terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Técnica, Espaço e Tempo - Milton Santos

Técnica, Espaço e Tempo (clic na Imagem e acesseo livro digital)



Resenha: Técnica, Espaço, Tempo: Globalização e Meio Técnico-Científico Informacional
Autor: Milton Santos
Espaço e Globalização
Globalização e redescoberta da natureza.
A historia do homem sobre a terra é a história de uma ruptura progressiva entre o homem e seu entorno. Tendo a natureza artificializada um grande marco na grande mudança na historia humana da natureza. Hoje, com a tecnociência, alcançamos o estado supremo dessa evolução;
“A mundialização do planeta unifica a natureza”, mesmo esta já sendo uma sem o homem, porém a unifica em prol de uma lógica hemonica;
“A natureza tecnicizada acaba por ser uma natureza abstrata, já que as técnicas insistem em imita-la e acabam conseguindo”. Considerando que todos os objetos, hoje, são técnicos e providos de intencionalidade, que exigem ações e discursos específicos, tão artificiais como as coisas que explicam e tão enviesados como as ações que ensejam;
Como, hoje, as condições de vida estão cada vez mais desenraizadas, aumenta exponencialmente a tensão entre a cultura objetiva e subjetiva e, do mesmo modo, se multiplicam os equívocos de nossa percepção, de nossa definição e de nossa relação com o meio;
No atual período a comunicação, imposta pelos objetos, é unilateral e se tratando de uma fala funcional e com caráter hipnótico;
A mediação interessada e interesseira da mídia conduz a doutorização da linguagem, necessária para ampliar o seu credito, e à falsidade do discurso, destinado a empobrecer o entendimento. Hoje, vê-se o medo criando uma natureza midiatica e falsa, além da fantasia, industrializada, que invade todos os momentos e recantos da existência ao serviço do mercado e do poder. Ambos constituem um dado essencial de nosso modelo de vida;
“Quando o meio-ambiente, como Natureza-espetáculo, substitui a natureza histórica, lugar de trabalho de todos os homens, e quando a natureza “cibernética” ou “sintética” substitui a natureza analítica do passado, o processo de ocultação do significado da história atinge seu auge. É também desse modo que se estabelece uma dolorosa confusão entre sistemas técnicos, natureza, sociedade, cultura e moral”;
prestigio crescente do cientificismo, tendo as disciplina incumbidas de encontrar soluções técnicas, as reclamadas soluções praticas, recebem prestigio do mercado. Assim, como estas também se tornam o melhor passaporte para os postos de comando, vendo as ciências, seja em maior ou menor grau, precedendo, coaptando e, até mesmo de certo modo, difundindo o modo capitalista de produção e a sua ideologia condicionadora;

A aceleração contemporânea: tempo e espaço-mundo
A aceleração contemporânea é tanto mais suscetível de ser um objeto da construção de metáforas, porque vivemos plenamente a época dos signos. Que de certo modo tornam o lugar das coisas verdadeiras;
Esta aceleração se dá nas mais variáveis instancias e são, na verdade, acelerações superpostas e concominante; se dando a sensação de um presente que foge;
tempo-mundo é abstrato exceto como relação. No entanto há um tempo universal instrumento de medida hegemônica, evidenciando as diferentes temporalidades, sendo elas hegemônicas ou hegemonizadas.
Assim, o espaço, relacionado intimamente com o tempo, se globaliza, mas é mundial como um todo, senão como metáfora, pois quem se globaliza, mesmo, são as pessoas e os lugares. Tendo, assim espaços hegemônicos e espaços hegemonizados;
A tecnofera e a psicofera, juntas, formam o meio técnico-científico. Tendo ambas como fruto do artifício e havendo mais presença como psicoesfera que como tecnoesfera no meio técnico-científico.
Sendo, “a psicoesfera é o resultado das crenças, desejos, vontades e hábitos que inspiram comportamentos filosóficos e práticos, as relações interpessoais e a comunhão com o Universo”. Enquanto “a tecnoesfera é o resultado da crescente artificialização do meio ambiente”;
Através do meio técnico-científico, permite a classificação de espaços racionais e, onde se dão estes elementos de modo mais acentuados, espaços “irracionais”, que de certo modo são desprovidos e recebem ordens dos ditos espaços racionais;
Nos espaços racionais, o mercado é tornado tirânico e o Estado tende a ser impotente para facilitar a fluxos hegemônicos.
Estes fluxos hegemônicos, ou seja, a fluidez é a condição, pois a ação hegemônica se baseia na competitividade.
Assim, sem a aceleração contemporânea, a competitividade não seria possível, nem seria viável sem os progressos técnicos recentes e sem a correspondente fluidez do espaço;
As dimensões mundiais são as organizações ditas mundiais. No entanto, o mundo da globalização é contrariado no lugar, mas se este nos engana é por conta do mundo, pois o lugar é a extensão do acontecer solidário ou do acontecer homogêneo e que se caracteriza que por suas especificidades que o constitui, seja sua configuração territorial, organização ou seus regimes de regulação, que se dão concomitantemente e de modo interdependente;
“Os fenômenos não se definem, apenas, pela sua duração, mas também e, sobretudo, pela sua estrutura”;
“O cotidiano é a quinta dimensão do espaço”, devido a espessura, a profundidade do acontecer, graças ao número e diversidade enormes de objetos de que é formado e ao número exponencial de ações que o atravessam. Nesse sentido, pode-se dizer que o tempo é determinado pelo espaço;

Tempo e espaço-mundo ou, apenas tempo e espaço hegemônico?
Por tempo pode entender “a sucessão dos eventos e sua trama”. Por espaço entende-se “o meio, o lugar material da possibilidade de eventos”. E por mundo, “a soma, que é também síntese, de eventos e lugares”;
Tempo, espaço e mundo são realidades históricas, mutuamente conversíveis, quando a preocupação epistemológica é totalizadora. Sendo, o ponto de partida é a sociedade humana realizando-se, o que se dá sobre uma base material;
Empiriza-se o tempo tornando-o material, desse modo assimila-o ao espaço. No qual a técnica se dá como elemento de ligação, historicamente e epistemologicamente.
Assim, a técnica possibilita a empirizacao do tempo e uma qualificação precisa da materialidade sobre a qual as sociedades humanas trabalham.
Sendo que ao longo da historia, as técnicas se dão como sistemas, diferentemente caracterizados. Hoje, os sistemas técnicos se tornaram mundiais, mesmo que sua distribuição geográfica seja, como antes, irregular e o seu uso social seja, como antes, hierárquico;
espaço é tornado único, à medida que os lugares se globalizam. Cada lugar revela o mundo, já que todos os lugares, atualmente, são sucetíveis de intercomunicação;
A unificação do espaço em escala global tem como replica a unificação do tempo, mas também este sendo unificado pela generalização de necessidades fundamentais à vida do homem, de gostos e desejos, tornados como uns em escala mundial;
meio técnico-científico informacional é um meio geográfico onde o território inclui obrigatoriamente ciência, tecnologia e informação, cujas são a base técnica da vida social atual;
A unificação temporal, em busca de sua harmonização, cria um conflito permanente entre o tempo hegemônico das grandes corporações e o tempo hegemônico dos Estados, além do conflito existente entre o tempo destes atores hegemônicos com o tempo dos atores não hegemônicos. É assim que se definem, a partir do uso do espaço e do tempo, os cotidianos tão diversos;
Os espaços hegemônicos se instalam no processo de globalização, como das trocas e de produção de interesse mundial, lugares que exercem um tempo mundial – tempo hegemônico – e onde se instalam forças reguladoras das ações nos demais lugares. É assim que os lugares diversos e tempos diversos se unem, hierarquicamente, no que pode ser chamado de um espaço mundial e um tempo mundial;

Os espaços da globalização
“A globalização constitui o estagio supremo da internacionalização, a amplificação em sistema mundo de todos os lugares e de todos os indivíduos, embora em graus diversos”;
“O espaço é um conjunto indissociável de sistema de objetos naturais ou fabricados e de sistemas de ações, deliberadas ou não”;
Os objetos técnicos são tanto mais eficazes quanto melhor se adaptam as ações visadas, sendo este o cerne constituinte do espaço e que define, de certo modo, as ações;
meio geográfico em via de constituição (ou de reconstituição) tem uma substancia científico-tecnológico informacional. Não é nem meio natural, nem meio técnico. A ciência, a tecnologia e a informação estão na base mesma de todas as formas de utilização e funcionamento do espaço, da mesma forma que participam da criação de novos processos vitais e da produção tanto está presente nas coisas como é necessária à ação realizada sobre essas coisas;
Em relação a composição quantitativa e qualitativa dos subespaços (aportes da ciência, da tecnologia e da informação) definiria, através da quantidade de existência destes aportes, zonas luminosas, zonas opacas e uma infinidade de situações intermediarias.
Assim, o espaço se converte num dado de regulação, seja pela horizontalidade (o processo direto da produção), mais freqüentes em zonas opacas e intermediarias, seja pela verticalidade (os processos de circulação, mais freqüentes em zonas luminosos. Haveria espaços mais ou menos reativos, mais ou menos dóceis às outras formas de regulação);
Quanto maior a inovação dos objetos mais elevada é a escala de fluxos materiais e imateriais.
Os fluxos de informação são responsáveis pelas novas hierarquias e polarizações. Tanto o que se denomina o espaço de fluxos são seus objetos que são dotados de um nível superior de tecnicidade e de ações marcadas de intencionalidade e racionalidade.
Nesse sentido, o espaço global seria formado por redes desiguais. Entanto, assim pode-se dizer que o todo constituiria o espaço banal, isto é, o espaço de todos os homens, de todas as firmas, de todas as organizações, de todas as ações, ou seja, o espaço geográfico;
“As ações hegemônicas se estabelecem e se realizam por intermédio de objetos hegemônicos”;
Pode-se ainda denominar região como “espaço das horizontalidades, onde há uma solidariedade organizacional literalmente teleguiada”;
Quanto mais a globalização se aprofunda, impondo regulações verticais novas as regulações horizontais existentes, tanto mais é a tensão entre a globalidade e localidade, entre o mundo e o lugar. Mas, quanto mais o mundo se afirma no lugar, tanto mais este último se torna único;

Técnica, espaço e tempo
Técnicas, tempo e espaço
As técnicas que, aparentes ou não em uma paisagem, são, todavia, um dos dados explicativos do espaço.
Tais técnicas não têm a mesma idade e se efetivam em relações concreta, que as preside, o que conduz à noção de modo de produção e de relação de produção;
Em qualquer fração do espaço, cada variável revela uma técnica ou tem um conjunto de técnicas particulares, tendo cada uma dessas variáveis a dependência dessas técnicas;
conjunto de temporalidades próprias a cada ponto do espaço, não é dado por uma técnica, tomada isoladamente, mas pelo conjunto de técnicas existentes naquele ponto do espaço.
Entretanto essas variáveis possuem idades diferentes e são passiveis de quantificação e contabilização, já que cada qual provoca combinações especificas. Esta combinação, num lugar, atrelada a um momento histórico, possibilita ao local a acumulação ou desacumulação do capital;
A técnica constitui um elemento de explicação da sociedade, e de cada um dos seus lugares geográficos, mas a técnica por si só não explica nada, pois há formas de atividades, cujas conseqüências não são exclusivamente da estrutura material, nem do arranjo físico dos objetos;
São as relações entre as variáveis de natureza diferente que permitem aproximação da noção de estrutura;
As estruturas, além do movimento que as impele para as mudanças, dispõem de arranjo material e organização funcional, uma forma de ser e ma forma de existir;
A noção de idades de variáveis inclui duas noções paralelas, a de idade tecnológica e a de idade organizacional.
A noção de idade tecnológica é dada em função da idade das técnicas presentes. A noção de idade organizacional está ligada à forma como são dispostos, em termos de espaço e tempo, os fatores de trabalho.
A combinação dessas duas idades explica uma certa combinação de capital e de trabalho aplicada ao ato de produzir. Essa noção pode ser concretizada com a ajuda dos conceitos de composição técnica e composição orgânica do capital;
As idades das variáveis tecnológicas e organizacionais são interligadas e ajuda a explicar, em cada lugar, a presença de certas combinações de tipos de infra-estruturas. Porém, a as infra-estruturas presentes em cada lugar encontram, também, explicação e justificativa fora do lugar;
Em cada lugar o funcionamento das variáveis é sincrônico, trabalhando juntas, por meio de relações funcionais. Desse modo, cada lugar é um sistema espacial, em qualquer momento, não importa qual seja a idade dos elementos;
“Uma vez que o espaço nunca é portador de técnicas da mesma idade ou de variáveis sincrônicas, pode-se dizer que se trata de um espaço assincrônico, ao mesmo tempo revelador e organizador da sincronia”;
“No sistema histórico as variáveis evoluem de maneira assincrônica; no sistema espacial, elas mudam sincronicamente”;
As sincronias e a assincrônia não são realmente opostas, mas complementares, no domínio das relações espaciais, pelo simples fato de que as variáveis são as mesmas. Na realidade, são as defasagens entre as variáveis que explicam as diferenças de organização do espaço;

A forma e o tempo: a história da cidade e o urbano
As idéias que comandam a elaboração da história urbana são, sobretudo a idéia de forma e de tempo. As formas, quando empiricizadas, apresentam-se como objeto. Entretanto, é também necessário empiricizar e precisar o tempo, se dando intermediado pela técnica, mas contida nos objetos;
“A configuração territorial, apresentada ou não em forma de paisagem, é a soma de pedaços de realizações atuais e de realizações do passado”;
“O urbano é freqüentemente o abstrato, o geral, o externo. A cidade é o particular, o concreto, o interno”.
Assim a história de uma dada cidade se produz através do urbano que ela incorpora ou deixa de incorporar;
que existe são modernizações sucessivas, que vistas de fora, demonstram padrões de cidade e urbanização e, vistas de dentro, demonstram padrões urbanos, formas de organização espacial, já que cada periodização, trazendo formas próprias de arrumação de variáveis, permite reconhecer um processo histórico mais geral;
“Há de um lado as formas criadas e, de outro, as formas criadoras, aquelas que após construídas, como se levantam e se impõem, como aquilo que o passado nos herda e implica uma submissão do presente”;

Meio-ambiente construído e flexibilidade tropical
meio ambiente construído se diferencia pela carga maior ou menor de ciência, tecnologia e informação. Tendo o artifício a se sobrepor e substituir a natureza;
Na cidade, as formas novas, criadas para responder as necessidades renovadas, tornam-se mais exclusivas, mais rígida materialmente e funcionalmente, tanto do ponto de vista de sua construção quanto de sua localização, advindo daí a diferença essencial entre as cidades;
Quanto mais os países se modernizam e crescem, mais as grandes cidades associam lógicas externas e lógicas internas subordinadas. Por isso são, cidades criticas, sobretudo porque se tornam cidades sem cidadãos. Tendo, assim, as estruturas mentais forjadas que permitem a abolição da idéia (e da realidade) de espaço público e de homem público;
Hoje, os lugares destinados às atividades hegemônicas são o retrato da intencionalidade que preside à sua criação, intencionalidade exigente e exclusiva cujos modelos são os edifícios e áreas inteligentes. Assim, cada lugar se torna capaz de transmitir valor aos objetos que sobre ele se constroem, do mesmo modo que os edifícios funcionalmente adequados transferem valor às atividades para as quais foram criados;
exercício de uma racionalidade do sistema econômico, mais exatamente do subsistema hegemônico da economia que, desse modo, se superpõe e deforma o sistema social e o sistema cultural, agindo, igualmente, sobre o restante, não hegemônico.
Mas a cidade como um todo resiste a difusão dessa racionalidade triunfante graças ao meio ambiente construído, que é um retrato da diversidade das classes sociais, das diferenças de renda e dos modelos sociais;
No entanto são nestes espaços construídos por formas não atualizadas que a economia não hegemônica encontram as condições de sobrevivência. È nessas condições que as grandes cidades do Terceiro Mundo são, por um lado, rígida sua vocação internacional e, por outro, são dotadas de flexibilidade, graças ao meio ambiente construído que permite a atuação de todos os tipos de capital, e, desse modo, admite a presença de todos os tipos de trabalho;
"O neoliberalismo não se aplica aos objetos, mas apenas as ações que os objetos inovadores tornam mais fluidez e certeiras";

Metrópole: A força dos fracos é sua tempo lento

Com o advento do período técnico-científico permitiu que, na prática, o espaço e tempo se fundissem confundindo-se. Tendo as técnicas, que se realizam através da matéria a união do espaço e tempo, em que tanto os objetos são artificiais quanto as ações tendem a ser artificiosamente instrumentalizadas;
"A noção de sociedade global, noção abstrata, ganha concretude nas cidades, onde os homens e a produção se dão em sistemas, e os lugares também são sistemas";
Quanto maior a cidade, mais numeroso e significativo o movimento, mais vasta e densa a co-presença;
"Se velocidade é força, o pobre, quase imóvel na grande cidade, seria o fraco, enquanto os ricos empanturrados e as gordas classes médias seriam os fortes". Porém, na grande cidade atual a força é dos "lentos", pois não comunham com as imagens, freqüentemente prefabricadas, que são distantes da realidade e assim acabam por descobrir as fabulações;
Cada lugar acolhe, através da história, seu prático-inerte local, formado uma tecnoefera e por uma psicoesfera, ambas suscetíveis de alteração e mudança. Assim se os pobres, homens comuns, os homens "lentos" acabam por ser mais velozes na descoberta do mundo, seu comércio com o prático-inerte não é pacífico, não pode sê-lo, que estão num processo intelectual contraditório;
A temporalidade introjetada que acompanha o migrante se contrapõe à temporalidade que no lugar novo quer abrigar-se no sujeito. Instala-se, assim, um choque de orientações, obrigando a uma nova busca de interpretações;
A psicoesfera pode criar as condições sociais para a aceitação da tecnoesfera, devido a influenciar-se reciprocamente;

Sistemas de objetos, sistemas de ações

Espaço: sistemas de objetos, sistemas de ações

"A análise tem que preceder a critica, para que esta possa ser eficaz e para que se possa elaborar um discurso eficaz";
"Entender o espaço como um conjunto indissociável de sistemas de objetos e de sistemas de ações. Os sistemas de objetos não funcionam e não têm realidade filosófica, isto é, não nos permitem conhecimentos, se os vemos separados dos sistemas de ações";
Hoje o mundo estabelece um novo sistema de natureza, uma natureza que conhece o ápice de sua desnaturalização;
"Os objetos não são as coisas, dados naturais; eles são fabricados pelo homem para serem a fábrica da ação". Esses sistemas de objetos tendem a ser um sistema de objetos concretos que se aproximam cada vez mais da natureza. Objetos cujo valor vem de sua eficácia, de sua contribuição para a sua produtividade da ação econômica e das outras ações, que tendem à unicidade ou a ser o mesmo em toda parte;
Os objetos contemporâneos são sistemas que surgem debaixo de um comando único, dotados de intencionalidade. Sendo também objetos técnicos dotados de uma mecânica própria e funcionalidades próprias, e é nessas condições que aceitam ou recusam ações transmissoras dos processos;
As ações, desse modo, aparecem como ações racionais, obedientes a razão do instrumento, a razão formalizada ação deliberada por outros que recusa ao debate. È uma ação pragmática na qual a inteligência pratica substitui a mediação, em que as ações são obedientes aos objetos;
Assim, os objetos e as ações contemporâneas são necessitados de discursos. O discurso como base das coisas, nas suas propriedades escondidas, e o discurso como base da ação comandada de fora, impelem os homens construir a sua história através da práxis invertidas, pois não há hoje objeto que se use sem discurso;
"O fundamento etimológico da palavra região é perdido, na medida em que há regiões que são apenas regiões do fazer, sem nenhuma capacidade de comando";
Assim, os nexos que definiam a organização regional eram nexos de energia, cada vez mais, hoje, esses nexos de informação, o que possibilita dois recortes espaciais, sendo: as horizontalidades, que são "espaços contínuos, formados por pontos que se agregam sem descontinuidade como na definição tradicional de região". As verticalidades que compreendem a existência de "pontos no espaço que, separados uns dos outros, asseguram o funcionamento global da sociedade e da economia";
As horizontalidades são áreas produtivas e s verticalidades são os sistemas urbanos. Deste modo, nas áreas de agricultura moderna, as cidades são o ponto de interseção entre verticalidades e horizontalidades.
Estando o campo modernizado muito sujeito a um processo de regulação que é comandado pelas forças de mercado hegemônicas, pois o capital hegemônico é mais facilmente difundido no campo, onde as horizontalidades que se estabelecem têm como base material a ciência, a tecnologia e a informação. No entanto, a cidade é um lugar que se recusa a essa difusão rápida e fácil do capital novo, assim é onde se pode associar diversos capitais e por conseqüência diversos trabalhos.

Objetos e ações: dinâmica espacial e dinâmica social

tempo acelerado acentua a diferenciação dos eventos o que aumenta a diferenciação dos lugares;
"Já que o espaço se torna mundial, o ecúmeno se redefine, com a extensão a todo ele do fenômeno de região";
"Regiões são subdivisões do espaço: do espaço total, espaço nacional e mesmo do espaço local, porque as cidades maiores também são passiveis de regionalização. As regiões são um espaço de convivência, meros lugares funcionais do todo, pois, além dos lugares, não há outra forma para existência do todo social que não seja a forma regional";
Hoje, a redefinição do espaço, em que os sistemas de objetos são cada vez mais artificiais e os sistemas de ações tendentes a fins estranhos ao lugar, em que a remodelação espacial se constrói a partir de uma vontade distante e estranha.
"Antes as coisas e os objetos se davam como conjuntos localizados. Eram coleções e não, propriamente, sistemas. Atualmente, os objetos tendem a se dar cada vez mais como sistemas, na medida em que cada dia que passa eles se vão tornando objetos técnicos";
A construção e a localização dos objetos estão subordinados a uma intencionalidade que tanto pode ser puramente mercantil quanto simbólica, senão uma combinação das duas intencionalidades;
Os objetos já não trabalham sem o comando da informação. Uma informação especializada, informação para os objetos, informação nos objetos.
Assim, as ações não são exclusivamente conforme os fins, mas conforme os meios, isto é, conforme os objetos, pois tratam-se de ações com base cientifica, o que conduz freqüentemente á não existência de um debate sobre a validade, já que a ciência mitificada não é discutida, mas se impõe.
Tudo isso cria a necessidade de um discurso; criando na sociedade os especialistas dos discursos especiais, ao mesmo tempo em que se debilita a criação do homem capaz de fazer discurso do todo;
"Os objetos tem um discurso, que vem de sua estrutura interna e revela sua funcionalidade. É o discurso do uso, mas também, o da sedução";
Os espaços comandados pelo meio técnico-científico são os espaços de mandar, os outros são os espaços de obedecer.
A nova relação entre as regiões tem esse novo de ciência, tecnologia, informação, mas também dessa racionalidade outorgada pelas ações e pelos objetos. A nova centralidade depende dessa racionalidade que não se dá igualmente em toda parte.
A existência dessa racionalidade supõe contra-racionalidade. Essas contra-racionalidades se localizam, de um ponto de vista geográfico, nas áreas menos "modernas" e, do ponto de vista social, nas minorias - excluídos social -.
Por isso, as cidades, sobretudo as grandes cidades, são o lugar da revolta, devido que muita das imagens e razoes impostas não são aceitas.

Os grandes objetos: sistema de ação e dinâmica espacial

"As grandes coisas artificiais, grandes objetos, produto da historia dos homens e dos lugares, localizados no espaço" e que lhe compõe, atribuindo funcionalidade especifica e remodelando a dinâmica espacial.
espaço que pode ser enfocado como "a reunião dialética de fixos e fluxos; o espaço como conjunto contraditório, formado por uma configuração territorial e por relações de produção, relações sociais; o espaço formado por um sistema de objetos e um sistema de ações". Hoje os fixos são cada vez mais artificiais e fixos e os fluxos são cada vez mais diversos, mais amplos, mais numerosos, mais rápidos;
sistema de objetos e o sistema de ações interagem. Sendo que o sistema de objetos condicionam a forma como se dão as ações e o sistema de ações leva á criação de objetos novos ou se realiza sobre objetos preexistentes. E assim que o espaço encontra sua dinâmica e se transforma;
Os sistemas técnicos mais atuais, ou seja, os sistemas técnicos dominantes tendem a ter a mesma composição em todos os lugares e cada vez mais eles exigem uma unidade de comando;
Os objetos são criados com intencionalidades precisas, com um objeto claramente estabelecido de antemão, do mesmo modo que é localizado de forma adequada a que produza os resultados que dele se esperam.
Assim, os objetos são instalados obedecendo a uma lógica que normalmente é estranha ao lugar e que dotados de intencionalidade mercantil, porém que freqüentemente necessita ser simbólica antes;
Essa necessidade de discurso inerente aos objetos técnicos produz, o que poderia denominar de harmonia preestabelecida.
"Os objetos técnicos atuais são dotados de uma enorme capacidade de invasão, mas essa invasão é limitada exatamente porque esses objetos estão a serviço de atores e forças que somente se aplicam se têm a garantia do retorno aos seus investimentos.

Meio técnico-científico informacional

Período técnico-científico e os estudos geográficos

O espaço tem um papel privilegiado, uma vez que se cristaliza os momentos anteriores e é o lugar entre o encontro do passado e do futuro, mediante as relações sociais do presente que nele se realizam;
O próprio espaço geográfico pode ser chamado de meio técnico-cientifico informacional;
Hoje, cada momento compreende em todos os lugares, eventos que são independentes, incluídos em um mesmo sistemas de relações;
O conteúdo técnico cientifico do espaço permite a produção de um mesmo produto em quantidades maiores e em tempo menor, rompendo os equilíbrios preexistentes e impondo outros;
No atual período os valores de uso são mais transformados em valores de troca, ampliando a economização da vida social, mudando a escala de valores culturais, favorecendo o processo de alienação de lugares e de homens;
Como a localização das diferentes etapas do processo produtivo aumentam as necessidades de complementação entre lugares, gerando circuitos produtivos e fluxos cuja natureza, direção, intensidade e força variam segundo os produtos, segundo as formas produtivas, segundo a organização do espaço preexistente e os impulsos políticos;
"Na medida em que a força da mercado não é a mesma, a dimensão espacial de cada firma não é idêntica, variando com a capacidade de cada qual para transformar as massas produzidas em fluxos." Deste modo, criam-se circuitos produtivos e circuitos de cooperação;

Meio técnico-cientifico informacional e urbanização no Brasil

O que se chamará de meio técnico-cientifico informacional, isto é, o momento histórico no qual a construção do espaço se dará com um crescente conteúdo de ciência e de técnicas.
O meio natural era aquela fase da historia na qual o homem escolhia da natureza aquilo que era fundamental ao exercício da vida e valorizava diferentemente essas condições naturais, as quais, sem grande modificações, constituíam a base material da existência do grupo.
No fim do século XVIII e, sobretudo, o século XIX vêem a mecanização do território: o território se mecaniza. Esse momento é o momento da criação do meio técnico, que substitui o meio natural.
Hoje, é preciso falar em meio técnico-cientifico informacional, que tende a superpor todos os meios anteriores. A partir da Segunda Guerra Mundial, principalmente, generaliza-se esta tendência, o que traz mudanças importantes tanto na composição técnica do território como na composição orgânica do território e se dando paralela a informatização do território e a cientifização do trabalho;
Os objetos criados pelas atividades hegemônicas são dotados de intencionalidade especifica, o que não era obrigatoriamente um fato nos períodos anteriores, isto faz com que o número de fluxos sobre o território se multiplique também.
Assim, a totalidade dos objetos surgidos , alguns tem vocação simbólica, mas a maior parte tem uma vocação mercantil, de modo que tanto mais especulativa é a especialização das funções produtivas que tanto mais alto nível do capitalismo e dos capitais envolvidos naquela área, e há, correlativamente, tendência a fluxos mais numerosos e qualitativamente diferentes;
As especializações do território, do ponto de vista da produção material, assim criadas, são a raiz das complementaridades regionais: há uma geografia regional que se desenha na base da nova divisão territorial do trabalho que se impõe. Essas complementaridades fazem com que se criem necessidades de circulação;

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