terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Professores apaixonados



Por Antonio Ozaí da Silva
Ser professor é uma profissão como outra qualquer e, como em todas as áreas, há os que se identificam com o que fazem, e os que apenas cumprem a jornada. Nas condições da sociedade moderna, o trabalho, já dizia um filósofo alemão, é alienante. Portanto, é muito difícil sentir prazer ou apaixonar-se. Ponto para os que, mesmo nas condições de alienação do trabalho, se “apaixonam”.
Fiquei a pensar sobre o significado das palavras e imagens dos “professores apaixonados”. Dialeticamente, como se diz no bom sociologuês, em minhas reflexões mesclam-se o estudante e o professor; a criança, o adolescente e o adulto. Recordei, com carinho e saudade, da primeira professora. Lembrei que, ao completar 18 anos de idade, na época morava em São Paulo, retornei ao nordeste para rever a cidade da minha infância e conhecer a que nasci. Fui informado que a professora morava na periferia de São Paulo. Peguei o endereço e, ao retornar, fui visitá-la. Não sei se ela compreendeu o gesto, mas demonstrou contentamento. Foi o reconhecimento e gratidão a quem marcou a minha vida.
Recordei também dos que me ensinaram os primeiros conceitos e teorias; dos que me apresentaram os rudimentos das línguas estrangeiras, em especial da minha professora de francês, no ginasial; lembrei do professor de matemática que me estimulou a aprender o jogo de xadrez – embora eu ainda seja péssimo xadrezista; do professor de história que me ensinou o significado didático da polêmica; recordei, ainda, da graduação e dos que, mais do que conteúdos, me ensinaram pelo exemplo. No mestrado, tive excelentes professores, em especial o meu orientador Maurício Tragtenberg. O mesmo no doutorado, em que convivi com professores experientes e tive a alegria de ser orientado pelo Nelson Piletti. Da infância ao doutorado, há os que marcaram a minha vida, os que fizeram a diferença, os que jamais esquecerei e a quem sou grato.
“Professoras apaixonados” são os que fazem a diferença, os que marcam a vida dos seus alunos. Há também os que deixam marcas negativas e traumáticas. Em minha vida de professor, desde a época que trabalhei no ensino público em Diadema(SP) e no Guacuri (zona sul da capital paulistana), conheci estudantes que ficaram traumatizados devido à determinadas atitudes dos seus professores. Tenho dúvidas se, neste caso, gostam da profissão.
Há, ainda, os professores apaixonados pelo conteúdo, pelas disciplinas que trabalham. Eles dão o exemplo do amor ao saber, mas pecam por darem mais importância às abstrações dos conceitos e teorias do que às relações humanas que se estabelecem na atividade docente.
Conclui que sou alguém de sorte. Faço o que gosto. Sou apaixonado pelo que faço. Agradeço aos meus aos professores e professoras e, também, aos discentes. Obrigado e parabéns aos professores, apaixonados ou não...
Fonte: http://www.consciencia.net/?p=919

Um comentário:

  1. Valdenir Cunha da Silva25 de maio de 2011 às 18:51

    Muito sábias suas palavras.Certamente que ser professor sem deixar-se apaixonar, é como a "noite sem luar", é como "um céu sem etrelas" é com um ser que não sonha, não sente, não acredita. Ser professor é sem dúvida alguma, doar-se por inteiro, com o firme propósito de conseguir os objetivos propostos. É, sobretudo acreditar no outro e no seu potencial.O professor tem nas mãos a liberdade de contribuir para a construção de um futuro melhor, ainda que incerto, ainda que tardio.Na educação, tudo vale a pena.Valdenir Cunha

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