Ator: Milton Santos
Introdução Geral
Neste mundo globalizado, a máquina ideológica que sustenta as ações preponderantes da atualidade é feita de peças que se alimentam mutuamente e põem em movimento os elementos essenciais à continuidade do sistema. Este mundo, “visto como fabula, exige como verdade um certo número de fantasias”, aldeia global e mercado global podem ser ditos como exemplos;
Havendo uma busca de uniformidade, aos serviços dos atores hegemônicos, mas o mundo se torna menos unido, tornando mais distante o sonho de uma cidadania verdadeiramente universal;
A globalização como perversidade pode ser evidenciada através da “perversidade sistemática que está na raiz dessa evolução negativa da humanidade tendo relação com a adesão desenfreada aos comportamentos competitivos que atualmente caracterizam as ações hegemônicas”;
As bases materiais do atual período, como, unicidade técnica, a convergência dos momentos e o conhecimento do planeta podem servir a outros objetivos, que não somente aos interesses do grande capital, se forem postas a serviço de outros fundamentos sociais e políticos;
Dando-se uma globalização mais humana, tanto no plano empírico como no plano teórico. Este processo é caracterizado, atualmente, através da miscigenação, nas mais variadas instancias, e o dinamismo desta em áreas pequenas com uma grande população aglomerada, podendo assim, constituir bases de reconstrução e de sobrevivência das relações locais, abrindo a possibilidade de utilização, a serviço dos homens, do sistema técnico atual;
A produção da globalização
A globalização é, de certa forma, o ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista, entre tanto para entenda-la deve levar em conta dois elementos fundamentais: o estado das técnicas e o estado das políticas. Ambos se realizam em complementariedade um com o outro;
Atualmente, o mercado global utilizando-se do sistema de técnicas avançadas resulta nessa globalização perversa, no entanto poderia ser diferente se o uso político fosse outro;
desenvolvimento da historia vai de par com o desenvolvimento das técnicas, porém as técnicas nunca aparecendo isoladamente; o que se instala são grupos de técnicas, verdadeiros sistemas. Sendo, os grupos de técnicas transportam uma historia, representando uma época. Atualmente, os sistemas de técnicas representativos são as técnicas da informação, que em sua diversidade comunicam-se entre si e promovem a convergência dos momentos;
surgimento de um novo sistema de técnicas não representa o desaparecimento do sistema anterior, somente, os novos conjuntos de instrumentos são utilizados pelos atores hegemônicos, enquanto os atores não hegemônicos continuam a utilizar conjuntos menos atuais e menos poderosos;
“As técnicas apenas se realizam, tornando-se historia, com a intermediação da política, isto é, da política das empresas e da política dos Estados, conjunta ou separadamente”;
É a partir da unicidade das técnicas que surge a possibilidade de existir uma Finança Universal, principal responsável pela imposição a todo o globo de uma mais-valia mundial. Sem ela, seria também impossível a atual unicidade do tempo e por outro lado, sem a mais-valia globalizada e sem essa unicidade do tempo, a unicidade da técnica não teria eficácia;
tempo real, potencialmente para todos, mas os homens não são igualmente atores desse tempo real, pois socialmente ele é excludente e assegura privilégios de uso;
atual período dispõe de um sistema unificado de técnicas, instalado sobre um planeta informado e permitindo ações igualmente globais;
Todavia, hoje haveria um motor único, que é a mais-valia universal, que se tornou possível a partir da produção em escala mundial, por intermédio de empresas mundiais, que competem entre si;
Um elemento de internacionalização atrai outro, impõe, contém e é contido por outro. Este sistema de forca pode levar a pensar que o mundo se encaminha para algo como uma homogeneização, tanto das técnicas quanto da mais-valia;
A competitividade entre as empresas as conduz alimentar uma demanda exagerada de ciência, tecnologia e organização, para manter-se a frente da corrida;
período histórico atual vai permitir, cada vez mais, a possibilidade de conhecer o planeta extensivo e profundamente, que se deve aos progressos das técnicas devidos aos progressos das ciências, o que permite ao homem não apenas utilizar o que encontra na natureza;
Um período sucede o outro, antecedidos e sucedidos por crises, isto é, “momentos em que a ordem estabelecida entre as variáveis, mediante uma organização, é comprometida”;
Entretanto, o período atual é ao mesmo tempo um período e uma crise, ou seja, a presente fração do tempo histórico constitui uma verdadeira superposição entre período e crise, revelando características de ambas essas situações;
Como período, atualmente, as suas variáveis características instalam-se e influenciam em toda parte, direta ou indiretamente. Daí a denominação de globalização. Como crise, as mesmas variáveis construtoras do sistema estão continuamente em choque e exigindo novas definições e arranjos;
No atual período, a crise é estrutural. Por isso, quando se buscam soluções não estruturais, o resultado é a geração de crise;
A associação entre a tirania do dinheiro e da informação conduz a aceleração dos processos hegemônicos, legitimados pelo pensamento hegemonizante, enquanto os demais processos acabam por ser deglutidos ou se adaptam passiva ou ativamente, tornando-se hegemonizados;
“O uso extremado das técnicas e a proeminência do pensamento técnico conduzem a necessidade obsessiva de normas”.Contudo, as atividades hegemônicas tendem a uma centralização, consecutiva à concentração da economia, aumentado a inflexibilidade dos comportamentos, acarretando um mal estar no corpo social;
Ainda cabe acrescentar que “graças ao casamento entre as técnicas normativas e a normatização técnica e política da ação correspondente a própria política acaba por instalar-se em todos os interstícios do corpo social, seja como necessidade para exercício das ações dominantes, seja como reação a essas mesmas ações”;
Uma globalização perversa
mundo se torna unificado em virtude das novas condições técnicas, bases sólidas para uma ação humana mundializada, porém seletiva e excludente, onde quem se beneficia do mundo globalizado é uma minoria;
Através da emergência da tirania do dinheiro e da informação, intimidamente relacionadas, fornecem as bases loais do sistema ideológico que legitima as ações mais características da época, como a competitividade sugerida pela produção e pelo consumo. Havendo, de certo modo, um retrocesso quanto à noção de bem publico e de solidariedade;
As técnicas da informação são apropriadas por alguns Estados e algumas empresas, aprofundando assim os processos de criação de desigualdades. Há medida em que chega as pessoas às informações já são o resultado de manipulação, se apresentando como ideologias. Tendo o homem comum a confusão entre realidade e ideologia, sobretudo porque a ideologia se insere nos objetos e apresentam-se como coisas;
A informação tem, hoje, o foco do convencimento na medida em que a publicidade se transformou em algo que antecipa a produção, tendo uma relação intima entre o mundo da produção de noticias e o mundo da produção das coisas e das normas;
Através do tópico acima é possível evidenciar alguns dos elementos que caracterizam o Circuito Superior de produção;
A criação de mitos como o espaço e tempo contraditórios, humanidade desterritorializada, cidadania universal, PIB, são criações de certo modo impostas, pelos atores hegemônicos a fim de dinamizar e massificar o discurso em prol de benefícios próprios;
A lógica atual da internacionalização do credito e da divida é concomitante com a aceitação de um modelo econômico em que o pagamento da divida é prioritário, implica a aceitação da lógica tirana do dinheiro. Em que a finança move a economia e a deforma, levando seus tentáculos a todos os aspectos da vida;
“Se o dinheiro em estado puro se torna despótico, isso também se deve ao fato de que tudo se torna valor de troca”;
A partir da generalização e da coisificação da ideologia promovida pelo atual sistema capitalista, se multiplicam as percepções fragmentadas e podendo estabelecer um discurso único do mundo;
As bases materiais históricas da mitificação, do atual período, estão na realidade da técnica atual. Sendo mais aceita do que compreendida e alicerçada nas relações com a ciência, na sua exigência de racionalidade, no absolutismo com que, ao serviço do mercado, conforma os comportamentos; tudo isso fazendo crer na sua inevitabilidade. Os governos e empresas utilizam os sistemas técnicos atuais e seu imaginário para produzir a atual globalização;
Atualmente a competitividade toma o lugar da competição, tendo a guerra como norma utilizada para minimizar os conflitos e conseqüência dessa ética da competitividade que caracteriza nosso tempo. Este momento marca um ápice do sistema capitalista e acaba por assim justificar os individualismos arrebatadores e possessivos;
A contribuição, também para essa ideologia competitiva, ligada “a perda da influencia da Filosofia na formulação das ciências sociais, cuja interdisciplinalidade acaba por buscar inspiração na economia. Daí o empobrecimento das ciências humanas e a conseqüente dificuldade para interpretar o que vai pelo mundo”;
No atual período, a produção do consumidor precede a produção dos produtos de bens e serviços, ou seja, cria-se primeiramente a demanda ao consumo e depois o referido produto;
Vivemos cercados pelo sistema ideológico construído ao redor do consumo e da informação ideologizados, que acabam por ser motor de ações dos atores hegemônicos – público e privado. Então, o entendimento do que é o mundo passa pelo consumo e pela competitividade, que são fundados no mesmo sistema da ideologia. Esses processos levam ao “emagrecimento moral e intelectual da pessoa, a redução da personalidade e da visão do mundo, convidando, também, a esquecer a oposição fundamental entre a figura do consumidor e a figura do cidadão”;
Como, hoje, todas as atividades hegemônicas são fundadas nas técnicas, o discurso aparece como algo relevante a produção da existência de todos. Essa imprescindibilidade de um discurso precedente a tudo, remete a ideologia”;
Com a globalização, as técnicas se tornam mais eficazes, sua presença se confunde com o ecúmeno, seu encadeamento se reforça e o seu uso escapa em muitos aspectos, ao domínio da política e se torna subordinado ao mercado;
Tendo, hoje, a ciência precedendo a técnica e sua utilização se dando a serviço do mercado, produz-se o ideário da técnica e do mercado que é santificado pela ciência, considerada infalível. Sendo a ciência uma das fontes de poder do pensamento único e da imposição de soluções como únicas;
Há um excedente discursivo sobre as violências funcionais derivadas em detrimento de discursos sobre a violência estrutural, que resultaria esta última da presença e das manifestações conjuntas, nessa era de globalização, do dinheiro, competitividade e potência, todas em estado puro, cuja associação conduz a emergência do globalitarismo;
Com a globalização impõe-se uma nova noção de riqueza, fundada no conceito de riqueza, fundada no conceito de dinheiro em estado puro e os quais todas as economias nacionais são chamadas a se adaptar. Tendo o consumo se tornado um dominador comum a todos os indivíduos, atribuindo um papel central ao dinheiro em todas as suas manifestações; junto o dinheiro e o consumo aparecem como reguladores da vida individual e o resultado dessa busca pode levar à acumulação para alguns como ao endividamento para maioria;
A necessidade de capitalização conduz a adotar como regra a necessidade de competir em todos os planos. Sendo, assim, a necessidade de competir legitimada por uma ideologia largamente aceita e difundida, na medida em que a desobediência as sua regras implica perder posições e, até mesmo desaparecer do cenário econômico, tendo a sua pratica a promoção de um afrouxamento dos valores morais e um convite ao exercício da violência em diversas instâncias;
poder não tem outra finalidade a não ser o próprio uso da força, já que ela é indispensável para competir e fazer mais dinheiro; que vem acompanhado pela desnecessidade de responsabilidade perante o outro;
“Ser pobre é participar de uma situação estrutural, com uma posição relativa inferior dentro da sociedade como um todo”;
“A causa essencial da perversidade sistêmica é a instituição, por lei geral da vida social, da competitividade como regra absoluta, uma competitividade que escorre todo o edifico social”;
“Os papeis dominantes, legitimados pela ideologia e pela pratica da competitividade, são a mentira, com o nome do segredo da marca; o engodo, com nome de Marketing; a dissolução e o cinismo, com os nomes de tática e estratégia”;
A vida realizada por meio das atuais técnicas exige cada vez mais dos homens comportamentos previsíveis, que de certo modo assegura uma visão mais racional do mundo e também dos lugares e conduz a uma organização sociotécnica do trabalho, do território e do fenômeno do poder;
Em século passados, com os progressos das técnicas, que está, a serviço da produção e do capitalismo, não houvesse a progressão das idéias, teríamos tido uma eclosão muito maior do utilitarismo, com uma pratica mais avassaladora do lucro e da concorrência;
Tendo, as idéias nos séculos precedentes a globalização, que marcou a ruptura do processo de evolução social e moral, o estabelecimento da possibilidade do enriquecimento moral do individuo;
atual período tem como uma das bases a junção entre a ciência e técnica, essa tecnociência, cujo uso é condicionado pelo mercado, não atendendo interesses da humanidade em geral. O que leva a pensar que o progresso técnico e cientifico não é sempre um progresso moral;
Graças a informação e ao dinheiro o mundo tornou-se mais fluido. Com a flexibilização das fronteiras dos territórios, o que leva ao enfraquecimento e à mudança de natureza dos Estados Nacionais, estando a serviço da economia dominante;
“A política agora é feita no mercado. Só que esse mercado global não existe como ator, mas como uma ideologia, um símbolo. Os atores são as empresas globais, que não tem preocupações éticas, nem finalisticas”. Entretanto, nas condições atuais assiste-se à não-política, isto é, a política feita pelas empresas, sobretudo as maiores; tendo como exemplo a atual emergência do terceiro setor, em que as empresas privadas assumiram um trabalho de assistência social antes deferido ao poder publico, que beneficiam seletivamente frações da sociedade;
poder publico passou a ser subordinado ao nexo das grandes empresas, instalando a semente da ingovernabilidade;
“Cada técnica propõe uma maneira particular de comportamento, envolve suas próprias regulamentações e, por conseguinte, traz aos lugares novas formas de relacionamento”;
Principalmente os países subdesenvolvidos conheceram pelo menos três formas de pobreza no ultimo meio século. A pobreza incluída, uma pobreza acidental, às vezes residual ou saxonal; a marginalidade, que seria a pobreza produzida pelo processo econômico da divisão do trabalho, internacional ou interna; a pobreza estrutural, presente em toda parte do mundo, porém mais presentes nos países já pobres, consistindo do ponto de vista moral e político equivalente a uma divida social;
A pobreza incluída pode ser vista como uma inadaptação entre condições naturais e condições sociais, que se produziria em um lugar e não se comunicava a outro lugar.
Esta pobreza coube num contexto de mundo onde o consumo não estava largamente difundido, e o dinheiro ainda não constituía um nexo social obrigatório, a pobreza era menos discriminatório. Podendo se falar de pobres incluídos;
A marginalidade seria a pobreza identificada como uma doença da civilização, cuja produção acompanha o próprio processo econômico.
Tendo neste momento o consumo se impondo como um dado importante, levando a classificar os indivíduos pela sua capacidade e forma de consumir;
No período atual, revela uma pobreza de um novo tipo, uma pobreza estrutural globalizada. Se dando pelo processo pelo qual o emprego é gerado e sua remuneração cada vez pior, ao mesmo tempo em que o poder publico se retira das tarefas de proteção social, o que é licito considerar que estejam contribuindo para uma produção cientifica, globalizada e voluntária da pobreza, onde os pobres não são incluídos nem marginais, elas são excluídos;
A pobreza produzida politicamente pelas empresas e instituições globais, que pagam para criar soluções localizadas, quando, estruturalmente, são os grandes produtores de pobreza. Com a colaboração ativa ou passiva dos governos nacionais.
Agora a pobreza surge, impõe-se e explica-se como algo natural e inevitável;
Hoje, aumenta-se o número de letrados e diminui o de intelectuais. Tais letrados não pensam para encontrar a verdade, ou, encontrando a verdade, não a dizem; renegando a função principal da intelectualidade, isto é, a busca incansada pela verdade, intermediada pelo discurso;
“A pobreza, hoje, é a pobreza nacional da ordem internacional”;
Os níveis inferiores de governo buscam políticas compensatórias para aliviar as conseqüências da pobreza, enquanto, ao nível federal, as ações mais dinâmicas estão orientadas cada vez mais para os interesses do capital, gerando pobreza;
É o estado nacional que detém o monopólio das normas, sem os quais os poderosos fatores externos perdem eficácia. Devido que nem as empresas transnacionais, nem as instituições supranacionais dispõem de força normativa para impor, sozinhas, devido de cada território, sua vontade política ou econômica, pois é o Estado Nacional que, afinal, regula o mundo financeiro e constrói infra-estruturas, atribuindo, assim, a grandes empresas escolhidas a condição de sua viabilidade;
Território do dinheiro e da fragmentação
Com a globalização, pode-se dizer que a totalidade da superfície terrestre é compartimentada, não apenas pela ação direta do homem, mas também pela sua presença política, tendo, ainda, se torna do funcional as necessidades, usos e apetites de Estados e empresas;
No atual período, com o mundo da fluidez e da rapidez. Tratando-se de uma “fluidez virtual, possível pela presença de novos sistemas técnicos, sobretudo os sistemas de informação, e de uma fluidez efetiva, realizada quando essa fluidez potencial é utilizada no exercício da ação, pelas empresas e instituições hegemônicas. A fluidez potencial aprece no imaginário e na ideologia como se fosse um bem comum”.
mundo da fluidez e da rapidez somente se entende a partir do processo conjunto do qual participam de um lado as técnicas atuais e, de outro, a política atual, que são utilizados pelos atores hegemônicos para benefício próprio. A partir deste processo é possível evidenciar lugares próprios a lentidão e lugares propícios a rapidez e fluidez, que são seletivamente beneficiados, gerando competitividade entre eles;
A competitividade destroça as antigas solidariedades, freqüentemente horizontais, e por impor uma solidariedade vertical, cujo epicentro é a empresa hegemônica, localmente obediente a interesses globais mais poderosos e de certo modo indiferente ao entorno;
território como um todo é objeto da ação de varias empresas, cada qual, preocupada com suas próprias metas e arrastando, a partir dessas metas, o comportamento do resto das empresas e instituições. Estas empresas produzem, assim, uma ordem em causa própria e criando paralelamente desordem para o restante;
Dentro de um mesmo país se criam formas e ritmos diferentes de evolução, governados pelas metas e destinos específicos de cada empresa hegemônica;
Os ultimo séculos marcam, para a atividade agrícola, com humanização e a mecanização do espaço geográfico, uma considerável mudança de qualidade, chegando a constituição do meio técnico-científico informacional, característico também no mundo rural, tanto nos paises avançados como nas regiões mais desenvolvidas dos paises pobres.
Tendo a produção agrícola uma referencia planetária, que recebe influencia das mesmas leis que regem os outros aspectos da produção econômica;
Nas áreas onde essa agricultura cientifica globalizada se instala, verifica-se uma importante demanda de bens científicos e, também, de assistência técnica. O que implica em uma estrita obediência aos mandamentos científicos e técnicos;
Nas cidades regionais, principalmente aquelas que desenvolvem agricultura moderna, tem se uma oferta de informação, imediata e próxima, ligada à atividade agrícola e produzindo uma atividade urbana de fabricação e de serviço que é largamente especializada é, paralelamente, um outro tipo de atividade urbana ligada ao consumo das famílias e da administração.
Tal cidade, cujo papel de comando técnico da produção é bastante amplo, tem também um papel político frente a essa mesma produção. Mas, na medida em que esta produção agrícola tem uma vocação global, esse papel político é limitado, incompleto e indireto;
“O campo modernizado se tornou praticamente mais aberto à expansão das formas atuais do capitalismo que as cidades”. Tanto, que a tendência a particularizações extremas, levando em conta, seja em maior ou menor grau, a influência dos fatores exógenos.
Este processo de adaptação das regiões agrícolas modernas se dá com grande rapidez, impondo-lhe, num pequeno espaço de tempo, sistemas de vida cuja relação com o meio é reflexa, enquanto as determinações fundamentais vêm de fora;
Sob o impulso da competitividade globalizadora, produzem-se egoísmos locais ou regionais exacerbados, justificados pela necessidade de defesa das condições de sobrevivência regional. Sendo, este um dos fatores que conduzem a fragmentação do território e da sociedade;
Dentro de cada região, as alianças e os contratos sociais estão sempre se refazendo e a hegemonia, assim, deve ser sempre revista;
processo produtivo reúne aspectos técnicos, que se caracteriza com a produção propriamente dita e sua área de incidência, e aspectos políticos, que é caracterizada pelo racionamento de uma parcela política do processo produtivo com o comercio, preços, subsídios, etc., tendo sua sede fora da região e seus processos freqüentemente escapam ao controle dos principais interessados;
“O território não é apenas o resultado da superposição de um conjunto de sistemas naturais e um conjunto de sistemas de coisas criadas pelo homem. O território é o chão e mais a população, isto é, uma identidade, o fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence”. Assim, surge a idéia de nação, tribo, povo e, depois, de Estado Nacional decorre dessa relação tornada profunda;
dinheiro é uma invenção decorrente do aprofundamento das atividades econômicas. O dinheiro constitui um dado processo, assim, ele se torna representativo do valor atribuído à produção e ao trabalho e aos respectivos resultados;
Cada vez mais coisas tendem a tornar-se objeto de intercambio, valorizado cada vez mais pela troca do que pelo uso e, desse modo, reclamando uma medida homogênea e permanente. Assim, o dinheiro aumenta sua indispensabilidade e abarca os aspectos da vida social e econômica;
dinheiro é um dado essencial para o uso do território, se fundando sobre a lei do valor que tanto deve ao caráter da produção presente de cada lugar como às possibilidades de circulação.
Portanto, quanto mais movimento, maior se torna a complexidade das relações internas e externas e aprofunda-se a necessidade de uma regulação do território, que é atribuído ao Estado;
Com a globalização, o uso das técnicas disponíveis permite a instalação de um dinheiro fluido, relativamente invisível e abstrato. Se tornando um equivalente universal o dinheiro, concomitantemente, ganha existência praticamente autônoma em relação ao resto da economia;
As lógicas do dinheiro impõem-se aquelas da vida socioeconômica e política, se dando segundo duas vertentes: uma é o dinheiro das empresas e o outro é a lógica dos governos financiadores globais.
Essa inteligência global é exercida pelo que se chama de contabilidade global, cujos, aqueles governos globais medem, avaliam e classificam as economias nacionais segundo alguns parâmetros. Sendo, hoje, o dinheiro global o principal regedor do território, tanto o território nacional como suas frações.
No lugar, a finança global se exerce pela existência de instituições, criando perplexidades e sugerindo interpretações que podem conduzir à ampliação da consciência. No entanto, a vontade de homogeneização do dinheiro global e contrariada pelas resistências locais à sua expansão, porém, há, também, uma vontade de adaptação as novas condições de dinheiro, já que a fluidez financeira é considerada uma necessidade para ser competitivo e exitar no mundo globalizado;
“O dinheiro regulador e homogeneizador agrava heterogeneidades e aprofunda as dependências. E assim que ele contribui para quebrar a solidariedade nacional, criando ou aumentando as fraturas sociais e territoriais e ameaçando a unidade nacional”;
“As verticalidades podem ser definidas, um espaço de fluxos”. O espaço de fluxos seria, na realidade, um sistema dentro da totalidade-espaço. Sendo um conjunto de pontos adequados as tarefas produtivas hegemônicas, o espaço de fluxos é constituído por redes exigentes de fluidez e sequioso de velocidade, havendo uma solidariedade do tipo organizacional, no qual predominam atores hegemônicos. A este processo aglutina-se, ainda, a ação explicita ou dissimulada do Estado;
As frações do território que constituem esse espaço de fluxos constituem o tempo real, aferido pela temporalidade globalizada das empresas hegemônicas presentes. Desse modo ordenado, o espaço de fluxos tem vocação a ser ordenador do espaço total.
modelo econômico assim estabelecido tende a reproduzir-se, ainda que mostrando topologias especificas. Assim, quanto mais modernizados e penetrados por esta lógica, mais os espaços respectivos se tornam alienados;
“As horizontalidades são zonas da contigüidade que formam extensões continuas”. Sendo estas zonas consideradas banais em oposição às zonas econômicas;
espaço banal sustenta e explica um conjunto de produções localizadas, interdependentes, dentro de uma área cujas características constituem, também, um fator de produção. Todos os agentes são implicados, e os receptivos tempos são imbricados, criando uma solidariedade orgânica da qual sobrevive o conjunto;
Nesse espaço banal, a ação do Estado é limitada, devido a preocupação deste com a ampliação das verticalidades, porém, paralelamente, permite o aprofundamento da personalidade das horizontalidades;
As horizontalidades admitem presença de outras racionalidades ou contra-racionalidade, isto é, formas de convivência e de regulação criadas a partir do próprio território e que se mantêm nesse território a despeito da vontade de unificação e homogeneização, características da racionalidade hegemônica típica das verticalidades;
Nas condições atuais com tendência a uma difusão avassaladora, é o da criação da ordem da racionalidade pragmática, enquanto a produção do espaço banal é residual;
Os lugares são singulares, mas são também globais. Eles são mundo que eles reproduzem de modos específicos;
“A possibilidade de existência de um cidadão do mundo é condicionado pelas realidades nacionais. Na verdade, o cidadão só o é (ou não o é) como cidadão de um país”;
A multiplicidade de situações regionais e municipais, trazida com a globalização, instala uma enorme variedade de quadros de vida, cuja realidade preside o cotidiano das pessoas e deve ser a base para uma vida civilizadora em comum. Assim, a possibilidade de cidadania plena das pessoas depende de soluções a serem buscadas localmente, desde que, dentro da nação, seja instituída uma Federação de lugares;
território tanto quanto o lugar são esquizofrênicos, porque de um lado acolhem os vetores da globalização, que neles se instalam para impor sua nova ordem, e, de outro lado, neles se produz uma contra-ordem, porque há uma produção acelerada de pobres, excluídos e marginalizados. Neste processo o lugar se torna determinante. Devido ele não ser apenas um quadro de vida, mas um espaço vivido, que exerce um papel revelador sobre o mundo.
Assim, os lugares se diferenciam, tendo como um dos fatores a quantidade de “racionalidade” que ganham do “mundo”. Esta se propaga de modo heterogêneo, deixando coexistirem outras racionalidades ou contra-racionalidades, o que torna possível a ampliação de sua consciência;
No campo, as racionalidades da globalização se difundem mais expressivamente e mais rapidamente. Há cidade, as irracionalidades se criam mais numerosas e incessantemente que as racionalidades;
A consciência da diferença pode conduzir simplesmente à defesa individualista do próprio interesse, sem alcançar a defesa de um sistema alternativo de idéias e de vida.
Limites à globalização perversa
No mundo atual há indicação da emergência de numerosas variáveis cuja existência é sistêmica. Isso, permite pensar que estão produzindo as condições de realização de uma nova historia;
A boa parcela da humanidade, por desinteresse ou incapacidade, não é capaz de obedecer as imposições da atual racionalidade hegemônica;
Na ideologia da globalização e das técnicas encontra-se o apregoamento de que a velocidade constitui um dado irreversível na produção da história, mas de fato a minoria acaba sendo representativa da totalidade, graças exatamente a esta força ideológica;
A velocidade, assim é utilizada duplamente um dado da política e não da técnica. De um lado, trata-se de uma escolha relacionada com o poder dos agentes e, de outro, da legitimação dessa escolha, por meio da justificação de um modelo de civilização;
“A técnica somente é um absoluto enquanto irrealizada”. Tendo a sua historização e geografizaçao voltada para entender o seu uso pelo homem, sua qualidade de intermediário da ação, isto é, sua relativização;
A população em seus diferentes níveis econômicos obriga a combinação de formas e níveis de capitalismo. Existindo a interdependência e intecorrência dos diverso mercados, cada qual voltado principalmente para atender determinado nível da população, freia a vontade da velocidade imposta pelos atores hegemônicos;
Com a interdependência globalizada dos lugares e a planetarização dos sistemas técnicos dominantes, estes parecem se impor como invasores e a difundir a idéia de que o sistema técnico dominante é absolutamente indispensável, além de tratar a velocidade como resultante de um dado desejável a todos que pretendem participar da modernidade atual.
Assim, em ultima analise, as crises atuais são resultantes da aceleração contemporânea, mediante o uso privilegiado das possibilidades de fluidez.Como tal exercício não responde a um objetivo moral, é desprovido de sentido e justifica-se por si mesmo, tal característica são uma das razoes da desordem do período atual;
tema das verticalidades e horizontalidades pode comportar a interpretação, movida entre a oposição existente entre a natureza das atividades just-in-time, que trabalham com um relógio universal movido pela mais-valia universal, e a realidade das atividades que, juntas, constituem a vida cotidiana.
As atividades relacionadas ao just-in-time possuem vocação para uma racionalidade única, homogeneizante, mas trata-se de uma racionalidade sem razão. Entretanto no cotidiano, a razão de viver, é considerada como “irracionalidade”, quando na realidade o que se dá são outras formas de ser racional, pois a vida cotidiana abrange varias temporalidades simultaneamente presentes.
Assim, o tempo hegemônico busca uma homogeneização empobrecida e limitada, enquanto o tempo do mundo cotidiano propicia uma heterogeneidade criadora;
Hoje, as técnicas estão em toda parte, assim, tendo tanto como os objetos como as ações derivação da técnica.
Na medida em que as técnicas hegemônicas hoje são extremamente dotadas de intencionalidade, a igualmente tendência à hegemonia de uma produção e a excludencia de outras. Cria-se um verdadeiro totalitarismo tendencial da racionalidade, sento este a base primeira da produção de carências e de escassez.
Nessa situação, as técnicas, a velocidade, a potencia criam desigualdades e, paralelamente, necessidades;
“A experiência da escassez é a ponte entre o cotidiano e o mundo”;
A alteridade e individualismo se reforçam com a renovação da novidade. Quanto mais diferentes são os que convivem num espaço limitado, tanto mais ricos serão os debates e embates entre as pessoas.
Nesse sentido, pode-se dizer que a cidade é um lugar privilegiado para essa relação e que também a aceleração contemporânea é aceleração na produção de escassez e na descoberta da sua realidade.
Assim, a convivência com necessidade e com o outro, constituída a partir das suas visões de mundo e dos lugares. A política dos pobres é baseada no cotidiano vivido por todos, pobres e não pobres, e é alimentada pela simples necessidade de continuar existindo. Essa política de novo tipo não tem nada a ver com política institucional, regida pelos e para os atores hegemônicos;
Cada época cria novos atores e atribui papeis novos ao já existentes.
“Nas condições brasileiras atuais, as novas circunstancias podem levar as classes médias a forçar uma mudança substancial do ideário e das praticas substancial do ideário e das praticas políticas”. Se torna evidente através desta afirmação a possível conscientização da classe média e a luta para uma maior justiça social, porém tal afirmação remete a umas idéia, a priori, de tais fatores e reclames sociais se dão no “campo”, onde hoje encontra-se boa parte da classe média;
A transição em marcha
A presença e influencia de uma cultura de massas buscando homogeneizar e impor-se sobre a cultura popular e as reações desta é resultante do empenho vertical unificador, homogeneizador, conduzido por um mercado cego, indiferente às heranças e as realidades atuais dos lugares e das sociedades. Mas, essa conquista jamais é completamente, pois encontra a resistência da cultura preexistente.
Há a possibilidade, cada vez mais freqüente, de uma revanche da cultura popular sobre a cultura de massa, quando ela se difunde mediante os usos dos instrumentos que na origem são próprios da cultura de massas.
Ao difundir-se pelo instrumento da cultura de massa não estaria a cultura popular se massificando?;
Os atores hegemoneizados, em sua grande parte, não dispõem de meios para participar plenamente da cultura moderna de massa. Mas como a sua cultura, por ser baseada no território, no trabalho e no cotidiano, ganha força necessária para deformar, ali mesmo, o impacto da cultura de massas.
Essa cultura endógena impõe-se como um alimento da política dos pobres, realizando-se segundo os níveis mais baixos de técnica, de capital e de organização, se dando assim suas formas típicas de criação. Isto seria, aparentemente, uma fraqueza, mas na realidade é uma força, já que se realiza, desse modo, uma integração orgânica com o território dos pobres e o seu conteúdo humano.
A cultura de massa produz seus símbolos, direta ou indiretamente ao serviço do poder ou do mercado, assim como a cultura popular também aos produzem, porém seus símbolos são portadores da verdade da existência e reveladores do próprio movimento da sociedade;
“A divisão do trabalho por cima” é obediente ao uso das técnicas da racionalidade hegemônica, com uma solidariedade gerada por fora e dependente de vetores verticais. Seu campo é de maior velocidade e a regidez das normas econômicas impede a política;
“A difusão do trabalho por baixo” é fundada na descoberta cotidiana das combinações que permitem a vida, se produzindo uma solidariedade criada de dentro e dependente de vetores horizontais cimentados no território e na cultura local.
Há maior dinamismo intrínseco, com maior movimento espontâneo, mais encontros gratuitos, maior complexidade e mais combinações;
Com a prevalência do dinheiro em estado puro como motor primeiro e ultimo das ações, o homem acaba por ser considerado um elemento residual, assim como também o território, Estado-nação e a solidariedade social;
A idéia de irreversibilidade da globalização atual é aparentemente reforçada pela interdependência e inter-relação atual entre cada país e o que chamamos de mundo, além da idéia de que a historia seria sempre feita a partir dos países centrais.
Mas, ao analisar os aspectos mais estruturais da situação atual, verifica-se que o centro do sistema busca impor uma globalização de cima para baixo nos demais países;
No mundo globalizado há produção de uma racionalidade determinante, mas que vai aos poucos deixando de ser dominante. É uma racionalidade que comanda os grandes negócios cada vez mais abrangentes e mais concentrados em poucas mãos.
São muitas numerosas as manifestações de desconforto com as conseqüências da nova dependência e do novo imperialismo, tornando-se evidentes os limites de aceitação de tal situação. Por diferentes razoes e meios diversos, as manifestações de irredentismo já são claramente evidentes em alguns países;
“No sentido de alcançarmos uma outra globalização, não virão do centro do sistema, como em outras fases de ruptura na marcha do capitalismo. As mudanças sairão dos paises subdesenvolvidos”;
“O país deve ser visto como uma situação estrutural em movimento, na qual cada elemento esta intimamente relacionado com os demais”;
A nação ativa seria a daqueles que aceitam, pregam e conduzem uma modernização que se dá preeminência aos ajustes que interessam ao dinheiro. Portanto para este discurso globalizado ter eficácia localmente, necessita de um sotaque domestico e por isso estimula um pensamento nacional associado produzido por mentes cativas, subvencionadas ou não, o que gera uma certa produção do conformismo;
A nação passiva é constituída por aqueles que participam de modo residual do mercado global ou cujas atividades conseguem sobreviver a sua margem, mantendo relações de simbiose com o e dos indivíduos;
Um dos elementos, ao mesmo tempo, ideológico e empírico, da presente forma da globalização é a centralidade do consumo, com a qual a tem relação com o cotidiano e suas repercussões sobre a produção, as formas presentes da existência e as perspectivas das pessoas;
É também por meio do conjunto de movimentos que compõe o atual período, que se reconhece uma saturação dos símbolos pré-construidos e que os limites de tolerância às ideologias são ultrapassadas, o que permite a ampliação do campo da consciência;
“Na medida em que as técnicas cada vez mais se dão como normas e a vida se desenrola no interior de um oceano de técnicas, acabamos por viver uma politização generalizada. A rapidez dos processos conduz a uma rapidez nas mudanças e, por conseguinte, aprofunda a necessidade de produção de novos entes organizadores”;
“Jamais houve na história sistemas tão propícios a facilitar a vida e a propiciar a felicidade dos homens. A materialidade que o mundo da globalização está recriando permite um uso radicalmente diferente daquele que era a base matéria da industrialização e do imperialismo”;
A possibilidade de identificação das situações estão diretamente relacionadas a melhoria da informação disponível e ao aprofundamento das possibilidades de comunicação, que mostra o desamparo que as populações são relegadas, levando, paralelamente, a um maior reconhecimento da condição de escassez e as novas possibilidades de ampliação da consciência;
A mídia trabalha com que ela própria transforma em objeto de mercado, porém em nenhum lugar as comunidades são formadas por pessoas homogêneas e levando isto em conta, ela deixara de representar o senso com um imposto pelo pensamento único;
Com este mundo complexo posto, marcado na ordem material pela multiplicação incessante do número de objetos e na ordem imaterial pela infinidade de relações que os objetos nos unem. Essa totalidade – mundo se manifesta, justamente pela unicidade das técnicas e das ações.
Assim, o meio ambiente é cada vez menos natural, o uso do entorno imediato pode ser menos aleatório. As coisas valendo pelo que elas podem oferecer e os gestos pela adequação às coisas a que se dirigem;
mundo se instala nos lugares, graças aos processos da informação, ficando, mais perto de cada um. Se criando um mundo como realidade histórica unitária, ainda que ele seja extremamente diversificado, sobretudo nas grandes cidades;
“A mesma materialidade, atualmente utiliza para construir um mundo confuso e perverso, pode vir a ser uma condição da construção de um mundo mais humano”. Bastando haver a mutação tecnológica e a mutação filosófica da espécie humana;
Introdução Geral
Neste mundo globalizado, a máquina ideológica que sustenta as ações preponderantes da atualidade é feita de peças que se alimentam mutuamente e põem em movimento os elementos essenciais à continuidade do sistema. Este mundo, “visto como fabula, exige como verdade um certo número de fantasias”, aldeia global e mercado global podem ser ditos como exemplos;
Havendo uma busca de uniformidade, aos serviços dos atores hegemônicos, mas o mundo se torna menos unido, tornando mais distante o sonho de uma cidadania verdadeiramente universal;
A globalização como perversidade pode ser evidenciada através da “perversidade sistemática que está na raiz dessa evolução negativa da humanidade tendo relação com a adesão desenfreada aos comportamentos competitivos que atualmente caracterizam as ações hegemônicas”;
As bases materiais do atual período, como, unicidade técnica, a convergência dos momentos e o conhecimento do planeta podem servir a outros objetivos, que não somente aos interesses do grande capital, se forem postas a serviço de outros fundamentos sociais e políticos;
Dando-se uma globalização mais humana, tanto no plano empírico como no plano teórico. Este processo é caracterizado, atualmente, através da miscigenação, nas mais variadas instancias, e o dinamismo desta em áreas pequenas com uma grande população aglomerada, podendo assim, constituir bases de reconstrução e de sobrevivência das relações locais, abrindo a possibilidade de utilização, a serviço dos homens, do sistema técnico atual;
A produção da globalização
A globalização é, de certa forma, o ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista, entre tanto para entenda-la deve levar em conta dois elementos fundamentais: o estado das técnicas e o estado das políticas. Ambos se realizam em complementariedade um com o outro;
Atualmente, o mercado global utilizando-se do sistema de técnicas avançadas resulta nessa globalização perversa, no entanto poderia ser diferente se o uso político fosse outro;
desenvolvimento da historia vai de par com o desenvolvimento das técnicas, porém as técnicas nunca aparecendo isoladamente; o que se instala são grupos de técnicas, verdadeiros sistemas. Sendo, os grupos de técnicas transportam uma historia, representando uma época. Atualmente, os sistemas de técnicas representativos são as técnicas da informação, que em sua diversidade comunicam-se entre si e promovem a convergência dos momentos;
surgimento de um novo sistema de técnicas não representa o desaparecimento do sistema anterior, somente, os novos conjuntos de instrumentos são utilizados pelos atores hegemônicos, enquanto os atores não hegemônicos continuam a utilizar conjuntos menos atuais e menos poderosos;
“As técnicas apenas se realizam, tornando-se historia, com a intermediação da política, isto é, da política das empresas e da política dos Estados, conjunta ou separadamente”;
É a partir da unicidade das técnicas que surge a possibilidade de existir uma Finança Universal, principal responsável pela imposição a todo o globo de uma mais-valia mundial. Sem ela, seria também impossível a atual unicidade do tempo e por outro lado, sem a mais-valia globalizada e sem essa unicidade do tempo, a unicidade da técnica não teria eficácia;
tempo real, potencialmente para todos, mas os homens não são igualmente atores desse tempo real, pois socialmente ele é excludente e assegura privilégios de uso;
atual período dispõe de um sistema unificado de técnicas, instalado sobre um planeta informado e permitindo ações igualmente globais;
Todavia, hoje haveria um motor único, que é a mais-valia universal, que se tornou possível a partir da produção em escala mundial, por intermédio de empresas mundiais, que competem entre si;
Um elemento de internacionalização atrai outro, impõe, contém e é contido por outro. Este sistema de forca pode levar a pensar que o mundo se encaminha para algo como uma homogeneização, tanto das técnicas quanto da mais-valia;
A competitividade entre as empresas as conduz alimentar uma demanda exagerada de ciência, tecnologia e organização, para manter-se a frente da corrida;
período histórico atual vai permitir, cada vez mais, a possibilidade de conhecer o planeta extensivo e profundamente, que se deve aos progressos das técnicas devidos aos progressos das ciências, o que permite ao homem não apenas utilizar o que encontra na natureza;
Um período sucede o outro, antecedidos e sucedidos por crises, isto é, “momentos em que a ordem estabelecida entre as variáveis, mediante uma organização, é comprometida”;
Entretanto, o período atual é ao mesmo tempo um período e uma crise, ou seja, a presente fração do tempo histórico constitui uma verdadeira superposição entre período e crise, revelando características de ambas essas situações;
Como período, atualmente, as suas variáveis características instalam-se e influenciam em toda parte, direta ou indiretamente. Daí a denominação de globalização. Como crise, as mesmas variáveis construtoras do sistema estão continuamente em choque e exigindo novas definições e arranjos;
No atual período, a crise é estrutural. Por isso, quando se buscam soluções não estruturais, o resultado é a geração de crise;
A associação entre a tirania do dinheiro e da informação conduz a aceleração dos processos hegemônicos, legitimados pelo pensamento hegemonizante, enquanto os demais processos acabam por ser deglutidos ou se adaptam passiva ou ativamente, tornando-se hegemonizados;
“O uso extremado das técnicas e a proeminência do pensamento técnico conduzem a necessidade obsessiva de normas”.Contudo, as atividades hegemônicas tendem a uma centralização, consecutiva à concentração da economia, aumentado a inflexibilidade dos comportamentos, acarretando um mal estar no corpo social;
Ainda cabe acrescentar que “graças ao casamento entre as técnicas normativas e a normatização técnica e política da ação correspondente a própria política acaba por instalar-se em todos os interstícios do corpo social, seja como necessidade para exercício das ações dominantes, seja como reação a essas mesmas ações”;
Uma globalização perversa
mundo se torna unificado em virtude das novas condições técnicas, bases sólidas para uma ação humana mundializada, porém seletiva e excludente, onde quem se beneficia do mundo globalizado é uma minoria;
Através da emergência da tirania do dinheiro e da informação, intimidamente relacionadas, fornecem as bases loais do sistema ideológico que legitima as ações mais características da época, como a competitividade sugerida pela produção e pelo consumo. Havendo, de certo modo, um retrocesso quanto à noção de bem publico e de solidariedade;
As técnicas da informação são apropriadas por alguns Estados e algumas empresas, aprofundando assim os processos de criação de desigualdades. Há medida em que chega as pessoas às informações já são o resultado de manipulação, se apresentando como ideologias. Tendo o homem comum a confusão entre realidade e ideologia, sobretudo porque a ideologia se insere nos objetos e apresentam-se como coisas;
A informação tem, hoje, o foco do convencimento na medida em que a publicidade se transformou em algo que antecipa a produção, tendo uma relação intima entre o mundo da produção de noticias e o mundo da produção das coisas e das normas;
Através do tópico acima é possível evidenciar alguns dos elementos que caracterizam o Circuito Superior de produção;
A criação de mitos como o espaço e tempo contraditórios, humanidade desterritorializada, cidadania universal, PIB, são criações de certo modo impostas, pelos atores hegemônicos a fim de dinamizar e massificar o discurso em prol de benefícios próprios;
A lógica atual da internacionalização do credito e da divida é concomitante com a aceitação de um modelo econômico em que o pagamento da divida é prioritário, implica a aceitação da lógica tirana do dinheiro. Em que a finança move a economia e a deforma, levando seus tentáculos a todos os aspectos da vida;
“Se o dinheiro em estado puro se torna despótico, isso também se deve ao fato de que tudo se torna valor de troca”;
A partir da generalização e da coisificação da ideologia promovida pelo atual sistema capitalista, se multiplicam as percepções fragmentadas e podendo estabelecer um discurso único do mundo;
As bases materiais históricas da mitificação, do atual período, estão na realidade da técnica atual. Sendo mais aceita do que compreendida e alicerçada nas relações com a ciência, na sua exigência de racionalidade, no absolutismo com que, ao serviço do mercado, conforma os comportamentos; tudo isso fazendo crer na sua inevitabilidade. Os governos e empresas utilizam os sistemas técnicos atuais e seu imaginário para produzir a atual globalização;
Atualmente a competitividade toma o lugar da competição, tendo a guerra como norma utilizada para minimizar os conflitos e conseqüência dessa ética da competitividade que caracteriza nosso tempo. Este momento marca um ápice do sistema capitalista e acaba por assim justificar os individualismos arrebatadores e possessivos;
A contribuição, também para essa ideologia competitiva, ligada “a perda da influencia da Filosofia na formulação das ciências sociais, cuja interdisciplinalidade acaba por buscar inspiração na economia. Daí o empobrecimento das ciências humanas e a conseqüente dificuldade para interpretar o que vai pelo mundo”;
No atual período, a produção do consumidor precede a produção dos produtos de bens e serviços, ou seja, cria-se primeiramente a demanda ao consumo e depois o referido produto;
Vivemos cercados pelo sistema ideológico construído ao redor do consumo e da informação ideologizados, que acabam por ser motor de ações dos atores hegemônicos – público e privado. Então, o entendimento do que é o mundo passa pelo consumo e pela competitividade, que são fundados no mesmo sistema da ideologia. Esses processos levam ao “emagrecimento moral e intelectual da pessoa, a redução da personalidade e da visão do mundo, convidando, também, a esquecer a oposição fundamental entre a figura do consumidor e a figura do cidadão”;
Como, hoje, todas as atividades hegemônicas são fundadas nas técnicas, o discurso aparece como algo relevante a produção da existência de todos. Essa imprescindibilidade de um discurso precedente a tudo, remete a ideologia”;
Com a globalização, as técnicas se tornam mais eficazes, sua presença se confunde com o ecúmeno, seu encadeamento se reforça e o seu uso escapa em muitos aspectos, ao domínio da política e se torna subordinado ao mercado;
Tendo, hoje, a ciência precedendo a técnica e sua utilização se dando a serviço do mercado, produz-se o ideário da técnica e do mercado que é santificado pela ciência, considerada infalível. Sendo a ciência uma das fontes de poder do pensamento único e da imposição de soluções como únicas;
Há um excedente discursivo sobre as violências funcionais derivadas em detrimento de discursos sobre a violência estrutural, que resultaria esta última da presença e das manifestações conjuntas, nessa era de globalização, do dinheiro, competitividade e potência, todas em estado puro, cuja associação conduz a emergência do globalitarismo;
Com a globalização impõe-se uma nova noção de riqueza, fundada no conceito de riqueza, fundada no conceito de dinheiro em estado puro e os quais todas as economias nacionais são chamadas a se adaptar. Tendo o consumo se tornado um dominador comum a todos os indivíduos, atribuindo um papel central ao dinheiro em todas as suas manifestações; junto o dinheiro e o consumo aparecem como reguladores da vida individual e o resultado dessa busca pode levar à acumulação para alguns como ao endividamento para maioria;
A necessidade de capitalização conduz a adotar como regra a necessidade de competir em todos os planos. Sendo, assim, a necessidade de competir legitimada por uma ideologia largamente aceita e difundida, na medida em que a desobediência as sua regras implica perder posições e, até mesmo desaparecer do cenário econômico, tendo a sua pratica a promoção de um afrouxamento dos valores morais e um convite ao exercício da violência em diversas instâncias;
poder não tem outra finalidade a não ser o próprio uso da força, já que ela é indispensável para competir e fazer mais dinheiro; que vem acompanhado pela desnecessidade de responsabilidade perante o outro;
“Ser pobre é participar de uma situação estrutural, com uma posição relativa inferior dentro da sociedade como um todo”;
“A causa essencial da perversidade sistêmica é a instituição, por lei geral da vida social, da competitividade como regra absoluta, uma competitividade que escorre todo o edifico social”;
“Os papeis dominantes, legitimados pela ideologia e pela pratica da competitividade, são a mentira, com o nome do segredo da marca; o engodo, com nome de Marketing; a dissolução e o cinismo, com os nomes de tática e estratégia”;
A vida realizada por meio das atuais técnicas exige cada vez mais dos homens comportamentos previsíveis, que de certo modo assegura uma visão mais racional do mundo e também dos lugares e conduz a uma organização sociotécnica do trabalho, do território e do fenômeno do poder;
Em século passados, com os progressos das técnicas, que está, a serviço da produção e do capitalismo, não houvesse a progressão das idéias, teríamos tido uma eclosão muito maior do utilitarismo, com uma pratica mais avassaladora do lucro e da concorrência;
Tendo, as idéias nos séculos precedentes a globalização, que marcou a ruptura do processo de evolução social e moral, o estabelecimento da possibilidade do enriquecimento moral do individuo;
atual período tem como uma das bases a junção entre a ciência e técnica, essa tecnociência, cujo uso é condicionado pelo mercado, não atendendo interesses da humanidade em geral. O que leva a pensar que o progresso técnico e cientifico não é sempre um progresso moral;
Graças a informação e ao dinheiro o mundo tornou-se mais fluido. Com a flexibilização das fronteiras dos territórios, o que leva ao enfraquecimento e à mudança de natureza dos Estados Nacionais, estando a serviço da economia dominante;
“A política agora é feita no mercado. Só que esse mercado global não existe como ator, mas como uma ideologia, um símbolo. Os atores são as empresas globais, que não tem preocupações éticas, nem finalisticas”. Entretanto, nas condições atuais assiste-se à não-política, isto é, a política feita pelas empresas, sobretudo as maiores; tendo como exemplo a atual emergência do terceiro setor, em que as empresas privadas assumiram um trabalho de assistência social antes deferido ao poder publico, que beneficiam seletivamente frações da sociedade;
poder publico passou a ser subordinado ao nexo das grandes empresas, instalando a semente da ingovernabilidade;
“Cada técnica propõe uma maneira particular de comportamento, envolve suas próprias regulamentações e, por conseguinte, traz aos lugares novas formas de relacionamento”;
Principalmente os países subdesenvolvidos conheceram pelo menos três formas de pobreza no ultimo meio século. A pobreza incluída, uma pobreza acidental, às vezes residual ou saxonal; a marginalidade, que seria a pobreza produzida pelo processo econômico da divisão do trabalho, internacional ou interna; a pobreza estrutural, presente em toda parte do mundo, porém mais presentes nos países já pobres, consistindo do ponto de vista moral e político equivalente a uma divida social;
A pobreza incluída pode ser vista como uma inadaptação entre condições naturais e condições sociais, que se produziria em um lugar e não se comunicava a outro lugar.
Esta pobreza coube num contexto de mundo onde o consumo não estava largamente difundido, e o dinheiro ainda não constituía um nexo social obrigatório, a pobreza era menos discriminatório. Podendo se falar de pobres incluídos;
A marginalidade seria a pobreza identificada como uma doença da civilização, cuja produção acompanha o próprio processo econômico.
Tendo neste momento o consumo se impondo como um dado importante, levando a classificar os indivíduos pela sua capacidade e forma de consumir;
No período atual, revela uma pobreza de um novo tipo, uma pobreza estrutural globalizada. Se dando pelo processo pelo qual o emprego é gerado e sua remuneração cada vez pior, ao mesmo tempo em que o poder publico se retira das tarefas de proteção social, o que é licito considerar que estejam contribuindo para uma produção cientifica, globalizada e voluntária da pobreza, onde os pobres não são incluídos nem marginais, elas são excluídos;
A pobreza produzida politicamente pelas empresas e instituições globais, que pagam para criar soluções localizadas, quando, estruturalmente, são os grandes produtores de pobreza. Com a colaboração ativa ou passiva dos governos nacionais.
Agora a pobreza surge, impõe-se e explica-se como algo natural e inevitável;
Hoje, aumenta-se o número de letrados e diminui o de intelectuais. Tais letrados não pensam para encontrar a verdade, ou, encontrando a verdade, não a dizem; renegando a função principal da intelectualidade, isto é, a busca incansada pela verdade, intermediada pelo discurso;
“A pobreza, hoje, é a pobreza nacional da ordem internacional”;
Os níveis inferiores de governo buscam políticas compensatórias para aliviar as conseqüências da pobreza, enquanto, ao nível federal, as ações mais dinâmicas estão orientadas cada vez mais para os interesses do capital, gerando pobreza;
É o estado nacional que detém o monopólio das normas, sem os quais os poderosos fatores externos perdem eficácia. Devido que nem as empresas transnacionais, nem as instituições supranacionais dispõem de força normativa para impor, sozinhas, devido de cada território, sua vontade política ou econômica, pois é o Estado Nacional que, afinal, regula o mundo financeiro e constrói infra-estruturas, atribuindo, assim, a grandes empresas escolhidas a condição de sua viabilidade;
Território do dinheiro e da fragmentação
Com a globalização, pode-se dizer que a totalidade da superfície terrestre é compartimentada, não apenas pela ação direta do homem, mas também pela sua presença política, tendo, ainda, se torna do funcional as necessidades, usos e apetites de Estados e empresas;
No atual período, com o mundo da fluidez e da rapidez. Tratando-se de uma “fluidez virtual, possível pela presença de novos sistemas técnicos, sobretudo os sistemas de informação, e de uma fluidez efetiva, realizada quando essa fluidez potencial é utilizada no exercício da ação, pelas empresas e instituições hegemônicas. A fluidez potencial aprece no imaginário e na ideologia como se fosse um bem comum”.
mundo da fluidez e da rapidez somente se entende a partir do processo conjunto do qual participam de um lado as técnicas atuais e, de outro, a política atual, que são utilizados pelos atores hegemônicos para benefício próprio. A partir deste processo é possível evidenciar lugares próprios a lentidão e lugares propícios a rapidez e fluidez, que são seletivamente beneficiados, gerando competitividade entre eles;
A competitividade destroça as antigas solidariedades, freqüentemente horizontais, e por impor uma solidariedade vertical, cujo epicentro é a empresa hegemônica, localmente obediente a interesses globais mais poderosos e de certo modo indiferente ao entorno;
território como um todo é objeto da ação de varias empresas, cada qual, preocupada com suas próprias metas e arrastando, a partir dessas metas, o comportamento do resto das empresas e instituições. Estas empresas produzem, assim, uma ordem em causa própria e criando paralelamente desordem para o restante;
Dentro de um mesmo país se criam formas e ritmos diferentes de evolução, governados pelas metas e destinos específicos de cada empresa hegemônica;
Os ultimo séculos marcam, para a atividade agrícola, com humanização e a mecanização do espaço geográfico, uma considerável mudança de qualidade, chegando a constituição do meio técnico-científico informacional, característico também no mundo rural, tanto nos paises avançados como nas regiões mais desenvolvidas dos paises pobres.
Tendo a produção agrícola uma referencia planetária, que recebe influencia das mesmas leis que regem os outros aspectos da produção econômica;
Nas áreas onde essa agricultura cientifica globalizada se instala, verifica-se uma importante demanda de bens científicos e, também, de assistência técnica. O que implica em uma estrita obediência aos mandamentos científicos e técnicos;
Nas cidades regionais, principalmente aquelas que desenvolvem agricultura moderna, tem se uma oferta de informação, imediata e próxima, ligada à atividade agrícola e produzindo uma atividade urbana de fabricação e de serviço que é largamente especializada é, paralelamente, um outro tipo de atividade urbana ligada ao consumo das famílias e da administração.
Tal cidade, cujo papel de comando técnico da produção é bastante amplo, tem também um papel político frente a essa mesma produção. Mas, na medida em que esta produção agrícola tem uma vocação global, esse papel político é limitado, incompleto e indireto;
“O campo modernizado se tornou praticamente mais aberto à expansão das formas atuais do capitalismo que as cidades”. Tanto, que a tendência a particularizações extremas, levando em conta, seja em maior ou menor grau, a influência dos fatores exógenos.
Este processo de adaptação das regiões agrícolas modernas se dá com grande rapidez, impondo-lhe, num pequeno espaço de tempo, sistemas de vida cuja relação com o meio é reflexa, enquanto as determinações fundamentais vêm de fora;
Sob o impulso da competitividade globalizadora, produzem-se egoísmos locais ou regionais exacerbados, justificados pela necessidade de defesa das condições de sobrevivência regional. Sendo, este um dos fatores que conduzem a fragmentação do território e da sociedade;
Dentro de cada região, as alianças e os contratos sociais estão sempre se refazendo e a hegemonia, assim, deve ser sempre revista;
processo produtivo reúne aspectos técnicos, que se caracteriza com a produção propriamente dita e sua área de incidência, e aspectos políticos, que é caracterizada pelo racionamento de uma parcela política do processo produtivo com o comercio, preços, subsídios, etc., tendo sua sede fora da região e seus processos freqüentemente escapam ao controle dos principais interessados;
“O território não é apenas o resultado da superposição de um conjunto de sistemas naturais e um conjunto de sistemas de coisas criadas pelo homem. O território é o chão e mais a população, isto é, uma identidade, o fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence”. Assim, surge a idéia de nação, tribo, povo e, depois, de Estado Nacional decorre dessa relação tornada profunda;
dinheiro é uma invenção decorrente do aprofundamento das atividades econômicas. O dinheiro constitui um dado processo, assim, ele se torna representativo do valor atribuído à produção e ao trabalho e aos respectivos resultados;
Cada vez mais coisas tendem a tornar-se objeto de intercambio, valorizado cada vez mais pela troca do que pelo uso e, desse modo, reclamando uma medida homogênea e permanente. Assim, o dinheiro aumenta sua indispensabilidade e abarca os aspectos da vida social e econômica;
dinheiro é um dado essencial para o uso do território, se fundando sobre a lei do valor que tanto deve ao caráter da produção presente de cada lugar como às possibilidades de circulação.
Portanto, quanto mais movimento, maior se torna a complexidade das relações internas e externas e aprofunda-se a necessidade de uma regulação do território, que é atribuído ao Estado;
Com a globalização, o uso das técnicas disponíveis permite a instalação de um dinheiro fluido, relativamente invisível e abstrato. Se tornando um equivalente universal o dinheiro, concomitantemente, ganha existência praticamente autônoma em relação ao resto da economia;
As lógicas do dinheiro impõem-se aquelas da vida socioeconômica e política, se dando segundo duas vertentes: uma é o dinheiro das empresas e o outro é a lógica dos governos financiadores globais.
Essa inteligência global é exercida pelo que se chama de contabilidade global, cujos, aqueles governos globais medem, avaliam e classificam as economias nacionais segundo alguns parâmetros. Sendo, hoje, o dinheiro global o principal regedor do território, tanto o território nacional como suas frações.
No lugar, a finança global se exerce pela existência de instituições, criando perplexidades e sugerindo interpretações que podem conduzir à ampliação da consciência. No entanto, a vontade de homogeneização do dinheiro global e contrariada pelas resistências locais à sua expansão, porém, há, também, uma vontade de adaptação as novas condições de dinheiro, já que a fluidez financeira é considerada uma necessidade para ser competitivo e exitar no mundo globalizado;
“O dinheiro regulador e homogeneizador agrava heterogeneidades e aprofunda as dependências. E assim que ele contribui para quebrar a solidariedade nacional, criando ou aumentando as fraturas sociais e territoriais e ameaçando a unidade nacional”;
“As verticalidades podem ser definidas, um espaço de fluxos”. O espaço de fluxos seria, na realidade, um sistema dentro da totalidade-espaço. Sendo um conjunto de pontos adequados as tarefas produtivas hegemônicas, o espaço de fluxos é constituído por redes exigentes de fluidez e sequioso de velocidade, havendo uma solidariedade do tipo organizacional, no qual predominam atores hegemônicos. A este processo aglutina-se, ainda, a ação explicita ou dissimulada do Estado;
As frações do território que constituem esse espaço de fluxos constituem o tempo real, aferido pela temporalidade globalizada das empresas hegemônicas presentes. Desse modo ordenado, o espaço de fluxos tem vocação a ser ordenador do espaço total.
modelo econômico assim estabelecido tende a reproduzir-se, ainda que mostrando topologias especificas. Assim, quanto mais modernizados e penetrados por esta lógica, mais os espaços respectivos se tornam alienados;
“As horizontalidades são zonas da contigüidade que formam extensões continuas”. Sendo estas zonas consideradas banais em oposição às zonas econômicas;
espaço banal sustenta e explica um conjunto de produções localizadas, interdependentes, dentro de uma área cujas características constituem, também, um fator de produção. Todos os agentes são implicados, e os receptivos tempos são imbricados, criando uma solidariedade orgânica da qual sobrevive o conjunto;
Nesse espaço banal, a ação do Estado é limitada, devido a preocupação deste com a ampliação das verticalidades, porém, paralelamente, permite o aprofundamento da personalidade das horizontalidades;
As horizontalidades admitem presença de outras racionalidades ou contra-racionalidade, isto é, formas de convivência e de regulação criadas a partir do próprio território e que se mantêm nesse território a despeito da vontade de unificação e homogeneização, características da racionalidade hegemônica típica das verticalidades;
Nas condições atuais com tendência a uma difusão avassaladora, é o da criação da ordem da racionalidade pragmática, enquanto a produção do espaço banal é residual;
Os lugares são singulares, mas são também globais. Eles são mundo que eles reproduzem de modos específicos;
“A possibilidade de existência de um cidadão do mundo é condicionado pelas realidades nacionais. Na verdade, o cidadão só o é (ou não o é) como cidadão de um país”;
A multiplicidade de situações regionais e municipais, trazida com a globalização, instala uma enorme variedade de quadros de vida, cuja realidade preside o cotidiano das pessoas e deve ser a base para uma vida civilizadora em comum. Assim, a possibilidade de cidadania plena das pessoas depende de soluções a serem buscadas localmente, desde que, dentro da nação, seja instituída uma Federação de lugares;
território tanto quanto o lugar são esquizofrênicos, porque de um lado acolhem os vetores da globalização, que neles se instalam para impor sua nova ordem, e, de outro lado, neles se produz uma contra-ordem, porque há uma produção acelerada de pobres, excluídos e marginalizados. Neste processo o lugar se torna determinante. Devido ele não ser apenas um quadro de vida, mas um espaço vivido, que exerce um papel revelador sobre o mundo.
Assim, os lugares se diferenciam, tendo como um dos fatores a quantidade de “racionalidade” que ganham do “mundo”. Esta se propaga de modo heterogêneo, deixando coexistirem outras racionalidades ou contra-racionalidades, o que torna possível a ampliação de sua consciência;
No campo, as racionalidades da globalização se difundem mais expressivamente e mais rapidamente. Há cidade, as irracionalidades se criam mais numerosas e incessantemente que as racionalidades;
A consciência da diferença pode conduzir simplesmente à defesa individualista do próprio interesse, sem alcançar a defesa de um sistema alternativo de idéias e de vida.
Limites à globalização perversa
No mundo atual há indicação da emergência de numerosas variáveis cuja existência é sistêmica. Isso, permite pensar que estão produzindo as condições de realização de uma nova historia;
A boa parcela da humanidade, por desinteresse ou incapacidade, não é capaz de obedecer as imposições da atual racionalidade hegemônica;
Na ideologia da globalização e das técnicas encontra-se o apregoamento de que a velocidade constitui um dado irreversível na produção da história, mas de fato a minoria acaba sendo representativa da totalidade, graças exatamente a esta força ideológica;
A velocidade, assim é utilizada duplamente um dado da política e não da técnica. De um lado, trata-se de uma escolha relacionada com o poder dos agentes e, de outro, da legitimação dessa escolha, por meio da justificação de um modelo de civilização;
“A técnica somente é um absoluto enquanto irrealizada”. Tendo a sua historização e geografizaçao voltada para entender o seu uso pelo homem, sua qualidade de intermediário da ação, isto é, sua relativização;
A população em seus diferentes níveis econômicos obriga a combinação de formas e níveis de capitalismo. Existindo a interdependência e intecorrência dos diverso mercados, cada qual voltado principalmente para atender determinado nível da população, freia a vontade da velocidade imposta pelos atores hegemônicos;
Com a interdependência globalizada dos lugares e a planetarização dos sistemas técnicos dominantes, estes parecem se impor como invasores e a difundir a idéia de que o sistema técnico dominante é absolutamente indispensável, além de tratar a velocidade como resultante de um dado desejável a todos que pretendem participar da modernidade atual.
Assim, em ultima analise, as crises atuais são resultantes da aceleração contemporânea, mediante o uso privilegiado das possibilidades de fluidez.Como tal exercício não responde a um objetivo moral, é desprovido de sentido e justifica-se por si mesmo, tal característica são uma das razoes da desordem do período atual;
tema das verticalidades e horizontalidades pode comportar a interpretação, movida entre a oposição existente entre a natureza das atividades just-in-time, que trabalham com um relógio universal movido pela mais-valia universal, e a realidade das atividades que, juntas, constituem a vida cotidiana.
As atividades relacionadas ao just-in-time possuem vocação para uma racionalidade única, homogeneizante, mas trata-se de uma racionalidade sem razão. Entretanto no cotidiano, a razão de viver, é considerada como “irracionalidade”, quando na realidade o que se dá são outras formas de ser racional, pois a vida cotidiana abrange varias temporalidades simultaneamente presentes.
Assim, o tempo hegemônico busca uma homogeneização empobrecida e limitada, enquanto o tempo do mundo cotidiano propicia uma heterogeneidade criadora;
Hoje, as técnicas estão em toda parte, assim, tendo tanto como os objetos como as ações derivação da técnica.
Na medida em que as técnicas hegemônicas hoje são extremamente dotadas de intencionalidade, a igualmente tendência à hegemonia de uma produção e a excludencia de outras. Cria-se um verdadeiro totalitarismo tendencial da racionalidade, sento este a base primeira da produção de carências e de escassez.
Nessa situação, as técnicas, a velocidade, a potencia criam desigualdades e, paralelamente, necessidades;
“A experiência da escassez é a ponte entre o cotidiano e o mundo”;
A alteridade e individualismo se reforçam com a renovação da novidade. Quanto mais diferentes são os que convivem num espaço limitado, tanto mais ricos serão os debates e embates entre as pessoas.
Nesse sentido, pode-se dizer que a cidade é um lugar privilegiado para essa relação e que também a aceleração contemporânea é aceleração na produção de escassez e na descoberta da sua realidade.
Assim, a convivência com necessidade e com o outro, constituída a partir das suas visões de mundo e dos lugares. A política dos pobres é baseada no cotidiano vivido por todos, pobres e não pobres, e é alimentada pela simples necessidade de continuar existindo. Essa política de novo tipo não tem nada a ver com política institucional, regida pelos e para os atores hegemônicos;
Cada época cria novos atores e atribui papeis novos ao já existentes.
“Nas condições brasileiras atuais, as novas circunstancias podem levar as classes médias a forçar uma mudança substancial do ideário e das praticas substancial do ideário e das praticas políticas”. Se torna evidente através desta afirmação a possível conscientização da classe média e a luta para uma maior justiça social, porém tal afirmação remete a umas idéia, a priori, de tais fatores e reclames sociais se dão no “campo”, onde hoje encontra-se boa parte da classe média;
A transição em marcha
A presença e influencia de uma cultura de massas buscando homogeneizar e impor-se sobre a cultura popular e as reações desta é resultante do empenho vertical unificador, homogeneizador, conduzido por um mercado cego, indiferente às heranças e as realidades atuais dos lugares e das sociedades. Mas, essa conquista jamais é completamente, pois encontra a resistência da cultura preexistente.
Há a possibilidade, cada vez mais freqüente, de uma revanche da cultura popular sobre a cultura de massa, quando ela se difunde mediante os usos dos instrumentos que na origem são próprios da cultura de massas.
Ao difundir-se pelo instrumento da cultura de massa não estaria a cultura popular se massificando?;
Os atores hegemoneizados, em sua grande parte, não dispõem de meios para participar plenamente da cultura moderna de massa. Mas como a sua cultura, por ser baseada no território, no trabalho e no cotidiano, ganha força necessária para deformar, ali mesmo, o impacto da cultura de massas.
Essa cultura endógena impõe-se como um alimento da política dos pobres, realizando-se segundo os níveis mais baixos de técnica, de capital e de organização, se dando assim suas formas típicas de criação. Isto seria, aparentemente, uma fraqueza, mas na realidade é uma força, já que se realiza, desse modo, uma integração orgânica com o território dos pobres e o seu conteúdo humano.
A cultura de massa produz seus símbolos, direta ou indiretamente ao serviço do poder ou do mercado, assim como a cultura popular também aos produzem, porém seus símbolos são portadores da verdade da existência e reveladores do próprio movimento da sociedade;
“A divisão do trabalho por cima” é obediente ao uso das técnicas da racionalidade hegemônica, com uma solidariedade gerada por fora e dependente de vetores verticais. Seu campo é de maior velocidade e a regidez das normas econômicas impede a política;
“A difusão do trabalho por baixo” é fundada na descoberta cotidiana das combinações que permitem a vida, se produzindo uma solidariedade criada de dentro e dependente de vetores horizontais cimentados no território e na cultura local.
Há maior dinamismo intrínseco, com maior movimento espontâneo, mais encontros gratuitos, maior complexidade e mais combinações;
Com a prevalência do dinheiro em estado puro como motor primeiro e ultimo das ações, o homem acaba por ser considerado um elemento residual, assim como também o território, Estado-nação e a solidariedade social;
A idéia de irreversibilidade da globalização atual é aparentemente reforçada pela interdependência e inter-relação atual entre cada país e o que chamamos de mundo, além da idéia de que a historia seria sempre feita a partir dos países centrais.
Mas, ao analisar os aspectos mais estruturais da situação atual, verifica-se que o centro do sistema busca impor uma globalização de cima para baixo nos demais países;
No mundo globalizado há produção de uma racionalidade determinante, mas que vai aos poucos deixando de ser dominante. É uma racionalidade que comanda os grandes negócios cada vez mais abrangentes e mais concentrados em poucas mãos.
São muitas numerosas as manifestações de desconforto com as conseqüências da nova dependência e do novo imperialismo, tornando-se evidentes os limites de aceitação de tal situação. Por diferentes razoes e meios diversos, as manifestações de irredentismo já são claramente evidentes em alguns países;
“No sentido de alcançarmos uma outra globalização, não virão do centro do sistema, como em outras fases de ruptura na marcha do capitalismo. As mudanças sairão dos paises subdesenvolvidos”;
“O país deve ser visto como uma situação estrutural em movimento, na qual cada elemento esta intimamente relacionado com os demais”;
A nação ativa seria a daqueles que aceitam, pregam e conduzem uma modernização que se dá preeminência aos ajustes que interessam ao dinheiro. Portanto para este discurso globalizado ter eficácia localmente, necessita de um sotaque domestico e por isso estimula um pensamento nacional associado produzido por mentes cativas, subvencionadas ou não, o que gera uma certa produção do conformismo;
A nação passiva é constituída por aqueles que participam de modo residual do mercado global ou cujas atividades conseguem sobreviver a sua margem, mantendo relações de simbiose com o e dos indivíduos;
Um dos elementos, ao mesmo tempo, ideológico e empírico, da presente forma da globalização é a centralidade do consumo, com a qual a tem relação com o cotidiano e suas repercussões sobre a produção, as formas presentes da existência e as perspectivas das pessoas;
É também por meio do conjunto de movimentos que compõe o atual período, que se reconhece uma saturação dos símbolos pré-construidos e que os limites de tolerância às ideologias são ultrapassadas, o que permite a ampliação do campo da consciência;
“Na medida em que as técnicas cada vez mais se dão como normas e a vida se desenrola no interior de um oceano de técnicas, acabamos por viver uma politização generalizada. A rapidez dos processos conduz a uma rapidez nas mudanças e, por conseguinte, aprofunda a necessidade de produção de novos entes organizadores”;
“Jamais houve na história sistemas tão propícios a facilitar a vida e a propiciar a felicidade dos homens. A materialidade que o mundo da globalização está recriando permite um uso radicalmente diferente daquele que era a base matéria da industrialização e do imperialismo”;
A possibilidade de identificação das situações estão diretamente relacionadas a melhoria da informação disponível e ao aprofundamento das possibilidades de comunicação, que mostra o desamparo que as populações são relegadas, levando, paralelamente, a um maior reconhecimento da condição de escassez e as novas possibilidades de ampliação da consciência;
A mídia trabalha com que ela própria transforma em objeto de mercado, porém em nenhum lugar as comunidades são formadas por pessoas homogêneas e levando isto em conta, ela deixara de representar o senso com um imposto pelo pensamento único;
Com este mundo complexo posto, marcado na ordem material pela multiplicação incessante do número de objetos e na ordem imaterial pela infinidade de relações que os objetos nos unem. Essa totalidade – mundo se manifesta, justamente pela unicidade das técnicas e das ações.
Assim, o meio ambiente é cada vez menos natural, o uso do entorno imediato pode ser menos aleatório. As coisas valendo pelo que elas podem oferecer e os gestos pela adequação às coisas a que se dirigem;
mundo se instala nos lugares, graças aos processos da informação, ficando, mais perto de cada um. Se criando um mundo como realidade histórica unitária, ainda que ele seja extremamente diversificado, sobretudo nas grandes cidades;
“A mesma materialidade, atualmente utiliza para construir um mundo confuso e perverso, pode vir a ser uma condição da construção de um mundo mais humano”. Bastando haver a mutação tecnológica e a mutação filosófica da espécie humana;
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