Holiday fiscaliza escolas e desagrada secretário
Vereador convidou pais a denunciarem 'doutrinação' nas unidades públicas
Holiday tem visitado escolas para coibir possível doutrinação partidária em sala de aulaDivulgação
Karen Lemos noticias@band.com.br
O vereador Fernando Holiday (DEM) está fazendo visitas surpresa às escolas da rede municipal de educação de São Paulo para avaliar as estruturas das unidades e também, segundo ele, “coibir qualquer tentativa de doutrinação” partidária nas salas de aula.
“A escola não é lugar de partidarização, de imposição de ideias ou de doutrinação”, explicou o parlamentar que usou, na terça-feira (4), o plenário na Câmara Municipal para explicar seu programa de fiscalização. Pelas redes sociais, o parlamentar tem ainda convidado pais a denunciarem tentativas de “doutrinação” nas escolas de seus filhos.
Em outro vídeo, Holiday cita exemplos do que seria a doutrinação que quer coibir. “Tem professor entrando [nas escolas] com camiseta do PT, do MST [Movimento dos Trabalhadores Sem Terra], jogando tudo para o alto e fazendo aquela doutrinação porca”. Ouça:
O programa de blitz do vereador, no entanto, desagradou o próprio secretário da Educação do município, Alexandre Schneider. “A escola, como qualquer organização social, pública ou privada, não é nem nunca será um espaço neutro. A escola pública, laica, plural, não deve ser espaço de proselitismo de qualquer espécie”, escreveu em sua página, destacando ainda que, mesmo sendo um parlamentar, Holiday não teria entre suas responsabilidades implementar e acompanhar a execução educacional do município.
“Qualquer notificação de eventuais irregularidades ou procedimentos contrários aos princípios acima descritos devem ser notificados, diretamente, à Secretaria para a análise pelos órgãos competentes”, completou Schneider. Nesta quarta-feira (5), procurando apaziguar a situação, o secretário convidou o vereador para participar dos trabalhos da pasta.
O Sinpeem, sindicato que representa os profissionais na educação municipal de São Paulo, também se manifestou contra a blitz proposta por Holiday. “O vereador não possui qualquer autoridade ou prerrogativa para fiscalizar conteúdos programáticos, ainda que queira impor sua concepção de escola conservadora e sem sentido”, afirmou o órgão em uma carta de repúdio.
Já o deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL) encaminhou ofícios ao Ministério Público e à Corregedoria da Câmara Municipal para apurar o que está acontecendo. “O vereador não tem direito de entrar em salas de aula e assediar e constranger professores e diretores, ele está quebrando o decoro parlamentar”, justificou o deputado.
O PT também encaminhou uma representação contra o parlamentar à Corregedoria da Casa.
Em sua defesa, Holiday afirmou no plenário da Câmara que não assediou ou tentou coibir profissionais da educação; disse ainda que foi bem recebido nas unidades que visitou.
O presidente da Câmara Municipal, Milton Leite, que também é do DEM, disse que, se houve excesso por parte de Holiday, a Casa irá tomar as medidas cabíveis.
Visita
Uma das escolas fiscalizadas pelo vereador foi o EMEF Constelação do Índio, no Grajaú, na zona sul da capital. O professor Claudemir Mazucheli, que leciona geografia na unidade, confirmou a visita ao Portal da Band.
“Qualquer cidadão pode visitar uma escola, é um espaço aberto para a comunidade. Não vejo problema algum nisso desde que a visita tenha como objetivo ajudar a construir um espaço melhor para a educação”, pontua.
O professor, contudo, viu com certa estranheza a insistência do vereador em fiscalizar o conteúdo que é dado em aula. “A escola não tem nada a esconder, mas questionar o conteúdo sem fundamentação de órgãos pedagógicos é preocupante, traz um ambiente de insegurança”, diz. “O trabalho dentro da escola é muito sério. Existe o Conselho de Escola, que discute as propostas pedagógicas, e também as Diretrizes Curriculares Nacionais [do MEC], que temos que seguir. Ninguém faz doutrinação. Esse assunto nos remete ao período da Ditadura Militar, no qual existia uma perseguição aos professores”.
O Portal da Band apurou ainda que Fernando Holiday criticou, por exemplo, um cartaz que alertava sobre violência contra mulher nas paredes da unidade. A reportagem tentou falar com o vereador para verificar essa informação, mas, alegando falta de tempo, ele não nos concedeu uma entrevista.
Para o professor Mazucheli, há prioridades maiores na escola do que fiscalizar cartazes que os alunos pregam na parede. “Temos sérios problemas de superlotação e falta de material. Temos que nos virar para que os alunos tenham cadernos, porque eles não receberam do município. Não temos um laboratório de informática, uma quadra decente para aula de educação física, um anfiteatro. É uma vergonha falar que não posso dar condições de conhecimento para meus alunos por falta de estrutura”, desabafa.
Em discurso no plenário, Fernando Holiday garantiu que também irá atender as demandas de estrutura da rede de ensino. “Ouvi as reclamações dos servidores e, inclusive, pretendo encaminhar a doação de uma empresa que se ofereceu para pintar a EMEF Constelação do Índio, que há mais de um ano não consegue a verba necessária para tal”.
O vereador, porém, afirmou que irá continuar com sua blitz mesmo desagradando a própria secretaria da pasta. “O que estou fazendo nada mais é do que atender as reclamações de que alguns professores têm feito propaganda partidária dentro de sala de aula e induzindo os alunos a aderirem a certas bandeiras. Professores devem incentivar debates e trazer novas ideias, mas não podemos confundir as funções. A educação moral, ética, politica e religiosa pertencem aos pais, à família”, concluiu.
Fonte: http://noticias.band.uol.com.br/cidades/noticia/?id=100000852530&t=
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