sexta-feira, 8 de março de 2013

A nova mulher e a velha moral burguesa


Escrito em 1918, “A nova mulher e a moral sexual” de Alexandra Kollontai é um libelo do marxismo contrário à moral burguesa, e as formas de relacionamento predominantes na sociedade capitalista que são contrários às leis da biologia e da psicologia, que atentam contra a natureza humana e o seu desenvolvimento.
Kollontai, apoiando-se em vários trabalhos sobre psicologia, e seguindo os ensinamentos de Marx no Manifesto do Partido Comunista mostra como a moral burguesa é uma vã ficção e leva a uma degeneração das relações sociais.
Ela descreve as três formas fundamentais de relações sexuais existentes e as suas implicações para a degeneração das relações. São elas: o matrimônio legal, a prostituição e o amor livre. Em seguida, mostra uma alternativa que possibilite uma reeducação sexual, que seria o amor-jogo ou amizade erótica, em direção ao amor verdadeiro, possível apenas na sociedade comunista. Já que a própria sexualidade é determinada pelas relações de produção da sociedade.
“Somente uma transformação fundamental da psicologia humana poderá transpor a porta proibida, somente o enriquecimento da psicologia humana no potencial do amor pode transformar as relações entre os sexos e convertê-los em relações impregnadas de verdadeiro amor, dotadas de uma afinidade real, em uniões sexuais que nos tornem felizes. Porém, uma transformação desse gênero exige inevitavelmente a transformação fundamental das relações econômico-sociais: isto é, exige o estabelecimento do regime comunista.”
O matrimônio legal, indissolúvel, é totalmente contrário à própria constante mudança da psicologia humana no decorrer da vida. Isso porque, o matrimônio é entendido como patrimônio sobre o outro. " Não pode haver, na realidade, um contra-senso maior. Dois seres, cujas almas só têm raros pontos de contato, têm necessariamente que se adaptar um ao outro, em todos os diversos aspectos de seu múltiplo eu. O absolutismo da posse encerra, irremediavelmente, a presença contínua desses dois seres, associação que é tão doentia para um como para outro.” A indissolubilidade e a propriedade substitui o esforço psíquicos para manutenção do amor pela coerção externa do relacionamento.
A prostituição, segundo Kollontai que se abstém de referir-se às misérias sociais, sofrimentos físicos, enfermidades, deformações e degenerescência da raça, envenena o espírito do homem.
“A prostituição deforma todas as noções que nos levam a considerar o ato sexual como um dos fatos essenciais da vida humana, como o acorde final de múltiplas sensações físicas levando-nos a estimá-lo, em troca, como ato vergonhoso, baixo e grosseiramente bestial. A vida psicológica das sensações na compra de carícias tem repercussões que podem produzir conseqüências muito graves na psicologia masculina. 
O homem acostumado à prostituição, relação sexual na qual estão ausentes os fatores psíquicos, capazes de enobrecer o verdadeiro êxtase erótico, adquire o hábito de se aproximar da mulher com desejos reduzidos, com uma psicologia simplista e desprovida de tonalidades. Acostumado com as carícias submissas e forçadas, nem sequer tenta compreender a múltipla atividade a que se entrega a mulher amada durante o ato sexual. Esse tipo de homem não pode perceber os sentimentos que desperta na alma da mulher.”
Aparentemente paradoxal, Kollontai, mostra como a união livre traz também aspectos ruins. Isso porque “o homem da nossa época vê a união livre com uma psicologia já deformada por uma moral falsa e doentia, fruto do matrimônio legal, por um lado, e do lúgubre abismo da prostituição, por outro. O amor livre choca-se com dois obstáculos inevitáveis: a incapacidade para sentir o amor verdadeiro, essência do nosso mundo individualista, e a falta de tempo indispensável para se entregar aos verdadeiros prazeres morais. O homem atual não tem tempo para amar.
A nossa sociedade, fundada sobre o princípio da ocorrência, sobre a luta, cada vez mais dura e implacável, pela subsistência, para conquistar um pedaço de pão, um salário ou um ofício, não deixa lugar ao culto do amor”.
“O amor-paixão é um obstáculo para a realização dos objetivos essenciais de sua vida: a conquista de uma posição, de um capital, de uma colocação segura, da glória, etc. O homem tem medo dos laços de um amor forte e sincero que o separaria, possivelmente, do principal objetivo da sua vida. A livre união, no complicado ambiente que nos rodeia, exige por sua vez uma perda de tempo e de forças morais infinitamente maiores do que um matrimônio legal ou do que as carícias compradas. (...) O amor livre, nas condições atuais da sociedade, termina sempre numa separação ou num matrimônio legal”
Enquanto, do outro lado, a nova mulher, que “deposita na balança da felicidade do amor livre, além da sua alma, seu trabalho querido, uma profissão conquistada.” cobra “a alma do homem”.
Por isso, o que a autora propõe é uma forma de amor-jogo, ou amizade erótica, que tem como função a reeducação sexual e a preparação dos pilares para o amor verdadeiro. Amor verdadeiro, como o surgimento da própria sociedade comunista, serão inevitáveis, pelo desenvolvimento inevitável da sociedade e da individualidade.
Fonte: http://www.pco.org.br

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