terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Professores apaixonados



Por Antonio Ozaí da Silva
Ser professor é uma profissão como outra qualquer e, como em todas as áreas, há os que se identificam com o que fazem, e os que apenas cumprem a jornada. Nas condições da sociedade moderna, o trabalho, já dizia um filósofo alemão, é alienante. Portanto, é muito difícil sentir prazer ou apaixonar-se. Ponto para os que, mesmo nas condições de alienação do trabalho, se “apaixonam”.
Fiquei a pensar sobre o significado das palavras e imagens dos “professores apaixonados”. Dialeticamente, como se diz no bom sociologuês, em minhas reflexões mesclam-se o estudante e o professor; a criança, o adolescente e o adulto. Recordei, com carinho e saudade, da primeira professora. Lembrei que, ao completar 18 anos de idade, na época morava em São Paulo, retornei ao nordeste para rever a cidade da minha infância e conhecer a que nasci. Fui informado que a professora morava na periferia de São Paulo. Peguei o endereço e, ao retornar, fui visitá-la. Não sei se ela compreendeu o gesto, mas demonstrou contentamento. Foi o reconhecimento e gratidão a quem marcou a minha vida.
Recordei também dos que me ensinaram os primeiros conceitos e teorias; dos que me apresentaram os rudimentos das línguas estrangeiras, em especial da minha professora de francês, no ginasial; lembrei do professor de matemática que me estimulou a aprender o jogo de xadrez – embora eu ainda seja péssimo xadrezista; do professor de história que me ensinou o significado didático da polêmica; recordei, ainda, da graduação e dos que, mais do que conteúdos, me ensinaram pelo exemplo. No mestrado, tive excelentes professores, em especial o meu orientador Maurício Tragtenberg. O mesmo no doutorado, em que convivi com professores experientes e tive a alegria de ser orientado pelo Nelson Piletti. Da infância ao doutorado, há os que marcaram a minha vida, os que fizeram a diferença, os que jamais esquecerei e a quem sou grato.
“Professoras apaixonados” são os que fazem a diferença, os que marcam a vida dos seus alunos. Há também os que deixam marcas negativas e traumáticas. Em minha vida de professor, desde a época que trabalhei no ensino público em Diadema(SP) e no Guacuri (zona sul da capital paulistana), conheci estudantes que ficaram traumatizados devido à determinadas atitudes dos seus professores. Tenho dúvidas se, neste caso, gostam da profissão.
Há, ainda, os professores apaixonados pelo conteúdo, pelas disciplinas que trabalham. Eles dão o exemplo do amor ao saber, mas pecam por darem mais importância às abstrações dos conceitos e teorias do que às relações humanas que se estabelecem na atividade docente.
Conclui que sou alguém de sorte. Faço o que gosto. Sou apaixonado pelo que faço. Agradeço aos meus aos professores e professoras e, também, aos discentes. Obrigado e parabéns aos professores, apaixonados ou não...
Fonte: http://www.consciencia.net/?p=919

Especial Eric Hobsbawm - Livros Digitais

Eric Hobsbawm nasceu em 1917 em Alexandria no Egito, e desenvolveu seus estudos em Viena, Berlim, Londres e Cambridge. Fellow da British Academy e da American Academy of Arts and Sciences, professor visitante em diversas universidades da Europa e da América, lecionou até aposentar-se no Birkbeck College, da Universidade de Londres. Desde então ensina na New School for Social Research, em Nova York.
Escreveu, entre outros, A Era do Capital, A Era dos Extremos, A Era das Revoluções, A Era dos Impérios, Os Bandidos, Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo, Rebeldes Primitivos, O Breve Século XX 1914-1991, e Ecos da Marselhesa, todos publicados no Brasil.
Segue abaixo alguns de seus mais importantes Livros em formato digital


A Era dos Extremos


A Era do Capital


A Era das Revoluções


A Era dos Impérios


Sobre História


Nações e Nacionalismo
Parte 1


Parte 2


História do Século XX (espanhol)


Rebeldes Primitivos


Bandidos
Copy of Eric J. Hobsbawm - Bandidos.pdf

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Pesquisa mostra causas da evasão escolar no país



Por Nielmar de Oliveira
Uma pesquisa sobre motivos da evasão escolar no país será divulgada hoje (15 de Abril de 2009 ), pela Fundação Getulio Vargas (FGV). O estudo, coordenado pelo chefe do Centro de Pesquisas Sociais da FGV, Marcelo Neri, revela que o Brasil não conseguirá vencer a batalha pela melhoria da qualidade do ensino se não convencer primeiro os principais protagonistas: os alunos e pais.

Realizada com o objetivo de analisar as causas da evasão escolar na visão dos próprios jovens e de seus pais – a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) - e de avaliar a taxa de atendimento escolar – a partir de dados da Pesquisa Mensal do Emprego – o estudo procura saber, por meio de perguntas diretas, por que o jovem não está na escola.

Em entrevista à Agência Brasil, o professor Marcelo Neri antecipa algumas conclusões da pesquisa. Para ele, é fundamental a participação engajada de pais e alunos para que se chegue a bom termo na evolução dos dados da educação. "A gente pode ganhar todas as batalhas pela melhoria da qualidade da educação, adotando as melhores práticas educacionais, mas se não conseguirmos convencer os principais protagonistas – que são as crianças, os adolescentes e seus país – vamos perder a guerra."

Foram feitas aos estudantes e aos pais perguntas como: porque não estão na escola, pela necessidade de trabalhar, por não ter vaga ou escola perto de casa, por dificuldade de transporte ou por que não querem a escola que aí está?

Na avaliação do professor, as perguntas serviram para derrubar mitos como o de que os jovens de comunidades pobres deixam a escola entre 15 e 17 anos para trabalhar.


Neri antecipou à Agência Brasil que a piora na evasão escolar, envolvendo os jovens nessa faixa etária, ocorre exatamente quando se junta a oportunidade com a necessidade de trabalhar, ou seja, criança pobre, em uma cidade rica, em época de crescimento acelerado da economia. "A pesquisa mostra que, ao contrário do mito, muitos desses jovens estão fora da escola não porque são de comunidades pobres e têm que trabalhar.


A pesquisa mostra que é em regiões ricas, quando a economia está mais aquecida, que eles deixam a escola. O crescimento econômico tira o jovem da escola mais nas regiões ricas do país do que nas mais pobres, que não oferecem oportunidade de trabalho para os pais e seus filhos. Marcelo Neri disse ainda que a época atual – "de desaceleração daNegrito economia em função da crise externa e do apagão da mão-de-obra" – cria uma oportunidade, um efeito colateral, que é positivo no meio de todas as diificuldades: a economia disputar menos o jovem com a escola.

Entre as crianças de até 15 anos abrangidas pelo programa Bolsa Família, o papel do benefício é mais importante pelo controle de freqüência do que pela própria matrícula, uma vez que nessa faixa etária de 96% a 97% já estavam ou continuam na escola.


O desafio maior é na faixa de 16 a 18 anos. O chefe do Centro de Pesquisas Sociais da FGV avalia que o efeito do benefício é mais significativo para o crescimento do número de matrículas nas escolas públicas na faixa de 15 a 18 anos. "Sou um defensor dessa extensão da cobertura etária do Bolsa Família, porém mais importante do que isso é você aumentar a atratividade da escola.


No Brasil, os estudos procuram sempre olhar a questão pNegritoelo lado da oferta: você tem que melhorar, incentivar professores. Agora, quando você analisa o desempenho escolar dos alunos, vai ver que 80% das diferenças de notas de aprendizado nos diversos métodos de avaliação se dá por variáveis do domicílio do aluno ou do nível de educação do pai, da mãe ou ainda da renda da família, o que é frustrante para quem está pensando políticas públicas."


A pesquisa mostra ainda a existência de um gargalo no ensino médio, da mesma forma como já existiu no ensino fundamental, "Esse é o próximo desafio, como foi o ensino fundamental há alguns anos", disse. Na opinião do economista, no entanto, para vencer este gargalo é preciso criar condições de atrair o jovem para a escola. "Mais do que criar uma extensão do Bolsa Família para a faixa até os 18 anos, como foi feito agora, a pesquisa mostra que é preciso despertar e conquistar o interesse do jovem em permanecer na escola."


Enquanto as meninas avançam na escolaridade e ainda assim são mais misteriosas ao falar das razões por que abandonam os estudos, os jovens do sexo masculino são mais diretos: não têm interesse ou têm que trabalhar.


Ao fazer um diagnóstico da situação do ensino no país, com base na pesquisa Motivos da Evasão Escolar, Marcelo Neri admite que o ensino no Brasil está em fase de ensaio, embora ainda atrasado. "Acho que a gente tem uma situação em que a fotografia é ruim, mas também em que o filme pode ser bom e ter um final feliz se a sociedade se engajar.

É bom ressaltar que não adianta um grupo de iluminados, ou que se acha iluminado – seja de pesquisadores, de gestores –, pensar que tem as melhores soluções, se essas soluções não tiverem a consciência, concordância e ação dos pais e dos jovens. Então, a importância da pesquisa é olhar sobre esse lado da demanda da educação para entender o lado subjetivo do quadro brasileiro", conclui.
Fonte:http://www.revistaforum.com.br/sitefinal/NoticiasIntegra.asp?id_artigo=6854

Com informações da Agência Brasil.

Decifrando A Terra - Formato Digital


Decifrando a Terra


Atenção professores e leitores da sociedade brasileira: 

Esse material foi retirado do dominio público a pedido de seus produtores: 

Prezado Sr. Mazucheli,

A Companhia Editora Nacional, na qualidade de detentora dos direitos autorais sobre a obra DECIFRANDO A TERRA, vem, através da presente, NOTIFICÁ-LO para solicitar que seja imediatamente excluída a versão digital (cópia por download), que disponibiliza, de forma integral, a obra acima identificada, em clara afronta à Lei de Direitos Autorais.

Desta forma, solicitamos à Vossa Senhoria que providencie, imediatamente, a exclusão do arquivo com a obra copiada para download, de forma integral ou parcial, veiculando a retratação expressa pela veiculação/exploração indevida, sob pena de serem tomadas as medidas judiciais cabíveis na esfera cível e criminal.

Atenciosamente,

Leila T. de Andrade
Depto. Jurídico
e-mail: juridico2@ibep-nacional.com.br
Av. Alexandre Mackenzie, 619
Jaguaré - São Paulo/SP - CEP: 05322-000

Minha Resposta a essa solicitação: 
 
Bom dia Leila!
É com grande pesar que acato sua solicitação!
Mas acredito que a educação deveria servir elevação da cultura dos brasileiros e não para a lucratividade das empresas que dominam os meios produtores do conhecimento.
Estarei retirando a referida obra do acesso público, portanto a seu pedido estarei negando a possibilidade de milhões de brasileiros de difundir sua  cultura e o conhecimento produzido pela humanidade. 
Abraços!

A história das Coisas

Este vídeo mostra os problemas sociais e ambientais criados como consequência do nosso hábito consumista.



Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=lgmTfPzLl4E

domingo, 27 de dezembro de 2009

Assédio Moral, o que é isso?

Não são poucos os casos de humilhação e constrangimento sofridos por professores
O que é o Assédio Moral?
Além das péssimas condições de trabalho e dos baixos salários, os professores estão convivendo com uma outra triste situação: o Assédio Moral. Não são poucas as denun­cias de humilhação e constrangi­mento sofridas por professores.
Embora essa nomeação seja re­cente, pode-se dizer que ele é tão antigo quanto o trabalho.
Porém, nos últimos anos, com o avanço do ideário neoliberal, dos trabalhos por metas, das células de produção, enfim, de toda uma nova forma de organizar o trabalho, essa prática se proliferou em fábricas, escritórios, lojas, instituições pú­blicas e escolas.
Conceitualmente, o Assédio Moral é a exposição do trabalhador (seja individual ou coletivamente) a situações humilhantes e constran­gedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho.
O trabalhador assediado se sen­te desmoralizado e desestabilizado em relação ao seu trabalho muitas vezes desistindo do emprego. Além de poder desenvolver graves casos de ansiedade e depressão.
Algumas empresas e instituições têm o Assédio Moral como “prática institucionalizada”, é o caso da cer­vejaria AmBev (fabricante da Brah­ma e Skol) e do Judiciário Federal. É preciso ter em mente que, quem pratica o Assédio Moral, sabe mui­to bem o que está fazendo, por isso, o chefe assediador cria um clima para que todos os colegas acabem reproduzindo as humilhações.
O trabalhador assediado é isola­do sem explicações, passando a ser hostilizado, ridicularizado, inferio­rizado e desacreditado diante de seus companheiros. Os colegas que acabam reproduzindo as ofensas, não fazem isso por mal. Na realida­de eles têm medo de serem humi­lhados e perseguidos, ou ainda, de perder o emprego.
A humilhação deixa marcas pro­fundas no trabalhador, não só emo­cionalmente, também fisicamente, como as doenças psicosomáticas. Por isso é preciso que os professores aprendam a se proteger contra esse ataque do governo.
Caso você esteja sendo persegui­do, procure o sindicato, ou algum RE, e fale o que está acontecendo. Evite conversar a sós com o assediador, pois num ambiente sem testemunhas ele poderá fazer qualquer tipo ofensa e você não conseguirá provar.
Caso algum colega esteja sofrendo algum tipo de assédio é importante que todos se unam para protegê-lo, além disso, é preciso ter claro que se acontece com ele hoje, amanhã pode acontecer com você.
Fonte pesquisada:
www.assediomoral.org

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

A educação está doente no Brasil

Alex Minoru
Há uma campanha para jogar a culpa pela má qualidade da educação nas costas dos professores.
Em todo o mundo trilhões de dólares saíram dos cofres públicos na tentativa de estancar a crise econômica. No Brasil, apesar de termos um presidente do Partido dos Trabalhadores, a receita seguida foi a mesma de Obama, Gordon Brown e de tantos outros governantes empenhados em salvar o capitalismo.Estima-se que em nosso país, mais de 300 bilhões de reais já foram parar nas mãos de banqueiros, empresários e multinacionais. Essa conta precisa ser paga, e já está sendo paga pelos trabalhadores.
A destinação de dinheiro público para os capitalistas significa diretamente cortes de verbas para educação, saúde, moradia, cultura, etc. Cortes naquilo que os trabalhadores conseguiram arrancar do Estado com sua luta.
Façamos os cálculos: em pouco mais de um ano já foram destinados aos capitalistas, no Brasil, mais de 300 bilhões de reais, enquanto o orçamento previsto para a educação em 2009 é de 41,5 bilhões e o da saúde 59,5 bilhões. Educação e Saúde juntas somam menos de um terço do que foi dado para a burguesia! Os fatos demonstram que a velha desculpa de que não existe dinheiro para investir em saúde e educação é uma grande mentira.

Analfabetismo
O analfabetismo no Brasil continua alto, o IBGE calcula a taxa de analfabetismo e constata que 9,8% da população com mais de 15 anos é analfabeta (dados de 2008), em 2007 a taxa era de 9,9%, uma diminuição insignificante. Em números absolutos o total de analfabetos aumentou de 14,14 milhões para 14,25 milhões de adultos entre 2007 e 2008. A região nordeste é a que mais sofre com o problema, taxa de 19,4%.Os analfabetos funcionais - segundo os critérios do IBGE, pessoas com mais de 15 anos de idade e menos de 4 anos de estudos completos - chegam a 21% da população no Brasil.
Dinheiro, muito dinheiro para os banqueiros e migalhas para a educação - esse é o resultado. A Venezuela, um país mais pobre que o Brasil, conseguiu erradicar o analfabetismo em 2005. A Bolívia, um país muito mais pobre que o Brasil, anunciou em 2008 que está livre do analfabetismo.Os profissionais da educação estão adoecendoOs profissionais da educação sofrem em todo o Brasil com os baixos salários, uma jornada excessiva, e ausência de estrutura para que possam desenvolver um bom trabalho.
São inúmeros os casos na categoria de depressão, pânico, problemas nas cordas vocais, LER (Lesão por Esforço Repetitivo), etc. Os professores, peça fundamental para a qualidade da educação, a cada dia estão mais doentes.Os governos e a imprensa, de uma forma cruel, fazem uma campanha para jogar a culpa pela má qualidade da educação pública nas costas dos professores.
O governo Lula, ao invés de ir contra essa lógica e defender os trabalhadores da educação, institui em 2008 um Piso Salarial Nacional do Magistério de R$ 950,00 para uma jornada de 40 horas semanais. Um valor que não contribui em nada para a valorização do educador (veja mais sobre o Piso na edição 26 do Jornal Luta de Classes).
Lutar por mais verbas para a educaçãoSem um investimento maciço do Estado na educação, o sucateamento que aflige todo o sistema público de ensino vai se aprofundar. Isso só favorece os donos de escolas particulares, que teriam seus lucros fortemente reduzidos se a educação pública fosse de qualidade.
O FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) apresenta-se como um formato insuficiente para garantir as verbas necessárias à educação. Ao vinculara receita do Fundo a porcentagens de arrecadação de impostos de municípios e estados, fica sujeito às flutuações da economia. A crise econômica, por exemplo, provocou um corte de 10% no valor previsto para o Fundo. Além dos cortes já impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
Hoje o Brasil investe, no total, 4,6% do PIB em educação, a própria UNESCO recomenda ao país que invista 8% do PIB neste setor. Um bom passo adiante seria o que alguns sindicatos e parlamentares defendem: os 10% do PIB para a educação, o que teria significado 290 bilhões de reais em 2009.Mas para virar o jogo, é preciso que o governo rompa com a burguesia e seus partidos, apóie-se no povo para atender as nossas reivindicações. Essa é a nossa luta para a educação pública viver dias mais felizes.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Professores reprovados em exame de temporários vão intermediar conflitos


Os professores temporários de São Paulo que não passarem na prova de seleção da Secretaria Estadual da Educação serão destacados para trabalhos que incluem a mediação de conflitos internos nas escolas e visitas às casas dos alunos.

O programa, em criação pelo governo do Estado, leva o nome provisório de "professor mediador escolar e comunitário" e será instituído a partir do próximo ano letivo para atender a uma demanda que surgirá diante da nova legislação que regula o trabalho temporário dos servidores, aprovada neste ano.

A maioria dos docentes não concursados está sujeita à seguinte regra: quem for reprovado na avaliação não poderá lecionar em 2010, mas terá a garantia da recém-criada jornada mínima de 12 horas semanais em atividades extraclasse. Cerca de 88 mil temporários podem cair nesse grupo - a rede estadual de educação tem cerca de 230 mil professores entre efetivos e temporários.

Em princípio, os temporários mal avaliados com garantia de jornada básica fariam somente trabalhos de apoio nas salas de leitura. Mas como são profissionais com experiência letiva de três anos ou mais na rede, a secretaria quer aproveitar a formação pedagógica do grupo nos papéis de mediadores de conflito e professores visitadores, para os quais esses docentes devem ser capacitados.

Tais funções, segundo a Secretaria Estadual da Educação, pretendem incentivar maior participação das famílias na comunidade escolar e ampliar os círculos de Justiça Restaurativa, processo de reparação de danos e reconstrução da paz pelo diálogo. A Justiça Restaurativa foi implantada de modo experimental em escolas estaduais da zona sul da capital, de Guarulhos e São Caetano do Sul.

A rede estadual tem cerca de 5,3 mil escolas de ensino fundamental e/ou ensino médio e atende a cerca de 5 milhões de estudantes. A ideia inicial do programa é fixar um professor por colégio ou por turno para mediar conflitos e interagir com as famílias. A secretaria quer definir detalhes do programa até 20 de janeiro.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Ensaios de Geografia Contemporânea - Resenha

Autor: Milton Santos

(Página 123; Página 170; Página 197; Página 206; Página 210; Página 280; pré definição dos textos contendo o assunto pesquisado, numeração das páginas indicam o começo dos respectivos textos)

Página 123 – O processo de urbanização brasileira ante as novas possibilidades do período técnico-científico

Maior emprego da ciência e da técnica para materialização dos interesses sociais intensifica a integração e complexificação espacial;
Os processo que conferem conteúdo as formas, contendo frações do social, não são elas apenas formas, mas formas conteúdo;
Podendo haver mudança qualitativa do conteúdo mantendo a forma e/ou mudança da forma e não do conteúdo – mantém-se as qualidades -, ou seja, preza-se pelo formal, o estético;
“A ciência e a técnica se fazem mais presentes nos processos de organização e reorganização do território, mediante necessidade das forças hegemônicas;
Os objetos técnicos, fixos, se tornam mais diverso e artificiais fornecendo maior fluidez ao espaço;
Cada época é determinada por um sistema técnico, onde o “meio técnico-científico informacional é a nova cara do tempo e espaço” que tendem a unificação e convergência;
período atual propicio uma “Revolução informacional”, onde há separação entre unidades produtivas e sedes de empresas;
As informações praticamente instantâneas e com universalidade de propagação de certas modernizações constitui um fator de dispersão;
Quanto as comunicações há maior rapidez e acesso de informações o que possibilitou a descentralização empresarial;
Estado de São Paulo devido ao seu processo histórico, incorpora, num crescente, o teor técnico-científico informacional, tornando-se grande difusor possibilitando a difusão de funções entre suas cidades em detrimento das demais regiões do território nacional, sendo “região do mandar” e não “região do fazer”;
“Os privilégios das cidades maiores tendem a aumentar e que a redistribuição das atividades industriais só se torna possível mediante o controle da informação”;
A macrocefalia é medida pelo caráter informacional;
A partir da década de 60 as bases produtivas se encaminham para o interior de São Paulo;
“São Paulo satisfaz a necessidade de controle no espaço nacional, gerada pelo espraiamento do processo produtivo”;


Página 170 – As desigualdades e a tecnificação do território brasileiro

Na paisagem é constável, cada vez maior, novas obras de engenharia, “tecnificando-o e fazendo com que ocorram modernizações nos moldes de uma racionalidade imposta pelo externo”, em áreas selecionadas e com maior convergência destas obras, se tornado “lugares luminosos” em detrimento da opacidade dos outros lugares;
“Objetos técnicos agregados a natureza primeira”, com finalidades específicas e intencionalmente localizados, com base da produção, circulação e consumo;
“As condições do lugar é que garantem a eficácia ao exercício das ações hegemônicas”;
A regulação nestes lugares se dão pelo poder público (leis, intervenções no mercado, etc.) e pelo poder privado;
Raffestin (1993) lembra que a circulação da moeda é ao mesmo tempo “energia cristalizada e informação”;
dinheiro leva consigo, por ser um símbolo e um sinal, uma ordem;
Claval afirma que o poder de esquadrinhar o território para “informa-se de tudo, encaminhar ordens e controlar sua execução...”;
“A divisão territorial do trabalho é a organização territorial dos agentes hegemônicos, que esquadrinham o território no intuito de garantir fluidez e funcionalidade necessárias as suas ações”;
A incorporação de infra-estruturas em um território cria uma nova divisão territorial do trabalho e um valor territorial;
É produzindo o espaço que o capital se reproduz;

Página 197 – As distâncias do meio técnico-científico e as metáforas contemporâneas

“Por meio da técnica espaço e tempo se unem”;
tempo, como conceito, deve ser capaz de verificação empírica de existência para tornar-se uma variável geográfica;
A técnica possibilita a qualificação dessa materialidade já que o passado se faz presente por ela, dessa forma o momento passado se torna morto com o tempo, mas não como espaço, assim dando caráter ao espaço de acúmulo desigual do tempo;
Os objetos por si só não tem sentido, mas é por sua materialidade que os acontecimentos se dão, os homens não são livres quanto aos seus objetos e inversamente;
As distâncias também são um produto histórico cuja técnica como possibilidade redimensiona as noções de próximo e distante;
A distância como medida empírica de tempo;
“A distância é constituída a partir do desejo e da necessidade dos homens, instituições e firmas de estabelecer relações de se comunicar gerando fluxos de matéria e informação”;
“A velocidade reduz a distância, mas aumenta também e, daí, a idéia de que o tempo multiplica-se”;
“O sistema técnico, cuja distribuição e densificação é irregular e desigual, cujo uso social é seletivo e hierárquico”;
A unicidade técnica possibilita a unicidade entre espaço e tempo global;


Página 206 – Novas espacialidades e o meio técnico-científico informacional

Espaço geográfico pode ser considerado como meio técnico-científico informacional;
Após a segunda guerra mundial há maior caracterização da inter-relação entre a ciência e a técnica, levando a ciência preceder a técnica, para implementação, a qual é comandada pela produção, tal é evidenciada pelas novas áreas do saber;
A produção depende atualmente, mais de uma natureza artificializada, pois natureza primeira já não existe mais;
“O território qualifica e quantifica a ciência, tecnologia e informação”;
“As ações são técnicas e cientificamente fundadas permeadas de informação e intencionalidade, ou seja, são ações racionais para um espaço racionalizado”;
Os espaços da globalização são definidos por uma tecnoesfera e uma psicoesfera, funcionando de modo unitário;
A tecnoesfera e a psicoesfera formam meio técnico-científico informacional;
A sociedade, através do meio técnico-científico informacional comanda a nova relação com o entorno e dá a nova dimensão do espaço e do tempo;
Tecnoesfera é o resultado da crescente artificialização do meio natural, o mundo dos objetos, em constante mudança técnica;
Psicoesfera é o mundo das ações, resultado das crenças, religião, desejos, vontades e costumes que definem no cotidiano as relações das pessoas constróem com o mundo;
Exemplo: tecnoesfera centralizada na região sul, sudeste e psicoesfera no país inteiro;

Página 210 – Expansão do meio técnico-científico informacional

Procedimentos e métodos científicos para a realização da produção, desenvolvendo a tecnologia – ciência da produção. Com a tecnologia o homem passa a poder induzir os processos técnicos e imprimir grande velocidade de informação de renovação as forças produtivas;
Com o desenvolvimento tecnológico dos transportes e comunicação a área de produção capitalista passou a ser o planeta;
desenvolvimento das telecomunicações, mola mestra deste período, propicia a expansão da psicoesfera e veiculação de informações quase instantâneas para qualquer parte do globo;
Concentração das tecnologias promoveu uma reorganização das economias e dos Estados nacionais e sua maior interdependência;
Apenas no atual período verifica a interdependência entre a ciência e a técnica, em todos os aspectos da vida social;
A organização do espaço se dá pela permanente troca entre o homem e a natureza, mediado pelas técnicas referente a cada período histórico, sendo o espaço atual encontra-se uma heterogeneidade técnica e temporal;
A expansão do meio técnico-científico se dá com o aumento de fixos no território, no qual sua construção e reconstrução se pelo crescente conteúdo de ciência, tecnologia e informação;
território se informatiza rapidamente, estando esta informação intrínseca aos objetos;
“A mundialização caracteriza desorganizando as formas de produção e organização social preexistente, o que se processa é a criação de novas desigualdades;
“O espaço mundial existe apenas como metáfora”;
A existência de um maior número de fixos, aumenta o número de fluxos;

Página 280 – Tecnoesfera, Psicoesfera: a publicidade como um elemento do espaço

A psicoesfera é produto do artificio, no âmbito dos desejos, vontades e hábitos, sendo a captação, apropriação e criação de subjetividades;
Publicidade são os processos modernos de comunicação e intercâmbio;
A epistemologia da geografia poderia também ser chamada de Filosofia das técnicas;
A publicidade como ramo da produção a serviço da sociedade de consumo e sua crescente exacerbação;
“A aceleração da industrialização e a transformação em massa e a crescente introdução no cotidiano dos outros meios” faz da publicidade uma importante ferramenta que objetiva a sociedade de consumo;
A publicidade ameniza a fricção entre mercadoria, tempo e espaço, acelerando o consumo, assim “a propaganda nasce como solução para a indústria e a criatividade como solução para a propaganda”. (Roberto Menna Barreto);
A publicidade é um dos elementos centrais dos impérios da imagem, onde estão envolvidos elementos técnicos e subjetivos;
Os elementos publicitários estão contendo o fetichismo da mercadoria (Marx), a máquina do desejo (Freud), modos de vida (sociologia), além de política de textos e imagens, arte de persuadir, manipulação do imaginário em geral (semiologia e retórica);
A publicidade se traduz, na concepção e produção de imagens, do discurso, bem como na sua veiculação;
No processo produtivo pode-se acrescentar “em lugar de destaque, como ramos automatizados deste processo a concepção, o controle, a coordenação, a previsão, paralelamente a mercadologia (marketing) e a propaganda;
A publicidade como lubrificante do mercado, sofistica o discurso, construindo a metamercadoria, utiliza e solicita as mais novas tecnologias;
A mensagem publicitária está tão inserida no cotidiano que se torna até familiar, convertendo-se em identidade e referência;
Segundo Baudrillard nos sentimos desprotegidos na ausência da publicidade;
Os produtos estão volatizados em imagens (re-produto) pelas propagandas, com incorporação de idéias e conceitos a sua forma e essência;
A publicidade compõe o espaço a medida que necessita da psicoesfera e tecnoesfera densificadas e entrelaçadas com aporte das ciências, tecnologia e informação e da produção de imagens simbólicas, compondo e direcionando nosso entendimento de mundo;
A publicidade tende a ser homogênea em grandes porções do território justamente porque há temporalidades homogêneas;
Para “agir no território é necessário traduzir e reproduzir os códigos sob os quais ele funciona. É deste modo que tecnoesfera produz psicoesfera”;
Configurando como conjunto de imagens simbólicas das subjetividade contemporânea, a publicidade penetra os diferentes locais diluídos em ações associadas aos objetos informados;

Por Uma Geografia Nova - Resenha

Por Uma Geografia Nova. Milton Santos, Ed. Hucitec, São Paulo, 1996, 4ª edição.


O professor Doutor em geografia Milton Almeida dos Santos analisa, em sua obra Por Uma Geografia Nova – da crítica da Geografia a uma Geografia Crítica, o momento de crise por que passa a ciência geográfica, através do raciocínio epistemológico crítico que redunda, como síntese, numa proposta de nova visão sobre como pensar e como fazer geografia. Esta obra, em sua primeira edição, publicada em 1978 pela Hucitec-Edusp, constitui-se num clássico dentro da ciência, continuando atual em nossos dias.
Milton Santos trabalha com categorias geográficas, e seu processo consiste na análise, reflexão, síntese e crítica sobre os temas ou objetos estudados. É, sobretudo, uma análise do espaço que ele realiza, tendo em mente este espaço – o objeto da geografia - como “espaço total” ou “totalidade social”, através das categorias: estrutura, processo, função, forma. Trata, ainda, de diversos temas dentro da geografia, distinguindo Filosofia, Epistemologia, Teoria, Prática, Método e Técnica como assuntos que têm “vida própria” em seu pensamento.
A geografia nasceu no final do século XIX, comprometida com a ideologia imperialista dominante na época. Era ciência e filosofia que teorizava e justificava o colonialismo, com novas conquistas territoriais (políticas e econômicas).
Esta Geografia Clássica, nascida com os primeiros geógrafos modernos importantes – como Ritter, Humboldt, Brun -, e seguida pelos “fundadores” da ciência geográfica – La Blache, Ratzel, Brunhes -, tinha em comum o fato de todos os seus grandes nomes serem “principistas”, isto é, procuravam princípios gerais que dessem cientificidade à geografia, como ponto de partida de seus trabalhos.
Foram influenciados por grandes pensadores como Kant (Construtivismo), Descartes (Racionalismo), Comte (Positivismo), Darwin (Evolucionismo), Spencer (Organicismo), Newton (Mecanicismo), Hegel (Idealismo), Marx (Materialismo Histórico), entre outros. Por exemplo, Hegel, com sua dialética idealista, influenciou o trabalho de Ritter e Ratzel (“Escola Alemã”), enquanto Marx, com sua Dialética baseada no Materialismo Histórico, influenciou também Ratzel, La Blache e Jean Brunhes (“Escolas Alemã e Francesa”).
Carl O. Sauer, geógrafo norte-americano, adepto da Geografia Cultural (1931), dizia ter a geografia se separado em dois ramos: Geografia Humana e Geografia Cultural. A primeira, interessada nas inter-relações homem x meio; a segunda, interessada especificamente nos elementos da cultura material que caracterizam as diversas (e distintas) áreas. Paul Vidal de La Blache, francês, trabalhava com os conceitos de gêneros de vida e região (1894, 1911), que, para Milton Santos, era uma Geografia Regional dualista e reducionista. Griffith Taylor, Ellen C. Semple, e E. Huntington foram geógrafos que trabalharam com conceitos deturpados de Ratzel, criando o Determinismo geográfico (primórdios do século XX).
P. W. Brian (1933), criou a noção de “área cultural”, aproximando-se dos conceitos possibilistas da Geografia Regional (isto era mais comum na Europa). Nos Estados Unidos, Maximilien Sorre (1921, 1955) e o grupo de Chicago trabalhavam com a Ecologia Urbana, que nada mais era que uma Geografia Regional vestida à americana, segundo Milton Santos. Mas estas linhas de trabalho tinham influência e seguidores nos dois lados do Atlântico Norte. Dickinson e Gourou (1969, 1973) trabalhavam com a noção de civilização, onde o conceito lablacheano de “gênero de vida” se perpetuava, com o acréscimo do componente tecnocultural, mascarando a influência do aspecto econômico (modo de produção) no cotidiano e na técnica local.
A Geografia Regional tratava o espaço como abstrato e absoluto, não relacional; a Geografia Geral Clássica tratava o espaço como relativo, através de princípios, não levando em conta a historicização (teoria x epistemologia). A Ecologia Humana (Urbana) separava o homem da natureza, pois se utilizava da natureza “primária”, e não da natureza “socializada”. A Geografia Cultural (Regional) isolava os locais e definia as construções humanas como resultados diretos da cultura de seus habitantes. Hoje, ambas estão superadas! Com isto, a Geografia Clássica, de seu nascedouro aos meados do século XX, com o Determinismo geográfico, o Possibilismo (Região, Gênero de vida) e as “áreas culturais”, ofereceu-nos noções “positivistas” da realidade, pois eram mecanicistas, causais e análogas às ciências naturais.
Milton Santos critica o regionalismo geográfico, pois entende o mundo como um sistema único, com partes interdependentes (e isto se acentua com o avanço da tecnologia e da ciência). Porém, defende o localismo cultural, pois os cotidianos (modos de vida) locais não deveriam sucumbir àqueles impostos “de fora”, através do poder do capital, que tira a solidariedade das pessoas.
A Nova Geografia (“New Geography”), surgida após a Segunda Guerra Mundial, foi fruto das novas tecnologias (como a automação), das novas necessidades (e dos novos usos) criados com a guerra. De certa forma, mesmo o objeto geográfico mudou, pois as tradicionais “Escolas Nacionais” que geravam pensamentos globais e individualizados cederam lugar à difusão de estudos “locacionais” (pelo poder econômico e político anglo-saxão, principalmente), cujo método era objetivo, com o uso da Matemática, Informática, Probabilidade. “... Isso dotou a pesquisa de meios que... deviam permitir uma definição mais exata das realidades, ensejando chegar assim à postulação de leis cuja pertinência pode, todavia, ser discutida”. (Milton Santos).
Milton Santos critica o “coisificismo” (empiricismo) e o ideologismo a que se submeteu a geografia, transformada pelo paradigma quantitativista; paradigma este que, aliás, é contestado como “paradigma” por ele, pois o considera apenas como um novo método de pesquisa, uma “matematização da paisagem”: “o grande equívoco da chamada ‘geografia quantitativa’ foi o de considerar como um domínio teórico o que era apenas um método e, além do mais, um método discutível. Critica a linearidade, ou seja, a lei de causa-efeito (ou a lei newtoniana-mecanicista de ação-reação), com que os temas geográficos são abordados. “... As classificações com as quais se pretende aprisionar toda a realidade.” (Maximilien Sorre).
A análise de sistemas leva à elaboração de modelos da realidade. E os fatores significativos? “Pode ocorrer que a quantificação de uma situação não seja representativa de seus aspectos mais importantes.” (Peter Bauer). “... O método só é apreciável quando o economista é capaz de fornecer, antes de tudo, uma análise correta e completa dos fatores significativos.” (John M. Keynes). Em suma, “é preciso refletir para medir e não medir para refletir.” (Gaston Bachelard).
A geografia foi utilizada para o planejamento, sendo, portanto, utilitarista. Isto excluiu o movimento social do processo de realização dessa ciência. A Nova Geografia acabou “...despersonalizando o homo sapiens, substituindo-o pelo homo economicus, que é nada mais que uma média: e o homem médio não existe. A chamada ‘nova geografia’ também excluiu o movimento social e dessa forma eliminou de suas preocupações o espaço das sociedades em movimento permanente. A geografia tornou-se viúva do espaço. (...) Então, o espaço geográfico é estudado como se ele não fosse o resultado de um processo onde o homem, a produção e o tempo exercem o papel essencial.”
Quanto aos modelos e aos sistemas, Milton Santos ressalta a importância do fator histórico na análise correta dos “fatos”, pois a simples análise de sistemas e a modelização/quantificação de fatos geográficos não levam em conta as condições precisas de tempo e espaço nas quais as variáveis sistêmicas combinam-se entre si. Diz ele, ainda, que a modelização permite a prospecção (previsão) de situações futuras, e foi utilizada largamente pela planificação, engajada à geografia. Porém, ela desconsidera o tempo, sendo uma sucessão de estágios “prontos” e matematizados (resultados), e não mostra ou analisa os processos de formação da paisagem, ou seja, ignora a dinâmica do espaço.
A Geografia da Percepção e do Comportamento também é analisada (e criticada), pois não leva em conta as ideologias individuais das pessoas e dos pesquisadores (sujeito/objeto/pesquisador); e, ainda, não é correto que a simples soma das partes (individualidades) de um sistema social forme a esta totalidade social. A análise psicológica é refutada por Milton Santos como um método único de pesquisa da realidade social.
Por fim, aborda o triunfo do formalismo (lógica formal) e da ideologia, mostrando o comodismo de toda ordem que foi (e é) praticado pelos cientistas em geral e pelas pessoas. Muitos geógrafos mantiveram-se (e mantém-se) no ecletismo teórico e metodológico, fruto mesmo da crise dos paradigmas e dos diferentes caminhos a seguir na ciência geográfica. “O império da ideologia capitalista que leva a esquecer que a organização do espaço em uma determinada formação social tem uma relação direta com a estrutura de classes presente nessa formação social e com as suas conexões externas.” (David Slater).
Através desta análise e síntese da evolução do pensamento geográfico, Milton Santos vem propor uma geografia nova, preocupada sobretudo com o bem-estar do homem; uma ciência que seja atuante em prol da restauração da dignidade humana, através da construção de um espaço mais humanizado. É, por isso, considerado como um dos fundadores da Geografia Crítica, paradigma vigente desde os anos setenta e produtor de profundas reflexões na ciência geográfica, tentado transformar a realidade cotidiana no mundo capitalista.

GLOBALIZAÇÃO E GEOGRAFIA EM MILTON SANTOS


Por Wagner Costa Ribeiro
Departamento de GeografiaUniversidade de São Paulo
"O espaço se globaliza, mas não é mundial como um todo senão como metáfora. Todos os lugares são mundiais mas não há um espaço mundial. Quem se globaliza mesmo são as pessoas" (Milton Santos, 1993).

Globalizar o conhecimento e seu uso. Definir a inserção dos lugares em uma rede de relações humanas de modo a valorizar a singularidade em meio à totalidade. Viver um mundo mais solidário. Essas possibilidades de pensar, representar e propor relações humanas caminham na contramão da história. Infelizmente verifica-se a predominância da competição desenfreada por mercados e tecnologias, a busca incessante por recursos naturais e a intensa exploração do trabalhador, mesmo diante da diminuição de postos de trabalho.
A obra de Milton Santos pertence ao grupo de intelectuais que buscam o pensamento crítico a esse estado da vida contemporânea. Em diversas passagens de seus livros e artigos ele afirmou pretender construir um mundo diferente daquele em que vivemos. Este artigo aborda a interpretação do geógrafo brasileiro sobre a globalização, tratada em sua dimensão cultural, econômica e por fim, solidária, promovendo um diálogo com outros autores que trataram do tema.
O que é globalização?
A difusão do termo globalização ocorreu por meio da imprensa financeira internacional, em meados da década de 1980. Depois disso, muitos intelectuais dedicaram-se ao tema, associando-a à difusão de novas tecnologias na área de comunicação, como satélites artificiais, redes de fibra ótica que interligam pessoas por meio de computadores, entre outras, que permitiram acelerar a circulação de informações e de fluxos financeiros. Globalização passou a ser sinônimo de aplicações financeiras e de investimentos pelo mundo afora. Além disso, ela foi definida como um sistema cultural que homogeneíza, que afirma o mesmo a partir da introdução de identidades culturais diversas que se sobrepõem aos indivíduos. Por fim, houve quem afirmasse estarmos diante de um cidadão global, definido apenas como o que está inserido no universo do consumo, o que destoa completamente da idéia de cidadania (Ribeiro, 1995). Porém
"No debate sobre a globalização não temos encontrado análises que consideram os fragmentos que ele acarreta. Ao contrário, ressaltam-se as suas vantagens aparentes, porém sem configurá-la com maior precisão" (Ribeiro, 1995:18).
A globalização é discutida, segundo as categorias tempo/espaço, no âmbito do sistema-mundo, na pós-modernidade e à luz dos conceitos de nação, mercado mundial e lugar. Tornada paradigma para a ação, a globalização reflete nos Estados-nação exigindo um protecionismo que em tese se contradiz com a demanda "livre e global" apregoada pelos liberais de plantão. Porém, ao olhar para o lugar, para onde as pessoas vivem seu cotidiano, identifica-se o lado perverso e excludente da globalização, em especial quando os lugares ficam nas áreas pobres do mundo. Ao reafirmar o mesmo, a globalização econômica não consegue impedir que aflorem os outros, resultando em conflitos que muitos tentam dissimular como competitividade entre os Estados-nação e/ou corporações internacionais, sejam financeiras ou voltadas à produção. A globalização é fragmentação ao expressar no lugar os particularismos étnicos, nacionais, religiosos e os excluídos dos processos econômicos com objetivo de acumulação de riqueza ou de fomentar o conflito (Ribeiro, 2001).
A obra de Milton Santos contribuiu para precisar o fenômeno da globalização. Mas o autor queria mais. Ela chegou a propor uma outra globalização, baseada na solidariedade, embora reconhecesse que ela afetou a cultura atual.
Globalização e cultura
Diferente do que afirmam alguns pesquisadores, que acreditam no estabelecimento de uma homogeneização da cultura, do sistema de valores, a partir da globalização, Milton Santos concebe que "cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão global e de uma razão local, convivendo dialeticamente" (Santos, 1996:273). Para ele, a importância de estudar os lugares reside na possibilidade de captar seus elementos centrais, suas virtudes locacionais de modo a compreender suas possibilidades de interação com as ações solidárias hierárquicas.
É no lugar que a cultura vai ganhar sua dimensão simbólica e material, combinando matrizes globais, nacionais, regionais e locais. Mas nem todos pensam assim.
O sociólogo brasileiro Renato Ortiz (1994) afirma que existe uma cultura mundializada que se expressa na emersão de uma identidade cultural popular, cujos signos estariam dispersos pelo mundo. Como exemplos cita redes de alimentos e marcas de produtos de consumo que seriam facilmente identificáveis de um estilo de vida global.
A apropriação da cultura pela esfera do consumo foi analisada por muitos autores, como o francês Jean Baudrillard (1991), para quem a lógica do consumo esta baseada no uso planejado de signos que destituem o objeto de finalidade tornando-o simplesmente algo a ser comprado. Esse processo ocorre baseado na subjetividade, na interiorização de valores externos aos consumidores, que acabam seduzidos por apelos da propaganda, definidora mesmo de uma nova subjetividade estimuladora da compra do bem divulgado por ela. Para Baudrillard
"o objeto perde a finalidade objetiva e a respectiva função tornando-se o termo de uma combinatória muito mais vasta de conjuntos de objetos, em que o seu valor é a criação" (1991:120).
Outro autor relevante na análise da cultura contemporânea é o professor de literatura Fredric Jameson, que afirma estarmos diante de uma completa estetização da realidade, resultado do mosaico pós-moderno lançado nas últimas décadas. Jameson demonstra preocupação com os efeitos desse processo na cultura, que tenderia a ser homogênea. Crítico a quem interpreta o mundo por essa via, escreve:
"se tudo é estético, não faz muito sentido evocar uma teoria distinta do estético; se toda a realidade tornou-se profundamente visual e tende para a imagem, então, na mesma medida, torna-se cada vez mais difícil conceituar uma experiência específica da imagem que se distinguiria de outras formas de experiência" (Jameson, 1994:120-121).
O geógrafo David Harvey participa deste debate polemizando com Baudrillard. Ele acredita que o francês exagera em sua representação do simulacro por meio das imagens caricaturando a sociedade dos Estados Unidos. Mas concorda com a subjetivação da cultura, marcada pela facilidade com que a informação chega às pessoas. Reafirmando idéias de Walter Benjamin, escreve que a facilidade de reprodução da "arte", entendida como expressão da cultura, pode representar uma transitoriedade permanente, um novo estado de apreender a cultura e o conseqüente abandono da busca da singularidade na produção cultural. Harvey indica que não se pode esquecer que o capital também circula com o objetivo de ampliar-se nesse segmento da atividade humana, montando um imenso sistema de produção cultural baseados na produção de subjetividade por meio da propaganda. Isso leva a geografia de todos os lugares a cada lugar do mundo, reduzindo a geografia a um simulacro, como entende Baudrillard. Para Harvey
"por meio da experiência de tudo – comida, hábitos culinários, música, televisão, espetáculos e cinema –, hoje é possível vivenciar a geografia do mundo vicariamente, como um simulacro. O entrelaçamento de simulacros da vida diária reúne no mesmo espaço e no mesmo tempo diferentes mundos (de mercadorias). Mas ele o faz de tal modo que oculta de maneira quase perfeita quaisquer vestígios de origem, dos processos de trabalhos que os produziram ou das relações sociais implicadas em sua produção" (1992:270-271).
Para Santos, "o homem vai impondo à natureza suas próprias formas, a que podemos chamar de formas ou objetos culturais, artificiais, históricos" (Santos, 1988:89). Estes objetos culturais fazem com que
"a natureza conheça um processo de humanização cada vez maior, ganhando a cada passo elementos que são resultado da cultura. Torna-se cada dia mais culturalizada, mais artificializada, mais humanizada. O processo de culturalização da natureza torna-se, cada vez mais, o processo de sua tecnificação. As técnicas, mais e mais, vão incorporando-se à natureza e esta fica cada vez mais socializada, pois é, a cada dia mais, o resultado do trabalho de um maior número de pessoas. Partindo de trabalhos individualizados de grupos, hoje todos os indivíduos trabalham conjuntamente, ainda que disso não se apercebam. No processo de desenvolvimento humano, não há uma separação do homem e da natureza. A natureza se socializa e o homem se naturaliza" (Santos, 1988:89).
A tecnificação a que se refere Santos permite o simulacro geográfico que Harvey discrimina. Ela configura um meio-técnico-científico internacional "no qual a construção ou reconstrução do espaço se dará com um conteúdo de ciência e de técnica" (Santos, 1991:11), formando uma paisagem estética, em meu entendimento.
O que seria essa paisagem estética? Um tecido urbano que contém valores culturais transpassados pela afirmação do mesmo, que oprimem o singular, sintetizados, por exemplo, em formas urbanas reproduzidas a partir de modelos de arquitetura oriundos de países hegemônicos, uma das críticas às cidades contemporâneas, como aponta o geógrafo espanhol Horacio Capel (2001). Isso é facilmente observável na paisagem de São Paulo, uma megacidade brasileira localizada em plena faixa tropical, na qual identificam-se milhares de prédios envidraçados, tal qual preconiza a arquitetura de países temperados. Ora, os ambientes produzidos por tal concepção resultam extremamente quentes, gerando a necessidade do uso de aparelhos para resfriar o ar, aumentando o consumo energético. Seria muito mais simples edificar prédios segundo a boa arquitetura colonial brasileira, com seus tetos elevados e amplas janelas que permitem desde a entrada de luz natural, abundante nos trópicos, quanto a circulação do ar, refrescando o ambiente. Mas o esteticismo a que se refere Jameson prevalece e a paisagem paulistana aquece quem vive nela...
Globalização econômica
Neste aspecto a contribuição de Milton Santos foi bem mais ampla que no caso anterior. Quando afirma, como consta na epígrafe deste artigo, que "quem se globaliza mesmo são as pessoas" (1993:16), o geógrafo brasileiro dá pistas de como conduz sua reflexão sobre a globalização econômica. Ele está interessado no fluxo que o sistema de objetos, expressão que vai trabalhar em diversos livros, permite fluir e conduz, na forma de espaço geográfico.
Para Santos, o espaço geográfico é uma funcionalização da globalização (1994:48). Ele vai ser produzido de acordo com as demandas de quem o idealiza, para permitir fluir suas necessidades. Para ele o espaço geográfico é um "conjunto indissociável de sistemas de objetos naturais ou fabricados e de sistemas de ações, deliberadas ou não" (1994:49).
O espaço geográfico viabiliza a globalização, dado que ele materializa três de seus pressupostos: "a unicidade técnica, a convergência dos momentos e a unicidade do motor" (1994:49).
A unicidade técnica é entendida como a capacidade de instalar qualquer instrumento técnico produtivo em qualquer parte do mundo. A convergência dos momentos é possibilitada pela unificação técnica, pela capacidade de comunicação em tempo real. Por fim, a unicidade do motor é a direção centralizada, exemplificada pela direção do mundo econômico e das finanças pelos executivos que atendem aos interesses dos donos das empresas transnacionais e do sistema financeiro internacional. Estes temas são amplamente tratados pelo autor em sua obra A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção (1996), na qual propõe "um sistema de idéias que seja, ao mesmo tempo, um ponto de partida para a apresentação de um sistema descritivo e de um sistema interpretativo da geografia" (Santos, 1996:15).
Muitos outros autores discutiram o tema da globalização econômica, porém, desconsideram a dimensão geográfica nos termos propostos por Santos. É o caso, por exemplo, de Harvey, que analisa o mundo contemporâneo por meio da criação de novos mercados financeiros, coordenados em escala global, permitindo a acumulação capitalista por meio de uma flexibilidade geográfica e temporal. Ele entende que apesar disso resta uma função importante ao estado-nação que
"embora seriamente ameaçado como poder autônomo, retém mesmo assim grande poder de disciplinar o trabalho e de intervir nos fluxos de mercados financeiros, enquanto se torna muito mais vulnerável a crises fiscais e à disciplina do dinheiro internacional. Estou, portanto, tentado a ver a flexibilidade conseguida na produção, nos mercados de trabalho e no consumo antes como um resultado da busca de soluções financeiras para as tendências de crise do capitalismo do que o contrário. Isto implicaria que o sistema financeiro alcançou um grau de autonomia diante da produção real sem precedentes na história do capitalismo, levando este último a uma era de riscos financeiros igualmente inéditos" (Harvey, 1992:181).
O geógrafo Edward Soja (1993) assinala que as mudanças no padrão produtivo mantiveram as desigualdades geográficas e a manutenção de lucros imensos por parte das transnacionais, como vem ocorrendo desde o segundo pós-guerra. Para Soja, isso reafirma a geografia por meio da emergência da espacialidade, da regionalização e do regionalismo, levando o capital a rever suas estratégias espaciais e locacionais, que podem ser facilmente apreendidas. Para ele
"A instrumentalidade das estratégias espaciais e locacionais da acumulação do capital e do controle social está sendo revelada com mais clareza do que em qualquer época dos últimos cem anos. Simultaneamente, há também um crescente reconhecimento de que o operariado, bem como todos os outros segmentos da sociedade que foram periferalizados e dominados, de um modo ou de outro, pelo desenvolvimento e reestruturação capitalistas, precisam procurar criar contra-estratégias espacialmente conscientes em todas as escalas geográficas, numa multiplicidade de locais, a fim de competir pelo controle da reestruturação do espaço" (Soja, 1993:210).
Esse entendimento é partilhado por outro geógrafo, Neil Smith (1988). Para ele, a combinação de desigualdades geográficas é inerente ao desenvolvimento capitalista, resultando no desenvolvimento desigual como produto e premissa para o capital. Assim,
"o desenvolvimento desigual é a desigualdade social estampada na paisagem geográfica e é simultaneamente a exploração daquela desigualdade geográfica para certos fins sociais determinados" (Smith, 1988:221).
Santos entende que o desenvolvimento desigual é combinado é resultado de "uma ordem, cuja inteligência é apenas mediante o processo de totalização, isto é, o processo de transformação de uma totalidade em outra totalidade" (1996:101).
Já o sociólogo brasileiro Otávio Ianni, interlocutor de Milton Santos, destaca que a sociedade civil ganhou uma dimensão mundial tratando de temas como
"direitos humanos, narcotráfico, proteção do meio ambiente, dívida externa, saúde, educação, meios de comunicação de massa, satélites e outros itens. Assuntos sociais, econômicos, políticos e culturais que sempre pareceram nacionais, internos, logo se revelam internacionais, externos" (Ianni, 1992:43).
Mas ele entende que ocorre um esvaziamento do estado-nação pelo capital, que transforma "as sociedades nacionais em dependências da sociedade global" (1992:44). Em outra obra, afirma que a globalização seria um novo paradigma (Ianni, 1995), pois gerou um modo de produção e de gestão da política inovadores.
O professor Milton Santos discorda dos que viram um esvaziamento da função do estado. Para o geógrafo brasileiro o que existe é um
"mercado hierarquizado e articulado pelas firmas hegemônicas, nacionais e estrangeiras que comandam o território com apoio do Estado" (Santos, 1991:13).
Porém, não deixa de reconhecer uma certa subordinação aos imperativos externos ao afirmar que
"os recursos totais do mundo ou de um país, quer seja o capital, a população, a força de trabalho, o excedente etc., dividem-se pelo movimento da totalidade, através da divisão do trabalho e na forma de eventos (...). Cada momento histórico (...) acarreta uma diferenciação no interior do espaço total e confere a cada região ou lugar sua especificidade e definição particular. Sua significação é dada pela totalidade de recursos" (Santos, 1996:131).
Para o geógrafo brasileiro Armando Correa da Silva, conhecer os recursos e potencialidades de um estado-nação passam a ser vitais para a inserção no cenário da "globalização relacionada à esfera do capital" (Silva, 1993:77). Ele escreveu que
"o capitalismo se defronta com sua própria criatura, ou seja, quanto mais se mundializa valor, mais necessários se tornam os mecanismos nacionais e, mesmo, regionais, em alguns casos. A atual centralização descentralizada do Globo tem algo a ver com isso. De uma parte, a centralização dá origem ao seu contrário: os movimentos separatistas e regionalistas. De outra, obriga a formação de grandes alianças territoriais, ampliando espacialmente os mercados"(Silva, 1993:77).
Esse rearranjo das relações sociais contemporâneas afirmado por Silva produz blocos de países como a União Européia, o Mercosul, o Nafta, entre outros, que buscam ampliar o território apenas para a circulação de mercadorias, restringindo o fluxo de pessoas ao limite do desejável.
A retomada do papel do estado é partilhada pelos geógrafos espanhóis Joan Font e Joan Rufí, quando escrevem que
"Podría decirse que en muchos casos se asite a una renacionalización de los estados. Las formas que toman estos procesos pueden ser muchas y más o menos explícitas, dependiendo de las circunstancias de cada estado y de cuál sea el adversario al que se quiere dar respuesta: la globalización o la, presunta o efectiva, fragmentación interna" (Font e Rufí, 2001:90).
Para Santos, a tensão entre o local e o global é um fato que deve ser entendido por meio do papel da formação social nacional, que "funciona como uma mediação entre o Mundo e a Região, o Lugar. Ela é também mediadora entre o Mundo e o território" (1996:270).
Na formação social nacional verifica-se uma fusão de acontecimentos, como expressa a seguinte passagem da obra do geógrafo brasileiro:
"Não existe um espaço global, mas, apenas, espaços da globalização. (...) O Mundo, porém, é apenas um conjunto de possibilidades, cuja efetivação depende das oportunidades oferecidas pelos lugares. (...) Mas o território termina por ser a grande mediação entre o Mundo e a sociedade nacional e local, já que, em sua funcionalização, o ‘Mundo’ necessita da mediação dos lugares, segundo as virtualidades destes para usos específicos. Num dado momento, o ‘Mundo’ escolhe alguns lugares e rejeita outros e, nesse movimento, modifica o conjunto dos lugares, o espaço como um todo. É o lugar que oferece ao movimento do mundo a possibilidade de sua realização mais eficaz. Para se tornar espaço, o Mundo depende das virtualidades do Lugar" (Santos, 1996:271).
A globalização solidária
Menos que ser contrário à globalização, o geógrafo brasileiro estava mais preocupado em construir um sistema teórico que permitisse elaborar outra maneira de congregar pessoas em escala internacional. Propunha a solidariedade como medida para a relação, que deveria ser praticada em prol da cidadania.
Já em meados da década de 1980 Santos apontava sua compreensão da cidadania. Distinguia os consumidores dos cidadãos, escrevendo que
"o consumidor não é cidadão. Nem o consumidor de bens materiais, ilusões tornadas realidades como símbolos; a casa própria, o automóvel, os objetos, as coisas que dãostatus. Nem o consumidor de bens imateriais ou culturais, regalias de um consumo elitizado como o turismo e as viagens, os clubes, e as diversões pagas; ou de bens conquistados para participar ainda mais do consumo, como a educação profissional, pseudo-educação que não conduz ao entendimento do mundo" (1987:41).
Em suas palavras encontra-se um posicionamento claro contra o consumismo que conduz o modelo de reprodução do capital. Ainda que tenha afirmado em mais de uma vez que não gostava do tema, pode-se identificar também uma inquietação ambientalista em seu posicionamento claro contra o desperdício de material. E ele atacava ainda os consumidores de artigos da chamada indústria cultural, aqueles que imaginam estar fora do reino dos mortais haja visto estarem focados em bens imateriais, em manifestações do espírito por meio das artes e da informação.
Em sua argumentação não restava lugar entre os cidadãos nem mesmo para o eleitor, que
"não é forçosamente cidadão, pois o eleitor pode existir sem que o indivíduo realize inteiramente suas potencialidades como participante ativo e dinâmico de uma comunidade. O papel desse eleitor não-cidadão se esgota no momento do voto" (Santos, 1987:41).
Quem seria, então, o cidadão para Milton Santos?
"O cidadão é multidimensional. Cada dimensão se articula com as demais na procura de um sentido para a vida. Isso é o que dele faz o indivíduo em busca do futuro, a partir de uma concepção de mundo" (1987:41-42).
Poder projetar o futuro, vislumbrar perspectivas dignas da existência, poder expressar sua maneira de entender o mundo, por meio de crenças, manifestações culturais e práticas sócio-políticas, com qualidade de vida, isto é, habitando um ambiente agradável e sustentável, provido de água, calor e energia na medida adequada, com assistência médica e alimento de qualidade são características que sintetizariam o cidadão do mundo contemporâneo, em meu entendimento. Neste sentido, não há cidadão no mundo entre os que apregoam os valores da sociedade ocidental, ocaso e criação da cidadania.
Construir relações humanas baseadas na solidariedade era um desejo de Milton Santos. Ele propunha uma revisão da globalização, que deveria ser "mais humana" (2000:20), sem descartar a base técnica que sustenta a globalização econômica e financeira:
"a materialidade que o mundo da globalização está recriando permite um uso radicalmente diferente daquele que era o da base material da industrialização e do imperialismo" (Santos, 2000:164).
Essa é a proposta do geógrafo baiano: alterar o uso da base técnica criada para a circulação de capital para veicular valores humanos, para permitir uma efetiva integração de laços culturais distintos que permitam a construção do "acontecer solidário", como definiu (Santos, 2000).
Enfim, Milton Santos queria um mundo diferente. Sua visão otimista do futuro é expressa no trecho abaixo:
"Não cabe, todavia, perder a esperança, porque os progressos técnicos (...) bastariam para produzir muito mais alimentos do que a população atual necessita e, aplicados à medicina, reduziriam drasticamente as doenças e a mortalidade. Um mundo solidário produzirá muitos empregos, ampliando um intercâmbio pacífico entre os povos e eliminando a belicosidade do processo competitivo, que todos os dias reduz a mão-de-obra. É possível pensar na realização de um mundo de bem-estar, onde os homens serão mais felizes, um outro tipo de globalização" (Santos, 2002:80).
Aproveitar a base material da existência é algo coerente com sua maneira de pensar. Já em 1978, em obra que marcou sua inserção teórica entre os geógrafos brasileiros, escrevia que
"o espaço é a matéria trabalhada por excelência. Nenhum dos objetos sociais tem tanto domínio sobre o homem, nem está presente de tal forma no cotidiano dos indivíduos" (Santos, 1978:137).
São as rugosidades, as marcas do tempo por meio do trabalho que instituem uma base material difícil de ser rompida. Por isso o reaproveitamento da inércia espacial, outro conceito de 1978.
Deste modo, a mudança tem de vir pela política. Embora expressando otimismo, não perde a visão de geógrafo ao indicar que as mudanças não virão
"dos Estados Unidos ou da Europa. Virá dos pobres, dos ‘primitivos’ e ‘atrasados’, como nós, do Terceiro Mundo, somos considerados. Estas não poder vir das classes obesas. Estas não podem ver muito. São os pobres os detentores do futuro. O problema de todas as épocas é saber como vai se dar a ruptura. E as rupturas se deram antes que todos soubessem como elas iam se dar..." (Santos et al., 2000:66).

Bibliografia
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Por uma outra Globalização: Do Pensamento Único à Consciência Universal

Ator: Milton Santos

Introdução Geral

Neste mundo globalizado, a máquina ideológica que sustenta as ações preponderantes da atualidade é feita de peças que se alimentam mutuamente e põem em movimento os elementos essenciais à continuidade do sistema. Este mundo, “visto como fabula, exige como verdade um certo número de fantasias”, aldeia global e mercado global podem ser ditos como exemplos;
Havendo uma busca de uniformidade, aos serviços dos atores hegemônicos, mas o mundo se torna menos unido, tornando mais distante o sonho de uma cidadania verdadeiramente universal;
A globalização como perversidade pode ser evidenciada através da “perversidade sistemática que está na raiz dessa evolução negativa da humanidade tendo relação com a adesão desenfreada aos comportamentos competitivos que atualmente caracterizam as ações hegemônicas”;
As bases materiais do atual período, como, unicidade técnica, a convergência dos momentos e o conhecimento do planeta podem servir a outros objetivos, que não somente aos interesses do grande capital, se forem postas a serviço de outros fundamentos sociais e políticos;
Dando-se uma globalização mais humana, tanto no plano empírico como no plano teórico. Este processo é caracterizado, atualmente, através da miscigenação, nas mais variadas instancias, e o dinamismo desta em áreas pequenas com uma grande população aglomerada, podendo assim, constituir bases de reconstrução e de sobrevivência das relações locais, abrindo a possibilidade de utilização, a serviço dos homens, do sistema técnico atual;

A produção da globalização

A globalização é, de certa forma, o ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista, entre tanto para entenda-la deve levar em conta dois elementos fundamentais: o estado das técnicas e o estado das políticas. Ambos se realizam em complementariedade um com o outro;
Atualmente, o mercado global utilizando-se do sistema de técnicas avançadas resulta nessa globalização perversa, no entanto poderia ser diferente se o uso político fosse outro;
desenvolvimento da historia vai de par com o desenvolvimento das técnicas, porém as técnicas nunca aparecendo isoladamente; o que se instala são grupos de técnicas, verdadeiros sistemas. Sendo, os grupos de técnicas transportam uma historia, representando uma época. Atualmente, os sistemas de técnicas representativos são as técnicas da informação, que em sua diversidade comunicam-se entre si e promovem a convergência dos momentos;
surgimento de um novo sistema de técnicas não representa o desaparecimento do sistema anterior, somente, os novos conjuntos de instrumentos são utilizados pelos atores hegemônicos, enquanto os atores não hegemônicos continuam a utilizar conjuntos menos atuais e menos poderosos;
“As técnicas apenas se realizam, tornando-se historia, com a intermediação da política, isto é, da política das empresas e da política dos Estados, conjunta ou separadamente”;
É a partir da unicidade das técnicas que surge a possibilidade de existir uma Finança Universal, principal responsável pela imposição a todo o globo de uma mais-valia mundial. Sem ela, seria também impossível a atual unicidade do tempo e por outro lado, sem a mais-valia globalizada e sem essa unicidade do tempo, a unicidade da técnica não teria eficácia;
tempo real, potencialmente para todos, mas os homens não são igualmente atores desse tempo real, pois socialmente ele é excludente e assegura privilégios de uso;
atual período dispõe de um sistema unificado de técnicas, instalado sobre um planeta informado e permitindo ações igualmente globais;
Todavia, hoje haveria um motor único, que é a mais-valia universal, que se tornou possível a partir da produção em escala mundial, por intermédio de empresas mundiais, que competem entre si;
Um elemento de internacionalização atrai outro, impõe, contém e é contido por outro. Este sistema de forca pode levar a pensar que o mundo se encaminha para algo como uma homogeneização, tanto das técnicas quanto da mais-valia;
A competitividade entre as empresas as conduz alimentar uma demanda exagerada de ciência, tecnologia e organização, para manter-se a frente da corrida;
período histórico atual vai permitir, cada vez mais, a possibilidade de conhecer o planeta extensivo e profundamente, que se deve aos progressos das técnicas devidos aos progressos das ciências, o que permite ao homem não apenas utilizar o que encontra na natureza;
Um período sucede o outro, antecedidos e sucedidos por crises, isto é, “momentos em que a ordem estabelecida entre as variáveis, mediante uma organização, é comprometida”;
Entretanto, o período atual é ao mesmo tempo um período e uma crise, ou seja, a presente fração do tempo histórico constitui uma verdadeira superposição entre período e crise, revelando características de ambas essas situações;
Como período, atualmente, as suas variáveis características instalam-se e influenciam em toda parte, direta ou indiretamente. Daí a denominação de globalização. Como crise, as mesmas variáveis construtoras do sistema estão continuamente em choque e exigindo novas definições e arranjos;
No atual período, a crise é estrutural. Por isso, quando se buscam soluções não estruturais, o resultado é a geração de crise;
A associação entre a tirania do dinheiro e da informação conduz a aceleração dos processos hegemônicos, legitimados pelo pensamento hegemonizante, enquanto os demais processos acabam por ser deglutidos ou se adaptam passiva ou ativamente, tornando-se hegemonizados;
“O uso extremado das técnicas e a proeminência do pensamento técnico conduzem a necessidade obsessiva de normas”.Contudo, as atividades hegemônicas tendem a uma centralização, consecutiva à concentração da economia, aumentado a inflexibilidade dos comportamentos, acarretando um mal estar no corpo social;
Ainda cabe acrescentar que “graças ao casamento entre as técnicas normativas e a normatização técnica e política da ação correspondente a própria política acaba por instalar-se em todos os interstícios do corpo social, seja como necessidade para exercício das ações dominantes, seja como reação a essas mesmas ações”;

Uma globalização perversa

mundo se torna unificado em virtude das novas condições técnicas, bases sólidas para uma ação humana mundializada, porém seletiva e excludente, onde quem se beneficia do mundo globalizado é uma minoria;
Através da emergência da tirania do dinheiro e da informação, intimidamente relacionadas, fornecem as bases loais do sistema ideológico que legitima as ações mais características da época, como a competitividade sugerida pela produção e pelo consumo. Havendo, de certo modo, um retrocesso quanto à noção de bem publico e de solidariedade;
As técnicas da informação são apropriadas por alguns Estados e algumas empresas, aprofundando assim os processos de criação de desigualdades. Há medida em que chega as pessoas às informações já são o resultado de manipulação, se apresentando como ideologias. Tendo o homem comum a confusão entre realidade e ideologia, sobretudo porque a ideologia se insere nos objetos e apresentam-se como coisas;
A informação tem, hoje, o foco do convencimento na medida em que a publicidade se transformou em algo que antecipa a produção, tendo uma relação intima entre o mundo da produção de noticias e o mundo da produção das coisas e das normas;
Através do tópico acima é possível evidenciar alguns dos elementos que caracterizam o Circuito Superior de produção;
A criação de mitos como o espaço e tempo contraditórios, humanidade desterritorializada, cidadania universal, PIB, são criações de certo modo impostas, pelos atores hegemônicos a fim de dinamizar e massificar o discurso em prol de benefícios próprios;
A lógica atual da internacionalização do credito e da divida é concomitante com a aceitação de um modelo econômico em que o pagamento da divida é prioritário, implica a aceitação da lógica tirana do dinheiro. Em que a finança move a economia e a deforma, levando seus tentáculos a todos os aspectos da vida;
“Se o dinheiro em estado puro se torna despótico, isso também se deve ao fato de que tudo se torna valor de troca”;
A partir da generalização e da coisificação da ideologia promovida pelo atual sistema capitalista, se multiplicam as percepções fragmentadas e podendo estabelecer um discurso único do mundo;
As bases materiais históricas da mitificação, do atual período, estão na realidade da técnica atual. Sendo mais aceita do que compreendida e alicerçada nas relações com a ciência, na sua exigência de racionalidade, no absolutismo com que, ao serviço do mercado, conforma os comportamentos; tudo isso fazendo crer na sua inevitabilidade. Os governos e empresas utilizam os sistemas técnicos atuais e seu imaginário para produzir a atual globalização;
Atualmente a competitividade toma o lugar da competição, tendo a guerra como norma utilizada para minimizar os conflitos e conseqüência dessa ética da competitividade que caracteriza nosso tempo. Este momento marca um ápice do sistema capitalista e acaba por assim justificar os individualismos arrebatadores e possessivos;
A contribuição, também para essa ideologia competitiva, ligada “a perda da influencia da Filosofia na formulação das ciências sociais, cuja interdisciplinalidade acaba por buscar inspiração na economia. Daí o empobrecimento das ciências humanas e a conseqüente dificuldade para interpretar o que vai pelo mundo”;
No atual período, a produção do consumidor precede a produção dos produtos de bens e serviços, ou seja, cria-se primeiramente a demanda ao consumo e depois o referido produto;
Vivemos cercados pelo sistema ideológico construído ao redor do consumo e da informação ideologizados, que acabam por ser motor de ações dos atores hegemônicos – público e privado. Então, o entendimento do que é o mundo passa pelo consumo e pela competitividade, que são fundados no mesmo sistema da ideologia. Esses processos levam ao “emagrecimento moral e intelectual da pessoa, a redução da personalidade e da visão do mundo, convidando, também, a esquecer a oposição fundamental entre a figura do consumidor e a figura do cidadão”;
Como, hoje, todas as atividades hegemônicas são fundadas nas técnicas, o discurso aparece como algo relevante a produção da existência de todos. Essa imprescindibilidade de um discurso precedente a tudo, remete a ideologia”;
Com a globalização, as técnicas se tornam mais eficazes, sua presença se confunde com o ecúmeno, seu encadeamento se reforça e o seu uso escapa em muitos aspectos, ao domínio da política e se torna subordinado ao mercado;
Tendo, hoje, a ciência precedendo a técnica e sua utilização se dando a serviço do mercado, produz-se o ideário da técnica e do mercado que é santificado pela ciência, considerada infalível. Sendo a ciência uma das fontes de poder do pensamento único e da imposição de soluções como únicas;
Há um excedente discursivo sobre as violências funcionais derivadas em detrimento de discursos sobre a violência estrutural, que resultaria esta última da presença e das manifestações conjuntas, nessa era de globalização, do dinheiro, competitividade e potência, todas em estado puro, cuja associação conduz a emergência do globalitarismo;
Com a globalização impõe-se uma nova noção de riqueza, fundada no conceito de riqueza, fundada no conceito de dinheiro em estado puro e os quais todas as economias nacionais são chamadas a se adaptar. Tendo o consumo se tornado um dominador comum a todos os indivíduos, atribuindo um papel central ao dinheiro em todas as suas manifestações; junto o dinheiro e o consumo aparecem como reguladores da vida individual e o resultado dessa busca pode levar à acumulação para alguns como ao endividamento para maioria;
A necessidade de capitalização conduz a adotar como regra a necessidade de competir em todos os planos. Sendo, assim, a necessidade de competir legitimada por uma ideologia largamente aceita e difundida, na medida em que a desobediência as sua regras implica perder posições e, até mesmo desaparecer do cenário econômico, tendo a sua pratica a promoção de um afrouxamento dos valores morais e um convite ao exercício da violência em diversas instâncias;
poder não tem outra finalidade a não ser o próprio uso da força, já que ela é indispensável para competir e fazer mais dinheiro; que vem acompanhado pela desnecessidade de responsabilidade perante o outro;
“Ser pobre é participar de uma situação estrutural, com uma posição relativa inferior dentro da sociedade como um todo”;
“A causa essencial da perversidade sistêmica é a instituição, por lei geral da vida social, da competitividade como regra absoluta, uma competitividade que escorre todo o edifico social”;
“Os papeis dominantes, legitimados pela ideologia e pela pratica da competitividade, são a mentira, com o nome do segredo da marca; o engodo, com nome de Marketing; a dissolução e o cinismo, com os nomes de tática e estratégia”;
A vida realizada por meio das atuais técnicas exige cada vez mais dos homens comportamentos previsíveis, que de certo modo assegura uma visão mais racional do mundo e também dos lugares e conduz a uma organização sociotécnica do trabalho, do território e do fenômeno do poder;
Em século passados, com os progressos das técnicas, que está, a serviço da produção e do capitalismo, não houvesse a progressão das idéias, teríamos tido uma eclosão muito maior do utilitarismo, com uma pratica mais avassaladora do lucro e da concorrência;
Tendo, as idéias nos séculos precedentes a globalização, que marcou a ruptura do processo de evolução social e moral, o estabelecimento da possibilidade do enriquecimento moral do individuo;
atual período tem como uma das bases a junção entre a ciência e técnica, essa tecnociência, cujo uso é condicionado pelo mercado, não atendendo interesses da humanidade em geral. O que leva a pensar que o progresso técnico e cientifico não é sempre um progresso moral;
Graças a informação e ao dinheiro o mundo tornou-se mais fluido. Com a flexibilização das fronteiras dos territórios, o que leva ao enfraquecimento e à mudança de natureza dos Estados Nacionais, estando a serviço da economia dominante;
“A política agora é feita no mercado. Só que esse mercado global não existe como ator, mas como uma ideologia, um símbolo. Os atores são as empresas globais, que não tem preocupações éticas, nem finalisticas”. Entretanto, nas condições atuais assiste-se à não-política, isto é, a política feita pelas empresas, sobretudo as maiores; tendo como exemplo a atual emergência do terceiro setor, em que as empresas privadas assumiram um trabalho de assistência social antes deferido ao poder publico, que beneficiam seletivamente frações da sociedade;
poder publico passou a ser subordinado ao nexo das grandes empresas, instalando a semente da ingovernabilidade;
“Cada técnica propõe uma maneira particular de comportamento, envolve suas próprias regulamentações e, por conseguinte, traz aos lugares novas formas de relacionamento”;
Principalmente os países subdesenvolvidos conheceram pelo menos três formas de pobreza no ultimo meio século. A pobreza incluída, uma pobreza acidental, às vezes residual ou saxonal; a marginalidade, que seria a pobreza produzida pelo processo econômico da divisão do trabalho, internacional ou interna; a pobreza estrutural, presente em toda parte do mundo, porém mais presentes nos países já pobres, consistindo do ponto de vista moral e político equivalente a uma divida social;
A pobreza incluída pode ser vista como uma inadaptação entre condições naturais e condições sociais, que se produziria em um lugar e não se comunicava a outro lugar.
Esta pobreza coube num contexto de mundo onde o consumo não estava largamente difundido, e o dinheiro ainda não constituía um nexo social obrigatório, a pobreza era menos discriminatório. Podendo se falar de pobres incluídos;
A marginalidade seria a pobreza identificada como uma doença da civilização, cuja produção acompanha o próprio processo econômico.
Tendo neste momento o consumo se impondo como um dado importante, levando a classificar os indivíduos pela sua capacidade e forma de consumir;
No período atual, revela uma pobreza de um novo tipo, uma pobreza estrutural globalizada. Se dando pelo processo pelo qual o emprego é gerado e sua remuneração cada vez pior, ao mesmo tempo em que o poder publico se retira das tarefas de proteção social, o que é licito considerar que estejam contribuindo para uma produção cientifica, globalizada e voluntária da pobreza, onde os pobres não são incluídos nem marginais, elas são excluídos;
A pobreza produzida politicamente pelas empresas e instituições globais, que pagam para criar soluções localizadas, quando, estruturalmente, são os grandes produtores de pobreza. Com a colaboração ativa ou passiva dos governos nacionais.
Agora a pobreza surge, impõe-se e explica-se como algo natural e inevitável;
Hoje, aumenta-se o número de letrados e diminui o de intelectuais. Tais letrados não pensam para encontrar a verdade, ou, encontrando a verdade, não a dizem; renegando a função principal da intelectualidade, isto é, a busca incansada pela verdade, intermediada pelo discurso;
“A pobreza, hoje, é a pobreza nacional da ordem internacional”;
Os níveis inferiores de governo buscam políticas compensatórias para aliviar as conseqüências da pobreza, enquanto, ao nível federal, as ações mais dinâmicas estão orientadas cada vez mais para os interesses do capital, gerando pobreza;
É o estado nacional que detém o monopólio das normas, sem os quais os poderosos fatores externos perdem eficácia. Devido que nem as empresas transnacionais, nem as instituições supranacionais dispõem de força normativa para impor, sozinhas, devido de cada território, sua vontade política ou econômica, pois é o Estado Nacional que, afinal, regula o mundo financeiro e constrói infra-estruturas, atribuindo, assim, a grandes empresas escolhidas a condição de sua viabilidade;

Território do dinheiro e da fragmentação

Com a globalização, pode-se dizer que a totalidade da superfície terrestre é compartimentada, não apenas pela ação direta do homem, mas também pela sua presença política, tendo, ainda, se torna do funcional as necessidades, usos e apetites de Estados e empresas;
No atual período, com o mundo da fluidez e da rapidez. Tratando-se de uma “fluidez virtual, possível pela presença de novos sistemas técnicos, sobretudo os sistemas de informação, e de uma fluidez efetiva, realizada quando essa fluidez potencial é utilizada no exercício da ação, pelas empresas e instituições hegemônicas. A fluidez potencial aprece no imaginário e na ideologia como se fosse um bem comum”.
mundo da fluidez e da rapidez somente se entende a partir do processo conjunto do qual participam de um lado as técnicas atuais e, de outro, a política atual, que são utilizados pelos atores hegemônicos para benefício próprio. A partir deste processo é possível evidenciar lugares próprios a lentidão e lugares propícios a rapidez e fluidez, que são seletivamente beneficiados, gerando competitividade entre eles;
A competitividade destroça as antigas solidariedades, freqüentemente horizontais, e por impor uma solidariedade vertical, cujo epicentro é a empresa hegemônica, localmente obediente a interesses globais mais poderosos e de certo modo indiferente ao entorno;
território como um todo é objeto da ação de varias empresas, cada qual, preocupada com suas próprias metas e arrastando, a partir dessas metas, o comportamento do resto das empresas e instituições. Estas empresas produzem, assim, uma ordem em causa própria e criando paralelamente desordem para o restante;
Dentro de um mesmo país se criam formas e ritmos diferentes de evolução, governados pelas metas e destinos específicos de cada empresa hegemônica;
Os ultimo séculos marcam, para a atividade agrícola, com humanização e a mecanização do espaço geográfico, uma considerável mudança de qualidade, chegando a constituição do meio técnico-científico informacional, característico também no mundo rural, tanto nos paises avançados como nas regiões mais desenvolvidas dos paises pobres.
Tendo a produção agrícola uma referencia planetária, que recebe influencia das mesmas leis que regem os outros aspectos da produção econômica;
Nas áreas onde essa agricultura cientifica globalizada se instala, verifica-se uma importante demanda de bens científicos e, também, de assistência técnica. O que implica em uma estrita obediência aos mandamentos científicos e técnicos;
Nas cidades regionais, principalmente aquelas que desenvolvem agricultura moderna, tem se uma oferta de informação, imediata e próxima, ligada à atividade agrícola e produzindo uma atividade urbana de fabricação e de serviço que é largamente especializada é, paralelamente, um outro tipo de atividade urbana ligada ao consumo das famílias e da administração.
Tal cidade, cujo papel de comando técnico da produção é bastante amplo, tem também um papel político frente a essa mesma produção. Mas, na medida em que esta produção agrícola tem uma vocação global, esse papel político é limitado, incompleto e indireto;
“O campo modernizado se tornou praticamente mais aberto à expansão das formas atuais do capitalismo que as cidades”. Tanto, que a tendência a particularizações extremas, levando em conta, seja em maior ou menor grau, a influência dos fatores exógenos.
Este processo de adaptação das regiões agrícolas modernas se dá com grande rapidez, impondo-lhe, num pequeno espaço de tempo, sistemas de vida cuja relação com o meio é reflexa, enquanto as determinações fundamentais vêm de fora;
Sob o impulso da competitividade globalizadora, produzem-se egoísmos locais ou regionais exacerbados, justificados pela necessidade de defesa das condições de sobrevivência regional. Sendo, este um dos fatores que conduzem a fragmentação do território e da sociedade;
Dentro de cada região, as alianças e os contratos sociais estão sempre se refazendo e a hegemonia, assim, deve ser sempre revista;
processo produtivo reúne aspectos técnicos, que se caracteriza com a produção propriamente dita e sua área de incidência, e aspectos políticos, que é caracterizada pelo racionamento de uma parcela política do processo produtivo com o comercio, preços, subsídios, etc., tendo sua sede fora da região e seus processos freqüentemente escapam ao controle dos principais interessados;
“O território não é apenas o resultado da superposição de um conjunto de sistemas naturais e um conjunto de sistemas de coisas criadas pelo homem. O território é o chão e mais a população, isto é, uma identidade, o fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence”. Assim, surge a idéia de nação, tribo, povo e, depois, de Estado Nacional decorre dessa relação tornada profunda;
dinheiro é uma invenção decorrente do aprofundamento das atividades econômicas. O dinheiro constitui um dado processo, assim, ele se torna representativo do valor atribuído à produção e ao trabalho e aos respectivos resultados;
Cada vez mais coisas tendem a tornar-se objeto de intercambio, valorizado cada vez mais pela troca do que pelo uso e, desse modo, reclamando uma medida homogênea e permanente. Assim, o dinheiro aumenta sua indispensabilidade e abarca os aspectos da vida social e econômica;
dinheiro é um dado essencial para o uso do território, se fundando sobre a lei do valor que tanto deve ao caráter da produção presente de cada lugar como às possibilidades de circulação.
Portanto, quanto mais movimento, maior se torna a complexidade das relações internas e externas e aprofunda-se a necessidade de uma regulação do território, que é atribuído ao Estado;
Com a globalização, o uso das técnicas disponíveis permite a instalação de um dinheiro fluido, relativamente invisível e abstrato. Se tornando um equivalente universal o dinheiro, concomitantemente, ganha existência praticamente autônoma em relação ao resto da economia;
As lógicas do dinheiro impõem-se aquelas da vida socioeconômica e política, se dando segundo duas vertentes: uma é o dinheiro das empresas e o outro é a lógica dos governos financiadores globais.
Essa inteligência global é exercida pelo que se chama de contabilidade global, cujos, aqueles governos globais medem, avaliam e classificam as economias nacionais segundo alguns parâmetros. Sendo, hoje, o dinheiro global o principal regedor do território, tanto o território nacional como suas frações.
No lugar, a finança global se exerce pela existência de instituições, criando perplexidades e sugerindo interpretações que podem conduzir à ampliação da consciência. No entanto, a vontade de homogeneização do dinheiro global e contrariada pelas resistências locais à sua expansão, porém, há, também, uma vontade de adaptação as novas condições de dinheiro, já que a fluidez financeira é considerada uma necessidade para ser competitivo e exitar no mundo globalizado;
“O dinheiro regulador e homogeneizador agrava heterogeneidades e aprofunda as dependências. E assim que ele contribui para quebrar a solidariedade nacional, criando ou aumentando as fraturas sociais e territoriais e ameaçando a unidade nacional”;
“As verticalidades podem ser definidas, um espaço de fluxos”. O espaço de fluxos seria, na realidade, um sistema dentro da totalidade-espaço. Sendo um conjunto de pontos adequados as tarefas produtivas hegemônicas, o espaço de fluxos é constituído por redes exigentes de fluidez e sequioso de velocidade, havendo uma solidariedade do tipo organizacional, no qual predominam atores hegemônicos. A este processo aglutina-se, ainda, a ação explicita ou dissimulada do Estado;
As frações do território que constituem esse espaço de fluxos constituem o tempo real, aferido pela temporalidade globalizada das empresas hegemônicas presentes. Desse modo ordenado, o espaço de fluxos tem vocação a ser ordenador do espaço total.
modelo econômico assim estabelecido tende a reproduzir-se, ainda que mostrando topologias especificas. Assim, quanto mais modernizados e penetrados por esta lógica, mais os espaços respectivos se tornam alienados;
“As horizontalidades são zonas da contigüidade que formam extensões continuas”. Sendo estas zonas consideradas banais em oposição às zonas econômicas;
espaço banal sustenta e explica um conjunto de produções localizadas, interdependentes, dentro de uma área cujas características constituem, também, um fator de produção. Todos os agentes são implicados, e os receptivos tempos são imbricados, criando uma solidariedade orgânica da qual sobrevive o conjunto;
Nesse espaço banal, a ação do Estado é limitada, devido a preocupação deste com a ampliação das verticalidades, porém, paralelamente, permite o aprofundamento da personalidade das horizontalidades;
As horizontalidades admitem presença de outras racionalidades ou contra-racionalidade, isto é, formas de convivência e de regulação criadas a partir do próprio território e que se mantêm nesse território a despeito da vontade de unificação e homogeneização, características da racionalidade hegemônica típica das verticalidades;
Nas condições atuais com tendência a uma difusão avassaladora, é o da criação da ordem da racionalidade pragmática, enquanto a produção do espaço banal é residual;
Os lugares são singulares, mas são também globais. Eles são mundo que eles reproduzem de modos específicos;
“A possibilidade de existência de um cidadão do mundo é condicionado pelas realidades nacionais. Na verdade, o cidadão só o é (ou não o é) como cidadão de um país”;
A multiplicidade de situações regionais e municipais, trazida com a globalização, instala uma enorme variedade de quadros de vida, cuja realidade preside o cotidiano das pessoas e deve ser a base para uma vida civilizadora em comum. Assim, a possibilidade de cidadania plena das pessoas depende de soluções a serem buscadas localmente, desde que, dentro da nação, seja instituída uma Federação de lugares;
território tanto quanto o lugar são esquizofrênicos, porque de um lado acolhem os vetores da globalização, que neles se instalam para impor sua nova ordem, e, de outro lado, neles se produz uma contra-ordem, porque há uma produção acelerada de pobres, excluídos e marginalizados. Neste processo o lugar se torna determinante. Devido ele não ser apenas um quadro de vida, mas um espaço vivido, que exerce um papel revelador sobre o mundo.
Assim, os lugares se diferenciam, tendo como um dos fatores a quantidade de “racionalidade” que ganham do “mundo”. Esta se propaga de modo heterogêneo, deixando coexistirem outras racionalidades ou contra-racionalidades, o que torna possível a ampliação de sua consciência;
No campo, as racionalidades da globalização se difundem mais expressivamente e mais rapidamente. Há cidade, as irracionalidades se criam mais numerosas e incessantemente que as racionalidades;
A consciência da diferença pode conduzir simplesmente à defesa individualista do próprio interesse, sem alcançar a defesa de um sistema alternativo de idéias e de vida.

Limites à globalização perversa

No mundo atual há indicação da emergência de numerosas variáveis cuja existência é sistêmica. Isso, permite pensar que estão produzindo as condições de realização de uma nova historia;
A boa parcela da humanidade, por desinteresse ou incapacidade, não é capaz de obedecer as imposições da atual racionalidade hegemônica;
Na ideologia da globalização e das técnicas encontra-se o apregoamento de que a velocidade constitui um dado irreversível na produção da história, mas de fato a minoria acaba sendo representativa da totalidade, graças exatamente a esta força ideológica;
A velocidade, assim é utilizada duplamente um dado da política e não da técnica. De um lado, trata-se de uma escolha relacionada com o poder dos agentes e, de outro, da legitimação dessa escolha, por meio da justificação de um modelo de civilização;
“A técnica somente é um absoluto enquanto irrealizada”. Tendo a sua historização e geografizaçao voltada para entender o seu uso pelo homem, sua qualidade de intermediário da ação, isto é, sua relativização;
A população em seus diferentes níveis econômicos obriga a combinação de formas e níveis de capitalismo. Existindo a interdependência e intecorrência dos diverso mercados, cada qual voltado principalmente para atender determinado nível da população, freia a vontade da velocidade imposta pelos atores hegemônicos;
Com a interdependência globalizada dos lugares e a planetarização dos sistemas técnicos dominantes, estes parecem se impor como invasores e a difundir a idéia de que o sistema técnico dominante é absolutamente indispensável, além de tratar a velocidade como resultante de um dado desejável a todos que pretendem participar da modernidade atual.
Assim, em ultima analise, as crises atuais são resultantes da aceleração contemporânea, mediante o uso privilegiado das possibilidades de fluidez.Como tal exercício não responde a um objetivo moral, é desprovido de sentido e justifica-se por si mesmo, tal característica são uma das razoes da desordem do período atual;
tema das verticalidades e horizontalidades pode comportar a interpretação, movida entre a oposição existente entre a natureza das atividades just-in-time, que trabalham com um relógio universal movido pela mais-valia universal, e a realidade das atividades que, juntas, constituem a vida cotidiana.
As atividades relacionadas ao just-in-time possuem vocação para uma racionalidade única, homogeneizante, mas trata-se de uma racionalidade sem razão. Entretanto no cotidiano, a razão de viver, é considerada como “irracionalidade”, quando na realidade o que se dá são outras formas de ser racional, pois a vida cotidiana abrange varias temporalidades simultaneamente presentes.
Assim, o tempo hegemônico busca uma homogeneização empobrecida e limitada, enquanto o tempo do mundo cotidiano propicia uma heterogeneidade criadora;
Hoje, as técnicas estão em toda parte, assim, tendo tanto como os objetos como as ações derivação da técnica.
Na medida em que as técnicas hegemônicas hoje são extremamente dotadas de intencionalidade, a igualmente tendência à hegemonia de uma produção e a excludencia de outras. Cria-se um verdadeiro totalitarismo tendencial da racionalidade, sento este a base primeira da produção de carências e de escassez.
Nessa situação, as técnicas, a velocidade, a potencia criam desigualdades e, paralelamente, necessidades;
“A experiência da escassez é a ponte entre o cotidiano e o mundo”;
A alteridade e individualismo se reforçam com a renovação da novidade. Quanto mais diferentes são os que convivem num espaço limitado, tanto mais ricos serão os debates e embates entre as pessoas.
Nesse sentido, pode-se dizer que a cidade é um lugar privilegiado para essa relação e que também a aceleração contemporânea é aceleração na produção de escassez e na descoberta da sua realidade.
Assim, a convivência com necessidade e com o outro, constituída a partir das suas visões de mundo e dos lugares. A política dos pobres é baseada no cotidiano vivido por todos, pobres e não pobres, e é alimentada pela simples necessidade de continuar existindo. Essa política de novo tipo não tem nada a ver com política institucional, regida pelos e para os atores hegemônicos;
Cada época cria novos atores e atribui papeis novos ao já existentes.
“Nas condições brasileiras atuais, as novas circunstancias podem levar as classes médias a forçar uma mudança substancial do ideário e das praticas substancial do ideário e das praticas políticas”. Se torna evidente através desta afirmação a possível conscientização da classe média e a luta para uma maior justiça social, porém tal afirmação remete a umas idéia, a priori, de tais fatores e reclames sociais se dão no “campo”, onde hoje encontra-se boa parte da classe média;

A transição em marcha

A presença e influencia de uma cultura de massas buscando homogeneizar e impor-se sobre a cultura popular e as reações desta é resultante do empenho vertical unificador, homogeneizador, conduzido por um mercado cego, indiferente às heranças e as realidades atuais dos lugares e das sociedades. Mas, essa conquista jamais é completamente, pois encontra a resistência da cultura preexistente.
Há a possibilidade, cada vez mais freqüente, de uma revanche da cultura popular sobre a cultura de massa, quando ela se difunde mediante os usos dos instrumentos que na origem são próprios da cultura de massas.
Ao difundir-se pelo instrumento da cultura de massa não estaria a cultura popular se massificando?;
Os atores hegemoneizados, em sua grande parte, não dispõem de meios para participar plenamente da cultura moderna de massa. Mas como a sua cultura, por ser baseada no território, no trabalho e no cotidiano, ganha força necessária para deformar, ali mesmo, o impacto da cultura de massas.
Essa cultura endógena impõe-se como um alimento da política dos pobres, realizando-se segundo os níveis mais baixos de técnica, de capital e de organização, se dando assim suas formas típicas de criação. Isto seria, aparentemente, uma fraqueza, mas na realidade é uma força, já que se realiza, desse modo, uma integração orgânica com o território dos pobres e o seu conteúdo humano.
A cultura de massa produz seus símbolos, direta ou indiretamente ao serviço do poder ou do mercado, assim como a cultura popular também aos produzem, porém seus símbolos são portadores da verdade da existência e reveladores do próprio movimento da sociedade;
“A divisão do trabalho por cima” é obediente ao uso das técnicas da racionalidade hegemônica, com uma solidariedade gerada por fora e dependente de vetores verticais. Seu campo é de maior velocidade e a regidez das normas econômicas impede a política;
“A difusão do trabalho por baixo” é fundada na descoberta cotidiana das combinações que permitem a vida, se produzindo uma solidariedade criada de dentro e dependente de vetores horizontais cimentados no território e na cultura local.
Há maior dinamismo intrínseco, com maior movimento espontâneo, mais encontros gratuitos, maior complexidade e mais combinações;
Com a prevalência do dinheiro em estado puro como motor primeiro e ultimo das ações, o homem acaba por ser considerado um elemento residual, assim como também o território, Estado-nação e a solidariedade social;
A idéia de irreversibilidade da globalização atual é aparentemente reforçada pela interdependência e inter-relação atual entre cada país e o que chamamos de mundo, além da idéia de que a historia seria sempre feita a partir dos países centrais.
Mas, ao analisar os aspectos mais estruturais da situação atual, verifica-se que o centro do sistema busca impor uma globalização de cima para baixo nos demais países;
No mundo globalizado há produção de uma racionalidade determinante, mas que vai aos poucos deixando de ser dominante. É uma racionalidade que comanda os grandes negócios cada vez mais abrangentes e mais concentrados em poucas mãos.
São muitas numerosas as manifestações de desconforto com as conseqüências da nova dependência e do novo imperialismo, tornando-se evidentes os limites de aceitação de tal situação. Por diferentes razoes e meios diversos, as manifestações de irredentismo já são claramente evidentes em alguns países;
“No sentido de alcançarmos uma outra globalização, não virão do centro do sistema, como em outras fases de ruptura na marcha do capitalismo. As mudanças sairão dos paises subdesenvolvidos”;
“O país deve ser visto como uma situação estrutural em movimento, na qual cada elemento esta intimamente relacionado com os demais”;
A nação ativa seria a daqueles que aceitam, pregam e conduzem uma modernização que se dá preeminência aos ajustes que interessam ao dinheiro. Portanto para este discurso globalizado ter eficácia localmente, necessita de um sotaque domestico e por isso estimula um pensamento nacional associado produzido por mentes cativas, subvencionadas ou não, o que gera uma certa produção do conformismo;
A nação passiva é constituída por aqueles que participam de modo residual do mercado global ou cujas atividades conseguem sobreviver a sua margem, mantendo relações de simbiose com o e dos indivíduos;
Um dos elementos, ao mesmo tempo, ideológico e empírico, da presente forma da globalização é a centralidade do consumo, com a qual a tem relação com o cotidiano e suas repercussões sobre a produção, as formas presentes da existência e as perspectivas das pessoas;
É também por meio do conjunto de movimentos que compõe o atual período, que se reconhece uma saturação dos símbolos pré-construidos e que os limites de tolerância às ideologias são ultrapassadas, o que permite a ampliação do campo da consciência;
“Na medida em que as técnicas cada vez mais se dão como normas e a vida se desenrola no interior de um oceano de técnicas, acabamos por viver uma politização generalizada. A rapidez dos processos conduz a uma rapidez nas mudanças e, por conseguinte, aprofunda a necessidade de produção de novos entes organizadores”;
“Jamais houve na história sistemas tão propícios a facilitar a vida e a propiciar a felicidade dos homens. A materialidade que o mundo da globalização está recriando permite um uso radicalmente diferente daquele que era a base matéria da industrialização e do imperialismo”;
A possibilidade de identificação das situações estão diretamente relacionadas a melhoria da informação disponível e ao aprofundamento das possibilidades de comunicação, que mostra o desamparo que as populações são relegadas, levando, paralelamente, a um maior reconhecimento da condição de escassez e as novas possibilidades de ampliação da consciência;
A mídia trabalha com que ela própria transforma em objeto de mercado, porém em nenhum lugar as comunidades são formadas por pessoas homogêneas e levando isto em conta, ela deixara de representar o senso com um imposto pelo pensamento único;
Com este mundo complexo posto, marcado na ordem material pela multiplicação incessante do número de objetos e na ordem imaterial pela infinidade de relações que os objetos nos unem. Essa totalidade – mundo se manifesta, justamente pela unicidade das técnicas e das ações.
Assim, o meio ambiente é cada vez menos natural, o uso do entorno imediato pode ser menos aleatório. As coisas valendo pelo que elas podem oferecer e os gestos pela adequação às coisas a que se dirigem;
mundo se instala nos lugares, graças aos processos da informação, ficando, mais perto de cada um. Se criando um mundo como realidade histórica unitária, ainda que ele seja extremamente diversificado, sobretudo nas grandes cidades;
“A mesma materialidade, atualmente utiliza para construir um mundo confuso e perverso, pode vir a ser uma condição da construção de um mundo mais humano”. Bastando haver a mutação tecnológica e a mutação filosófica da espécie humana;