quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A prática social racista não tem graça nenhuma!

 A prática social racista não tem graça nenhuma!

No mês em que se comemora a consciência negra, não poderíamos deixar de discutir sobre a prática social do racismo. Obviamente, há muitos ângulos para se refletir sobre essa prática, mas uma questão, em nosso ponto de vista, está no centro do debate: a necessidade de se exercer cotidianamente nossa postura crítica sobre essa problemática. É necessária essa prática? É natural essa prática? É legítima essa prática? É eterna essa prática? É inevitável essa prática? A nossa postura crítica diz que não. O problema é que muitos seres sociais ainda insistem nessa prática social opressora e atrasada. E enquanto houver um oprimido sequer nesse mundo, a luta política não cessará, a postura crítica não poderá adormecer. A luta política contra o racismo, portanto, é mais do que necessária, é urgente e imprescindível.
Criminalizar o racismo seria uma política importante? Sem dúvida. Criar políticas afirmativas para inclusão do negro/negra nos diversos espaços sociais seria importante? Também sim. Elevar a autoestima do povo negro é importante? Também é fundamental. Valorizar a cultura afrodescendente é importante? Não há sombras de dúvida. Porém, as raízes ideológicas do racismo ainda estão profundamente vivas na sociedade brasileira e é preciso uma luta cotidiana contra tal opressão para reverter tal processo. Não basta eleger o mês da Consciência Negra para combater o racismo, apesar de ser importantíssimo tal espaço criado pelo movimento negro.
Em nossa prática social de professor da rede pública, por exemplo, em bairros populares, onde a mistura de brancos e negros é bastante evidente, sempre problematizamos cotidianamente o racismo, sempre polemizamos tal prática junto aos alunos, bem como temos criticado veementemente o bullying de cunho racista e outros. Porém, infelizmente, tais trabalhos ainda são práticas sociais isoladas nas escolas. Geralmente a questão étnico-racial apenas aparece no mês de novembro, com muita festa, dança e comidas típicas, concursos de beleza negra, etc, e nos restantes meses do ano, tal problemática segue apagada ou secundarizada. Para piorar, muitos professores da rede pública, inclusive, de modo um tanto velado, reproduzem o racismo como uma prática natural e insuspeita. Não faltam enunciados sussurrados, gestos e olhares diferenciados para com os(as) estudantes negros e negras. Fica então uma pergunta: como acabar com o racismo, se muitos agentes educacionais ainda legitimam, de alguma forma, as práticas racistas? E os sindicatos ligados à educação? Tem feito dessa problemática uma luta permanente? Também não. Na maioria das vezes o sindicalismo ligado à educação apenas reduz-se às lutas economicistas. Ora, uma escola pública e um sindicalismo de trabalhadores em educação, que não pautam seriamente o racismo, tem algo a contribuir para transformar essa prática social opressora? A cada um suas próprias conclusões.
Ademais, é preocupante perceber que os estudantes, em salas de aula, desde crianças, são altamente maldosos em seus bullyings racistas. Há piadas racistas de todos os tipos, apelidos racistas, xingamentos racistas, depreciação de manifestações da cultura afrodescendente, depreciação de manifestações das religiões afrodescendentes, enfim, há muitas práticas racistas circulando largamente no interior das salas de aulas, nas práticas esportivas dentro das escolas, bem como nas rodinhas de amigos. No meio desse embate político-ideológico, enquanto agente educacional professor, quando evidenciamos-criticamos tais práticas sociais racistas livremente circulantes, os jovens procuram conduzir seus bullyings racistas para o caminho do riso, como se o racismo fosse algo engraçado. Ora, a prática social racista tem alguma graça? Por que se rir da opressão? Fica uma constatação: os jovens provavelmente não reproduzem o racismo do nada, copiam tais práticas sociais opressoras dos mais velhos, da família, das práticas sociais de um país ainda repleto de racismo.
É claro que as práticas sociais são reproduzidas de geração em geração. É claro também que a prática econômica escravocrata foi uma das principais responsáveis pela inserção do racismo no Brasil. Porém, como não estamos mais no período histórico da escravidão, é possível supor que tal prática social apenas perpetua por conta de resquícios histórico-ideológico-discursivos que eternizaram/legitimaram/naturalizaram o racismo. Além disso, supomos também que tal prática revela-retrata afirmações de micros-poderes totalmente opressores e atrasados, baseados nos mais maldosos bullyings racistas.
Então, perguntamos: de onde vem esse desejo de se sentir importante a custa de desqualificar outros seres humanos, sendo, estes, negros e negras? Por que tal prática social julga natural e legítimo rir do diferente, rir do oprimido, rir do excluído, rir do negro, rir da negra? Que binarismo social doentio é esse, que leva um grupo de seres humanos (os brancos) se afirmarem “positivamente” em cima da desqualificação e do tratamento negativo de outro grupo (os negros)? Ora, temos uma hipótese: sentir-se maior, sentir-se importante, sentir-se mais poderoso em cima da diminuição-depreciação de outros seres humanos é uma prática social opressora e atrasada e doentia que, infelizmente, encontra legitimação em uma humanidade não socialista que não aprendeu a ser generosa e gentil. Quando os seres humanos não conseguem se relacionar com base na generosidade, na gentileza, no respeito mútuo, lamentavelmente, práticas sociais opressoras-exploradoras assumem o lugar. Tal questão, portanto, não se reduz ao econômico, trata-se de um problema, antes de tudo, político e ideológico.
Outro detalhe: quando se criticam os “humores” racistas, os “humores” homofóbicos, os “humores” machistas, os “humores” preconceituosos, não faltam vozes político-sociais que se levantam, dizendo que está se tentando censurar a liberdade de imprensa, está se tentando censurar a liberdade do humor. Ora, nós, socialistas livres, não somos partidários de censurar ninguém. Porém, no quesito liberdade, nossa discussão é clara. Somos a favor da mais plena liberdade dos seres sociais, menos a liberdade de explorar, menos a liberdade de oprimir, como, por exemplo, os racistas, os machistas, os homofóbicos e os praticantes de bullying fazem, mesmo que seja através de uma “simples” piada. Rir das raízes e da cor do povo negro ajuda a naturalizar os crimes racistas, ajuda a eternizar essa opressão, ajuda a legitimar as práticas sociais racistas. Somos contra. Tal riso opressor trata-se de uma liberdade? Sim. Mas de uma liberdade doentia de seres sociais que desconhecem a generosidade, a fraternidade, a gentileza e a possibilidade do socialismo. Portanto, é preciso criticar, à exaustão, essa liberdade opressora-exploradora! Resumindo: a prática social racista não tem graça nenhuma! Saudações Socialistas Livres.
Fonte: http://socialistalivre.wordpress.com

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