domingo, 30 de agosto de 2015
sexta-feira, 28 de agosto de 2015
‘‘A nossa troika está aqui. A nossa Alemanha está aqui dentro. Não está fora" Entrevista com Luiz Gonzaga Belluzzo
‘‘A nossa troika está aqui. A nossa Alemanha está aqui dentro. Não está fora" Entrevista com Luiz Gonzaga Belluzzo
A crise brasileira tem similaridade com a da Grécia, pela ideia
de que o ajuste vai fazer com que seja restaurada a confiança dos
investidores e a irrealidade da meta. Mas a nossa Alemanha está aqui
dentro, representada pelo mercado financeiro, diz Luiz Gonzaga Belluzzo em entrevista à Marcia Pinheiro da revista Brasileiros, 27-08-2015.
Professor da Unicamp, sócio da FACAMP, da consultoria Una e da revista Carta Capital, Belluzzo diz que a presidenta Dilma Rousseff deveria ter negociado o ajuste fiscal – de resto, necessário – com os sindicatos e os movimentos sociais, que a reelegeram.
Infelizmente, não é o único problema. Para Belluzzo,
a economia nacional tem vários “cadáveres”, que apareceram com mais
contundência neste ano. A valorização do câmbio nos últimos 20 anos é um
deles, o que provocou um processo de desindustrialização. Um segundo é o
injusto sistema tributário. Nada menos do que 58% da receita dos
impostos é paga pelas camadas de renda de até dois salários mínimos.
O economista defende uma total reestruturação nas empresas envolvidas
na operação Lava Jato. A exemplo do que fizeram os Estados Unidos na
crise das hipotecas, o governo deveria assumir as companhias, saneá-las
e, posteriormente, vendê-las em leilões ou em operações de abertura de
capital.
Eis a entrevista.
Por que a recessão no Brasil chegou com uma velocidade tão acentuada?
Temos algumas vulnerabilidades que se manifestaram agora. É preciso
traçar a trajetória real do que aconteceu. Vamos voltar à reação da
economia brasileira à crise de 2008. Foi muito rápida. O Brasil vinha em
um ritmo de expansão, impulsionado pelo ciclo de commodities e
pelo crescimento da economia mundial. Nossa economia cresceu com base
no consumo. Naquele momento, entre 2004 e 2008, fomos muito bem, também
amparados pelas políticas sociais e pelos reajustes reais do salário
mínimo. Isso elevou o poder de compra de grande parte da população. E
houve uma queda muito pronunciada dos preços dos bens duráveis, por
conta da agressividade chinesa nas exportações, principalmente os
eletroeletrônicos. Isso fez com que a renda real, sobretudo das pessoas
que ascenderam economicamente, tivesse o auxílio dos preços relativos.
Eu sempre dou o exemplo da televisão de tela plana.
Na Copa do Mundo de 2006, comprei uma de 42
polegadas por R$ 12 mil; hoje, custa R$ 2 mil. Além disso, veio a
expansão do crédito consignado e a ampliação do crédito imobiliário, com
o programa Minha Casa, Minha Vida. O cenário todo
colaborou para o aumento do bem-estar das famílias. Conseguimos
recuperar rapidamente o crédito em 2009. A crise era de contágio, uma
vez que no Brasil não havia calote de hipoteca, como nos Estados Unidos.
Mas, em 2011, o ciclo de consumo foi perdendo força.
Mas do ponto de vista fiscal a situação não foi se deteriorando?
A relação entre o crescimento do PIB e da renda é de
2,5 por um. Quando a economia desacelera, isso se reverte. Se olharmos
os primeiros anos do governo Dilma, é muito claro que a receita e o superávit primário
continuaram a crescer, mas em menor ritmo. Em 2015, o superávit já é
negativo na ponta. Portanto, a desaceleração da economia abriu espaço
para o desequilíbrio fiscal. Outro dia, li uma análise de uns
economistas mais ortodoxos, que dizia que as políticas sociais não cabem
no PIB. Até brinquei: vai ver que eles querem jogar os velhos do
penhasco.
Quais são as maiores deficiências do Brasil?
Há vários cadáveres enterrados. O primeiro deles, que os
conservadores não gostam de discutir, é a valorização do câmbio nos
últimos 20 anos. Agora, por exemplo, o câmbio está desvalorizando. E
muitos dizem que isso prejudica a inflação. O efeito é maior, dado o
percentual de componentes importados dos produtos feitos no País, que é
de 27%. O problema não começa quando se deixa o câmbio desvalorizar, mas
quando permite que ele se valorize, porque há uma mudança total nas
cadeias produtivas. O Brasil passou 30 anos se afastando das cadeias
produtivas globais. Os conservadores dizem – e isso é binário: precisa
abrir a economia. Foi o que fizeram no governo Fernando Henrique.
Quando Lula foi eleito, a taxa de câmbio se desvalorizou e o dólar foi a R$ 4, por medo do PT. Na média, ficou em R$ 3,58. Essa desvalorização foi acompanhada do ciclo de commodities.
No fim de 2003 e início de 2004, a economia começou a crescer. Nós
fomos muito bem em exportações de manufaturados. A Argentina cresceu 8%
depois da crise da dívida de 2001/2002, o que elevou a demanda por
produtos industrializados brasileiros. Havia superávit comercial de
manufaturados e commodities. Em 2006/2007, a economia ainda estava
bombando, mas esse efeito sobre a indústria foi se tornando menor, dada a
política adotada pelo Antonio Palocci e seus agregados.
No ano passado, o déficit comercial da indústria foi de US$ 117
bilhões. O agronegócio segurou a balança. Mas agora, o superávit desse
setor está menor. Aumentamos as quantidades exportadas, mas os preços
caíram. O que estava programado? O Brasil iniciar investimentos em
infraestrutura. O Brasil é um importador líquido. Tínhamos uma
participação importante no comércio internacional, durante o governo dos
militares, com programas como o BEFIEX (Concessão de Benefícios Fiscais e Programas Especiais de Exportação). Isso era coisa do Delfim Netto e do Roberto Campos. O Delfim era desenvolvimentista e o Campos
era sem saber. Ele se dizia liberal, mas não era. A partir dos anos
1990, a curva da competitividade da indústria brasileira começa a
declinar de uma maneira impressionante. No campeonato da indústria
nacional, o Brasil caiu para a terceira divisão.
Quais são os outros cadáveres?
O segundo cadáver é o sistema fiscal e tributário brasileiro, que é
dos mais regressivos do mundo. As alíquotas, que eram elevadíssimas após
a Segunda Guerra, começaram a retroceder. Nos Estados Unidos, começaram
a taxar menos os riscos, porque supostamente são eles que investem, o
que foi um desastre. E as pessoas no Brasil continuam a repetir essa
besteira. No nosso sistema, 58% da receita fiscal é extraída das camadas
de renda de até dois salários mínimos. O curioso é que dividendo não
paga imposto; nem na fonte, nem na declaração. É a mesma lógica
americana. O dividendo pertence ao acionista e supõe-se que, se ele
receber mais, vai investir. É uma tolice, porque precisamos proteger a
empresa, e não os acionistas.
Portanto, nosso sistema fiscal é iníquo, além de ser muito sensível
às flutuações da renda. Quando se fala em ajuste fiscal, eu penso: por
que não temos um sistema tributário que taxe os mais ricos? Por que não
taxar a renda, os ganhos de capital? Bill Clinton quando fez superávit, foi possível por cobrar imposto dos lucros em bolsa.
No caso brasileiro, o sistema é todo marcado pela desigualdade. Qual é
a participação dos juros da dívida pública no PIB? É 8% e vai crescer.
De 2007 a 2011, o País pagou um PIB de juros. É uma transferência de
renda perversa. Isso tem muito a ver com o conservadorismo de uma fração
da sociedade.
E a Operação Lava Jato?
Foi, como dizia o general Ernesto Geisel, a pá de
cal. A operação produziu uma paralisia na economia. O programa de
concessões de investimento público ficou danificado gravemente e a
fuzilaria moralista acabou apavorando o governo, que ficou imobilizado.
Ninguém quer ver livres as ações inidôneas das empresas. Mas é preciso
separar as coisas. Parece que agora o juiz Sérgio Moro
acertou, pois disse ser preciso fazer acordos de leniência. É necessário
fazer uma reestruturação das empresas envolvidas, e fazer com que
paguem multas pesadas, entregando as ações que têm para o governo, que
eventualmente poderá revendê-las em leilões ou aberturas de capital. Nos
Estados Unidos, isso foi feito com os bancos, como o Citibank, a General Motors e a Ford.
A presidenta Dilma Rousseff agiu acertadamente ao baixar a meta fiscal?
Eu tenho dois cachorrinhos: o Karl Marx e o John Maynard Keynes.
Eles me falavam: esse ajuste fiscal não vai dar certo. É óbvio. A
economia em 2014 já começou a desacelerar fortemente. Em cima disso, a
equipe econômica fez uma série de cortes na boca do caixa.
Simultaneamente, para colocar a inflação na meta, o Banco Central subiu
os juros de maneira agressiva. A dívida pública cresceu 3,5% somente em
junho. Eles dizem que a dívida em 2018 vai chegar a 66% do PIB; é uma
conta bastante frágil. Porque o mercado já aponta que ela vai além de
70% ainda neste ano.
De alguma forma, a crise brasileira tem similaridade com o que acontece na Grécia?
Tem sim, pela ideia de que o ajuste vai fazer com que seja restaurada
a confiança dos investidores e a irrealidade da meta. É uma
falsificação da ideia de Keynes de confiança. O
economista dizia que, para progredir, os empresários precisariam
melhorar as condições de seus balanços. Mas o que vai acontecer é a
piora dos balanços. Para os consumidores, a mensagem é: vocês correm o
risco de ficar desempregados. A população, então, corta gastos. Como os
empresários estão vendo isso, os setores de bens de consumo não
investem. Os indivíduos olham uns aos outros e chegam à conclusão de que
não vai dar certo.
Qual seria a alternativa a esse modelo para o Brasil?
A situação fiscal não era, de fato, das melhores. As pessoas não gostam de falar de capitalismo; elas fogem do conceito. Dilma
foi eleita com o compromisso de manter as conquistas sociais. A crise
fiscal hoje tem um fundamento político. A independência do econômico do
político é ingênua e de má-fé. Mas o atual ajuste atinge setores e
pessoas diferentemente. Se provoca o desemprego, quem paga é o sujeito
que chega em casa e diz: perdi meu trabalho. Qual foi o erro
fundamental? Não foi a necessidade de se fazer um rearranjo das contas
públicas. Foi feito de cima para baixo, na base tecnocrática. O governo
deveria ter consultado as bases sociais que votaram na presidenta. Ela
foi eleita com 54% dos votos. E quem a escolheu? Foram os eleitores do Lula,
das regiões mais pobres do Brasil, cuja vida melhorou muito; cidadãos
que subiram na escala social com a valorização do salário mínimo e o Bolsa Família. Os sindicatos e os movimentos sociais deveriam ter sido consultados. A Dilma
vai me perdoar, e eu gosto muito dela, mas tem uma visão tecnocrática
da situação. Isso não deu certo em nenhum lugar do mundo. Nisso somos
muito parecidos com a Grécia. Só que a nossa Alemanha está aqui dentro. Não está fora. A nossa Troika está aqui: é representada pelo mercado financeiro e pela visão truncada e míope de seus economistas.
Além de um ajuste mais criterioso, quais seriam medidas que conduziriam o País ao crescimento?
Tenho grande resistência em aceitar a dicotomia pessimismo/otimismo.
Nós devemos ter esperança. Ou seja, todos vamos trabalhar para que as
coisas deem certo. Temos de deixar o câmbio desvalorizar mesmo, para
proteger a indústria brasileira e recuperar a capacidade de coordenação
do Estado brasileiro dos investimentos de infraestrutura.
O senhor tem conversado com a presidenta Dilma?
Não. A última vez que conversei com ela foi em um almoço, junto com João Manuel Cardoso de Mello, em Campinas. Somos amigos dela. Mas isso não quer dizer que vamos concordar com o que ela está fazendo.
E com o Lula?
Com o Lula converso sempre. Ele sempre tem uma
atitude muito positiva e criadora. Não se deixa abater, a despeito do
que têm feito com ele. Isso de querer processá-lo por ter jantado com
empresários, francamente! Eu gostei muito de uma entrevista com Ciro Gomes. Ele não tem medo e afirmou: “Ninguém vai dar golpe aqui, não! Nós vamos nos mobilizar”.
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
O que sindicato?
Antes do capitalismo, existiram sociedades onde também havia explorados e
exploradores. Naquelas sociedades os explorados muitas vezes se erguiam
em luta contra seus exploradores. Tivemos, por exemplo, grandes
rebeliões de escravos em Roma, como a de Espártaco, no século I a. C.,
sobre a qual todos sabemos um pouco devido ao famoso filme de 1960 com
Kirk Douglas. Mas nenhum desses movimentos de explorados e oprimidos
teve continuidade, nenhum deles deixou para as lutas futuras qualquer
tipo de organização. Os trabalhadores assalariados são a única classe
explorada na história que construiu organizações estáveis, com certa
permanência no tempo.
Livros citados.
O sindicalismo - Teoria, organização e actividade
http://www.custojusto.pt/…/roger-dangeville-o-sindicalismo-…
Escritos Sobre Sindicato
http://www.estantevirtual.com.br/…/escritos-sobr…/3973858190
Marxismo e os Sindicatos
http://loja.tray.com.br/…/produto-46909-1164-marxismo_e_os_…
Bônus o livro que o Gustavo procura:
https://www.marxists.org/portugues/le...
Agradecimentos
Agatha Rotelli, Darllon Lopes, Izabella Lourenço e Rayane Silva.
Direção Paollo Rodajna
Curta nossa pagina no face http://goo.gl/f1MxEv
Livros citados.
O sindicalismo - Teoria, organização e actividade
http://www.custojusto.pt/…/roger-dangeville-o-sindicalismo-…
Escritos Sobre Sindicato
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Marxismo e os Sindicatos
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Bônus o livro que o Gustavo procura:
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Direção Paollo Rodajna
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Roubini, economista que previu a crise dos EUA, vê sinais de bolha no Brasil
Segundo
o professor da New York University, cenário de elevados preços dos
imóveis é visto também em outros emergentes e em economias avançadas
como França, Alemanha e Reino Unido

O
economista e professor da New York University, Nouriel Roubini -
conhecido por ser um dos especialistas a prever a crise financeira dos
Estados Unidos de 2008 - escreveu num artigo no site Project Syndicate que as grandes cidades brasileiras mostram evidências de bolha imobiliária.
Roubini diz que, cinco anos depois de a crise financeira ter
estourado nos EUA, sinais de "espuma, senão bolhas" estão reaparecendo
nos mercados imobiliários de países como Suíça, Suécia, Noruega,
Finlândia, França, Alemanha, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e
Grã-Bretanha. Entre os emergentes, além do Brasil, o especialista cita
Hong Kong, Cingapura, China, Israel e grandes centros urbanos na
Turquia, na Índia e na Indonésia.
O professor aponta como evidências de bolha o rápido aumento dos
preços das moradias, principalmente ao compará-los com a evolução da
renda e a forte participação da dívida hipotecária no endividamento das
famílias nessas regiões.
Contudo, ao explicar o que está provocando o cenário de preços
elevados nos mercados imobiliários, ele faz uma distinção entre os
países emergentes e as economias mais avançadas. Para Roubini, o
primeiro grupo tem esse cenário provocado pelas políticas de
"afrouxamento quantitativo": taxas baixíssimas de juros, grande
disponibilidade de dinheiro no mercado, em um momento em que a inflação e
o crescimento são baixos também.
Já para os emergentes, o especialista faz uma distinção nos países
que têm renda per capita mais elevada, como Hong Kong e Cingapura, a
possível bolha se deve às taxas baixas de juros para evitar valorização
das moedas locais. Já em países como Brasil, Turquia, Índia e Indonésia,
ele cita os elevados patamares inflacionários.
Contudo, Roubini não acredita que essas bolhas vão estourar
rapidamente. Segundo ele, trata-se de uma lenta repetição do que
aconteceu com o mercado imobiliário recentemente. "E, como da última
vez, quanto maiores as bolhas se tornarem, mais desagradável será a
colisão com a realidade."
Roubini não é o primeiro a ver sinais de bolha no mercado imobiliário
brasileiro. Recentemente, o economista e professor de Yale - também
vencedor do prêmio Nobel de Economia 2013 -, Robert Shiller, disse ao site de VEJA que o país pode estar vivendo uma situação de bolha.
Isso devido ao súbito aumento dos preços das moradias, principalmente
em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Assim como Roubini, Shiller
também foi um dos primeiros economistas a sinalizar a crise dos Estados
Unidos.
Fonte: http://veja.abril.com.br/
2016 é o ano do “crash” nas bolsas, avisa o “Dr. Doom” Nouriel Roubini
Nouriel Roubini, o mediático economista que previu a crise
financeira global, diz que os mercados estão a formar uma "bolha" que
irá rebentar não em 2015 mas no ano seguinte, em 2016. É o "Dr. Doom".
O mediático Nouriel Roubini é conhecido por "Dr. Doom", pelas suas habituais previsões cataclísmicas. Em 2006, acertou.
As bolsas europeias estão perto dos níveis mais elevados dos últimos
sete anos e, nos EUA, Wall Street passou quase todo o ano de 2014 a
renovar máximos históricos consecutivos. Um dos economistas
norte-americanos mais mediáticos, Nouriel Roubini, diz que está a
formar-se a “mãe de todas das bolhas” nos mercados e que o colapso – que deverá acontecer, acredita, em 2016 – será tremendo.Nouriel Roubini é conhecido por “Dr. Doom” pelas suas previsões habitualmente cataclísmicas para os mercados. A sua reputação cresceu, contudo, quando o economista alertou numa conferência do Fundo Monetário Internacional (FMI), em 2006, que o mercado imobiliário nos EUA iria colapsar e que o país iria cair numa grave recessão que causaria ondas de choque em todo o mundo. Foi, na altura, ridicularizado por quase todos, mas a crise financeira de 2008 desenrolou-se de forma muito semelhante ao que tinha previsto.
Em que fase da “bolha” estamos? “Estamos mais ou menos no meio”, diz Roubini. “No próximo ano (2015) teremos crescimento económico e dinheiro barato, pelo que esta ‘espuma’ que vemos nos mercados ainda deverá continuar”. O economista refere-se à “espuma” como uma indicação de que os mercados estão a formar bolhas, alimentadas pela inflação baixa que existe nas economias desenvolvidas e pela política monetária agressiva dos bancos centrais, no sentido de comprimir as taxas de juro para mínimos históricos e injetar liquidez no mercado monetário.
O economista está particularmente preocupado com o mercado norte-americano, onde a bolsa sobe quase 40% no último ano, mas prevê um colapso que iria necessariamente alastrar-se aos outros ativos e regiões. As bolsas europeias também estão em máximos de vários anos, muito devido à expectativa de mais medidas de estímulo monetário por parte do Banco Central Europeu.
Os preços de vários ativos, desde as obrigações às ações, estão “demasiado esticados“, diz Nouriel Roubini. Em especial, as ações ligadas às redes sociais e Internet preocupam o economista. A certa altura, que o “Dr. Doom” diz que não será para já mas em 2016, os mercados vão ajustar-se muito rapidamente. “Eventualmente, todas as bolhas rebentam”, avisa Roubini.
O mercado imobiliário nos EUA não está em “bolha”, desta vez, mas há muitos países onde isso está a acontecer. Entre os países que, na opinião de Roubini, têm bolhas no imobiliário estão o Canadá, o Reino Unido, a Suécia, a Suíça e também em Hong Kong e Singapura.
Fonte: http://observador.pt/
Krugman: políticas atuais agravarão a crise
Krugman: políticas atuais agravarão a crise
"Na superfície, parece uma sucessão incomum de azares.
Primeiro, o estouro da bolha imobiliária e a crise bancária desencadeada
em consequência. Então, quando o pior parecia haver passado, a Europa mergulhou
numa crise de dívidas e numa recessão em dois mergulhos. A Europa ao
fim alcançou uma estabilidade precária e começou a crescer de novo – mas
agora, assistimos a grandes problemas na China e
em outros mercados emergentes, que haviam sido pilares de
força. Contudo, não se trata de acidentes sem relação entre si. Estamos,
na verdade, vivendo o que sempre ocorre quando muito dinheiro está em
busca de poucas oportunidades de investimento". escreve Paul Krugman, em artigo publicado por Outras Palavras, 24-08-2015.
Eis o artigo.
Não culpe a China por novos terremotos financeiros. Fragilidade da economia global tem causas profundas. Resposta convencional – cortar gastos públicos e elevar juros – é a pior possível.
Que está causando as quedas abruptas das bolsas de valores? O que elas significam para o futuro? Ninguém tem muitas respostas.
Tentativas de explicar as oscilações diárias nos mercados são normalmente insanas: uma pesquisa em tempo real sobre o crash de 1987 da bolsa de Nova York
não encontrou evidência alguma para nenhuma das explicações que os
economistas e jornalistas ofereceram para o fato. Descobriram, ao invés
disso, que as pessoas estavam vendendo ações porque – você adivinhou! –
os preços caíam. E o mercado de ações é um péssimo guia sobre o futuro
da economia. Paul Samuelson brincou, certa vez, que os mercados haviam previsto nove das cinco recessões anteriores, e nada havia mudado a este respeito…
De qualquer forma, os investidores estão claramente nervosos – e têm
boas razões para isso. Nos EUA, as notícias econômicas mais recentes são
boas (ainda que não ótimas), mas o mundo como um todo parece muito
propenso a acidentes. Há sete anos, vivemos numa economia global que tropeça de crise em crise. Cada vez que uma parte do mundo finalmente parece colocar-se em pé, outra despenca.
Mas por que a economia mundial continua capengando?
Na superfície, parece uma sucessão incomum de azares. Primeiro, o estouro da bolha imobiliária e a crise bancária desencadeada em consequência. Então, quando o pior parecia haver passado, a Europa
mergulhou numa crise de dívidas e numa recessão em dois mergulhos. A
Europa ao fim alcançou uma estabilidade precária e começou a crescer de
novo – mas agora, assistimos a grandes problemas na China e em outros mercados emergentes, que haviam sido pilares de força.
Contudo, não se trata de acidentes sem relação entre si. Estamos, na
verdade, vivendo o que sempre ocorre quando muito dinheiro está em busca
de poucas oportunidades de investimento.
Mais de uma década atrás, Ben Bernanke, então o presidente do banco central dos EUA (FED),
argumento que a disparada do déficit comercial norte-americano não era o
resultado de fatores domésticos, mas de uma “abundância global de
poupança”. Um volume de poupança muito maior que o de investimentos – na
China e em outras nações em desenvolvimento, provocado em parte pelas
políticas adotadas em reação à crise asiática dos anos 1990 – estava
deslocando-se para os EUA, em busca de lucros. Ele alertou levemente
para o fato de que o capital que entrava não estava sendo canalizado
para investimentos produtivos, mas para imóveis. É calro que o alerta
deveria ter sido muito mais forte (alguns de nós o fizemos). Mas a
sugestão de que o boom imobiliário dos EUA era em parte causado por
fraqueza em economias de outros países permanece válido.
É claro que o boom converteu-se numa bolha, que provocou enorme
estrago ao estourar. E não foi o fim da história. Houve também uma
inundação de capitais, da Alemanha e outros países do norte da Europa, para a Espanha, Portugal e Grécia. Isso também provocou a formação de uma bolha, cujo estouro, em 2009-2010 precipitou a crise do euro.
E ainda não acabou. Quando os EUA e a Europa deixaram de ser destinos
atraentes para o capital [devido à redução das taxas de juro a quase
zero], a abundância global saiu em busca de novas bolhas a inflar, levando moedas como o real brasileiro
a altas insustentáveis. Não poderia durar e agora estamos em meio a uma
crise de mercados emergentes que faz alguns observadores lembrarem-se
da Ásia nos anos 1990 – lembre-se, onde tudo começou.
Portanto, para onde o fluxo cambiante da abundância aponta agora?
Talvez, de novo para os EUA, onde um novo fluxo de capitais externos
provoca a alta do dólar e pode tornar a indústria novamente não-competitiva.
O que provoca a abundância global? Provavelmente, uma soma de
fatores. O crescimento populacional está arrefecendo em todo o mundo e,
apesar de toda a fanfarra com as últimas tecnologias, elas não parecem
criar nem um grande aumento de produtividade, nem demanda para
investimentos. A ideologia da austeridade, que conduziu a um enfraquecimento sem precedentes dos gastos públicos, ampliou o problema. E a inflação
baixa, em todo mundo, que significa taxas de juros baixas, mesmo quando
as economias estão crescendo aceleradamente, reduziu o espaço para
cortar estas taxas, quando as economias se contraem. Qualquer que seja o
mix preciso das causas, o importante agora é que os governos assumam
seriamente a possibilidade – eu diria probabilidade – de que excesso de
poupança e fraqueza econômica global tenha se tornado a nova normalidade.
Minha percepção é de que há, hoje, uma profunda falta de vontade
política, mesmo entre governantes sofisticados, para aceitar esta
realidade. Em parte, é devido a interesses especiais: Wall Street
e os mercados não gostam de ouvir que um mundo instável requer
regulação financeira, e os políticos que desejam matar o estado de
bem-estar social não querem ouvir que os gastos governamentais não são
um problema, no cenário atual.
Mas há também, estou convencido, uma espécie de preconceito emocional
contra a própria noção de abundância global. Políticos e tecnocratas
gostam de se enxergar como pessoas sérias, que tomam decisões difíceis –
como cortar programas populares e elevar taxas de juros.
Eles não querem ser informados de que estamos num mundo em que
políticas aparentemente rigorosas irão tornar as coisas piores. Mas nós
estamos, e elas vão.
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/
domingo, 23 de agosto de 2015
O outro lado da história: site disponibiliza materiais didáticos feitos por indígenas
“Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de
caçadas continuarão glorificando o caçador”. A frase de Eduardo Galeano
ilustra bem um problema ainda muito presente no imaginário dos
brasileiros e o mais grave, no ambiente escolar.
Para tentar mudar esse cenário, a ONG Thydêwá
colocou em prática uma iniciativa interessante e muito necessária. O
grupo criou uma plataforma online para permitir que os índios ajudem a
desenvolver materiais didáticos e tenham a chance de contar a sua
própria versão da história do Brasil.

No site Índio Educa,
é possível encontrar artigos sobre diferentes etnias e tribos
brasileiras, todos escritos por indígenas. São registros sobre aspectos e
fatos históricos e cotidianos, que podem ser consultados livremente e
permitem construir uma nova versão dos fatos que nos trouxeram até aqui.
De acordo com os criadores da iniciativa, o principal objetivo do
projeto é empoderar o indígena para o diálogo e acabar gradualmente com o
preconceito.
Fonte: https://aoquadrado.catracalivre.com.br/educacao/o-outro-lado-da-historia-site-disponibiliza-materiais-didaticos-feitos-por-indigenas/
Ninguém é a favor de bandidos, é você que não entendeu nada
Sobre as expressões que atravessam as gerações, passando de pai para filho e o pensamento ignorante que elas geram
Espectro
político trata fundamentalmente de economia. Você acha que a
propriedade privada é a raíz de todo o mal? Vá para a esquerda. Você
acha que a propriedade privada pode resolver problemas? Vá para a
direita.
Agora, deixe isso de lado. Não me importa, porque o ponto que quero discutir neste texto é comum a todos.
Algumas
expressões vem se propagando por gerações. Como uma espécie de roteador
que só replica o sinal, a nova geração repete os discursos da geração
anterior. Me assusta ver que jovens, como eu, que tiveram acesso a boas
escolas, conteúdos e discussões, estejam dando continuidade às falácias
mal estruturadas dos mais velhos.
“Bandido bom é bandido morto.”
“Tem idade para matar, mas não tem idade para ir preso.”
“Direitos Humanos só serve para bandido.”
“Esse povinho defensor de bandido… quero ver quando for assaltado.”
Olha
só: ninguém é a favor de bandido. Ninguém mesmo. Muito menos os
direitos humanos. Ninguém quer que assalto, assassinato, furto e outros
crimes sejam perdoados ou descriminalizados.
Você é que entendeu errado.
Por
que alguém, em sã consciência, seria a favor de assaltos, homícidios,
latrocínios e furtos? Você não deveria sair gritando palavras de ódio
sem entender o argumento do qual discorda — a não ser que você se aceite
como ignorante, isto é, que ignora parte dos fatos para manter-se na
inércia do conforto.
Depois
que este texto terminar, você pode continuar discordando, mas espero
que desta vez com outros argumentos, argumentos fundamentados.
Antes de mais nada, o que você prefere?
Gostaria de propor dois cenários e que você escolhesse o que mais te agrada.
I)
Uma sociedade onde há muitos criminosos, logo há muitos assaltos,
latrocínios e homícidios. Entretanto, nesta sociedade, 99% dos crimes
são resolvidos e os indivíduos são presos. Após voltarem as ruas,
tornam-se reincidentes, ou seja, cometem novamente um crime. Mas nesta
sociedade, este criminoso é pego novamente em 99% das vezes. Há pena de
morte.
II)
Uma sociedade onde quase não há criminosos. Os poucos criminosos que
existem, quando pegos, são presos. Além de punidos com tempo de
reclusão, os criminosos também são reabilitados (as maneiras são
indiferentes, se com cursos profissionalizantes, tratamento psicológico,
ambos ou outros) para que possam tentar uma nova vida. Não há pena de
morte.
Qual você prefere?
Nenhum
destes casos é o do Brasil. No nosso país e em muitos outros, temos
altos índices de criminalidade, poucos programas de reabilitação e o
senso comum vingativo de que o Lex Talionis desenvolvido há cerca de
4.000 anos ainda serve como solução. Todavia, há países parecidos com os
dois casos propostos, o que torna tangível a estrutura. Mas e para o
Brasil? Qual dessas você preferiria para o nosso país?
Posso te ajudar neste raciocínio com alguns pontos:
- No primeiro caso, apesar de quase todos os criminosos serem pegos, o sofrimento das vítimas permanece. Como só se prende depois do crime, os lesados nunca terão a vida de um ente querido de volta, por exemplo.
- No primeiro caso, além de muitos crimes, os criminosos ainda tem maior probabilidade de reincidir, ou seja, de cometer um crime por mais de uma vez.
- Como são muitos criminosos, a economia do país perde força produtiva. Pessoas que poderiam estar trabalhando, pesquisando, empreendendo, estão no crime.
- No primeiro caso, como são muitos casos a serem avaliados, o sistema jurídico pode vir a se tornar lento e ineficaz.
OBS: Em
nenhum momento quero impor uma falácia de falsa dicotomia. Existem
infinitas possibilidades de combinações aqui. Entretanto, este é apenas
um exercício que facilita o entendimento do argumento.
A pessoa nasce bandida ou torna-se bandida?
Pergunta importante: você acha que as pessoas já nascem bandidas? O bebê — sim, aquele de colo — já é um bandido?
Prefiro
pensar que ninguém acredita que as pessoas já nascem criminosas. É um
pouco lunática a visão de um mundo Minority Report, onde o bebê será
preso ali mesmo, nos primeiros momentos de vida. Mesmo para quem
acredita neste mundo, o próprio filme trata do problema que isso poderia
causar.
Partindo
da pressuposição de que ninguém nasce bandido, vou utilizar um
personagem fictício como exemplo: João, o bebê. Imagine o bebê da
maneira como quiser, isso pouco importa, a única certeza que temos sobre
João, o bebê, é que ele não nasceu bandido. É uma criança como qualquer
outra, ainda dependente dos pais, que pouco faz da vida além de dormir e
chorar. Mas neste mundo fictício, o tempo passou, e João cresceu. Aos
16 anos cometeu um latrocínio. Se João não nasceu bandido, então
tornou-se bandido. A palavra "tornou-se" implica transformação e esse é o
X da questão.
Os
seres humanos se constroem com as experiências e aprendizados, portanto
o meio em que se vive tem grande influência sobre ele. Sabendo disso,
temos a visão clara de que algo acontece na sociedade que transforma as
pessoas em marginais. E se você acha que não, talvez seja curioso saber
que a taxa de homícidios no Brasil em 2008 era de 26,4 a cada 100.000
habitantes, enquanto que na Islândia o índice não passou de 1,8 a cada
100.000 no mesmo ano. Se o motivo desta diferença não for social, então
só resta que seja biológico. Por ora, me nego a acreditar num "gene da marginalidade"¹.
O fato é: há algo na sociedade (que não será discutido neste texto) que leva as pessoas a cometerem crimes.
Quando
você diz que reduzir a maioridade penal é uma boa ideia, você não está
focando na raíz do problema, está apenas sugerindo uma maneira de
remediar. E como veremos a frente, dado o nosso sistema, isto só aumenta
a chance de criar um deliquente reincidente. Então note, pouco importa
se a maioridade penal é de 16, 18 ou 21 anos se o país continua a formar
criminosos. Devemos pensar em maneiras de diminuir a criminalidade, no
processo que transforma as pessoas em transgressoras da lei, ou logo
teremos mais presídios do que universidades e mais marginais do que
cidadãos comuns.

¹ Há
um estudo que relaciona os genes MAOA, DAT1, DRD2, com a predisposição à
agressividade. Entretanto, Guang Guo, que é o responsável pelo estudo,
afirma que a interação social é fator decisivo para o comportamento
destes genes. Isto é, na maior parte dos casos, a presença dos genes não
afeta jovens que possuem influências sociais positivas.
Construir mais penitenciárias e prender mais gente diminui a criminalidade?
O
olhar crítico que às vezes não permeia a cabeça das pessoas é que
prender as pessoas não faz com que menos pessoas se transformem em
criminosas. Penitenciando apenas, você não resolve o problema, apenas
posterga enquanto gasta o dinheiro público.
Assim
como todo fumante sabe dos males do cigarro, todos que entram para o
mundo do crime sabem o risco envolvido. Todo dia no noticiário vemos
corpos estirados ao chão, seja do cidadão, do criminoso ou do policial.
Não adianta termos penas mais severas: o brasileiro que se torna
assaltante já não tem nada a perder, sabe que tem grandes chances de
morrer de forma cruel.
Os
criminosos brasileiros, depois de presos, ficam ainda mais propensos a
perpetuar sua vida marginal. São três os principais motivos: (I) poucas
empresas se propõem a contratar ex-presidiários, (II) o trauma vivido
dentro da cadeia — como ela é aqui no Brasil — agrava as problemáticas
psicológicas do indivíduo e, por fim, (III) não há um programa grande e
estruturado de reabilitação de criminosos para que deixem a vida do
crime.
Ninguém quer que criminosos não sejam punidos¹.
Eles devem pagar suas penas conforme previsto em lei. O único problema é
que a pessoa só vai presa depois de cometer o crime, isto é, depois que
alguém já foi lesado. Não seria muito melhor se ao invés de precisar
prender as pessoas depois do crime consumado, houvesse menos bandidos?
Não seria melhor se os criminosos, após cumprirem suas penas, se
reintegrassem a sociedade como parte da massa trabalhadora?
Ah,
não dá? Dá sim. Na Suécia dá, por que aqui não daria? Vamos supor que
você responda, de maneira óbvia, que é por causa da "cultura
brasileira". Neste caso, eu devo concordar, porque, realmente, a cultura
é diferente: aqui muita gente acredita que pena de morte resolve o
problema enquanto lá eles fazem uso da reabilitação.
Deve ser por isso que aqui se constroem presídios e lá se fecham presídios.
Nils Öberg, responsável pelo sistema prisional da Suécia, disse sobre o fechamento presídios no país por falta de condenados:
“Nós
certamente esperamos que nossos esforços em reabilitação e prevenção de
reincidência tenham tido um impacto, mas nós achamos que isso sozinho
não pode explicar a queda de 6%” — reafirmando que a Suécia precisa
se esforçar ainda mais em reabilitar os prisioneiros para que eles
possam retornar a sociedade.
¹ Existe
uma corrente que acredita no chamado Abolicionismo Penal que não vê o
sistema punitivista com estes olhos. Eu não conhecia esta ideia no
momento em que escrevi o texto, mas um leitor me alertou pelo Twitter e
por isso faço questão de incluir aqui.
Direitos Humanos para você também
O artigo 3 da Declaração Universal dos Direitos Humanos diz que:
“Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.”
O trecho "Toda pessoa (…)" do artigo 3 inclui você.
Ninguém
quer que você seja vítima de um crime. Todas as leis do código penal
são pensadas para tentar lhe garantir este e outros direitos comuns a
todos os seres humanos. Ninguém quer que os bandidos sejam especiais: o
que o "povinho dos Direitos Humanos" quer é que a sociedade não
crie mais marginais e que a quantidade dos existentes diminua. E é aí
que está: infringindo os direitos humanos, você não alcança este
objetivo.
O trecho “Toda pessoa (…)” do artigo 3 também inclui o marginal.
É
confuso que o cidadão que clama tanto por justiça, que a lei seja
cumprida, fique ávido para descumpri-la: tortura, homicídio e ameaça são
crimes, mesmo que sejam contra um condenado. Então, não, bandido não
tem que morrer, porque isso te tornaria tão marginal quanto.
Se
você quer uma sociedade com menos criminosos, conforme discutido no
começo deste texto, entenda o papel dos Direitos Humanos. O artigo 5
diz:
“Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.”
Ninguém
lhe nega o direito a sentir dor, raiva e/ou tristeza após ter sido
vítima de um crime. A culpa não é sua e isto nunca foi dito. Só quem é
vítima sabe da própria dor. Mas o fato é que o olho por olho não te
trará paz, não trará um ente querido de volta, não removerá seus
traumas. O dente por dente só te levará para mais perto de uma sociedade
violenta, onde o crime se perpetua e você pode ser vítima mais uma vez.
Ninguém quer que você seja vítima outra vez.
A
punição deve ser aplicada, sim. E com certeza será ainda melhor quando
este indivíduo estiver apto a se tornar um cidadão comum, após cumprir
sua pena, e nunca mais venha a causar problemas para a sociedade e para
você. E é sobre isso que os Direitos Humanos falam.
Portanto entenda
Se
você leu o texto um pouco mais exaltado, talvez tenha perdido algum
trecho importante, portanto aqui vão alguns dos principais pontos:
- Ninguém nasce bandido. A estrutura social, de alguma maneira, transforma as pessoas em criminosas.
- Entender os motivos que levam a formação de criminosos e resolvê-los é mais importante do que puni-los com mais severidade. Se não formarmos criminosos, as pessoas não precisam ser vítimas.
- Todo crime deve ser devidamente punido, mas a maneira de punir pode influenciar na reincidência do criminoso, que fará novas vítimas.
- Construir presídios, prender mais pessoas, não evita que mais pessoas se transformem em bandidos.
- O que aprendemos com os países mais desenvolvidos é que reabilitar marginais colabora com a redução da criminalidade.
- Infringir os Direitos Humanos de qualquer pessoa é atentar contra a vida e, no caso do marginal, vai na contra-mão da reabilitação.
E novamente:
Você tem o direito de ficar desolado e/ou enfurecido por ter sido vítima. Ninguém é a favor do crime.
Você é que não tinha entendido antes.
Pós-escrito sobre os espantalhos
Esta seção foi incluída no dia 01/03/2014, após mais de 300.000 visualizações do texto.
Acho
muito positivo que as pessoas discordem. É somente com o confronto de
ideias que podemos observar o que faz e o que não faz sentido.
Entretanto, algumas pessoas tentaram refutar o texto com a chamada “Falácia do Espantalho”.
A expressão “Falácia do Espantalho” descreve
um tipo de argumento falacioso, inválido. Esta falácia se dá quando um
dos interlocutores distorce o argumento do outro, transformando-o em
algo simplista ou exagerado, de forma que torne-se algo fácil de se
refutar. O problema com este tipo de argumento é que ele não lida com a
alegação real, ao contrário, ele inventa uma nova, na tentativa de
ridicularizar a alegação inicial.
Se
isto não ficou claro, não se preocupe, pois a seguir listarei alguns
exemplos. Parafrasearei algumas das coisas que li e ouvi, e então
esclarecerei.
Espantalho #01
O texto diz que a culpa é da sociedade.
Esta falácia se dá por causa do trecho “O fato é: há algo na sociedade (…) que leva as pessoas a cometerem crimes”.
Apenas
como exercício, imagine um campo onde há dezenas de espécies de árvores
frutíferas. Neste campo, crianças brincam e comem frutas diretamente
das árvores. Os pais observam os filhos. Após algum tempo, crianças
começam a apresentar vermelhidão na pele, dificuldade para respirar,
vômito e diarreia. Muitas delas morrem.
A culpa é do campo? Não. A culpa é das mamonas, que contém ricina.
Utilizando
o cenário-exemplo proposto, é bem razoável que os pais se atentem ao
fato de que há algo no campo que leva as crianças ao óbito. Dado isto, é
melhor que investiguem as causas das mortes ao invés de somente
comprarem remédios ao acaso. Os remédios não evitam que mais crianças se
intoxiquem. Ainda no exercício, a melhor saída seria identificar que o
problema são as mamonas e, a partir daí, cortar as árvores que as
produzem.
Culpa
é a responsabilidade de um ou mais indivíduos por um ato que prejudica
alguém. Se um indivíduo decide roubar ou matar outra pessoa, a culpa
pela morte é dele e somente dele. Repare que "(…) leva as pessoas a cometerem crimes." deixa
claro que quem comete os crimes são as pessoas. Sociedades não cometem
crimes, seus indivíduos sim. Entretanto, nada disso impede que os
indivíduos atuem em busca de uma mudança na estrutura da comunidade, de
forma a mitigar a criminalidade.
Espantalho #02
O texto propõe que o Brasil deve virar a Suécia da noite pro dia.
O
texto não diz isso. Nem diz que o Brasil parece a Suécia, ao contrário,
diz que a mentalidade sobre este assunto é totalmente diferente.
Quando
pensamos em mudar as políticas existentes, sempre há possibilidade de
aproveitar o aprendizado de outros países. A Suécia, como muitos outros
países nórdicos, apresenta excelentes características e índices
relacionados à qualidade de vida.
A
maioria das mudanças políticas não apresenta resultados imediatos. Leva
tempo para que a sociedade se reestruture e modifique seus processos.
Mas a mudança parte da mentalidade e tem que começar em algum momento.
Espantalho #03
O texto diz que temos que privilegiar criminosos.
O texto não diz isso. Não torturar e privilegiar são coisas distintas.
Muitas
vezes, uma prisão em flagrante requer uso de força, principalmente
quando o criminoso reage à voz de prisão. Não há nada de errado nisso,
pois é impossível conter um indivíduo relutante com delicadeza.
Entretanto, há uma diferença gritante entre uso de força necessária e
tortura.
Segundo
o artigo 301 do código Código Processual Penal, qualquer cidadão pode
prender uma pessoa em caso flagrante delito e, neste caso, deve
conduzi-la às autoridades responsáveis. Alternativamente, o cidadão que
flagrar o crime pode conter o criminoso e chamar as autoridades
responsáveis.
Como
exemplo, em um acontecimento recente, um jovem foi espancado e
acorrentado pelo pescoço em um poste, nu. O que deve ser avaliado neste
caso é se o adolescente foi pego em flagrante, se a polícia foi avisada e
se houve tortura. Se alguma das condições previstas em lei não foi
atendida, esta foi uma prisão ilegal. E se houve tortura, os
responsáveis pela prisão cometeram um crime.
Espantalho #04
O texto diz que não há impunidade no Brasil e que o cidadão não deve se indignar.
O texto não diz isso. O brasileiro deve se indignar, pois os nossos números passam longe de representar o cenário ideal.
O
Estado brasileiro se demonstra incapaz de resolver o problema, tanto
por uma via, como pela outra. É urgente a necessidade de uma mudança
sistemática. Assim, há de se discutir os caminhos possíveis para tal. O
texto se compromete a apresentar apenas um dos pontos importantes que
devem ser discutidos nesta pauta, mas não insinua nenhuma fração da
falácia acima.
Espantalho #05
O texto diz que as pessoas pobres não tem escolha, a não ser a criminalidade.
O texto não diz isso. O texto nem mesmo faz distinção de classes sociais.
Normalmente,
esta falácia vem acompanhada de um exemplo onde dois irmãos gêmeos
estudam na mesma escola, tem os mesmos amigos e mesmo assim optam por
caminhos distintos, onde um se torna criminoso e o outro não. Neste
caso, é importante notar que não há o caso onde duas pessoas vivem
exatamente as mesmas experiências e tem exatamente as mesmas percepções.
Mesmo que possuam uma grande semelhança biológica, dois irmãos nunca
são tratados pelos demais como uma só pessoa. Além disso, a semelhança
biológica não garante a semelhança entre personalidades.
Ser
um cidadão que não vive de crime é sim uma escolha. As pessoas quase
sempre tem escolhas, mas vale lembrar que às vezes as possibilidade
parecem distantes. Por exemplo: qualquer um pode ser tão rico e famoso
quanto o Bill Gates, basta fundar uma empresa como a dele. A questão
central é quão fácil ou difícil é tomar certas escolhas para si.
A
proposta do texto é incentivar uma discussão em torno de como fazer as
pessoas não optarem pelo crime, e não impor a ideia conformista de que
as coisas são do jeito que são e nada pode ser feito.
Alguns vídeos para relaxar
Os vídeos que listarei a seguir NÃO são sugestões de atitudes que podem ser aplicadas diretamente. São apenas vídeos curiosos, interessantes, inusitados ou informativos.
A história dos Direitos Humanos:
A história do empresário que decidiu empregar o próprio sequestrador:
A história da mulher de 93 anos que construiu uma fundação para reabilitar presidiários:
Experiência de reabilitação penitenciária na Áustria:
Referências:
- http://en.wikipedia.org/wiki/Eye_for_an_eye
- http://www.bbc.co.uk/news/magazine-25201471
- http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2011/02/24/taxa-de-homicidios-entre-jovens-quase-dobrou-em-30-anos-no-brasil.htm
- http://www.ibtimes.com/swedens-happy-perplexing-problem-four-prisons-closed-due-falling-inmate-population-1466170
- http://oglobo.globo.com/mundo/suecia-fecha-quatro-presidios-por-falta-de-condenados-10769563
- http://www.un.org/en/documents/udhr/
- http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/statistics/Homicide/Globa_study_on_homicide_2011_web.pdf
- http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm
- http://www.sciencedaily.com/releases/2008/07/080714092752.htm
- http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/02/1407239-adolescente-e-agredido-a-pauladas-e-acorrentado-nu-a-poste-na-zona-sul-do-rio.shtml
- http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689.htm
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