínio
intenso. O grupo mais abundante, na actualidade, encontra-se no sul de
África, e conta com 250 mil falantes da língua dos 'cliques'.
Fonte: http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=55619&op=all
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