quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Geografia - HAESBAERT, Rogério; PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. A nova desordem mundial.


Um momento de desordem mundial : Livro discute reformulação de territórios diante de novas influências políticas, econômicas e culturais
Por: Fabíola Bezerra

Neste começo de século, assistimos a uma reformulação de fronteiras e influências político-econômicas no mundo. Essa nova forma de organização mundial, baseada na existência de redes, fluxos e conexões, exige mudanças no método geográfico tradicional de agrupar e separar territórios. O livro A nova des-ordem mundial apresenta propostas para entender a estrutura do espaço contemporâneo sob as dimensões econômica, política, cultural e ambiental e tece as causas dessa reconfiguração territorial com base em argumentos históricos. Segundo os autores do livro, os geógrafos Rogério Haesbaert e Carlos Walter Porto-Gonçalves, os conceitos básicos de estudo da geografia vêm mudando por causa de uma série de acontecimentos que, nos últimos 15 anos, alteraram os rumos da humanidade. Para eles, o melhor exemplo para representar essa reformulação mundial seria o fato de que, enquanto as torres gêmeas do World Trade Center foram derrubadas nos Estados Unidos em 2001, as torres Petronas permanecem firmes em Kuala Lumpur, capital da Malásia, o que, de forma simbólica, revela a ascensão de um novo poder no Oriente.
A tarefa de reorganizar as regiões do planeta em função dessas mudanças para fins de estudo torna-se então o grande desafio da geografia pós-moderna. Haesbaert e Porto-Gonçalves afirmam no livro que a hegemonia do Ocidente e o pensamento moderno são incompreensíveis sem o conceito de colonização. No entanto, o mecanismo de exploração da Ásia e da África iniciado pelos europeus com a expansão marítima e comercial mudou a partir da Primeira Guerra Mundial.
A busca por novas fontes de matéria-prima e mercados consumidores impulsionada pelo imperialismo gerou uma nova ordem, encabeçada pela Europa, pelos Estados Unidos e pelo Japão. Enquanto o comércio internacional crescia no início do século 20, a África, a Ásia e a América Latina viviam devastações ecológicas e sociais, por causa da nova divisão internacional do trabalho, que atribuiu aos países “centrais” a produção de tecnologia e a exploração dos recursos naturais e da mão-de-obra dos países “periféricos”. Essa geografia imperialista regeu o mundo por muito tempo, até o período em que os teóricos chamam de Pós-modernidade.
Essa nova era é marcada pelo advento da globalização e da internet, que permitiu maior integração internacional e criou um novo espaço público, o “território-mundo”, composto de uma sociedade mundial que compartilha os mesmos valores. A integração cada vez maior dos Estados e a soberania de um país através de um grupo – situação que os geógrafos chamam de capitalismo globalmente integrado – são demonstradas pela força dos blocos econômicos – como a União Européia –, que estabelecem uma concorrência acirrada entre si para manter a influência sobre seus parceiros comerciais. Nesse processo, interesses econômicos e políticos se mesclam o tempo todo. No livro, os autores identificam um novo movimento de regionalização do espaço contemporâneo a partir de redes integradas ilegais de poder, como o tráfico de drogas e o terrorismo globalizado – por exemplo, a rede árabe Al Qaeda –, e de organizações não-governamentais (ONGs). Estas seriam talvez as melhores indicadoras da desordem na organização do território, por não atuarem em uma base específica. Segundo Haesbaert e Porto-Gonçalves, a existência dessas organizações civis comprova a crise do Estado, que não exerce o seu papel político em causas sociais.
O uso de termos mais complexos, além de referências constantes a teóricos, podem vir a confundir o leitor que não está habituado à linguagem acadêmica. No entanto, os próprios avanços e retrocessos do texto, bem amarrado pelos autores, transmitem a idéia principal do livro: a reconfiguração dos territórios devido a mudanças nas relações de poder e ao hibridismo cultural. Ler A nova des-ordem mundial pode ser um começo para entender esse movimento.

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