Por João Paulo da Silva
A propaganda eleitoral gratuita na TV me diverte e desespera ao mesmo tempo, embora me pareça que quando a inventaram a função não fosse exatamente a de garantir entretenimento ou desânimo para milhões de brasileiros. Há algo de errado nisso tudo, eu sei. Quer dizer, algo não. Tudo mesmo. Da política econômica à falsa democracia. Mas não se pode negar que muitos candidatos estão mais para personagens folclóricos do que para postulantes a um cargo público. Parte da disputa eleitoral oscila entre o cômico e o absurdo, numa caricatura teatral da decadência.
Na verdade, eu tenho uma teoria sobre esses tipos medonhos que durante as eleições nos divertem pela telinha da TV. Esses candidatos possuem uma determinada função social: a de arrancar risadas dos que vão passar os próximos dois ou quatro anos chorando por causa das políticas aprovadas em todas as esferas do poder. É uma forma de usar o ridículo para entorpecer. Ou, na melhor das hipóteses, tudo não passa de esculhambação. Mas deixemos as análises de lado por um momento e vejamos os tipos mais comuns nas eleições. Fiz uma pequena lista.
O Biográfico: é o candidato que acredita que sua história de vida daria mais que um livro. Daria até voto. “Amigo eleitor, sou Aderbal dos Grudes. Nasci na baixa da égua, mas morei e me criei na capital. Sou formado em Ciências Econômicas, fiz mestrado e doutorado em Gestão Pública. Sou casado e tenho dois filhos. Há vinte anos sou professor universitário, ao longo dos quais publiquei três livros, todos traduzidos para cinco idiomas. Por isso, nestas eleições, não se engane. Vote em quem tem história.”.
O Crente: pretensiosamente, é o candidato direto do Todo Poderoso na Terra. “Meus irmãos evangélicos, mais uma vez entro numa batalha contra gigantes, assim como Davi. Recebi um chamado de Deus para esta missão. Sou candidato a deputado estadual para ampliar o império do Senhor Jesus aqui na Terra. Essa é uma guerra que precisamos vencer, pois o inimigo está sempre por perto atentando os cordeiros de Deus. Vote no pastor Agenor. A mão do Pai está aqui.”.
O Família: é o candidato que põe toda a família no programa para falar das qualidades dele como chefe de casa. Em geral, o sujeito é apresentado como bom pai, bom marido e o programa sempre termina com um dos filhos dizendo “votem em papai”.
O Mudo: esse é um clássico. Passa o programa inteiro em silêncio ao lado de alguém que diz as razões pelas quais devemos votar no candidato. “Caro eleitor, esse aqui é o Rodinei. Homem honesto, trabalhador, pai de família. Esse eu conheço desde criança. Possui vários projetos na área da educação e da segurança. É a sua alternativa nestas eleições. Não se esqueça. Para deputado federal, vote no meu amigo Rodinei.”.
O Pedinte: esse é o candidato mendigo. Já começa pedindo ajuda. “Meus amigos e minha amigas, me ajudem a chegar lá. Só peço uma chance, me dê um voto de confiança. Muitos já passaram e não fizeram nada. Agora chegou a minha vez. Com a sua ajuda, vamos mudar essa realidade.”.
O Amoroso: é o candidato que acredita que só amor pode mudar o mundo e é por isso que, estranhamente, deseja entrar para a política. “Você sabe o que falta para os outros gestores públicos? Amor, meus amigos. Uma administração sem amor não pode resolver os problemas da população. Eu tenho uma vida que sempre se pautou pelo amor às pessoas e o carinho pelos mais pobres. No meu governo, a prioridade vai ser o amor.”.
O Garçom: é o candidato cujo ofício sempre foi servir às pessoas. E por isso mesmo julga-se o melhor candidato, já que servir é a principal característica de um político. A quem? Aí já é outra história. “Olá, sou o garçom Ademar. Há trinta anos trabalho servindo em restaurantes. Agora quero servir ainda mais no Congresso Nacional. Por isso, vote em quem sabe servir.”.
São os símbolos da decadência. Acredito, realmente, que o fim deve estar próximo. Arrependei-vos enquanto há tempo.
Fonte: http://ascronicasdojoao.blogspot.com/
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