segunda-feira, 19 de novembro de 2012

ZUMBI É SENHOR DAS ‘GUERRA’, É SENHOR DAS ‘DEMANDA’



Busto de Zumbi em Brasília. Foto: Elza Fiúza/ABr
Busto de Zumbi em Brasília. Foto: Elza Fiúza/ABr

Na próxima terça-feira, 20 de novembro, completa-se 317 anos da morte de Zumbi dos Palmares, o mais proeminente líder da resistência à escravidão no Brasil. Um sujeito que marcou a História e que, como todos que alcançam esse patamar, está rodeado de mística e de causos que, provavelmente, superam a própria realidade. Enquanto uns defendem que os quilombos formados por negros que fugiam das fazendas onde eram escravizados apenas reproduziam a mesma estrutura escravagista que se via nos engenhos, outros afirmam que os quilombos reproduziam sim as tensões sociais já existentes nas comunidades africanas.
Talvez nem uma, nem outra, quem sabe um pouco das duas, mas o fato é que Zumbi ganhou o imaginário popular e o mito se tornou muito maior do que o homem. Até hoje, o herdeiro do reino do Congo e líder do maior quilombo da história brasileira é símbolo de luta por justiça social, igualdade étnica e memória. Tanto é que, na próxima terça-feira, celebra-se mais uma vez o Dia da Consciência Negra, uma data que serve para a reflexão da condição dos negros brasileiros.
Pode parecer incrível que, em pleno século XXI, ainda tenha gente que não entenda o motivo da existência de um “Dia da Consciência Negra”, afinal de contas, a Constituição Federal de 1988 garante igualdade para todos os brasileiros. Mas, como disse o Criolo, e como é sempre bom lembrar, o mundo real não é o rancho da pamonha e infelizmente a realidade brasileira nem sempre reflete o texto da sua bela Carta Magna. Uma prova disso é o recém-divulgado relatório de homicídios ocorridos no Brasil em 2010: das 49.932 pessoas vítimas de homicídio naquele ano, 70,6% das vítimas eram negras. A diferença entre negros e de brancos assassinados saltou de 4.807 para 12.190 entre 2000 e 2009 [1].
No Brasil, brancos com 35 anos ganham, em média, 60% a mais do que negros com a mesma idade. Se um negro tem 50 anos, ele ganha, em média, quase 90% menos do que um branco na mesma faixa etária [2]. Ou seja, desses dois dados nós concluímos que negros morrem mais e ganham menos no Brasil — mas não, nós não somos racistas [sic].
Enfim, estentido um brevíssimo pano de fundo, voltamos a falar da memória de Zumbi e da Consciência Negra. Até 1995, a “data oficial” em que se celebrava a luta dos negros em nosso país simplesmente não tratava dos negros. O 13 de maio, tido até então como o “dia do negro” no Brasil, marcava a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, que pôs fim a legalidade da escravidão em nossas terras, mas, nem de longe, pôs fim à escravidão do negro.
Como ressalta o advogado e ativista negro Antônio Carlos Cortês, “a heroína era a Princesa Isabel. Mas a Lei Áurea era vazia. Excluíram a mão de obra do escravo e o abandonaram a sua própria sorte”[3]. Assim sendo, o Grupo Palmares, um movimento formado por negros no Rio Grande do Sul, lutou já na década de 70 pela substituição da data, colocando o negro como sujeito ativo de sua própria história dentro do Brasil e, consequentemente, na sua luta de liberação.
Apesar de “Leandros Narlochs” da vida tentarem diminuir este fato, a grandeza do mito de zumbi se sobrepõe às suas falhas e contradições tão humanas quanto o “telencéfalo altamente desenvolvido” (duvido que você ainda não tenha assistido a “Ilha das Flores”).
Entonces, para celebrar mais um 20 de novembro, vai aí um combo de versões da música “Zumbi”, do carioquíssimo Jorge Ben Jor, que apareceu primeiramente no disco “A Tábua de Esmeralda”, de 1972, e da qual eu empresto o verso que dá título a esta postagem.

Versão original do disco de 1972:
Versão do disco “África Brasil”, de 1976:
Versão entoada por Caetano Veloso:
Versão entoada por Los Sebozos Postizos:
Versão revisitada e entoada por Lúcio Maia:

Que a contribuição histórica dos negros jamais seja esquecida, assim como o calvário pelo qual passaram e ainda passam em nosso país.
Fontes

Fonte: http://ciriacocerebral.wordpress.com

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