ABSABER, Aziz. Os domínios da natureza no Brasil: potencial idades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial. 2003
POTENCIALlDADES:PAISAGENS BRASILEIRAS A paisagem é a herança (de processos fisiográficos e biológicos) e patrimônio coletivo dos povos que as herdam. É o território de atuação das suas comunidades.
1. Os grandes domínios paisagísticos brasileiros
O território brasileiro apresenta um mostruário complexo de paisagens ecológicas do mundo tropical. Existem seis grandes dominios paisagísticos. Quatro são intertropicais e dois subtropicais:
1) Terras baixas florestadas da Amazônia.
2) As depressões interplanálticas.
3) Os 'mares de morros".
4) Os chapadões cobertos por cerrados e penetrados por florestas galerias. 5) Os planaltos das Araucárias.
6) Domínios das pradarias mistas.
2. "Mares de monros", cerrados e caatingas:
Geomorfologia comparada
Existem, grosso modo, três imensos domínios morfocIimáticos. São recobertos por três das principais províncias fitogeográficas do mundo tropical:
1) Domínio das regiões serranas, de morros mame/anares do Sudeste: Uma área de climas tropicais e subtropicais úmidos. Inclui a zona da mata, atingindo o sul e a parte oriental do Brasil.
2) Domínio dos chapadões tropicais do Brasil Central: Area sub-quente. de regime pluviométrico e duas estações (verões chuvosos e invernos secos). Presente na zona dos cerrados e florestas galerias.
3) Domínios das depressões intermontanas e interplanálticas do Nordeste semiárido: É a área subequatorial e tropical semi-árida. Abrange a zona das caatingas.
3. Nos vastos espaços dos cerrados
Nas áreas de cerrados (muito destruídas, atualmente, pela ação antrópica), existiam florestas baixas, de troncos finos e esguios. As principais regiôes que sofreram as alterações foram: Triângulo Mineiro, Mato Grosso (sentido leste-oeste e sul-norte) e o centro de Goiás.Os cerrados, também chamados de campos cerrados, formam um conjunto semelhante aos cerradões. Os.climas apresentam o mesmo regime: as temperaturas apresentam médias anuais mínimas entre 20 e 22"C e máximas entre 24 a 26OC. A umidade do ar atinge níveis muito baixos no inverno e muito elevados no verâo.
A aparência xeromórfica de muitas espécies do cerrado é falsa: trata-se de um pseudoxeromorfismo.
A combinação de fatores fisicos, ecológicos e bióticos que caracterizam o cerrado é, na aparência, homogênea, extensível a grandes espaços. É uma área formada nâo apenas por chapadôes, mas trata-se de um dominio morfocIimático onde ocorre a maior extensividade de formas homogêneas relativas de todo o Planalto Brasileiro (Planalto Central).
Durante um longo período geológico (de 12 a 18 mil anos), as principais mudanças ocorridas foram:
- O conjunto de cerrados, no Planalto Central, era menor e menos continuo.
- Chapadas areníticas, de Urucaia, tiveram climas secos. cerrados degradados, estepes ou manchas de caatingas.
- Catingas predominavam no norte das bordas acidentadas (região de Brasília). - No extremo sul de Mato Grosso, onde existem campos de vacaria, ocorriam sub-estepes e campos limpos, com climas mais frios e secos.
- Onde ocorrem as Matas de Dourados, deveriam ocorrer bosques subtropicais. - Os cerradões formam um patrimônio biológico arcaico. Quando degredados por ações antrópicas, não se refazem facilmente e não se recompõe. Os cerrados, por sua vez, foram deles originados e resistem às ações antrópicas.
4. Domínío Tropical Atlântico
No conjunto do território intertropical e subtropical brasileiro, destaca-se o contínuo norte-sul das Matas Atlânticas, na categoria de segundo complexo principal. Originalmente, cobria o sudeste do Rio Grande do Norte e o sudeste de Santa Catarina, incluindo três enclaves: as matas biodiversas da Serra Gaúcha, as florestas de Iguaçu e as do extremo oeste dos planaltos paranaenses.
As florestas tropicais costeiras formam áreas de transição com as áreas de caatingas, cerrados, cerradôes campestres e planaltos de araucárias. Uma das mais famosas áreas de transição entre a zona da mata e os sertões é conhecida corno 'agreste'.
As matas tropicaís estão associadas às altas temperaturas e forte umidade (exemplo: Serra do ltapanhaú, em Bertioga, com índices pluviométricos superiores a 4.500 mm anuais
Atingem a linha da costa, cobrindo tabuleiros no Nordeste, esporões e costôes ria Serra do Mar (pães-de-açúcar, penedos e pontões rochosos). Entre as matas tropitais e o litoral, destacam-se formações de restingas (faixas arenosas com coberfura floristica).
Minas Gerais (Vale do Rio Doce, Serra do Mar e Mantiqueira - área típica de mares de morro) recebe a denominação de Zona da Mata Mineira.
Em São Paulo, às matas tropicais penetram o ínterior dos planaltos, onde formam mosaicos e matas em solos calcários e de terras roxas. Aparecem penetrações de araucárias nas grandes altitudes da Serra da Mantiqueira e no Planalto da Bocaina.
Na Serra do Jardim (em Valinhas, Vinhedo) nos altos da Serra do Japí (em Jundiaí), nos campos e matacões (em Salto e ltu) e na Serra de São Francisco (em Rio Claro), ocorrem mini-redutos de cactáceas e bromélias.
Por fim, é necessário registrar as matas tropicais densas do norte do Paraná em dois trechos: no Pontal do Paranapanema e no litoral, com penetrações na faixa ocidental de Santa Catarina.
No Rio Grande do Sul, há a ocorrência de planaltos no norte gaúcho e na Serra Gaúcha (Aparados). O domínio dos mares de morros constitui um fator para o conhecimento rnoriogenético das áreas intertropicais.
5. Amazônia brasileira: um macrodomínio
A Amazônia destaca-se pela continuidade de suas florestas, pela ordem de grandeza de sua principal rede hidrográfica e pela variação de seus ecossistemas; tanto em nível regional corno de altitude. Trata-se do cinturão de maior diversidade biológica do planeta.
Tem um domínio permanente da massa de ar úmido, de grande nebulosidade, de baixa amplitude térmica e de ausência de pronunciadas estações secas em quase todo os seis subespaços regionais.
Nas áreas periféricas, observa-se forte sazonalidade. incluindo a 'triagem., que vai desde o oeste de Rondônia até o Acre. Essa quantidade de água, na Amazônia, é resultado direto da excepcional pluviosidade: a bacia Amazônia corresponde a 20% da água doce do planeta.
Os critérios populares para a classificação da malha hidrográfica têm valor científico: as cores dos rios, a ordem de grandeza dos cursos d'água, sua largura, volume e posição fisiográfica, assim como o sentido, continuidade e duplicidade da correnteza.
As imagens de satélites apontam uma visualização mais completa e integrada do caótico quadro de produção de espaços antrópicos sobre a natureza da região. Várias atividades são responsáveis pela devastação da Amazônia: fracassos agropecuários, rodovias, Ioteamentos de espaços silvestres com ausência administrativa, derrubadas e queimadas.
6. Caatinga: o domínio dos sertões secos
O domínio das caatingas é um dos três espaços semi-áridos da América do Sul. A caatinga é a área seca mais homogênea do ponto de vista fisiográfico, ecológico e social.
As razôes da existência de um grande espaço semi-árido, insulado num quadrante de um continente predominantemente úmido, são complexas.
Os rios do Nordeste chegam ao mar (são exorreicos); são intermitentes, periódicos, com solos salinizados (Rio Grande do Norte: estuários assoreados para a produção de sal) e depende das condições climáticas.
Poucos rios são perenes (rios que vêm de longe) como o São Francisco ("Velho Chico", "Nilo Caboclo. ou 'Brasileiro') e o Parnaíba (entre o Maranhão e Piauí). A população se concentra nas áreas de maior umidade: entre o sertão, uma área de criação extensiva de gado, e o agreste, terras para a criação de caprinos (produção de leite) e sequeiros - plantas forrageiras como milho, feijão e mandioca.
Essa região teve fortes fluxos de migração entre 1950, 1960 e 1970.
Tem um comércio intenso no interior, representado por grandes feiras: Caruaru, Feira de Santa na, Juazeiro do Norte e outras.
A iniciativa estatal foi de grande importância para a economia e sociedade nordestinas. Houve a construção de grandes usinas hidrelétricas, estimulos à industrialização, programas de açudagem, irrigação, perfuração de poços, irrigação das áreas de sequeiros e revisão dos lençóis d'água.
7. Planaltos de Araucárias e pradarias místas
O Brasil Meridional é uma área onde a tropicalidade se perde.
Area de cobertura vegetal, com bosques de araucárias e climas temperados e úmidos, principalmente nas grandes altitudes planálticas. Tem rios perenes com dois períodos de cheias.
Ao lado dessa cobertura vegetal, aparecem formações de cerrados, matas tropicais e pradarias mistas.
Para entender a geologia e a geomorfologia do sul do Brasil, é necessário partir do perfilleste-oeste dos três estados do sul do Brasil:
1) Primeiro Planalto: Área cristalina que acompanha o Atlântico (Planalto do Paraná, Serra Geral e Aparados).
2) Segundo Planalto: .Área sedimentar com depressões e chapadões. Possui áreas carboniferas em Santa Catarina, Uruçanga, Criciúma, Lauro Múller e colinas do baixo Jacui (no Rio Grande do Sul). Formações uniformes, como é o caso de Vila Velha, no Paraná.
3) Terceiro Planalto: Área de solos sedimentares (arenito) e vulcânicos (basaltos); região de cuestas e solos de terra roxa. No Rio Grande do Sul, aparecem colinas onduladas conhecidas como coxilhas, formando a Campanha Gaúcha.
O povoamento do sul do pais compõe um capitulo á parte:- Colonização alemâ: desde o Vale dos Rios dos Sinos até os sopés das serranias, rincões de Nova Petrópolis, Canela e Gramado. Em Santa Catarina, no Vale do rio ltajaí-Açu.
- Colonização italiana: região dos vinhedos (Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Farroupilha), dirigindo-se também para o oeste e norte do Rio Grande do Sul e para o oeste de Santa Catarina e do Paraná.- Luso-brasileiros: de Laguna até a região costeira, indo também para a barra da Lagoa dos Patos (Colônia de Sacramento).-Açorianos: colonizaram as coxilhas da depressão de Porto Alegre até o rio Pardo e Santa Maria, destaque para a região metropolitana de Porto Alegre (Porto dos Casais), importante centro cultural universitário, industrial e porto fluvial
8. O Domínio dos cerrados
Paisagem que domina grande parte do Brasil Central, também ocorre em Minas Gerais, São Paulo, Bahia, Piaui, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Roraima e Pará.
. Apresenta uma vegetação típica e um clima tropical úmido e seco.
É o segundo maior bíoma do Brasil. Possui vários aspectos fisionômicos: árvores (cerradões), cerrados e campos sujos (vegetação arbustiva e herbácea). Vegetação com variedade de espécies: árvores de troncos finos, retorcidos e de cascas grossas (cortiça).
A densidade da drenagem nessa região é baixa (o Planalto Central é o divisar d'água). Os rios são perenes, do tipo fluvial tropical (cheias de verão e vazantes de inverno).
Os componentes de relevo na área central dos cerrados são produtos de condicionantes climáticos.
Quanto ao relevo, o Planalto Central é a principal unidade geomorfológica, composto por terrenos cristalinos (erodidos) e sedimentares (chapadas e chapadões). Nesse dominio, em função da existência de solos ácidos, sempre prevalece a prática da pecuária extensiva para o corte, o que determina um grande desmatamento para a formação de pastagens.
Recentemente, verifica-se a correção dos solos ácidos (calagem) e o inicio de uma atividade agricola mais intensa (soja, milho, tomate, laranja).
Ao sul desse domínio, observa-se a existência de solos mais férteis (terra roxa), com intensa atividade agrícola (regiâo de Dourados e Campo Grande, no Mato Grosso do Sul).
Além das atividades agrárias e da pecuária extensiva, a expansão urbana e a construção de rodovias e ferrovias contribuem para a ocupação irregular dos cerrados.
É necessário observar três diretrizes básicas para conciliar desenvolvimento e proteção dos patrimônios genéticos:
1) Exigir a preservação dos cerrados e cerradões localizados nas áreas elevadas dos interflúvios (bancos genéticos).
2) Preservação de faixas de cerrados e campestres nas baixas vertentes dos chapadões.
3) Congelamento total do uso dos solos que se encontram nas faixas de matas de galeria, com vistas á preservação múltipla das faixas aluviais florestadas, assim como das veredas existentes á sua margem.
9. Domínio da natureza e famílias de ecossistemas
O conceito de ecossistema foi introduzido na Ciência por Arthur Tansley, em 1935. É o sistema ecológico de uma região, que envolve fatores abióticos e bióticos do local. O termo "bioma" passou a ser utilizado por biólogos de vários países, ás vezes se confundindo com o termo ecossistema. Começou a ser usado com superficialidade e se desdobrou em conceitos de maior aplicabilidade e versatilidade: Bioma, zonobioma, psamobioma, helobioma e rupreste bioma.o Brasil, os biólogos deram preferência ao termo bioma, notadamente rupreste bioma.
Em 1968, George Bertrand publicou uma tipologia de espaços naturais, desdobrada em zonas de paisagens ecológicas, domínios (macro) regionais de natureza e regiões diferenciadas intradomínios. Agregam-se três termos na tentativa de substituir os termos ecossistemas / biomas: geossitemas, geofáceis e geótipo.
ANEXOS
I. Relictos, Redutos e Refúgios (os caprichos da natureza e a capacidade evocadora da terminologia cientifica)
Em linguagem simbólica, usamos expressões conceituais para designar "ilhas" de vegetação: relictos, enclaves, redutos e refúgios.
- Relictos: Aplicada para designar qualquer espécie vegetal. Encontrada em uma localidade específica e circundada por vários trechos de outros ecossistemas. - Enclave, redutos e refúgios: Manchas de ecossistemas típicos de outras províncias, encravadas no interior de um dominio de natureza diferente - refletem a dinâmica de mudanças dimáticas e paleoecológicas.
II. Cerrados e Mandacarus
Área de Salto-Itu e referência para investigações envolvendo condições climáticas do passado.
Essa região e seus arredores apresentam uma das mais importantes paisagens fitogeográficas e geológicas do Brasil. Encontra-se grande cobertura vegetal, ecossistemas de cerrados cactáceos residuais (mandacarus), matas de fundo de vales e encostas baixas.
A presença de caatingas na região é anterior à presença dos cerrados, das manchas florestais biodiversas do fundo dos vales regionais e dos setores das serranias de São Roque (Jundiai). Indui as laterais da Serra do Jardim (ValinhosVinhedo) e da Serra do Japi (Jundiaí).
Provavelmente, a região apresentava, em um passado geológico, períodos semiáridos.
III. Paisagens de exceção e canyons brasileiros Paisagens de exceção constituem fatos isolados, de diferentes aspectos físicos e ecológicos inseridos no corpo das paisagens naturais.
Destacam-se:
1) Exemplos de topografia ruiniformes:
- Piauí: Sete Cidades de Piracuruca e Serra da Capivara.
- Sudeste de Goiás: Torres do Rio Bonito.
- Norte de Tocantins: Segundo Planalto do Paraná (Vila Velha).
- Mato Groso: Chapada dos Guimarães.
- Pontões rochosos do tipo pão-de-açúcar.
- Peóedos ou "Dedos de Deus", no Rio de Janeiro, Teresópolis, Vitória e pontos da Serra do Mar.
2) Icebergs, sob a forma de montes e ilhas rochosas, pontilham nos domínios das caatingas: em Milagres (Bahia), Quixadá, Jaguaribe e Sobral (Ceará) e regiâo de Patos, no alto do sertão da Paraíba.
3) Maciços elevados (900-1000 m), voltados para ventos úmidos do leste e sudeste nos sertões secos, apresentam florestas tropicais de encostas e "pé-de-eserra".
4) Canyons brasileiros envolvendo grandes variedades de nomes: gargantas, rasgões, boqueirães, grutas largas, sovacães, itambés, passos fundos, desfiladeiros e estreitos. Estão no Piauí, Paraná e sudeste de Goiás.
5) O maciço de ltatiaia (RJ) e a alta meseta do Pico de Roraíma são exceções nos altiplanos do Brasil.
6) No caso das planicies, a exceção vai para a Planicie do Pantanal.
Síntese elaborada por Maria E. B. de Camargo
POTENCIALlDADES:PAISAGENS BRASILEIRAS A paisagem é a herança (de processos fisiográficos e biológicos) e patrimônio coletivo dos povos que as herdam. É o território de atuação das suas comunidades.
1. Os grandes domínios paisagísticos brasileiros
O território brasileiro apresenta um mostruário complexo de paisagens ecológicas do mundo tropical. Existem seis grandes dominios paisagísticos. Quatro são intertropicais e dois subtropicais:
1) Terras baixas florestadas da Amazônia.
2) As depressões interplanálticas.
3) Os 'mares de morros".
4) Os chapadões cobertos por cerrados e penetrados por florestas galerias. 5) Os planaltos das Araucárias.
6) Domínios das pradarias mistas.
2. "Mares de monros", cerrados e caatingas:
Geomorfologia comparada
Existem, grosso modo, três imensos domínios morfocIimáticos. São recobertos por três das principais províncias fitogeográficas do mundo tropical:
1) Domínio das regiões serranas, de morros mame/anares do Sudeste: Uma área de climas tropicais e subtropicais úmidos. Inclui a zona da mata, atingindo o sul e a parte oriental do Brasil.
2) Domínio dos chapadões tropicais do Brasil Central: Area sub-quente. de regime pluviométrico e duas estações (verões chuvosos e invernos secos). Presente na zona dos cerrados e florestas galerias.
3) Domínios das depressões intermontanas e interplanálticas do Nordeste semiárido: É a área subequatorial e tropical semi-árida. Abrange a zona das caatingas.
3. Nos vastos espaços dos cerrados
Nas áreas de cerrados (muito destruídas, atualmente, pela ação antrópica), existiam florestas baixas, de troncos finos e esguios. As principais regiôes que sofreram as alterações foram: Triângulo Mineiro, Mato Grosso (sentido leste-oeste e sul-norte) e o centro de Goiás.Os cerrados, também chamados de campos cerrados, formam um conjunto semelhante aos cerradões. Os.climas apresentam o mesmo regime: as temperaturas apresentam médias anuais mínimas entre 20 e 22"C e máximas entre 24 a 26OC. A umidade do ar atinge níveis muito baixos no inverno e muito elevados no verâo.
A aparência xeromórfica de muitas espécies do cerrado é falsa: trata-se de um pseudoxeromorfismo.
A combinação de fatores fisicos, ecológicos e bióticos que caracterizam o cerrado é, na aparência, homogênea, extensível a grandes espaços. É uma área formada nâo apenas por chapadôes, mas trata-se de um dominio morfocIimático onde ocorre a maior extensividade de formas homogêneas relativas de todo o Planalto Brasileiro (Planalto Central).
Durante um longo período geológico (de 12 a 18 mil anos), as principais mudanças ocorridas foram:
- O conjunto de cerrados, no Planalto Central, era menor e menos continuo.
- Chapadas areníticas, de Urucaia, tiveram climas secos. cerrados degradados, estepes ou manchas de caatingas.
- Catingas predominavam no norte das bordas acidentadas (região de Brasília). - No extremo sul de Mato Grosso, onde existem campos de vacaria, ocorriam sub-estepes e campos limpos, com climas mais frios e secos.
- Onde ocorrem as Matas de Dourados, deveriam ocorrer bosques subtropicais. - Os cerradões formam um patrimônio biológico arcaico. Quando degredados por ações antrópicas, não se refazem facilmente e não se recompõe. Os cerrados, por sua vez, foram deles originados e resistem às ações antrópicas.
4. Domínío Tropical Atlântico
No conjunto do território intertropical e subtropical brasileiro, destaca-se o contínuo norte-sul das Matas Atlânticas, na categoria de segundo complexo principal. Originalmente, cobria o sudeste do Rio Grande do Norte e o sudeste de Santa Catarina, incluindo três enclaves: as matas biodiversas da Serra Gaúcha, as florestas de Iguaçu e as do extremo oeste dos planaltos paranaenses.
As florestas tropicais costeiras formam áreas de transição com as áreas de caatingas, cerrados, cerradôes campestres e planaltos de araucárias. Uma das mais famosas áreas de transição entre a zona da mata e os sertões é conhecida corno 'agreste'.
As matas tropicaís estão associadas às altas temperaturas e forte umidade (exemplo: Serra do ltapanhaú, em Bertioga, com índices pluviométricos superiores a 4.500 mm anuais
Atingem a linha da costa, cobrindo tabuleiros no Nordeste, esporões e costôes ria Serra do Mar (pães-de-açúcar, penedos e pontões rochosos). Entre as matas tropitais e o litoral, destacam-se formações de restingas (faixas arenosas com coberfura floristica).
Minas Gerais (Vale do Rio Doce, Serra do Mar e Mantiqueira - área típica de mares de morro) recebe a denominação de Zona da Mata Mineira.
Em São Paulo, às matas tropicais penetram o ínterior dos planaltos, onde formam mosaicos e matas em solos calcários e de terras roxas. Aparecem penetrações de araucárias nas grandes altitudes da Serra da Mantiqueira e no Planalto da Bocaina.
Na Serra do Jardim (em Valinhas, Vinhedo) nos altos da Serra do Japí (em Jundiaí), nos campos e matacões (em Salto e ltu) e na Serra de São Francisco (em Rio Claro), ocorrem mini-redutos de cactáceas e bromélias.
Por fim, é necessário registrar as matas tropicais densas do norte do Paraná em dois trechos: no Pontal do Paranapanema e no litoral, com penetrações na faixa ocidental de Santa Catarina.
No Rio Grande do Sul, há a ocorrência de planaltos no norte gaúcho e na Serra Gaúcha (Aparados). O domínio dos mares de morros constitui um fator para o conhecimento rnoriogenético das áreas intertropicais.
5. Amazônia brasileira: um macrodomínio
A Amazônia destaca-se pela continuidade de suas florestas, pela ordem de grandeza de sua principal rede hidrográfica e pela variação de seus ecossistemas; tanto em nível regional corno de altitude. Trata-se do cinturão de maior diversidade biológica do planeta.
Tem um domínio permanente da massa de ar úmido, de grande nebulosidade, de baixa amplitude térmica e de ausência de pronunciadas estações secas em quase todo os seis subespaços regionais.
Nas áreas periféricas, observa-se forte sazonalidade. incluindo a 'triagem., que vai desde o oeste de Rondônia até o Acre. Essa quantidade de água, na Amazônia, é resultado direto da excepcional pluviosidade: a bacia Amazônia corresponde a 20% da água doce do planeta.
Os critérios populares para a classificação da malha hidrográfica têm valor científico: as cores dos rios, a ordem de grandeza dos cursos d'água, sua largura, volume e posição fisiográfica, assim como o sentido, continuidade e duplicidade da correnteza.
As imagens de satélites apontam uma visualização mais completa e integrada do caótico quadro de produção de espaços antrópicos sobre a natureza da região. Várias atividades são responsáveis pela devastação da Amazônia: fracassos agropecuários, rodovias, Ioteamentos de espaços silvestres com ausência administrativa, derrubadas e queimadas.
6. Caatinga: o domínio dos sertões secos
O domínio das caatingas é um dos três espaços semi-áridos da América do Sul. A caatinga é a área seca mais homogênea do ponto de vista fisiográfico, ecológico e social.
As razôes da existência de um grande espaço semi-árido, insulado num quadrante de um continente predominantemente úmido, são complexas.
Os rios do Nordeste chegam ao mar (são exorreicos); são intermitentes, periódicos, com solos salinizados (Rio Grande do Norte: estuários assoreados para a produção de sal) e depende das condições climáticas.
Poucos rios são perenes (rios que vêm de longe) como o São Francisco ("Velho Chico", "Nilo Caboclo. ou 'Brasileiro') e o Parnaíba (entre o Maranhão e Piauí). A população se concentra nas áreas de maior umidade: entre o sertão, uma área de criação extensiva de gado, e o agreste, terras para a criação de caprinos (produção de leite) e sequeiros - plantas forrageiras como milho, feijão e mandioca.
Essa região teve fortes fluxos de migração entre 1950, 1960 e 1970.
Tem um comércio intenso no interior, representado por grandes feiras: Caruaru, Feira de Santa na, Juazeiro do Norte e outras.
A iniciativa estatal foi de grande importância para a economia e sociedade nordestinas. Houve a construção de grandes usinas hidrelétricas, estimulos à industrialização, programas de açudagem, irrigação, perfuração de poços, irrigação das áreas de sequeiros e revisão dos lençóis d'água.
7. Planaltos de Araucárias e pradarias místas
O Brasil Meridional é uma área onde a tropicalidade se perde.
Area de cobertura vegetal, com bosques de araucárias e climas temperados e úmidos, principalmente nas grandes altitudes planálticas. Tem rios perenes com dois períodos de cheias.
Ao lado dessa cobertura vegetal, aparecem formações de cerrados, matas tropicais e pradarias mistas.
Para entender a geologia e a geomorfologia do sul do Brasil, é necessário partir do perfilleste-oeste dos três estados do sul do Brasil:
1) Primeiro Planalto: Área cristalina que acompanha o Atlântico (Planalto do Paraná, Serra Geral e Aparados).
2) Segundo Planalto: .Área sedimentar com depressões e chapadões. Possui áreas carboniferas em Santa Catarina, Uruçanga, Criciúma, Lauro Múller e colinas do baixo Jacui (no Rio Grande do Sul). Formações uniformes, como é o caso de Vila Velha, no Paraná.
3) Terceiro Planalto: Área de solos sedimentares (arenito) e vulcânicos (basaltos); região de cuestas e solos de terra roxa. No Rio Grande do Sul, aparecem colinas onduladas conhecidas como coxilhas, formando a Campanha Gaúcha.
O povoamento do sul do pais compõe um capitulo á parte:- Colonização alemâ: desde o Vale dos Rios dos Sinos até os sopés das serranias, rincões de Nova Petrópolis, Canela e Gramado. Em Santa Catarina, no Vale do rio ltajaí-Açu.
- Colonização italiana: região dos vinhedos (Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Farroupilha), dirigindo-se também para o oeste e norte do Rio Grande do Sul e para o oeste de Santa Catarina e do Paraná.- Luso-brasileiros: de Laguna até a região costeira, indo também para a barra da Lagoa dos Patos (Colônia de Sacramento).-Açorianos: colonizaram as coxilhas da depressão de Porto Alegre até o rio Pardo e Santa Maria, destaque para a região metropolitana de Porto Alegre (Porto dos Casais), importante centro cultural universitário, industrial e porto fluvial
8. O Domínio dos cerrados
Paisagem que domina grande parte do Brasil Central, também ocorre em Minas Gerais, São Paulo, Bahia, Piaui, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Roraima e Pará.
. Apresenta uma vegetação típica e um clima tropical úmido e seco.
É o segundo maior bíoma do Brasil. Possui vários aspectos fisionômicos: árvores (cerradões), cerrados e campos sujos (vegetação arbustiva e herbácea). Vegetação com variedade de espécies: árvores de troncos finos, retorcidos e de cascas grossas (cortiça).
A densidade da drenagem nessa região é baixa (o Planalto Central é o divisar d'água). Os rios são perenes, do tipo fluvial tropical (cheias de verão e vazantes de inverno).
Os componentes de relevo na área central dos cerrados são produtos de condicionantes climáticos.
Quanto ao relevo, o Planalto Central é a principal unidade geomorfológica, composto por terrenos cristalinos (erodidos) e sedimentares (chapadas e chapadões). Nesse dominio, em função da existência de solos ácidos, sempre prevalece a prática da pecuária extensiva para o corte, o que determina um grande desmatamento para a formação de pastagens.
Recentemente, verifica-se a correção dos solos ácidos (calagem) e o inicio de uma atividade agricola mais intensa (soja, milho, tomate, laranja).
Ao sul desse domínio, observa-se a existência de solos mais férteis (terra roxa), com intensa atividade agrícola (regiâo de Dourados e Campo Grande, no Mato Grosso do Sul).
Além das atividades agrárias e da pecuária extensiva, a expansão urbana e a construção de rodovias e ferrovias contribuem para a ocupação irregular dos cerrados.
É necessário observar três diretrizes básicas para conciliar desenvolvimento e proteção dos patrimônios genéticos:
1) Exigir a preservação dos cerrados e cerradões localizados nas áreas elevadas dos interflúvios (bancos genéticos).
2) Preservação de faixas de cerrados e campestres nas baixas vertentes dos chapadões.
3) Congelamento total do uso dos solos que se encontram nas faixas de matas de galeria, com vistas á preservação múltipla das faixas aluviais florestadas, assim como das veredas existentes á sua margem.
9. Domínio da natureza e famílias de ecossistemas
O conceito de ecossistema foi introduzido na Ciência por Arthur Tansley, em 1935. É o sistema ecológico de uma região, que envolve fatores abióticos e bióticos do local. O termo "bioma" passou a ser utilizado por biólogos de vários países, ás vezes se confundindo com o termo ecossistema. Começou a ser usado com superficialidade e se desdobrou em conceitos de maior aplicabilidade e versatilidade: Bioma, zonobioma, psamobioma, helobioma e rupreste bioma.o Brasil, os biólogos deram preferência ao termo bioma, notadamente rupreste bioma.
Em 1968, George Bertrand publicou uma tipologia de espaços naturais, desdobrada em zonas de paisagens ecológicas, domínios (macro) regionais de natureza e regiões diferenciadas intradomínios. Agregam-se três termos na tentativa de substituir os termos ecossistemas / biomas: geossitemas, geofáceis e geótipo.
ANEXOS
I. Relictos, Redutos e Refúgios (os caprichos da natureza e a capacidade evocadora da terminologia cientifica)
Em linguagem simbólica, usamos expressões conceituais para designar "ilhas" de vegetação: relictos, enclaves, redutos e refúgios.
- Relictos: Aplicada para designar qualquer espécie vegetal. Encontrada em uma localidade específica e circundada por vários trechos de outros ecossistemas. - Enclave, redutos e refúgios: Manchas de ecossistemas típicos de outras províncias, encravadas no interior de um dominio de natureza diferente - refletem a dinâmica de mudanças dimáticas e paleoecológicas.
II. Cerrados e Mandacarus
Área de Salto-Itu e referência para investigações envolvendo condições climáticas do passado.
Essa região e seus arredores apresentam uma das mais importantes paisagens fitogeográficas e geológicas do Brasil. Encontra-se grande cobertura vegetal, ecossistemas de cerrados cactáceos residuais (mandacarus), matas de fundo de vales e encostas baixas.
A presença de caatingas na região é anterior à presença dos cerrados, das manchas florestais biodiversas do fundo dos vales regionais e dos setores das serranias de São Roque (Jundiai). Indui as laterais da Serra do Jardim (ValinhosVinhedo) e da Serra do Japi (Jundiaí).
Provavelmente, a região apresentava, em um passado geológico, períodos semiáridos.
III. Paisagens de exceção e canyons brasileiros Paisagens de exceção constituem fatos isolados, de diferentes aspectos físicos e ecológicos inseridos no corpo das paisagens naturais.
Destacam-se:
1) Exemplos de topografia ruiniformes:
- Piauí: Sete Cidades de Piracuruca e Serra da Capivara.
- Sudeste de Goiás: Torres do Rio Bonito.
- Norte de Tocantins: Segundo Planalto do Paraná (Vila Velha).
- Mato Groso: Chapada dos Guimarães.
- Pontões rochosos do tipo pão-de-açúcar.
- Peóedos ou "Dedos de Deus", no Rio de Janeiro, Teresópolis, Vitória e pontos da Serra do Mar.
2) Icebergs, sob a forma de montes e ilhas rochosas, pontilham nos domínios das caatingas: em Milagres (Bahia), Quixadá, Jaguaribe e Sobral (Ceará) e regiâo de Patos, no alto do sertão da Paraíba.
3) Maciços elevados (900-1000 m), voltados para ventos úmidos do leste e sudeste nos sertões secos, apresentam florestas tropicais de encostas e "pé-de-eserra".
4) Canyons brasileiros envolvendo grandes variedades de nomes: gargantas, rasgões, boqueirães, grutas largas, sovacães, itambés, passos fundos, desfiladeiros e estreitos. Estão no Piauí, Paraná e sudeste de Goiás.
5) O maciço de ltatiaia (RJ) e a alta meseta do Pico de Roraíma são exceções nos altiplanos do Brasil.
6) No caso das planicies, a exceção vai para a Planicie do Pantanal.
Síntese elaborada por Maria E. B. de Camargo
Esse é o Mazuca que eu conheço!
ResponderExcluirgaroto dedicado às causas sociais. É isso aí mazuca, o mundo precisa de mais pessoas como vc! Força nessa sua caminhada.
Abração.
Alexandre Aldo.
Grande Aldo!!!
ResponderExcluirSó a luta muda a vida!!
abraços!
ñ ta o que eu pedi eu quero a musica
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