Estava relendo um livro presenteado por uma amiga minha, “O Estado  sedutor”, de Régis Debray. Muito interessante a análise que ele faz do  período contemporâneo, em que vivemos em uma sociedade chamada por ele  de “videoesfera” (hegemonia da imagem) que substituiu a “logosfera”  (hegemonia da escrita). O que me chamou a atenção é que na videosfera os  mecanismos de exercício do poder são baseados na sedução, enquanto que  na logosfera, é o conhecimento acumulado. A sedução tem uma certa  característica de efemeridade, um impacto inicial que mobiliza  sensações, tangencia comportamentos irracionais e a catarse. Li, certa  vez, que um cidadão contemporâneo tem acesso, hoje, a uma quantidade de  informações por dia muito maior do que um indivíduo da Antiguidade em  toda a sua vida. Muita informação que é selecionada via mecanismos de  sedução. Destacar-se e construir uma distinção hoje passa pela  capacidade de seduzir o(s) outro(s).
O impacto deste sistema na cabeça dos indivíduos é a imposição de um  comportamento exibicionista, a ponto de grande parte abrir mão das suas  privacidades e expô-las publicamente via as tecnologias da informação e  comunicação. O julgamento e avaliação do outro passa por critérios  efêmeros, subjetivos na pior acepção do termo. A priori, há uma certa  “resistência” ao outro até que este prove o contrário da sua “qualidade”  (inocência?) Imagino como isto entra na cabeça das pessoas de segmentos  historicamente discriminados, como negr@s, mulheres, homossexuais.
Dentro de cada uma das situações específicas, cada um deles tenta  construir estratégias de serem aceitos pela sociedade da sedução: negros  e negras usarem até os atributos construídos pelos estereótipos  preconceituosos mas de forma positiva (como a “mulata” gostosa e sensual  e o negro bem dotado sexualmente ou ainda a “criatividade” do seu lugar  lúdico), a mulher ser sedutora dentro dos limites aceitos pelos padrões  da moralidade; homossexuais serem o que são sem demonstrar exageros de  visibilidade (manter a sua sexualidade no privado e no invisível).
Foucault, tempos atrás, falava da propriedade construtiva do poder.  Isto é, que o poder não apenas proíbe, mas principalmente constrói  sujeitos. Este poder sedutor está construindo que tipo de sujeitos?  Quais serão as suas ações e que sociedade será fruto destas ações?
Fonte: http://dennisoliveira.wordpress.com 
 

 
 
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