terça-feira, 19 de abril de 2011

Educação pública de qualidade: lições da Escandinávia



Visita às escolas da Finlândia e Suécia, países modelos de excelência na educação, demonstra que não há mágica para melhorar o sistema brasileiro.
É preciso muito esforço


Ana Cristina Canettieri

No período de 27 de abril a 14 de maio, um grupo de educadores participou da viagem educacional à Escandinávia, interessados em conhecer detalhes do modelo educacional da Finlândia e da Suécia e identificar as principais razões do sucesso na avaliação do PISA. Destaca-se, o orgulho de todos por ter feito parte da primeira missão brasileira a ser oficialmente recebida pelos governos dos dois países.

Na Suécia houve um encontro especialíssimo, no Palácio Real de Estocolmo, com a Rainha Silvia, filha de brasileira e pai alemão, viveu em São Paulo dos 4 aos 13 anos, fala o português sem sotaque, é adorada pelos suecos, tem 3 filhos, e sua única filha, a Princesa Vitória, é a primeira na linha de sucessão ao trono sueco.

A Escandinávia possui hoje o mais elevado padrão de vida, mesmo entre as nações desenvolvidas. Nos últimos 30 anos, a Finlândia vem se destacando positivamente no cenário europeu e a educação tem papel fundamental na obtenção desse status quo. Hoje, esses países, e especialmente a Finlândia, que obteve a primeira colocação no exame do PISA, constituem modelos de excelência na educação e despertam grande interesse de governos, educadores, economistas e empresários do mundo todo.

A comitiva, formada por mais de 70 educadores de várias regiões do Brasil, participou de seminários sobre o sistema educacional sueco e finlandês e realizou visitas a dezenas de escolas, com objetivo de conhecer e comparar o papel do Estado e da escola privada, a capacitação e o papel fundamental do professor, o grau de autonomia dado às crianças e aos jovens, a inclusão natural de todos os estudantes, inclusive dos imigrantes, o sistema de avaliação das escolas.

Para ampliar ao máximo a visão sobre o sistema sueco e finlandês, foram incluídas visitas a instituições de ensino de diferentes níveis, do pré-escolar à universidade, pública e privada, de periferia e de bairros tradicionais.

Sobre a Finlândia

De um lado, ao extremo norte, a Finlândia faz fronteira com a Suécia, e de outro, em quase toda a sua extensão, com a Rússia. Helsinque, sua capital, é banhada pelas águas pouco salgadas do mar Báltico, e por esta razão se congela no inverno com uma camada de mais de 2 palmos de gelo. Neste período, os finlandeses praticam esqui sob o mar congelado, e alguns, os mais corajosos, fazem furos no gelo para pescar salmão.

Devido à inclinação do eixo da terra, uma vez ao ano, entre os dias 17 e 24 de junho, a Finlândia fica exposta ao sol 24 horas por dia - é o sol da meia-noite. Este período é tão importante que há festival de danças típicas ao ar livre para celebrá-lo.

Ao longo dos tempos, Suécia e Rússia dominaram a Finlândia - são 800 anos de história com a Suécia e 100, com a Rússia. Após a revolução russa, em 1917, a Finlândia ficou independente, portanto, apenas há 90 anos!

A população da Finlândia é de 5.200 milhões de habitantes e de Helsinque, 560 mil. Para efeito de comparação entre as cidades de referência, Estocolmo tem 900 mil, Oslo 529, Berlim 3.300 milhões e St. Petersburgo, 4.660 milhões, que juntas não alcançam a população de São Paulo!

A Educação na Finlândia

A nossa comitiva foi privilegiada ao ter tido não apenas um, mas dois encontros com Mrs. Eeva Pentilla, uma das mais respeitadas vozes em Educação da União Européia e responsável pelas escolas de Helsinque. Mrs. Pentilla, nos fez dois longos e apaixonantes relatos sobre a educação de seu país e nos confidenciou que pouco antes de sair o resultado do exame do PISA havia marcado uma reunião para discutir alguns pontos que considerava que não estavam nada bons nas escolas de Helsinque!! - Foi uma surpresa o 1º. lugar, não somos muito bons em matemática, gastamos mais tempo ensinando línguas, disse.

O sistema educacional da Finlândia é pequeno se comparado a muitos estados brasileiros. São 161 escolas básicas, as comprehensive schools - de 7 a 16 anos e 38 escolas secundárias, que totalizam pouco mais de 70 mil estudantes. Soma-se a este sistema os 26 mil alunos matriculados nas 37 escolas vocacionais ou técnicas, 130 mil nas 31 politécnicas e 176 mil nas 20 universidades.

No período em que a Finlândia fez parte da Suécia, a educação era feita pela igreja, que exigia que toda pessoa que quisesse se casar na igreja deveria saber ler. Saber ler é fazer parte da sociedade, é muito importante um indivíduo ser aceito pela sociedade, ser aceito pelo vizinho, afirmam os finlandeses. Assim, esta idéia persiste até hoje, a única mudança é que a sociedade não quer só saber ler, quer também a conclusão de todo o ciclo escolar básico.

Em 1970 houve uma grande revolução na educação finlandesa. Isso foi necessário pois no antigo sistema 20% no máximo completava o ciclo básico. Em 20 anos a Finlândia reverteu significativamente essa porcentagem. Já em 2004, as estatísticas mostraram que 9 alunos estavam fora da escola, e atualmente, 12 alunos. Notem, não estou me referindo à porcentagem! E esses 12 alunos têm ocupado o tempo de vários educadores buscando diferentes formas do sistema educacional reabsorvê-los.

No antigo sistema só a educação primária de 6 anos era gratuita, o restante da educação era paga. Em 1970, a educação básica passou a ser obrigatória e gratuita e com 9 anos de escolaridade e funcionamento das 8 às 15 horas. Também são gratuitos, durante os primeiros 9 anos, o transporte, a refeição e todo o material escolar. Após este período, os alunos têm que pagar os livros.

Na Finlândia, não se ensina a ler no ensino pré-escolar - a criança tem o direito de ser criança por mais tempo, ensinam, e está pronta para aprender a ler a partir dos 7 anos, afirmam.

Respondendo sobre a principal diferença entre o sistema educacional sueco e finlandês, Mrs. Pentilla deu o seguinte exemplo: se pais suecos saem para esquiar com o filho e o filho cai, eles correm para acudir; pais finlandeses, na mesma situação, simplesmente olham e dizem: - se levanta você é capaz, você consegue. Assim, a palavra de ordem no sistema educacional finlandês é: AUTONOMIA.

Existem escolas privadas na Finlândia, as independentes, como são chamadas. Todas são gratuitas, totalmente financiadas pelo Estado e abertas ao controle do Estado. A expansão do ensino privado é bastante incentivada pelo governo - só o setor privado reúne condições para atender às necessidades de uma sociedade que demanda por serviços educacionais cada vez mais diversificados.

Os reitores das escolas independentes, assim como os das públicas, são executivos recrutados no mercado, que têm que provar, ano a ano, que aplicaram bem os recursos recebidos para continuar no cargo.

Na Finlândia as escolas são consideradas um ótimo local para se trabalhar. Muitos querem atuar nas escolas, especialmente na docência. O prestígio dos professores é alto. Esses profissionais são valorizadíssimos e é comum auferirem salários superiores aos dos reitores, e ganham ainda mais aqueles que ensinam nos dois primeiros anos iniciais, considerados os mais importantes na motivação da aprendizagem. Se não forem adequados, podem interferir negativamente em todos os anos seguintes, afirmam. Os professores que atuam no nível fundamental contam com um suporte de psicólogos para atendê-los.

Se alguns alunos têm continuamente problemas de aprendizagem, a escola dispõe de professores especiais para recuperá-los. Na prática, se a dificuldade é em matemática, o aluno vai estudar com um professor especializado em problemas de aprendizagem, não com um professor de matemática. E a "recuperação" não ocorre após as aulas: mais tempo não motiva a criança ao aprendizado, pelo contrário, só faz cansá-la ainda mais. Também não são dados muitos exercícios aos alunos com dificuldades de aprendizagem - a quantidade de tarefa escolar é de acordo com as necessidades de cada um. E, ademais, as aulas e os exercícios escolares são organizados de tal forma que o aluno tenha tempo para o lazer.

Os alunos com dificuldades de aprendizagem não muito severas, estão integrados na mesma turma, e neste caso, a classe conta com um professor assistente. Pode ocorrer de ter 2 ou 3 professores em sala de aula. Para aqueles com dificuldades mais sérias, há escolas especializadas que funcionam dentro das escolas normais.

A formação do professor é feita na universidade que dura de 5 a 6 anos, a do professor-assistente, nas escolas politécnicas. Assim como a dos médicos é na universidade e a dos enfermeiros, na politécnica.

Em Helsinque para cada 800 alunos há um psicólogo e um assistente social, com locais de trabalho próprios dentro das escolas. Todos os alunos quando ingressam na escola têm uma entrevista com o psicólogo e com o assistente social. Graças a essa rotina de entrada, mais tarde, se eventualmente vierem a precisar de ajuda, não se sentirão estigmatizados pois já os conhecem.

As mulheres finlandesas são consideradas "beges", ou seja, são as que menos gastam com cosméticos em toda a União Européia, por outro lado, são bem motivadas para os estudos. Segundo resultado de uma pesquisa, elas atribuem muito valor ao homem que esteja no mesmo nível intelectual. Do universo feminino 70% tem curso superior, contra 40% do masculino, e a tendência é aumentar, na medida em que as mulheres vêm obtendo melhores resultados nos históricos escolares.

Muitos homens, por não terem cursado a universidade nem a escola politécnica, estão fora do mercado de trabalho. Isso pode ser uma das causas pela qual a Finlândia enfrenta um problema bastante sério - o alto índice de suicídio, especialmente dos homens entre 20 e 30 anos. Diante disso, os responsáveis pela educação vêm desenvolvendo intensamente ações para ampliar a participação masculina no ensino superior.

Um dos aspectos que contribuíram para os excelentes resultados no PISA é o nível de formação das mães, que é alto na Finlândia. Cabe mais à mãe e não aos pais, a responsabilidade em motivar os filhos à aprendizagem. Soma-se aos bons resultados os alunos serem motivados, permanentemente, a ler muito.

É um mau exemplo na Finlândia os pais levarem as crianças de carro à escola. Elas são levadas a se virarem por si mesmas.

Uma tradição finlandesa muito popular é o hábito de se fazer sauna. Como a escola deve ser uma extensão da casa e toda casa tem sauna, então na escola também deve haver uma. E regularmente alunos e professores fazem sauna, e não são encontros puramente festivos ou de lazer, são oportunidades para contextualização de conhecimentos.

Não há câmeras espalhadas pelas escolas, em hipótese alguma. As escolas são ambientes familiares - se não há câmeras nas casas não haveria razão de tê-las nas escolas. Em algumas escolas, alunos, professores, e funcionários, tiram os sapatos ou tênis com intuito de fazerem menos barulho e também para se sentirem mais confortáveis como se estivessem em casa.

Registra-se que durante as visitas às escolas não houve citação de nomes de teóricos que dão sustentação ao ensino na Finlândia. Enfaticamente é reforçada a autonomia dos professores, a confiança depositada neles no fazer bem o trabalho de ensinar. Há métodos de alfabetização específicos para ensinar famílias de imigrantes, outros, para ensinar crianças com maior nível de informação e domínio da língua, enfim, a educação é individual não é algo que se faça em massa.

Sobre a Suécia

A capital do Reino da Suécia é Estocolmo, que está construída sob 14 ilhas e há muitas e muitas pontes. É considerada a Veneza do Norte.

A religião dominante é luterana (94%) católica (4%) e outras (2%). As três coroas é o símbolo da Suécia.

Dizem os suecos que é mais barato manter a monarquia do que mudar o presidente de 4 em 4 anos, e as primeiras-damas a fazerem as mudanças nas cortinas, nos sofás...

A Educação na Suécia

A Suécia conquistou a 10ª. posição na avaliação do PISA, e de uma forma geral, há muita similaridade nos dois sistemas de ensino, assim, muitas situações encontradas nas escolas da Finlândia se repetem nas da Suécia e vice-versa.

Tal como na Finlândia, o sistema escolar sueco está baseado na autonomia. Desde 1991, foi delegada muita responsabilidade para as escolas, para os gestores e para a municipalidade. O governo e o parlamento ditam a forma e os objetivos a seguir e as escolas devem fazer avaliação periódica para constatar se as exigências legais estão sendo seguidas.

Nos últimos 20 anos houve muita modificação na pré-escola. Segundo a legislação sueca, se os pais querem trabalhar a comuna tem que garantir a integração da criança na escola. Assim, a pré-escola tem 2 funções: permitir que os pais trabalhem e garantir a possibilidade de inserção da mulher no mercado de trabalho. Para isso, as escolas infantis funcionam das 6:30 às 18:30 horas. Estão integradas no ensino infantil 98% das crianças com 3 e 4 anos.

Formação Técnica

A partir de 1980 houve uma mudança de paradigma na formação profissional dos técnicos - a formação profissional, dá lugar à preparação profissional. Antes, os alunos só aprendiam a trabalhar com as mãos. Para ser um cidadão, não se pode ter conhecimentos só da prática. Há que se dominar a língua e se ter conhecimentos matemáticos. Hoje, 1/3 dos estudos é teórico. Os empregadores consideram que os estudantes de hoje não são tão rápidos no ofício. Por meio de encontros e reuniões, as escolas buscaram a mudança de mentalidade dos empresários para melhor aceitação e conseqüentemente manutenção do emprego desse novo técnico. O professor tem como uma de suas atribuições visitar freqüentemente as empresas em busca do ajuste da formação. E a formação pedagógica desses professores deve ser garantida pela escola.

Todas as escolas fundamentais, secundárias ou pós-secundárias funcionam em período integral - das 8 às 15 horas.

A licença maternidade é longa na Suécia - 14/16 meses. É um direito da criança e não dos pais. É a criança que tem o direito de estar junto dos pais por mais tempo.

No período de 1991 a 2006 cresceu muito o número de escolas privadas na Suécia, e,

assim como na Finlândia, são totalmente gratuitas. A razão principal dessa expansão, se deve ao incentivo dado pelo governo, por entender que as escolas independentes podem atender melhor as diferentes peculiaridades e anseios da comunidade, e ainda, permitir a livre escolha do aluno, que por meio de um "vaucher" decide onde quer estudar.

Há uma escola, por exemplo, só para alunos que têm pais trabalhando no exterior e pais do exterior trabalhando na Suécia. Numa outra escola, a peculiaridade é a prova de música ser eliminatória para o acesso. Os alunos fazem "cursinho" de canto, se quiserem estudar nesse tradicional ginásio. Já numa outra, que tem por missão ser uma escola politécnica européia: não se aceita professores americanos, latinos ou asiáticos, por exemplo, nem alunos de outra nacionalidade que não a dos países europeus, e os temas estudados são de interesse tão somente da Europa.

Nas escolas, mesmo nas mais elitizadas, é comum ter oficinas e cozinhas para que os alunos, a partir de 13 anos, aprendam a consertar bicicletas, aparelhos domésticos, entendam os fundamentos da hidráulica, da elétrica, da mecânica, preparem o almoço e lanche, etc. É o conceito da autonomia presente. E atenção: meninos e meninas participam!

Como cada aluno traz o seu vaucher, mais aluno significa mais dinheiro para a escola, aí se estabelece a concorrência entre as escolas. A escola que não atrai um número mínimo de alunos é fechada, assim, para se tornar mais competitiva a qualidade e os feitos das escolas são bastante divulgados.

As razões do sucesso das melhores escolas são atribuídas à escolha meticulosa dos professores. Eis as características de um bom professor:

- possuir amplo conhecimento da matéria;
- dar ao aluno a responsabilidade de seus estudos;
- ser colaborador com seus colegas professores;
- ter uma perspectiva alargada para ensinar.

Embora a direção das escolas tenha autonomia para determinar a quantidade de alunos em cada sala de aula, a média é em torno de: 17 nas escolas infantis; 20 nas escolas fundamentais e 30 nas secundárias.

O percentual de alunos que termina o liceu, o equivalente ao ensino médio, e vai para o ensino superior é de 44%. Todavia, nem sempre basta ter o diploma e boas notas pra ingressar na universidade, às vezes, é preciso vir de uma escola renomada. É assim, por exemplo, na conceituada universidade de pesquisa de Estocolmo, a Royal Institute of Technology - RTH, pronuncia-se kô-te-rro, que exige, digamos assim, pedigree no diploma do ensino médio. A RTH atua com foco em Arquitetura e Engenharia, tendo por missão "excelência em educação, pesquisa e empreendedorismo". Suas áreas mais procuradas são: Arquitetura e Energia, e mais ultimamente, a tendência é para a área de Ecologia Industrial. Constitui área de interesse em todas as disciplinas da RTH o tema Desenvolvimento Sustentável.

Os reitores têm total autonomia na aplicação dos recursos recebidos da administração central, e a quantidade não está vinculada aos resultados de desempenho. Implicitamente isso quer dizer que todas as escolas têm que ser competentes na sua finalidade última. As palavras mais importantes que os reitores devem conduzir seus alunos a serem são: competentes, ativos e curiosos, e tudo isso tem que ser buscado de forma agradável.

Educação Multicultural

Na Suécia, 87% dos estudantes têm outra língua materna. Há princípios que regem o bem estar da criança na escola, e, um deles, é ter a própria língua falada na escola. Se a língua for "viva" em casa ela deverá ser dada na escola. Por conta disso, o ensino da língua ocupa um espaço muito especial na Suécia. Para se ter uma idéia dessa especialidade, há um departamento pertencente à Secretaria de Educação de Estocolmo que tem 430 professores para atender as escolas em 52 diferentes línguas. E para se ensinar a língua é preciso que o professor seja do país de origem. Assim, há muitos professores estrangeiros na Suécia. Como exemplo, numa das escolas visitadas havia mais de 20 idiomas representados! Gasta-se muito dinheiro na formação dos professores de línguas.

Avaliação das Escolas na Suécia

O primeiro nível de avaliação é feito pela própria escola e um dos pontos essenciais que deve ser levado em consideração é o atendimento dos objetivos propostos pela escola.

Assim acontece a inspeção das escolas:

- os inspetores se apresentam à escola e informam que entre 2 a 8 meses retornarão para visitá-la
- avaliam in loco a qualidade da escola: olham o site, a relação da escola com os pais, com a família, assistem aulas, entrevistam professores e alunos
- são discutidos com a escola os principais pontos e apresentam um relatório de 15 páginas, com considerações sobre os pontos fortes e fracos e os pontos que necessitam de mudança
- após 6 ou 8 meses da visita, se reúnem com os professores, alunos e diretores para checar o que foi feito, tendo por base o relatório feito durante a visita.

As visitas de inspeção das escolas são feitas ao longo de 3 anos. Os inspetores são bem vindos, especialmente pelas escolas particulares, pois têm neles um consultor de graça. Às escolas é solicitado que coloquem nos seus sites os relatórios de avaliação, no entanto, só 20% o fazem, geralmente as melhores avaliadas. Anualmente as escolas têm que entregar à administração central o "Quality Report", e não existe avaliação de professores separadamente, a avaliação é da escola.

Ênfases

Existem três assuntos que tanto escolas suecas como finlandesas dão muita ênfase - religião, línguas e arte.

Religião - o ensino religioso é obrigatório. A todos os alunos se ensina a religião, de cada um deles. Se numa escola houver pelo menos 3 alunos de uma determinada religião, deverá haver organização para oferecer a religião deles, e não precisam ter a mesma idade para compor a turma. Há escolas, por exemplo, em que se ensinam 8 diferentes religiões, e pode acontecer dos finlandeses serem minoria. E para aqueles alunos que não têm religião, se ensina ética. Desde o início da vida escolar o aluno aprende que há muitas religiões, e elas são significativamente importantes para a compreensão e aceitação das diferenças a partir do conhecimento dos dogmas da religião do outro.

Línguas - aos 9 anos de idade toda criança deve começar o aprendizado de uma segunda língua. Se aos 9 anos um aluno escolher outra língua que não o inglês, aos 10, obrigatoriamente deve escolher o inglês. Assim, todos, sem exceção, devem alcançar conhecimentos iguais em duas línguas, sendo o inglês uma delas. Além disso, aos 11 anos, cerca de 70% escolhem uma terceira língua. Entre os alunos do liceu, mais da metade aprendem 4 línguas! Há uma preocupação do sistema educacional no ensino da língua materna aos imigrantes. Pesquisas comprovam que uma pessoa perde 40% de sua inteligência se ela não fala a sua língua materna. Ademais, a língua materna é a língua dos sentimentos. Quando um imigrante chega à Finlândia, passa um ano estudando na sua língua materna para se habituar à cultura, aos costumes e muito intensivamente à língua finlandesa. Depois disso, estará apto para ir à escola que escolher. A Finlândia faz isso também por questões econômicas, é preciso que haja pessoas com boa formação em qualquer ocupação, seja ela qual for.

Artes - a arte está por toda parte em todas as escolas, com funções altamente educativas e culturais. Há exposições de fotos, desenhos, pinturas, esculturas, instalações, concertos musicais, mostras de textos literários, poesias, etc. Nas paredes das salas de aula, nas portas, nos corredores, nos pátios, estampam-se muitas informações sobre o mundo das artes. Essa profusão de cores, formas, designs, ativam diferentes funções do cérebro.

Por fim, a Finlândia afirma que é a escola que tem a responsabilidade pela aprendizagem do aluno e não a família; esta se responsabiliza pela criação. Diferentemente do nosso país que constitucionalmente diz que a educação é dever, também, da família. O que temos assistido nas últimas três décadas, são centenas de milhares de famílias e de escolas colhendo juntas os frutos amargos da incompetência da arte de ensinar.

Em 2003, a avaliação aplicada pelo Ministério da Educação, por meio do SAEB, reafirma o péssimo desempenho das escolas: 95,2% das crianças concluem a 4ª. série sem saber ler nem escrever adequadamente e 96,8% dos adolescentes concluem a 8ª. série sem raciocínio básico de matemático! O desempenho do Brasil no PISA não poderia ser diferente diante desse cruel cenário nacional - está posicionado na rabeira do mundo!

Para que as escolas brasileiras possam melhorar seus indicadores de qualidade não há mágica, é preciso muito esforço de todos, no entanto destaco como prioritário: 100% de atenção ao novel curso de Pedagogia, que desde 2006 é responsável pela formação dos professores que vão atuar nas cinco séries iniciais do Ensino Fundamental, e foco dos gestores das escolas na eficácia da alfabetização.

Fonte: http://revistaensinosuperior.uol.com.br/textos.asp?codigo=11992

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