domingo, 30 de junho de 2013

Violência policial e vandalismo como uma questão de classe

Por Euclides Agrela

A manifestação do dia 27 de junho em Fortaleza, quando do jogo Espanha e Itália no estádio Castelão, contou com a participação de cerca de 20 mil pessoas. Saindo do Campus do Itaperi da Universidade Estadual do Ceará (UECE), a passeata percorreu a Avenida Dedé Brasil até chegar cerca de 2 km do estádio, quando foi impedida de prosseguir por uma barreira policial formada pela tropa de choque da PM, do governador Cid Gomes (PSB) e pela Força Nacional de Segurança, da presidente Dilma Rousseff (PT).
Na concentração, às 10h, era visível a composição social do ato. Jovens pobres e negros da periferia de Fortaleza, movimentos sociais como os do sem-teto e sem terra, trabalhadores da construção civil, rodoviários, costureiras, professores da rede pública estadual e municipal.
A participação do movimento sindical e popular foi um destaque desde a convocatória até a organização da passeata. Viam-se inúmeras faixas e bandeiras da Conlutas, da Anel, do MTST, do MCP, do MAB e do MST. Militantes do PSOL, do PSTU, do PCB, do POR e até do PCdoB se fizeram presentes sem que sofressem quaisquer hostilidades.
Uma das reivindicações que mais ecoou pela Avenida Dedé Brasil, além da redução imediata da passagem de ônibus para R$ 2,00, foi a defesa das comunidades do entorno do Castelão que vem sofrendo com os despejos para a garantia das obras da Copa.
A passeata transcorreu na mais absoluta tranquilidade até o momento que encontrou a barreira policial. Em vários momentos ouvia-se o coro de: “que coincidência, sem polícia não tem violência”. Mas, nas proximidades do Castelão, quando já passava do meio dia, a repressão policial tornou-se apenas uma questão de tempo.
Violência policial é a causa das depredações
Para quem, durante o mês de Junho, participou das manifestações de massas em todo o país e enfrentou governos truculentos como o de Cid Gomes (PSB), no Ceará, aprendeu desde cedo, mesmo que não houvesse nenhuma provocação por parte dos manifestantes, que a ordem tem sido dispersar violentamente a multidão depois de pouco mais de uma hora do encontro da passeata com a barreira policial, seja “apenas” com gás lacrimogêneo ou, na maioria absoluta dos casos, com o uso deste acompanhado de balas de borracha.
A violência da tropa de choque do governador Cid Gomes (PSB) foi brutal. Bombas de gás lacrimogêneo foram atiradas indiscriminadamente às dezenas através de morteiros não somente na vanguarda da manifestação, mas na sua retaguarda. O Juiz aposentado Sílvio Mota, que apoiava a manifestação, foi surpreendido por bombas de gás quando se encontrava próximo ao bloqueio policial. Inúmeras bombas atingiram condomínios residenciais e casas próximas ao conflito, que foram utilizadas desesperadamente por alguns manifestantes com último refúgio, intoxicando inclusive crianças.
A reação dos manifestantes diante de tamanha violência não poderia ser diferente: pneus foram queimados na via, um carro da TV Jangadeiro e um ônibus foram depredados, outro carro da TV Diário foi incendiado. Algumas lojas próximas ao conflito foram saqueadas. O saldo: 97 presos e, pelo menos, sete feridos. Até a manhã de sábado, todos haviam sido soltos com a intervenção de advogados ligados aos movimentos sociais.
Os grandes meios de comunicação de TV, rádio, jornal e internet bradaram mais uma vez contra uma suposta minoria de vândalos como os responsáveis pelas depredações e a reação violenta da polícia. É inegável que há uma minoria de manifestantes mais exaltados dispostos ao quebra-quebra e a enfrentar a polícia. No entanto é ridículo supor, diante de mobilizações de massas com dezenas ou centenas de milhares de pessoas, que isto não aconteceria.
Quando milhares se põem espontaneamente em movimento nas ruas, com reivindicações difusas, sem uma direção reconhecida que possa lhe dar uma maior organização e disciplina, sempre haverá um setor, ainda que minoritário, com uma fúria incontrolável disposto a enfrentar a polícia custe o que custar e quebrar tudo que estiver pela frente. Mas, quem são os supostos vândalos?
Vandalismo por uma questão de classe
No momento em que o próprio batalhão de choque já se preparava para reprimir a manifestação, por volta das 13h, populares das comunidades da Serrinha se incorporaram à multidão em frente à barreira policial. Eram na sua maioria jovens pobres, negros ou pardos, muitos apenas de chinelas, de bermuda e sem camisa.
Esses jovens quando se entreolharam, se reconheceram e perceberam que representavam um contingente de cerca de cem pessoas, alguns deles seguramente com passagem pela polícia, se juntaram aos gritos: “uh, uh, é o bonde da Serrinha”. Enganam-se os bem intencionados membros do Ministério Público ao ventilarem que isto pode ter sido uma ação orquestrada pelos chefes do tráfico da região, quando estes necessitam de um ambiente de paz com a polícia para a tranquilidade de seus negócios. Tratou-se de uma ação espontânea, quase instintiva, surgida no calor dos acontecimentos.
Ao contrário do que pensaram inclusive alguns manifestantes que vaiaram sua “palavra de ordem”, “o bonde da Serrinha” não partiu para cima dos manifestantes para lhes agredir ou roubar, mas dirigiu-se para frente do bloqueio e começou a jogar paus e pedras na polícia. Era o pretexto que o batalhão de choque e a Força Nacional de Segurança esperavam para dar início à repressão.
Antes de recriminar esses jovens sem emprego, com baixíssima escolaridade, nascidos e criados em casebres em meio ao esgoto a céu aberto, que possuem o “dono da boca” como única referência prática de ascensão social, é preciso entender o porquê de sua aparente violência gratuita contra a polícia. A rigor, não se trata de violência gratuita, mas de uma explosão de fúria, uma reação brutalizada, a única que lhes é possível para chamar a atenção contra as (des) humanas e miseráveis condições de vida a que estão submetidos desde a infância.
Dia após dia, noite após noite, jovens entre 15 e 25 anos, como os do “bonde da Serrinha” e de centenas de outras comunidades pobres das periferias das grandes cidades brasileiras, são as maiores vítimas do tráfico de drogas e da violência policial. Muitos tiveram irmãos ou amigos assassinados devido a dívidas com o trafico ou porque foram identificados pela polícia como criminosos simplesmente por serem negros, pobres, desempregados e moravam na favela. Como dizia um cartaz na manifestação: “na periferia as balas são de verdade”.
Para esses jovens do “bonde da Serrinha”, a manifestação do dia 27, transformou-se numa oportunidade ímpar para dar vazão ao seu ódio contra a sociedade capitalista, o Estado burguês e seu aparato repressor que, não satisfeitos em lhes jogar na mais absoluta miséria, invade e destrói seus casebres, despeja comunidades inteiras para atender os interesses da especulação imobiliária, realiza revistas humilhantes utilizando-se do expediente da tortura, quando não mata ou executa friamente.
A violência policial sofrida durante anos nos becos e “quebradas” da periferia de Fortaleza recebeu uma resposta furiosa destes jovens marginalizados quando viram que era possível, como parte de um movimento de massas, vingar humilhações, torturas e mortes da polícia nem que fosse apenas para arranhar os escudos do batalhão de choque com algumas pedradas.
Chico Science já nos ensinava: “Em cada morro uma história diferente / Que a polícia mata gente inocente / E quem era inocente hoje já virou bandido / Pra poder comer um pedaço de pão todo fodido / Banditismo por pura maldade / Banditismo por necessidade / Banditismo por uma questão de classe!”.
Uma coisa é uma coisa outra coisa é outra coisa
Este “vandalismo por uma questão de classe” é algo de natureza absolutamente distinta da violência dos grupos neonazistas que se infiltraram em diversas manifestações, particularmente no Rio e em São Paulo, para atacar os partidos de esquerda, sindicatos e movimentos sociais organizados. Eles não foram às manifestações apenas gritar palavras de ordem contra os partidos, coisa perfeitamente aceitável e compreensível vinda de estudantes e trabalhadores indignados com a corrupção dos partidos burgueses e decepcionados com os rumos dos governos do PT. Estes grupos neonazistas infiltraram-se nas passeatas com um único e mesmo objetivo: agredir fisicamente, tomar as bandeiras e intimidar os militantes dos partidos de esquerda, dos sindicatos e movimentos sociais. Contra ataques físicos não há qualquer discussão possível. Por isso, é preciso expulsar fisicamente estes grupos das manifestações.
Ao contrário dos neonazistas, os alvos de “grupos” de jovens como o “bonde da Serrinha” não foram os partidos de esquerda, os sindicatos ou movimentos sociais, mas a própria polícia que humilha e mata cotidianamente a juventude pobre e negra das periferias de grandes cidades e lojas que possam lhes render algum espólio para vender e ganhar um trocado. Em alguns lugares, é verdade que, inclusive, podem ter se aproveitado para furtar carteiras ou celulares dos manifestantes, o que demonstra o quanto as passeatas de massas refletem no seu interior a mais ampla heterogeneidade e as piores contradições da sociedade capitalista.
Mas qual deveria ser a posição da esquerda revolucionária e socialista diante de “grupos” como o “bonde da Serrinha”? Rechaçá-los, expulsá-los das manifestações e entregá-los à polícia? Respondemos: absolutamente não. Ao contrário, em primeiro lugar, caberá àqueles que ainda acreditam e lutam pela revolução socialista nem rir nem chorar, mas compreender o significado de classe deste fenômeno como parte das manifestações de massas.
Em segundo lugar, é preciso tentar ganhar pelo menos uma parte desses jovens para a luta anticapitalista, para que tomem consciência de sua miséria, se politizem e se organizem. Obvio que isto não é uma tarefa fácil, mas quem disse que a luta pelo socialismo se trataria de um mar de rosas? Cada jovem retirado da área de influência do tráfico de drogas e da criminalidade, que se converta num revolucionário socialista, se tornará um dos mais abnegados soldados da classe trabalhadora. Disso não temos nenhuma dúvida.
Mais uma palavra sobre a polícia
Por último, algo não menos importante. Consideramos a polícia e as forças armadas como os cães de guarda do Estado burguês, da propriedade privada dos capitalistas e hoje, particularmente, dos megaempreendimentos da Copa do Mundo. É preciso denunciar cotidianamente estas instituições e, particularmente, exigir a dissolução imediata de corpos repressivos como a tropa de choque da polícia militar, criada para reprimir as manifestações dos trabalhadores, dos pobres e dos miseráveis.
Mas, não há nenhuma contradição em apoiar reivindicações econômicas e democráticas dos policiais e exigir ao mesmo tempo a dissolução dos corpos repressivos das polícias. No momento em que haja insubordinação da tropa, seja por reivindicações econômicas ou democráticas, como vimos durante a recente greve da PM do Estado do Ceará, é decisivo que os movimentos sociais apoiem estas reivindicações e exijam dos policiais em greve que não atendam as ordens de reprimir as manifestações de massas.
Neste sentido, um fato nada desprezível pode ter passado despercebido para boa parte dos manifestantes no dia 27 de junho em Fortaleza. À medida que não tiveram boa parte de suas reivindicações atendidas pelo governo do Estado desde a última greve, a Associação de Cabos e Soldados Militares do Ceará (ACSMCE), que reúne policiais e bombeiros, resolveu participar da passeata com uma pequena coluna.
Para nós não há dúvidas: não é menos importante que, da mesma forma que os jovens marginalizados das periferias das grandes cidades, os soldados e suboficiais da polícia e das forças armadas sejam impactados pela luta de classes.

Duas estratégias: Unir a esquerda para avançar as mobilizações ou para proteger o governo Dilma?

Por Valério Arcary
Todos juntos nessa luta pela unidade popular,
Mas, se estamos todos juntos,
contra quem vamos lutar?
Versos cantados por delegados da esquerda socialista  no Congresso da UNE, em resposta à moção que defendia a estratégia de unidade da toda a oposição à ditadura militar, sob a liderança da burguesia liberal que se expressava através do MDB de Tancredo e Montoro, contra a unidade operária- estudantil.
O ataque dos fascistas contra a esquerda produziu uma reação extraordinária durante a última semana. A defesa do direito da esquerda de ir às ruas levantando suas bandeiras vermelhas uniu muitos milhares de jovens nos últimos dias, por todo o país, em uma mobilização unitária, entusiasmada, e lúcida.
A unidade da esquerda nas ruas foi emocionante
As fotos da assembléia-monstro no Largo São Francisco no Rio de Janeiro para preparar o dia 27 e a ida ao Maracanã no dia da final da Copa emocionaram a esquerda, profundamente, em todo o Brasil. Processos semelhantes se repetiram, em formas variadas, mas com o mesmo conteúdo, em Belo Horizonte, Porto Alegre, Fortaleza, Belém, e Recife, entre muitas outras cidades menores. Surgiu do enfrentamento do dia 20 de junho com os fascistas um poderoso sentimento fraterno de que precisamos nos unir para vencer. Isso foi magnífico.
Estamos diante da urgência da política. Os dias agora valem por meses, as semanas por anos. Tudo se acelerou. O debate aberto na esquerda pelas mobilizações das últimas três semanas coloca na ordem do dia um dilema: a esquerda precisa se unir para poder ajudar o movimento da juventude a avançar na direção de novas vitórias, sob pena de perder uma oportunidade histórica de transformação do Brasil. Uma janela de oportunidade que não se abre com facilidade. A divisão da esquerda repercutirá de forma dramática sobre as possibilidades da luta em curso, porque está aberta uma disputa sobre o destino do combate de milhões. Esses milhões estão em luta porque têm pressa.
Um debate de estratégia é incontornável
Não obstante, isso não deve nos inibir de dizer que, infelizmente, existem dois grandes campos políticos na esquerda, hoje no Brasil, que remetem a um dilema de estratégia. Isso vai se expressar em polêmicas táticas de todo o tipo. Estes campos têm diferenças irreconciliáveis.
Sendo assim, é melhor debater as estratégias. Porque é mais educativo. As questões mais de fundo, que remetem ao tema da atitude diante do poder, são inescapáveis. As diferenças não são artificiais, não são produto de exageros sectários. Não são pequenas escaramuças, miúdices, picuinhas. Estes campos são maiores que os partidos de esquerda. Porque são muitas dezenas de milhares de ativistas que se interrogam sobre qual deve ser o caminho a seguir. A imensa maioria não têm militância partidária. Comprendem a gravidade da situação. Têm boas razões para estar preocupados.
Dois campos em disputa
Em um campo estão aqueles que compreendem que a mobilização pelas reivindicações deve avançar, tendo a prioridade de unificação com os trabalhadores, ou seja, a preparação de um dia de greve geral para 11 de julho. Este campo afirma que para lutar contra os os empresários do transporte urbano, os banqueiros, os fazendeiros do agro-busness, a FIESP, não é possível dar trégua a nenhum governo.
A nenhum significa isso mesmo, a nenhum, nem ao de Dilma. Depois de dez anos, ficou claro que os governos liderados pelo PT em aliança com partidos burgueses estão mais comprometidos com a preservação do pagamento da dívida pública, do que com os transportes públicos, a educação e saúde públicas. Sem romper com o pagamento da dívida pública, de onde viriam as verbas para os investimentos necessários à implantação, por exemplo, do passe livre?
Os que nos colocamos nesta posição queremos ajudar a juventude nas ruas a continuar ocupando as avenidas com as reivindicações que ela mesma foi forjando pela sua experiência prática: conquistar o passe livre, desmilitarização das PM’s, mais verbas para educação e saúde, punição dos corruptos. E queremos agregar as reivindicações que respondem às necessidades do proletariado: o aumento dos salários e a redução da jornada de trabalho, por exemplo, ou a anulação da reforma da previdência, e a suspensão dos leilões de privatização do petróleo do pré-sal, e tantas outras.
Os termos do dilema são, portanto, terríveis, mas claros: Dilma está disposta a romper com o PMDB? Porque atrás do PMDB estão as empreiteiras com contratos milionários para a construção das grandes obras e estádios, por exemplo. E a esquerda que apoia o governo, ainda que criticamente, como as várias tendências internas do PT, o PCdoB, a Consulta Popular, ou o MST, se Dilma não atender às reivindicações, e não romper com o PMDB e os outros partidos burgueses, estão dispostas a romper com Dilma? Nós respondemos, sem hesitação, nenhuma chance. É triste, mas é assim. Nem o governo vai romper com a burguesia, nem setor algum do PT vai romper com o governo.
Em outro campo estão aqueles que consideram que é preciso unir a esquerda para defender o governo Dilma, porque o maior perigo seria a desestabilização do governo liderado pelo PT, ou até do regime democrático. Estão, podemos admitir, comprometidos em fazer exigências ao governo Dilma. Exigências de que Dilma abra negociações com as reivindicações das massa em luta. Exigências de que o PT no governo não capitule diante do PMDB de Michel Temer e Sérgio Cabral. Ou exigências para que o PT fora do governo não capitule aos ministros do PT que aconselham moderação a Dilma. Em resumo, estão engajados em  pressionar o governo Dilma, mas não estão dispostos a romper com ele. E reafirmam que não era possível antes de junho, e continua não sendo possível, mesmo depois de milhões nas ruas, construir uma esquerda à esquerda do governo Dilma. Esta política não serve para lutar e vencer, mas somente para proteger Dilma, e disfarçar o papelão do PT à frente de prefeituras como a de São Paulo. Ao lado Alckmin, apoiando a repressão.
É preciso lutar, é possível vencer
Qual estratégia é o melhor caminho para vitórias populares? Qual estratégia irá prevalecer? Qual dos dois campos tem uma melhor apreciação do que está em disputa, e a melhor orientação para transformar o Brasil? Seria estupendo, realmente, fantástico, se as mobilizações de jovens e trabalhadores fossem o bastante para exercer uma pressão de classe suficiente para impor uma frente única de toda a esquerda. Essa é a vontade dos ativistas, é a vontade de todos os que sabem contra quem lutamos. Porque para vencer, o mais elementar é saber contra quem lutamos. Saber quem são os amigos e quem são os inimigos.
Infelizmente, nunca é assim. A pressão das lutas não é o bastante. Outras pressões políticas que, em uma interpretação de classe, respondem a pressões das classes inimigas dos trabalhadores se abatem, também, sobre a esquerda. Diante de grandes acontecimentos, ensina a experiência histórica, algumas correntes de esquerda, que mantinham posições muito distantes umas das outras, se aproximam. E outras, que estavam próximas, se afastam. Em outra etapa da vida política brasileira se apresentou, dramaticamente, o mesmo dilema para a esquerda. Com quem nos unirmos, para lutar contra quem? Ou, enunciando de outra maneira, independência ou colaboração de classes?
A polêmica do final dos anos setenta e início dos oitenta
Em 1978/79, quando uma nova situação se abriu no Brasil, colocou-se um problema de estratégia política chave. Qual deveria ser a orientação para acelerar a derrota da ditadura militar? Estava ficando cada dia mais claro, depois das greves metalúrgicas do ABC, das greves de professores, de bancários e outros setores da classe trabalhadora, que era possível construir nas ruas uma mobilização de massas para derrotar a ditadura. A classe dominante estava, crescentemente, dividida, entre uma maioria que aceitava a abertura lenta e gradual, ou seja, uma transição para um regime democrático-eleitoral negociada com os militares, e aqueles que resisitiam, porque temiam, em função do medo das classes populares, a ampliação das liberdades democráticas. As classes médias tinham rompido, majoritariamente, com o regime. A classe trabalhadora começava a se mexer e a ganhar confiança em sua capacidade de luta.
A esquerda que vinha se fortalecendo nas lutas estudantis e na reorganização do movimento dos trabalhadores se dividiu em dois campos. De um lado, principalmente, o PCB, o PcdoB e o MR-8, que defendiam a unidade das oposições. O que significava que o monopólio da liderança política na luta contra a ditadura ficava nas mãos do PMDB. Ninguém deveria disputar com Ulysses e Tancredo a condição de porta voz das oposições. Acontece que a liderança do PMDB temia mobilizar as massas contra a ditadura, e aceitava o calendário eleitoral imposto por Geisel e Figueiredo. O PMDB não estava disposto a mobilizações de massas, porque sabia que o perigo era a entrada em cena dos trabalhadores, com sua força social de choque, seus métodos e suas greves. E o PMDB era um partido com apoio, essencial e primeiramente, empresarial.
No outro campo estava a esquerda que se uniu em torno do projeto que nasceu das greves operárias, e das manifestações estudantis, e levou à fundação do PT em 1980, e da CUT em 1983. Este campo se posicionava contra uma transição negociada, e lutava pela derrubada da ditadura por meio de uma radicalizada mobilização de massas. Lutava pela perspectiva de um deslocamento da ditadura pelas lutas, não em conchavos no Congresso Nacional. O PMDB era o partido da oposição institucional, o PT era o partido da independência dos trabalhadores, que não aceitava que a maioria proletária continuasse a ser massa de manobra entre diferentes alas da classe dominante. Os moderados de esquerda argumentavam exatamente como agora: não é possível ultrapassar Ulysses e o PMDB pela esquerda. A luta provou que eles estavam errados. Foi porque o PT chamou às ruas e começou a campanha das Diretas já no Pacaembu que o PMDB, ainda que dividido, se mexeu. O drama atual é que a maioria daqueles que foram os radicais, em 1980/83, agora são os moderados. De “incendiários”, viraram bombeiros.
O dilema de estratégia que se coloca agora, trinta e cinco anos depois, no entanto, é o mesmo. O papel da esquerda deve ser o de ajudar a juventude e os trabalhadores a construir um campo independente? Ou ela deve se resignar a ser um vagãozinho atrelado ao trem que é dirigido por uma ala da classe dominante contra outra ala? Só podemos escolher entre o governo Dima ou um governo da direita? Ou esta onda de lutas pode ajudar a nova geração a retirar conclusões políticas e ir além? Não é possível pensar em um poderoso campo de oposição de esquerda, que permita ir além do reformismo quase sem reformas dos dez anos dos governos Lula e Dilma? Qual o caminho para avançar na direção da revolução brasileira?

Protestos no Brasil e Turquia revelam: há mal-estar generalizado contra lógicas e ideologia do capitalismo.

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Brasília, junho de 2013
Chegada dos Protestos ao Brasil e Turquia revela: há mal-estar generalizado contra lógicas e ideologia do capitalismo. Desafio é construir alternativas e nova democracia.
Por Slavoj Žižek, no London Review of Books | Tradução Vila Vudu
Em seus primeiros escritos, Marx descreve a situação na Alemanha como uma daquelas na qual a única resposta a problemas particulares seria a solução universal: a revolução global. É expressão condensada da diferença entre período reformista e período revolucionário: em período reformista, a revolução global permanece como sonho que, se serve para alguma coisa, é apenas para dar peso às tentativas para mudar alguma coisa localmente; em período revolucionário, vê-se claramente que nada melhorará, sem mudança global radical. Nesse sentido puramente formal, 1990 foi ano revolucionário: as muitas reformas parciais nos estados comunistas jamais dariam conta do serviço; e era necessária uma quebra total, para resolver todos os problemas do dia a dia. Por exemplo, o problema de dar suficiente comida às pessoas.
Em que ponto estamos hoje, quanto a essa diferença? Os problemas e protestos dos últimos anos são sinais de que se aproxima uma crise global, ou não passam de pequenos obstáculos que pode enfrentar mediante intervenções locais? O mais notável nas erupções é que estão acontecendo não apenas, nem basicamente, nos pontos fracos do sistema, mas em pontos que, até aqui, eram percebidos como histórias de sucesso. Sabemos por que as pessoas protestam na Grécia ou na Espanha; mas por que há confusão em países prósperos e em rápido desenvolvimento como Turquia, Suécia ou Brasil?
Com algum distanciamento, pode-se ver que a revolução de Khomeini em 1979 foi o caso original de “dificuldades no paraíso”, dado que aconteceu em país que caminhava a passos largos para uma modernização pró-ocidente, e era o mais estável aliado do ocidente na região.
Antes da atual onda de protestos, a Turquia era quente: modelo ideal de estado estável, a combinar pujante economia liberal e islamismo moderado. Pronta para a Europa, um bem-vindo contraste com a Grécia mais “europeia”, colhida num labirinto ideológico e andando rumo à autodestruição econômica. Sim, é verdade: aqui e ali sempre viam-se alguns sinais péssimos (a Turquia, sempre a negar o holocausto dos armênios; prisão de jornalistas; o status não resolvido dos curdos; chamamentos a uma “grande Turquia” que ressuscitaria a tradição do Império Otomano; imposição, vez ou outra, de leis religiosas). Mas eram descartados como pequenas máculas que não comprometeriam o grande quadro.
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E então, explodiram os protestos na praça Taksim. Não há quem não saiba que os planos para transformar um parque em torno da praça Taksim no centro de Istambul em shopping-center não foram “o caso”, naqueles protestos; e que um mal-estar muito mais profundo ganhava força. O mesmo se deve dizer dos protestos de meados de junho no Brasil: foram desencadeados por um pequeno aumento na tarifa do transporte público, e prosseguiram mesmo depois de o aumento ter sido revogado. Também nesse caso, os protestos explodiram num país que – pelo menos segundo a mídia – estava em pleno boom econômico e com todos os motivos para sentir-se confiante quanto ao futuro. Nesse caso, os protestos foram aparentemente apoiados pela presidente Dilma Rousseff, que se declarou satisfeitíssima com eles.
O que une protestos em todo o mundo — por mais diversos que sejam, na aparência — é que todos reagem contra diferentes facetas da globalização capitalista
É crucialmente importante não vermos os protestos turcos meramente como sociedade civil secular que se levanta contra regime islamista autoritário, apoiado por uma maioria islamista silenciosa. O que complica o quadro é o ímpeto anticapitalista dos protestos. Os que protestam sentem intuitivamente que o fundamentalismo de mercado e o fundamentalismo islâmico não se excluem mutuamente.
A privatização do espaço público por ação de um governo islamista mostra que as duas modalidades de fundamentalismo podem trabalhar de mãos dadas. É sinal claro de que o casamento “por toda a eternidade” de democracia e capitalismo já caminha para o divórcio.
Também é importante reconhecer que os que protestam não visam a nenhum objetivo “real” identificável. Os protestos não são, “realmente”, contra o capitalismo global, nem “realmente” contra o fundamentalismo religioso, nem “realmente” a favor de liberdades civis e democracia, nem visam “realmente” qualquer outra coisa específica. O que a maioria dos que participaram dos protestos “sabem” é de um mal-estar, de um descontentamento fluido, que sustenta e une várias demandas específicas.
A luta para entender os protestos não é luta só epistemológica, com jornalistas e teóricos tentando explicar seu “real” conteúdo: é também luta ontológica pela própria coisa, o que esteja acontecendo dentro dos próprios protestos. É apenas luta contra governo corrupto? É luta contra governo islâmico autoritário? É luta contra a privatização do espaço público? A pergunta continua aberta. E de como seja respondida dependerá o resultado de um processo político em andamento.
Em 2011, quando irrompiam protestos por toda a Europa e todo o Oriente Médio, muitos insistiram que não fossem tratados como instâncias de um único movimento global. Em vez disso, argumentavam, haveria uma resposta específica para cada situação específica. No Egito, os que protestavam queriam o que em outros países era alvo das críticas do movimento Occupy: “liberdade” e “democracia”. Mesmo entre países muçulmanos, haveria diferenças cruciais: a Primavera Árabe no Egito seria contra um regime autoritário e corrupto aliado do ocidente; a Revolução Verde no Irã, que começou em 2009, seria contra o islamismo autoritário. É fácil ver o quanto essa particularização dos protestos serve bem aos defensores do status quo: não há nenhuma ameaça direta à ordem global como tal. Só uma série de problemas locais separados…
O capitalismo global é processo complexo que afeta diferentes países de diferentes modos. O que une todos os protestos, por mais multifacetados que sejam, é que todos reagem contra diferentes facetas da globalização capitalista. A tendência geral do capitalismo global é hoje expandir o mercado, invadir e cercar o espaço público, reduzir os serviços públicos (saúde, educação, cultura) e impor cada vez mais firmemente um poder político autoritário. Nesse contexto, os gregos protestam contra o governo do capital financeiro internacional e contra seu próprio estado ineficiente e corrupto, cada dia menos capaz de prover os serviços sociais básicos. Nesse contexto, os turcos protestam contra a comercialização do espaço público e contra o autoritarismo religioso. E os egípcios protestam contra um governo apoiado pelas potências ocidentais. E os iranianos protestam contra a corrupção e o fundamentalismo religioso. E assim por diante.
Nenhum desses protestos pode ser reduzido a uma única questão. Todos lidam com uma específica combinação de pelo menos dois problemas, um econômico (da corrupção à ineficiência do próprio capitalismo); o outro, político-ideológico (da demanda por democracia à demanda pelo fim da democracia convencional multipartidária). O mesmo se aplica ao movimento Occupy. Na profusão de declarações (muitas vezes confusas), o movimento manteve dois traços básicos: primeiro, o descontentamento com o capitalismo como sistema, não apenas contra um ou outro corrupto ou corrupções locais; segundo, a consciência de que a forma institucionalizada de democracia multipartidária não tem meios para combater os excessos capitalistas. Em outras palavras, é preciso reinventar a democracia.
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A causa subjacente dos protestos ser o capitalismo global não significa que a única solução seja “derrubar” o capitalismo. Nem é viável seguir a alternativa pragmática, que implica lidar com problemas individuais enquanto se espera por transformação radical. Essa ideia ignora o fato de que o capitalismo global é necessariamente contraditório e inconsistente: a liberdade de mercado anda de mãos dadas com os EUA protegerem seus próprios agronegócios e agronegociantes; pregar a democracia anda de mãos dadas com apoiar o governo da Arábia Saudita.
Essa inconsistência abre um espaço para a intervenção política: onde o capitalista global é forçado a violar suas próprias regras, ali há uma oportunidade para insistir em que ele obedeça àquelas regras. Exigir coerência e consistência em pontos estrategicamente selecionados nos quais o sistema não pode pagar para ser coerente e consistente é pressionar todo o sistema. A arte da política está em impor demandas específicas as quais, ao mesmo tempo em que são perfeitamente realistas, ferem o coração da ideologia hegemônica e implicam mudança muito mais radical. Essas demandas, por mais que sejam viáveis e legítimas, são, de fato, impossíveis. Caso exemplar é a proposta de Obama para prover assistência pública universal à saúde. Por isso as reações foram tão violentas.
Um movimento político começa com uma ideia, algo por que lutar, mas, no tempo, a ideia passa por transformação profunda – não apenas alguma acomodação tática, mas uma redefinição essencial –, porque a própria ideia passa a ser parte do processo: torna-se sobredeterminada.* Digamos que uma revolta comece com uma demanda por justiça, talvez sob a forma de demanda pela rejeição de uma determinada lei. Depois de o povo estar profundamente engajado na revolta, ele percebe que será preciso muito mais do que a demanda inicial, para que haja verdadeira justiça. O problema então é definir, precisamente, em que consiste esse “muito mais”.
A perspectiva liberal-pragmática entende que os problemas podem ser resolvidos gradualmente, um a um: “Há gente morrendo agora em Rwanda, então esqueçam a luta anti-imperialista e vamos impedir o massacre”. Ou: “Temos de combater a pobreza e o racismo já, aqui e agora, não esperar pelo colapso da ordem capitalista global”. John Caputo argumenta exatamente assim em After the Death of God (2007):
Eu ficaria perfeitamente feliz se os políticos da extrema-esquerda nos EUA fossem capazes de reformar o sistema oferecendo assistência universal à saúde, redistribuindo efetivamente a riqueza mais equitativamente com um sistema tributário [orig. Internal Revenue Code (IRC)] redefinido, restringindo o financiamento privado de campanhas eleitorais, autorizando o voto universal, para todos, tratando com humanidade os trabalhadores migrantes, e levando a efeito uma política externa multilateralista que integrasse o poder dos EUA dentro da comunidade internacional etc. Ou seja, intervindo sobre o capitalismo mediante reformas profundas, de longo alcance… Se depois de fazer tudo isso, Badiou e Žižek ainda reclamarem de um monstro chamado Capitalismo a nos assombrar, eu estaria inclinado a receber o tal monstro com um bocejo.
Não se trata de “derrubar” o capitalismo. Mas de construir lógicas

de uma sociedade que vá além dele. Isso inclui novas formas de democracia

O problema aqui não é a conclusão de Caputo: se se pode alcançar tudo isso dentro do capitalismo, por que não ficar aí mesmo? O problema é a premissa subjacente de que seja possível obter tudo isso dentro do capitalismo global em sua forma atual. Mas e se os emperramentos e mau funcionamento do capitalismo, que Caputo listou, não forem meras perturbações contingentes, mas necessários por estrutura? E se o sonho de Caputo é um sonho de ordem capitalista universal, sem sintomas, sem os pontos críticos nos quais sua “verdade reprimida” mostra a própria cara?
Os protestos e revoltas de hoje são sustentados pela combinação de demandas sobrepostas, e é aí que está a sua força: lutam por democracia (“normal”, parlamentar) contra regimes autoritários; contra o racismo e o sexismo, especialmente quando dirigidos contra imigrantes e refugiados; contra a corrupção na política e nos negócios (poluição industrial do meio ambiente etc.); pelo estado de bem-estar contra o neoliberalismo; e por novas formas de democracia que avancem além dos rituais multipartidários. Questionam também o sistema capitalista global como tal, e tentam manter viva a ideia de uma sociedade que avance além do capitalismo.
Duas armadilhas há aí, a serem evitadas: o falso radicalismo (“o que realmente interessa é abolir o capitalismo liberal-parlamentar; todas as demais lutas são secundárias”), mas, também, o falso gradualismo (“no momentos temos de lutar contra a ditadura militar e por democracia básica, todos os sonhos de socialismo devem ser, agora, postos de lado”).
Aqui, ninguém se deve envergonhar de acionar a distinção maoista entre antagonismo principal e antagonismos secundários, entre os que mais interessam no fim e os que dominam hoje. Há situações nas quais insistir no antagonismo principal significa perder a oportunidade de acertar golpe significativo, no curso da luta.
Só uma política que tome plenamente em consideração a complexidade da sobredeterminação merece o nome de estratégia. Quando se embarca numa luta específica, a pergunta chave é: como nosso engajamento ou desengajamento nessa luta afeta outras lutas?
Praça Tahrir, Egito 2011
Praça Tahrir, Egito 2011
A regra geral é que quando uma revolta contra regime semidemocrático começa – como no Oriente Médio em 2011 – é fácil mobilizar grandes multidões com slogans (por democracia, contra a corrupção etc.). Mas muito rapidamente temos de enfrentar escolhas muito mais difíceis. Quando a revolta é bem-sucedida e alcança o objetivo inicial, nos damos conta de que o que realmente nos perturbava (a falta de liberdade, a humilhação diária, a corrupção, o futuro pouco ou nenhum) persiste sob novo disfarce. Nesse momento somos forçados a ver que havia furos no próprio objetivo inicial. Pode implicar que se chegue a ver que a democracia pode ser uma forma de des-liberdade, ou que se pode exigir muito mais do que apenas a mera democracia política: que a vida social e econômica tem de ser também democratizada.
Em resumo, o que à primeira vista tomamos como fracasso que só atingia um nobre princípio (a liberdade democrática) é afinal percebido como fracasso inerente ao próprio princípio. Essa descoberta – de que o princípio pelo qual lutamos pode ser inerentemente viciado – é um grande passo em qualquer educação política.
Representantes da ideologia reinante mobilizam todo o seu arsenal para impedir que cheguemos a essa conclusão radical. Dizem-nos que a liberdade democrática implica suas próprias responsabilidades, que tem um preço, que é sinal de imaturidade esperar demais da democracia. Numa sociedade livre, dizem eles, devemos agir como capitalistas e investir em nossa própria vida: se fracassarmos, se não conseguirmos fazer os necessários sacrifícios, ou se de algum modo não correspondermos, a culpa é nossa.
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Istambul, maio de 2013
Em sentido político mais direto, os EUA perseguem coerentemente uma estratégia de controle de danos em sua política externa, recanalizando os levantes populares para formas capitalistas-parlamentares aceitáveis: na África do Sul, depois do apartheid; nas Filipinas, depois da queda de Marcos; na Indonésia, depois de Suharto etc. É nesse ponto que a política propriamente dita começa: a questão é como empurrar ainda mais adiante, depois que passa a primeira, excitante, onda de mudança; como dar o passo seguinte, sem sucumbir à tentação “totalitária”; como avançar além de Mandela, sem virar Mugabe.
O que significaria isso, num caso concreto? Comparemos dois países vizinhos, Grécia e Turquia. À primeira vista, talvez pareçam completamente diferentes: Grécia, presa na armadilha da ruinosa política de austeridade; Turquia em pleno boom econômico e emergindo como nova superpotência regional. Mas e se cada Turquia contiver sua própria Grécia, suas próprias ilhas de miséria? Como Brecht diz em sua Elegias Hollywoodenses (orig. Hollywood Elegies’ [1942]),
A vila de Hollywood foi planejada segundo a ideia

De que o povo aqui seria proprietário de partes do paraíso. Ali,
Chegaram à conclusão de que Deus
Embora precisando de céu e inferno, não precisava
Planejar dois estabelecimentos, mas
Só um: o paraíso. Que esse,
para os pobres e infortunados, funciona
como inferno.[1]

Esses versos descrevem bastante bem a “aldeia global” de hoje: aplicam-se ao Qatar ou Dubai, playgrounds para os ricos, que dependem de manter os trabalhadores imigrantes em estado de semiescravidão, ou escravidão. Exame mais detido revela semelhanças entre Turquia e Grécia: privatizações, o fechamento do espaço público, o desmonte dos serviços sociais, a ascensão de políticos autoritários. Num plano elementar, os que protestam na Grécia e os que protestam na Turquia estão engajados na mesma luta. O melhor caminho talvez seja coordenar as duas lutas, rejeitar as tentações “patrióticas”, deixar para trás a inimizade histórica entre os dois países e buscar espaços de solidariedade. O futuro dos protestos talvez dependa disso.

* Em seu prefácio à Contribuição à Crítica da Economia Política, Marx escreveu (no seu pior modo evolucional) que a humanidade só se propõe problemas que seja capaz de resolver. E se invertermos a ganga dessa frase e declararmos que, regra geral, a humanidade propõe-se problemas que não pode resolver, e assim dispara um processo cujo desdobramento é imprevisível, no curso do qual, a própria tarefa é redefinida?
[1] Não encontramos tradução para o português. Aqui, tradução de trabalho, sem ambição literária, só para ajudar a ler [NTs

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Aton Fon Filho: A direita sai de casa pela porta da esquerda


DIREITA SAI DE CASA PELA PORTA DA ESQUERDA [1]


por Aton Fon Filho, sugestão de Igor Felippe e Antônio David 

Introdução
Esse trabalho busca estabelecer uma visão de classe das manifestações desencadeadas após as elevações de tarifas de transportes e da conjuntura que delas resultou. Embora considere principalmente a experiência de São Paulo, corresponde linha geral ao que o noticiário também sobre outras partes do Brasil.
Na Mídia em geral, e mesmo em manifestações da esquerda, vemos referências indiscriminadas a povo, jovens, pessoas, trabalhadores. Mas que “povo” é esse? Quais as determinações de classe desses “jovens” e dessas “pessoas”? De que “trabalhadores” estamos falando? [2]
A Base da Pirâmide e a Classe Média
Partamos de alguns pontos sobre a situação da classe média e dos trabalhadores da base da pirâmide, com o respaldo da análise de SINGER (2012) sobre o lulismo [3]. Referida análise, no que aqui interessa, aponta que as diversas políticas econômicas e sociais do governo Lula geraram um realinhamento eleitoral que consiste, em termos os mais resumidos possíveis, em que a população de mais baixa renda [4] – ali chamada de subproletariado – a partir de 2005/2006 se incorpora no apoio a Lula. Essa faixa do proletariado teria interesse na mudança, mas, contraditoriamente, rejeitaria o conflito. Quer a mudança dentro da ordem.
Ao mesmo tempo, também no período 2005/2006, a classe média consuma sua passagem à oposição, fundamentalmente através do apoio ao PSDB, mas também, uma pequena parte, à oposição de esquerda.
POCHMANN aponta que os empregos gerados na década de 2000 ficaram concentrados na base da pirâmide social – com renda até 1,5 salários mínimos [5]. E que na faixa de renda acima de 3 salários mínimos chegou a haver importante redução das vagas:
“Na década de 1990, estabeleceu-se no Brasil um novo padrão de trabalho, composto por um menor ritmo de geração de postos de trabalhos e um perfil de remuneração distinto. Isso porque foram abertos somente 11 milhões de novos postos de trabalho, dos quais 53,6% não previam remuneração.
Na faixa de renda de até 1,5 salário mínimo, houve a redução líquida de quase 300 mil postos de trabalho, e esse segundo padrão de emprego diferenciou-se significativamente daquele verificado entre os anos 1970 e 1980.
Por fim, a década de 2000 apresentou uma alteração importante no padrão de trabalho da mão de obra brasileira, marcada por forte dinamismo nas ocupações geradas e no perfil remuneratório. Do total líquido de 21 milhões de postos de trabalho criados na primeira década do século XXI, 94,8% foram com rendimento de até 1,5 salário mínimo mensal. Nas ocupações sem remuneração, houve a redução líquida de 1,1 milhão de postos de trabalho, enquanto na faixa de cinco salários mínimos mensais a queda total atingiu 4,3 milhões de ocupações. Em síntese, ocorreu o avanço das ocupações na base da pirâmide social brasileira. (Ver Figura 2.2.)
Esse privilégio da atenção aos trabalhadores da base da pirâmide fica evidente das tabelas a seguir, extraídas de POCHMANN (2012)



SINGER aponta, daí, uma “polarização entre ricos e pobres”. Lembra JESSÉ SOUZA, para quem
“A classe média brasileira, por comparação com suas similares europeias, por exemplo, teria o singular privilégio de poder poupar o tempo das repetitivas e cansativas tarefas domésticas, que pode ser reinvestido em trabalho produtivo e reconhecido fora de casa”. [6] [7]
E conclui, ele próprio,
“Daí a resistência da classe média ao programa do lulismo de erradicação da miséria, produzindo-se reação muito distante da indiferença política. O lulismo mexe com um conflito nuclear no Brasil, aquele que opõe “incluídos” e “excluídos”.
Essa classe média, vê-se, não obteve ganhos, e teve perdas econômicas.
Se piora mais grave não houve na situação dessa classe média, foi ela muito mais perceptível dada sua posição relativa, na medida em que viu os mais ricos passarem a ganhar ainda mais, decolarem e se afastarem, de modo que os de cima se perderam nas alturas, ao mesmo tempo em que os de baixo, os da base da pirâmide ou de baixíssima renda, tiveram uma certa ascensão, aproximando-se de seus calcanhares.
Essa queda relativa da baixa classe média foi o elemento material que a conduziu a, somada à questão ideológica da luta contra a corrupção, abandonar desde 2005 o PT e Lula e aderir definitivamente à oposição de direita (PSDB e aliados) e à oposição de esquerda (PSTU, PSOL, etc. [8]
É certo que essa classe média não foi capaz de elaborar demandas econômicas, de aperceber-se concretamente de quais os motivos de sua insatisfação. Vê que está sendo lançada para o grupo de baixo, mas não é capaz de determinar onde lhe foram impostas as perdas que a rebaixaram (porque tais perdas, em geral, não existiram). E não encontra também resposta nos partidos da oposição, quer os de direita, quer os da esquerda.
Daqueles, obteve bandeiras vagas – “luta contra a corrupção”, “gerenciamento” – e destes bandeiras que não respondem a seu próprio interesse, mas ao interesse dos “de baixo”. Uns e outros, porém, encontram-se em torno de valores éticos que parecem permear suas plataformas políticas nas ações concretas, o que faz essa classe média ir-se posicionando em torno de palavras de ordem e questões de valores, genéricas.
Assim como foi se articulando – na sua vertente de esquerda, longe das demandas de classe, em torno de demandas ditas de direitos humanos, sob orientação multiculturalista. São os excluídos, não mais os proletários, os explorados, o foco de seus esforços organizativos. Assim é que questões de enfrentamento de classes, opondo, por exemplo, latifundiários e agrocapitalismo com trabalhadores canavieiros, sem-terra, pequenos proprietários foram apresentadas sem o conteúdo de classe, como expressão de defesa de uma identidade cultural, como questões indígena, quilombola, ambiental, etc.
A exploração capitalista foi seccionada e setorizada, passando a valer não pelo que é – pelas relações de produção – mas pelo que parece ser: mineração, agronegócio, construção de barragens, produção de transgênicos, destruidora do meio ambiente, destruidora da identidade cultural, etc.
Capturada pelo lulismo, a relação com os mais pobres passou a ser feita pela luta contra os efeitos da exploração, em lugar de ser feita contra a exploração, mas com as medidas governamentais atacando aqueles efeitos e amortecendo seus impactos, seja através de programas de complementação de renda, como Bolsa Família, seja através de programas sociais como Luz para Todos, PROUNI, Minha Casa, Minha Vida, etc.
De outro lado, opondo-se à perspectiva governamental, os mesmos óculos nublaram a visão da extrema-esquerda que, em busca de se opor ao lulismo, chamou aquelas medidas de “cooptação” e passou a exigir, pela via da organização de movimentos sociais, medidas de efeito semelhante (fornecimento de cestas básicas, assentamento e programas de moradia para integrantes de movimentos de sem-teto, etc) [9].
Revelou assim essa extrema-esquerda um mesmo vício de substituir a causa pelo resultado, incapaz de fugir dos limites impostos pelo lulismo, mesmo se opondo a ele.
Ainda há que investigar e desenvolver melhor o impacto que pode ter tido sobre isso uma visão que sobrepõe a ética às determinações da luta de classes, resquício das lutas que levaram à superação da ditadura militar e do papel da igreja católica no processo.
Das lutas que resultaram na derrota da ditadura militar, primeiro, e das dificuldades advindas da prolongada crise econômica e descenso das lutas operárias – e urbanas, de modo geral –, decorreu a apresentação de inúmeras demandas como demandas de valores, éticas, e fundamentadas como direitos humanos.
Reivindicações que o desemprego profundo e prolongado tornavam impossíveis de serem formuladas em face do patronato, passaram a ser formuladas em face do Estado, apresentadas como direitos, e Direitos Humanos: direito à moradia, direito ao trabalho, direito à saúde, direito ao transporte. Também daquelas lutas contra a ditadura, permaneceram as reivindicações de valores referentes a direitos identitários, vinculados à luta pela liberdade, como os valores anti-discriminatórios em geral, de raça, gênero, condição física, identidade e orientação sexual.
Isso promoveu a influência do multiculturalismo e da cultura de direitos humanos, sobrepondo-se, mesmo no interior das organizações marxistas, à visão dos processos de um ponto de vista de classes.
Daí, possivelmente, a evidência de um liame de defesa de elementos reduzidos a éticos, ou postos no âmbito de direitos humanos, unificando um bloco de organizações partidárias marxistas, organizações religiosas, movimentos sociais e identitários [10] e mesmo indivíduos dispersos na atualidade. Tais movimentos e indivíduos buscam unidade e até logram estabelecê-la em algumas circunstâncias, em torno de questões de proteção da identidade, mas raramente em torno de questões sociais. Assim, por exemplo, se é verdade que o MST pôde apoiar as causas indígena ou LGBTT, não se tem notícia de indígenas ou o movimento LGBTT apoiando ocupações do MST ou do MTST.
Se a classe média que adotou a oposição ao lulismo pela esquerda pôde se refugiar nas bandeiras éticas e identitárias, ou em sucedâneos dos mesmo programas lulistas, aquela que adotou a oposição pela direita se viu privada de demandas materiais, ou que pudessem ser expressas materialmente.
Esses setores adotaram a linguagem da extrema direita e hasteiam bandeiras como a da “meritocracia” contra as políticas de cotas e de inserção de faixas de renda mais baixa nas universidades; contra as políticas de complementação de rendas [11], etc, o que expressava muito mais o susto de ver uma ascensão dos de baixo do que, concretamente, uma redução de sua própria condição material.
Nesse sentido, as análises de POCHMANN e SINGER contêm dados semelhantes, não apenas no que toca à faixa de mais baixa renda – subproletariado, para SINGER; base da pirâmide, para  POCHMANN –, pois ainda que este não analise repercussões políticas e sociais dessa incidência econômica, elas ficam subjacentes, mas também com relação à classe média.
As manifestações em curso – O Início – Hegemonia da Oposição de Esquerda
As manifestações de agora foram iniciadas por um movimento social de classe média, com uma demanda de interesse da população de mais baixa renda. O MPL é um movimento de classe média daquela oposição de esquerda, o que explica também a sua relação privilegiada com partidos como PSOL e PSTU, presentes nas manifestações desde o início.
Suas manifestações tinham um conteúdo e uma tendência à radicalização contra o governo municipal petista e as correntes que o apoiam. Mas o MPL é, também, um movimento que se reivindica na faixa do autonomismo e do anarquismo, da ação direta e da organização horizontal.
Esse fato, se autoriza a participação da juventude de classe média de esquerda, estabelece limitação à participação dessa juventude , representada por suas organizações. Isso introduz, já desde o início, um valor desorganizativo ao processo. Os estudantes estavam na manifestação, mas não os diretórios e centros acadêmicos [12].
No interior do movimento, a predominância da oposição de esquerda permitiu às vezes vislumbrar ações contra algumas correntes adversas, antes mesmo que o anti-partidismo e a ação coordenada da direita contra toda a esquerda se fizessem patentes. A verdade é que a vitória da direita aconteceu nas condiçõespropiciadas por algumas, estimuladas por outras e combatidas por poucas forças de esquerda.
Como houve aqui em SP aumento também das tarifas do metrô, de responsabilidade do governo do PSDB, Alckmin lançou a repressão contra as manifestações, acompanhado pelos cães de guarda da mídia. Rapidamente, toda a oposição de esquerda, e mesmo algumas forças de esquerda que não desfilam na oposição, foram se somando.
As escaramuças perduraram até a quinta-feira sangrenta, dia 13 de junho, quando os cachorros-loucos da PM, sob ordens do secretário Fernando Grella (que justificou suas atitudes, num primeiro momento, após a manifestação), não selecionaram alvos numa repressão extremamente horizontalizada e extremamente violenta que alcançou parte da imprensa.
Essa repressão foi denunciada pela mídia mercê de terem sido vitimados alguns de seus funcionários, mas foi principalmente divulgada nos meios cibernéticos, incidindo o fato de que a tecnologia disponível põe hoje ao alcance de 95% das pessoas uma câmara fotográfica e de vídeo no bojo do obrigatório telefone celular. Resultado: o massacre foi amplamente documentado.
Feita a documentação, outro fator tecnológico – a existência das redes sociais – permitiu a divulgação da captura de uma realidade que se desconstrói por suas próprias imagens, o que resultou na massificação da informação sobre as manifestações pela internet, assim como pela própria grande mídia que não podia seguir escondendo o que a web escancarava, sob pena de se ver desmoralizada.
As manifestações em curso – O Salto para a Individualidade – Hegemonia da Direita.
E se deu, na manifestação seguinte, uma incorporação massiva da juventude de classe média, uma incorporação massiva anti-lulista, mesmo porque diminuiu o risco da repressão, com o recuo de Alckmin e a retirada da PM.
De qualquer forma, temos como evidente que essa incorporação foi, concretamente, expressão da juventude de classe média tradicional, sendo raras as participações tanto de pessoas na faixa de mais de 40 anos, como de provenientes das camadas de mais baixa renda [13]. Isso não desmerece, é sempre importante ressaltar, o fato de que a demanda inicial atendia interesses desta última faixa social, localizada na base da pirâmide. Mas, não pode haver dúvida de que a ampla massa que se incorpora depois da quinta-feira sangrenta foi o outro setor – majoritário – da classe média anti-lulista.
O que levou à sua incorporação? A leitura de reportagens e entrevistas não conduz a mais do que generalidades e “impressões”: “temos que nos manifestar”, “não dá mais para ficar calado”. E a uma pletora de análises que partem sempre da dificuldade de apreender as motivações quando não são, elas próprias tentativas de vender novas motivações.
Podemos também adiantar aqui algumas “impressões”, ainda sem suficientes elementos concretos para embasá-las.
A ausência de motivação consciente para a incorporação
De início, a ausência de motivação clara, somada ao fato de se tratar da classe média já é um indicativo importante. A classe média, tendo abandonado o PT e se passado para a oposição – seja de esquerda, seja de direita –, como mostra SINGER, demonstrou uma incapacidade de determinar suas próprias demandas, limitando-se a expressar “valores” genéricos que defende ou foi levada a defender.
De uma classe média desorganizada, mas sob a influência/hegemonia de linhas políticas da direita que, em muitos casos, incorporou palavras de ordem da oposição de esquerda, o que se tem nas ruas é um amálgama mal construído de boas intenções e generalidades: defesa do meio ambientecontra as obras da copa e repúdio à corrupção, feitas aquelas nos moldes do que preconiza a igreja católica e os movimentos culturalistas e de direitos humanos, e feita esta nos moldes do que defende o PSDB, uma visão da corrupção em que não aparecem os empresários corruptores [14].
Essa dificuldade de expressar demandas se somou (ou surgiu) do fato de que a oposição partidária ao lulismo se viu sem plataforma para apresentar à sociedade que não fosse a da “luta contra a corrupção”, uma possível motivadora, aliás, do rompimento da classe média com o PT em 2005 [15].
Solidariedade como motivadora da incorporação
Por outro lado, parece evidente que as cenas de combate e cerco, de tentativas de aniquilamento e de retiradas da quinta-feira sangrenta, motivaram solidariedade mas mesmo essa solidariedade não ultrapassou, no fundamental, o âmbito da classe média.
A expressão “no fundamental” resulta aí de dúvidas sobre se a participação na pesquisa realizada pelo jornalista Datena em seu programa de televisão pode ter sido expressão da base da pirâmide. A dúvida vem da impressão – sem qualquer suporte em dados – de que seja esse seu público.
Por outro lado, dado o momento em que vai ao ar o programa, certamente boa parte, senão a maioria dos trabalhadores dessa faixa não estaria em casa nem, menos ainda, frente à TV ou pensaria em gastar uma ligação telefônica para dar essa opinião. De qualquer modo, ainda que se possa ter aquela participação nas pesquisas como manifestação da base da pirâmide, não foi além do possível clique nos botões de um telefone, já que a participação concreta dos mais pobres nas manifestações não foi percebida [16].
É importante verificar que essa solidariedade foi desencadeada diante da repressão. Mas também vale a pena indagar por que uma repressão tão violenta foi capaz de fazer surgir um espírito de solidariedade em lugar do temor de participação que a polícia e o governo esperavam [17] [18].
As imagens constroem a realidade – Perda de identidade da manifestação – O Espetáculo
Põe-se em consideração a possibilidade de que essa solidariedade tenha decorrido de uma identificação de classe; não com a classe cuja demanda motivava as manifestações, mas com a classe que estava, concretamente, sendo agredida.
Mas, sendo fruto de uma identidade de classe, foi também fruto de uma perda de identidade política da manifestação.
As redes sociais e a mídia trouxeram as imagens da repressão na quinta-feira sangrenta. Mas as exibições de filmes e fotografias, em lugar de desvendar uma realidade, mascararam-na. Mais do que isso. As imagens não apenas mascararraam a realidade, como criam uma nova realidade.
As imagens mostravam pessoas fardadas atacando pessoas. Os atacantes eram reduzidos a PMs, força do Estado. Os atacados eram reduzidos a manifestantes. Mas as imagens não mostravam as condicionantes políticas do Estado que atacava as pessoas, nem das pessoas que eram atacadas. Aqueles podiam ser o governo federal, estadual ou municipal, podiam ser expressão do PT, do PSDB ou qualquer outro; do neoliberalismo, do neodesenvolvimentismo, da luta pelo socialismo. Estes não eram militantes de esquerda, de tal ou qual partido, ou movimento social. Eram apenas pessoas que estavam na manifestação.
O desaparecimento da condição militante de esquerda dos manifestantes constituiu um convite maior à incorporação de qualquer jovem de classe média. A participação já não tinha outros limites que a própria disposição de estar lá. Não era mais uma manifestação de esquerda, que se limitava pela concordância com uma palavra de ordem. Era uma manifestação para qualquer pessoa, com qualquer palavra de ordem [19]. Não era mais pelos 20 centavos! Era por “direitos’!
E era pelo espetáculo!
Não sendo uma força organizada cada um ficava responsável por definir o que o levava à manifestação. E cada um sabia que iria possivelmente ser filmado por um dentre os milhares de celulares e câmaras nas ruas. E iria para a internet, no facebook ou num blog, ou num site ou no instagram. E poderia ir para os jornais ou para os sites dos jornais. E para a televisão. Cada um que cuidasse, portanto, do modo como iria aparecer, como iria ser seu espetáculo.
As participações se tornam, portanto, cada vez mais individuais, mesmo quando as pessoas agem sob a hegemonia da extrema direita. Essa hegemonia estabelece um padrão de temas: corrupçãonão é por 20 centavos, é por direitoscontra a PEC 37contra as obras da copapela redução da maioridade penalo gigante acordou. Mas é a criatividade individual que fará a diferença e mobilizará outros, porque abre a disputa para que cada qual demonstre suas próprias qualidades de redator publicitário. Se não era mais pelos 20 centavos, se era por direitos, era pelos direitos que cada um julgava importantes.
E que não viesse, o MPL ou quem quer que fosse dizer que a manifestação era contra a tarifa. Afinal, se não se aceitava que o Estado pudesse pôr limites à manifestação, por que se havia de permitir que outros manifestantes pusessem?
E, mais, por que se havia de permitir que fossem postos limites por pessoas que eram de esquerda e tinham bandeiras vermelhas, como vermelhas eram as bandeiras do PT, o mesmo partido de que era o Prefeito que decretara o aumento? E a Presidente, que fora eleita indicada pelo PT e por Lula, que indicara esse prefeito? E que era corrupto e mensaleiro, como o diziam a mídia e a oposição de esquerda e a internet e os blogueiros e todo mundo sabia?
E como somente esses partidos de esquerda é que estavam presentes na manifestação, eram estes que tinham que ser postos para fora. Donde a palavra de ordem de “sem partidos” assume o significado de “sem partidos de esquerda”, já que o maior partido da oposição, a mídia, estava ali presente.
O Antipartidarismo
Nas manifestações convocadas pelo MPL conviveram o apartidarismo e autonomismo desse movimento e a presença e atuação dos partidos da oposição de esquerda.
A desconsideração do caráter de classe dos manifestantes iniciais e mesmo avaliação equivocada das tendências de classes e setores de classes na atual conjuntura, levaram o esquerdismo a acreditar que seu inimigo principal naquele momento inicial seriam os partidos e forças que de algum modo apoiavam ou se relacionavam com o governo.
Conduzidos por uma visão primária e reducionista da política, que rejeita e não consegue conviver com a contradição, a oposição de esquerda próxima ao MPL dedicou-se, inicialmente, a promover a expulsão de dentre os manifestantes, das correntes vinculadas ao governo, incapazes de uma lógica da luta de classes que os fizesse entender que atrair setores dos partidos governistas para a luta contra a tarifa adquiria primordialidade porque não apenas acrescia a força dos manifestantes, como gerava desentendimentos na base governista [20].
Viam, os partidos da oposição de esquerda, com isso, a possibilidade de se tornarem os condutores de um processo que, sem que entendessem bem o porquê, crescia exponencialmente, sem a presença das organizações políticas. Vangloriavam-se de suas atitudes divisionistas e plantavam, com isso, a semente do antipartidarismo num terreno que já era fertilizado pelo caráter individualista da classe média, pelo caráter autonomista do MPL e pela desconstrução do caráter de esquerda pela imagética das manifestações e da repressão a elas.
A primeira manifestação após a quinta-feira sangrenta (a quinta da série atual de protestos) viu, no Largo da Batata, um início de choques entre os Partidos e a individualidade que acorreu às ruas. Mas foi na sexta manifestação que se consumaram os ataques contra os Partidos presentes, com queimas de bandeiras de ataques ao PCR, PSTU e PSOL.
O pensamento hegemônico de direita já conduzia nesse sentido. Jabores e marcelos rezendes, depois de combaterem as manifestações e terem corrigido a rota, passaram a centrar fogo na necessidade de rejeição aos partidos, chamados de oportunistas e acusados de somente terem se somado os protestos após o seu crescimento.
Mas, se esse antipartidarismo partia do individualismo, o pensamento hegemônico foi fortalecido pela ação da própria oposição de esquerda. E, finalmente, veio a contar com a direção organizada de grupos de extrema-direita, skinheads e quetais.
Participação da base da pirâmide
Não obtivemos elementos para mensurar possível participação de trabalhadores da base da pirâmide social nessas manifestações. Certo é que houve esforços descoordenados de convocação de protestos na periferia, pelo MTST, Periferia Ativa e alguns outros inindentificáveis. Os números apresentados pela mídia foram, em geral, extremamente reduzidos. Mas houve algumas exceções. De qualquer modo, a constatação visual indicou que as manifestações reuniam jovens brancos, de classe-média, sendo a presença de pessoas de mais idade ou negros uma absoluta exceção [21].
Já se estudou e apresentou que os grupos de skinheads são de extração de entre os de mais baixa renda, expressão de uma conflitiva oposição ao conflito que a esquerda organiza. Sua presença no meio da manifestação de classe média perde identidade quanto à origem social, mas a ganha quanto à ideologia subjacente em ambos, variando naquilo que uns privilegiam a individualidade e outros propõem ação organizada em defesa das propostas radicais fascistas.
Violência
Não temos como excluir a possibilidade de que a violência tenha sido empregada como arma de convencimento pelo exemplo, ou como atividades de provocação para autorizar a repressão policial. Mas não temos, também, como excluir a possibilidade da atitude individual desorganizada, motivada pela vontade vista como necessidade de ocupar um lugar na história, e carente de orientações e limites que a organização proporciona.
Mesmo no caso da mais completa identificação de um indivíduo participante do ataque à Prefeitura, filho de um pequeno empresário, embora suas características físicas pudessem sugerir, não houve outros que permitissem comprovar se seria ele integrante de organizações para-militares fascistas.
Pelo menos num caso, exatamente esse ocorrido no dia da sexta manifestação, em 18 de junho, a violência esteve vinculada aos saques, com aspectos também demonstrativos de desorganização, quando moradores de rua levaram para suas barracas de cobertores TVs de plasma que não apenas não poderiam utilizar, como nem poderiam carregar ou exibir para a venda.
O fim das convocações do MPL e possíveis tendências em SP
O fim das convocações do MPL em SP correspondeu não apenas ao reconhecimento da vitória alcançada em termos específicos da demanda inicial, mas da necessidade de repensar os passos seguintes, diante da nova conjuntura criada.
Esse fato não impedirá, como não impediu, novas concentrações. Mas a desorganização das convocações pela web tende a fazê-las perder massificação. Diversas manifestações aconteceram na noite de sexta-feira, 21, e no sábado, 22 de junho. Na Avenida Paulista, sexta-feira à noite, três manifestações perambularam com propostas distintas e, sem elemento aglutinador, não conversavam entre si: a do ato médico, da cura gay e uma da Zona Leste Somos Nós. Outras em rodovias e no interior também aconteceram, mas a tendência é de que, salvo se se afirmar uma outra organização com legitimidade para convoca-las, as manifestações tendem a diminuir e refluir.
Se o mesmo passará em outras cidades e Estados, parece cedo para afirmar.
Não é possível ainda saber o impacto de novas intervenções.
O fascismo interessa ao capital?
A proposição de petição pública no AVAAZ, capitaneada por Pedro Abramovay, pedindo o impeachment de Dilma, pode ou não contribuir para formar um quadro golpista [22].
Quanto à avaliação das possibilidades de desenvolvimentos golpistas, ademais do que já se disse, acrescentamos que é possível perceber também um certo desarranjo entre as forças organizadas da direita. Se alguns editoriais do Estado de S.Paulo e da Folha de S.Paulo sugeriram convocações golpistas, pode-se perceber, também sinais de medo da violência e de perda de se controle. O acréscimo de noticiário sobre os conflitos e vandalismo se vê também nos meios televisivos.
Por outro lado, não parece que para o Capital a derrubada do governo fosse uma alternativa desejável, uma vez que sairia de um modelo que lhe permite a garantia de todos os lucros e seu crescimento, em troca do ingresso numa situação de grande instabilidade.
Donde podemos resumir afirmando que as manifestações mostraram que a disposição oposicionista da classe média aprofunda-se para a direita, mas que essa mesma classe média se expressa desorganizadamente. Havendo, assim, um caldo de cultura para forças golpistas, esse mesmo caldo de cultura traz em si elementos que dificultam uma ação organizada nesse sentido.
Conclusão
Na década de 50 e ainda antes de 1964, a esquerda brasileira reconstituiu um sebastianismo próprio em torno da imagem do conflito entre pobres e ricos, vislumbrando o dia em que os de baixo da ordem social, localizados nas alturas geográficas do Rio de Janeiro, fariam o assalto ao poder: “Mas, olhem bem, vocês: quando derem vez ao morro, toda cidade vai cantar!”.
Ainda que as análises mais consistentes apontem a inapetência do subproletariado para o conflito social, a possibilidade de vê-lo convertido em proletariado, após 10 anos de lulismo pode, é verdade, permitir enxergá-lo na Avenida Paulista. Trata-se, porém, de saber se naquele espaço ele estaria se vendo ao lado ou contra essa classe média que por ora dali se adonou.
Para a esquerda como para a direita, a visão do subproletariado como um novo proletariado pode povoar sonhos e pesadelos.
BIBLIOGRAFIA
DATAFOLHA. Maioria dos manifestantes em SP usa transporte público, diz Datafolha. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/06/1299800-onibus-e-metro-sao-os-transportes-mais-utilizados-por-manifestantes-em-sp.shtml, acesso em 23 de junho de 2013.
POCHMANN, Márcio. Nova classe média? O trabalho na base da pirâmide social brasileira. São Paulo: Boitempo, 2012.
SINGER, André Vitor. Os sentidos do Lulismo. Reforma gradual e pacto conservador. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
SINGER, André Vitor. Esquerda ou Direita? Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/colunas/andresinger/2013/06/1299454-esquerda-ou-direita.shtml, acesso em 23 de junho de 2013.
[1] A definição de esquerda e direita é sempre assunto merecedor de exames aprofundados. Dadas as condições deste trabalho – limite de espaço, de tempo, e o fato de estar redigindo “no meio da floresta” -, optamos por seguir a lição de BOBBIO e valer-nos da adesão à busca da realização da igualdade como parâmetro definidor da diferença entre esquerda e direita, aquela com sinal positivo, esta com sinal negativo.
[2] Nota da CNBB fala: “declaramos nossa solidariedade e apoio às manifestações, desde que pacíficas, que têm levado às ruas gente de todas as idades, sobretudo os jovens. Trata-se de um fenômeno que envolve o povo brasileiro e o desperta para uma nova consciência”; Nota do PCB: Por todo o país, centenas de milhares de pessoas, em sua maioria jovens, vêm ocupando as ruas…”; Nota da Refundação Comunista: “Todavia, a juventude, os trabalhadores e todo o povo brasileiro se mostram indignados e demonstram extraordinária capacidade combativa.”; Carta Aberta dos Movimentos Sociais: “As recentes mobilizações são protagonizadas por um amplo leque da juventude que participa pela primeira vez de mobilizações”.
[3] O trabalho de SINGER está voltado primordialmente para análise do comportamento eleitoral. Desse modo, valer-nos dele para análise de manifestações de massas em situações não eleitorais pode, evidentemente, ser inadequado. Julgamos, porém, que seu aporte sobre o conhecimento e posicionamentos do subproletariado e da classe média ajudam a entender como participam (ou não) do atual processo.
[4] Até 5 sm. de renda familiar, grosso modo, SINGER (2012, P. 42)
[5] Uma dificuldade para o trabalho com dados de SINGER e POCHMANN reside no fato de aquele valer-se de renda familiar, e este de renda individual. Partindo de uma abordagem que considere a renda familiar constituída, em princípio, pela contribuição de dois trabalhadores, teríamos de
[6] SOUZA, Jessé. Os batalhadores brasileiros, p. 23, apud SINGER 2012
[7] Anote-se, para o exame da atual insurreição da classe média, uma medida mais de interesse da base da pirâmide, a extensão às empregadas domésticas dos direitos trabalhistas reconhecidos aos demais trabalhadores.
[8] Esses partidos embora adotando ou se dispondo a adotar uma teoria que os põe na defesa dos interesses do proletariado, estão fudamentalmente compostos de militantes de classe média. Têm, assim, a cabeça nas estrelas enquanto os pés afundam na lama. Essa circunstância gera seduções e descaminhos que no mor das vezes não são percebidos e são, pelo contrário, justificados como a mais pura aplicação da teoria. O afastamento da análise da situação concreta, da formação político-econômica-social em proveito do modo de produção parte disso, como as tendências ao esquerdismo.
[9] Possivelmente tenha sido o MST o único movimento social a se diferenciar , aqui, por não assumir uma condição de movimento identitário, nem reduzir suas demandas a similares de programas lulistas. Talvez tenha sido ele, por isso, o movimento social mais golpeado pelo lulismo com a rejeição de suas demandas.
[10] Procuro aqui diferenciar movimentos sociais, aqueles cujas demandas têm, de algum modo, relação com a situação social das pessoas, como movimentos de sem-terra e sem-teto, daqueles movimentos que se destinam a afirmar ou proteger a identidade das pessoas, como movimentos feministas, pelo reconhecimento e proteção da diversidade sexual, de indígenas e quilombolas.
[11] Como outros exemplos, podemos lembrar as bandeiras por redução da maioridade penal, exigência de maior atividade policial, por exemplo.
[12] Um fato que não restou mensurado é o da participação dos estudantes universitários prounistas.
[13] Indicativo disso se tem em pesquisa do Datafolha publica na Folha de S. Paulo do dia 23 de junho de 2012 em que, ao indagar-se sobre a continuidade das manifestações na sexta-feira, dia 21, 66% se pronunciaram pela continuidade dos protestos e 34% contra: “O apoio está entre os mais escolarizados, aqueles com renda mensal de cinco a dez salários mínimos e entre os mais ricos. Contra estão principalmente os mais velhos e os que têm renda até dois salários mínimos”. Folha de S. Paulo, 23 de junho de 2013, Cotidiano 1, p.1.
Esses resultados constituem também uma confirmação mais da conclusão de SINGER sobre a rejeição do conflito pelo setor de mais baixa renda da sociedade. Quanto a essas manifestações especificamente, porém, SINGER vê nelas a presença do novo proletariado, ex-integrantes do sub-proletariado favorecidos com uma ascensão social: “Se o estopim foi aceso pela classe média, o novo proletariado, forjado na década do lulismo, entrou nas avenidas, dando um colorido inédito às marchas reivindicatórias.” (SINGER (2013-A).
Mas pesquisa realizada tão somente entre participantes da maior das manifestações havidas em São Paulo, a do dia 20 de junho, após a redução da tarifa do transporte público não permite localizar esse novo proletariado. Ouvidos pelo Datafolha 551 entrevistados, a pesquisa com margem de erro de 4% indicou que a maioria dos manifestantes tinha entre 21 e 35 anos (63%), e ensino superior (78%).
[14] Perceba-se que no caso tornado pela mídia emblemático da corrupção no Brasil – o do mensalão -, não há a figura do corruptor que provê o dinheiro. Tratar-se-ia de caso de corrupção em que membros de um partido, com dinheiro do partido, corromperiam membros do próprio partido e de outros para votar matérias de interesse de seus partidos.
[15] Lembremos que a luta contra a corrupção já era bandeira da classe média ao tempo da UDN.
[16] Com a possível exceção dos saques que teriam envolvido moradores de rua, durante a manifestação da terça-feira, 18/06.
[17] Considero a hipótese, dado o fato da incorporação do setor jovem dessa classe média que também tenha ocorrido a identificação da abertura de uma janela histórica para a participação, para mudar o Brasil. Esses jovens lêem e ouvem falar das lutas de seus avós contra a ditadura, de seus pais, entre os caras-pintadas. Podem ter visto agora a oportunidade e ouvido o chamado para ocupar seu lugar nas ruas. Que essa participação fosse desorganizada e individual, pode resultar do fato de que a janela que se abre se abre na tela do computador, que o chamado que se ouve não permite a organização.
[18] Um elemento episódico: Em 1968, milhares de pessoas foram às ruas em manifestações contra a ditadura. Quando, em 1992, desatou-se o processo do impeachment de Collor, a TV Globo levava ao ar, com grande sucesso, a série “Anos Rebeldes”, que glamourizava a luta contra a ditadura, inclusive a Passeata dos Cem Mil. Agora, coincidentemente, o canal Viva, dedicado a reapresentações de programas de sucesso da Globo, exibia (segue exibindo) a mesma série Anos Rebeldes. Teria esse fato ajudado a motivar os jovens de classe média a buscar “um lugar na história”?
[19] Diferente disso pensa SINGER (2013-A), para quem uma ausência de direção unificada permitiu a diversidade de ideologias opostas nas manifestações: “O saudável ímpeto antivertical tem como contrapartida a falta de direção unificada. Ao não se delimitar com clareza o que cabia e o que não cabia nas manifestações, elas começaram a agregar um pouco de tudo, até mesmo ideologias opostas, como ficou claro na briga entre direita e esquerda que marcou a comemoração da vitória na av. Paulista anteontem.”
[20] Somente na convocatória para a 7ª manifestação, a última proposta pelo MPL, José Maria de Almeida, do PSTU, marcou posição nesse sentido: “Ainda ontem participei de uma reunião onde ouvi críticas à possibilidade de a juventude do PT participar das manifestações com suas bandeiras. Penso o contrário. Que bom que a juventude do PT quer somar-se a luta pela redução da tarifa, agora, da redução do preço da passagem e pelas demais demandas do povo que está nas ruas. Alguns podem dizer que trata-se de uma contradição, pois o governo é do PT. Eu diria que é uma boa contradição. Quanto mais gente do PT estiver nas ruas lutando, menos força terão os governo do PT para fazer o que estão fazendo contra o povo, e isso, de alguma forma vai levar a uma superação desta contradição. Que venham então as bandeiras do PT para somar-se à luta pelas reivindicações dos trabalhadores e da juventude brasileira.”
[21] Retomem-se aqui os dados fornecidos pelas pesquisas do Datafolha, apontando a participação amplamente majoritária – quase exclusiva – da classe média tradicional.
[22] Há tempos vimos sendo advertidos sobre denúncias que apontam o AVAAZ como uma organização a serviço da CIA, que já promoveu o apoio à intervenção na Líbia e atualmente na Síria, e agora no Brasil.
Fonte: http://www.viomundo.com.br/