terça-feira, 22 de junho de 2010

Ensino médio precisa incluir 2 milhões de jovens


Por Priscilla Borges, iG Brasília


Para especialista, esse é o principal desafio do País, que terá de oferecer educação obrigatória para estudantes de 4 a 17 anos

O ensino médio passa por uma grande crise. A opinião praticamente consensual entre especialistas é reforçada por números que assustam. Da população com idade entre 15 e 17 anos – que deveria estar matriculada no ensino médio – apenas 48% frequentam o ensino médio. O restante está atrasado, ainda tentando aprender as lições do ensino fundamental. Mas o que mais assusta os especialistas é a quantidade de jovens com essa idade que está fora da escola: 18%. O número aparentemente pequeno esconde a realidade de 2 milhões de jovens brasileiros. Esse, na opinião de especialistas, deve ser o grande foco das políticas públicas para a etapa final da educação básica.
“Não podemos encarar com naturalidade tantos jovens fora da escola. Estamos conseguindo absorver quem sai do ensino fundamental, mas não colocamos no sistema quem está fora da escola. Estamos estagnados nessa inclusão há anos e temos de mudar isso”, opina Ricardo Paes de Barros, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Ricardo apresentou, durante o seminário Educação em pauta: A crise de audiência no ensino médio, promovido pela Campanha Todos pela Educação nesta quarta-feira em São Paulo, dados sobre a evolução do acesso da população brasileira de 15 a 17 anos à escola. O estudo feito por ele mostra que a porcentagem dos jovens nessa faixa etária que freqüentam a escola estagnou em 80% desde o início dos anos 2000.
O pesquisador lembra que, nos últimos anos, os programas de correção de fluxo ajudaram os índices de jovens com idade entre 15 e 17 anos no ensino médio a aumentarem. “Em algum momento, conseguimos atrair os adolescentes que terminam o ensino fundamental para a etapa seguinte. Mas há uma taxa de retenção na 8ª série de 5%, que se mantém há 15 anos. É um dado que precisa ser considerado também”, pondera. Ricardo acredita que muitos adolescentes acabam desistindo de continuar os estudos porque não recebem respaldo suficiente da escola para superar deficiências anteriores ao ensino médio. Para ele, a reprovação não garante o aprendizado do aluno. “Não faz sentido obrigar uma pessoa a reaprender o que ela já sabe para tentar sanar o que ela não sabe. A escola deveria manter programas que o ajudem enquanto ele adquire novos conhecimentos”, diz.
Sem justificativas - Durante o seminário, uma publicação com diferentes artigos que tentam mostrar a falta de interesse dos jovens pelo ensino médio foi divulgada. Os textos apontam quantos estão fora das salas de aula e quantos desistem da escola, mas não revelam as causas para o desinteresse. Novas pesquisas serão feitas a partir de agora para tentar identificá-las. Wanda Engel, superintendente do Instituto Unibanco (que promoverá os estudos), afirma que é preciso dar visibilidade às necessidades da etapa final da educação básica. “O ensino médio é uma bomba-relógio prestes a explodir”, afirma. Wanda lembrou que o desemprego juvenil é três vezes maior do que nas outras faixas etárias. “O déficit de mão-de-obra não existe por falta de vagas, mas por falta de qualificação”, destaca.
Para a superintendente, os candidatos aos governos estaduais não estão se dando conta de que precisam incluir o ensino médio entre as propostas políticas de governo. “Os governos estaduais são os responsáveis pela oferta do ensino médio e não falam deles nas propostas. Essa é a hora e a vez do ensino médio”, comenta.
Desigualdades históricas - A maioria da população brasileira com 30 anos possui apenas nove anos de estudo, o que significa ter completado apenas o ensino fundamental. Segundo Ricardo Paes de Barros, isso representa um atraso histórico de três décadas comparado ao nível de escolaridade da população chilena. “Ainda temos desníveis em acesso à escola muito grandes. Não podemos achar que o problema de quantidade está resolvido e só basta melhorar a qualidade”, diz. O pesquisador afirma que 80% dos jovens da classe mais rica da população completam o ensino médio com 19 anos. Essa mesma meta só é atingida por 20% dos estudantes das famílias mais pobres. “Não estamos sendo capazes de reduzir desigualdades”, garante. Na opinião de Eunice Durham, professora da Universidade de São Paulo (USP), o estudante brasileiro precisa de mais opções de formação no ensino médio. O ensino técnico, segundo ela, é apenas uma delas. “Essa fase precisa ser diversificada. Mesmo quem escolhe a formação profissional precisa aprender lições para passar no vestibular. Isso é um absurdo”, pondera.
Fonte: IG Brasília

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