quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Greves na USP

Quem realmente são e o que querem os que atacam nossas greves nos jornais?

Nossa greve deste ano despertou mais do que nunca a ira e as críticas dos setores mais retrógrados da universidade e da sociedade. Para eles, os trabalhadores entrarem em greve é uma afronta! Chamam-nos de privilegiados e corporativistas, pois, segundo eles, ganhamos muito mais do que os que trabalham na iniciativa privada. Chamam-nos de intransigentes e truculentos. Dizem que a USP representa um tipo de sindicalismo que é coisa do passado, que deve acabar, para que a universidade possa voltar à sua “normalidade”.

O reitor Rodas gastou horas no rádio e na TV, nas páginas dos jornais e revistas, chamando-nos de “invasores” e “bandidos”, dizendo que somos inimigos da universidade.

Os ex-REItores da USP chegaram a publicar um manifesto que dizia, contra os funcionários, que “as táticas da violência antidemocrática de hoje, praticada a despeito de os canais de comunicação permanecerem abertos, não diferem, na essência, dos atentados à liberdade cometidos pelo regime autoritário no passado.” Um manifesto assinado, entre outros, pelo ex-reitor Waldir Muniz, formado pela Escola Superior de Guerra e que teve a oportunidade de aplicar seus conhecimentos militares como reitor da universidade entre 1978 e 1982. É sempre bom lembrar que, como presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, Rodas negou a participação do Estado na morte de Zuzu Angel. Quem aplica os métodos da ditadura?




O que realmente esteve em jogo na greve?

O que esses senhores que estudaram na escola da ditadura militar escondem são as demandas dos trabalhadores e da nossa greve. Seriam justas? Vejamos.

A luta pela isonomia: até a Associação dos Docentes da USP reconhece que o CRUESP quebrou a isonomia ao dar um aumento para professores – que se estende aos que forem contratados – e não para funcionários, e que fez isso justamente para dividir o Fórum das Seis. A quebra da isonomia é um ataque ao conjunto da universidade, pois não somente divide politicamente os lutadores, como também deixa a reitoria de mãos livres para dar qualquer tipo de aumento diferenciado, beneficiando, por exemplo, as unidades que fazem “pesquisas operacionais” em detrimento das faculdades de humanas, e retomando um ponto essencial dos decretos de 2007. Por isso, nossa luta era por nossos salários e também em defesa da universidade.

Aumento salarial: a direita diz que nossos salários são muito altos. Eles querem funcionários trabalhando pelo mesmo salário dos terceirizados, que ganham a miséria de cerca de um salário mínimo. A velha tradição escravocrata da elite brasileira ainda está bem viva. De nossa parte, queremos que todos os salários da universidade (inclusive dos terceirizados) estejam acima do mínimo para uma família sobreviver (que, segundo o Dieese, seria de R$ 2092,36). Além disso, é preciso lembrar por que os salários nas universidades são menos baixos (ainda que, em geral, sejam muito menores que o mínimo do Dieese): justamente pelas sucessivas greves, pois, se dependesse da boa vontade dos reitores da USP, o salário aqui seria tão baixo quanto em todos os lugares – a despeito de a arrecadação de ICMS e do orçamento da USP só aumentar ano a ano.

Univesp e ensino: assim como os entrevistadores de Rodas no Roda Viva lembraram, nossa greve também se colocava contra a Univesp, programa de ensino a distância sucateado. Isso é só uma parte de uma luta maior, defendida pelo Sintusp, por uma universidade pública na qual toda a população possa estudar, pelo fim do filtro social que é o vestibular, pelo fim do ensino privado e pela estatização, sem indenização, das universidades particulares.

Contra a terceirização: para a revolta da elite retrógrada que governa a universidade - e é ligada ou mesmo proprietária de grande parte das empresas terceirizadas de segurança, limpeza e alimentação da USP -, os trabalhadores da USP também se colocam em defesa dos trabalhadores terceirizados, defendendo que os seus salários e os seus direitos sejam equiparados aos dos trabalhadores efetivos e que eles sejam efetivados pela universidade. Inclusive, é bom lembrar que um dos processos que pesam na demissão inconstitucional do diretor sindical Claudionor Brandão é por ele defender “interesses alheios” aos da universidade, isto é, ter-se colocado em defesa dos terceirizados, que, supostamente, não seriam da base sindical do Sintusp. Vejamos só quem são os corporativistas!

Quem aplica os métodos da ditadura?

A frase dos reitores é perfeita... para descrever a política deles. ‘Apesar de supostamente abertos os canais de comunicação, as práticas antidemocráticas de hoje não diferem na essência das práticas da ditadura’. Rodas lançou a polícia contra os movimentos sociais que protestavam na Faculdade de Direito em 2007. O C.O., a reitora Suely Villela e o governador José Serra, trouxeram ao campus a PM contra os trabalhadores em greve em 2009, o que culminou nas balas de borrachas e bombas de gás cruzando prédios de aula, atiradas contra trabalhadores e estudantes que protestavam.

Agora, os pontos dos grevistas foram cortados, num ataque ao nosso direito constitucional à greve – o que ocorreu em todo o país, e só foi revertido aqui pela força da luta -, os ativistas são perseguidos e o Sintusp sofre uma série de processos na justiça, assim como vários estudantes. Sindicâncias internas são armadas de forma fraudulenta para demitir dirigentes sindicais como Brandão, ou para suspender ativistas - como é o mais recente caso de uma suspensão de 30 dias contra a companheira Patrícia, trabalhadora da FFLCH.

Defender os que lutam em defesa dos nossos direitos e da universidade!

Todo apoio à companheira Patrícia! Revogação da suspensão!

Eles dizem que o Sintusp representa um sindicalismo do passado. Ainda bem! Imaginem se ele fosse igual ao sindicalismo do presente, pelego, pró-patronal, corporativista e governista? Muito melhor que se pareça com o “velho” sindicalismo da greve de Osasco em 1968, com democracia de base e com demandas não corporativistas, como a defesa da universidade. Mas, contra esse sindicalismo do “passado”, eles também usam os métodos do “passado”. A repressão e a perseguição política e ideológica!

É desses métodos que a companheira Patrícia está sendo vítima. Ela acaba de ser suspensa por 30 dias, como resultado de um processo administrativo aberto em 2007, quando trabalhava na reitoria, que a acusa de desobediência e preguiça. Trata-se de acusações absurdas, pois Patrícia sempre realizou seu trabalho a contento e nunca havia sido alvo de qualquer reclamação, até a greve com ocupação da reitoria em 2007, da qual foi uma dos dois funcionários da reitoria que participaram. A partir da segunda semana após o fim daquela greve, começou a ser forjado esse processo, com ocorrências como “insubordinação”, por ela se negar a buscar café, ou “preguiça”, que é ainda mais absurda, pois ela era uma das duas funcionárias a dar conta de um volume de trabalho que anteriormente era dividido entre quatro funcionários!

A verdade é que Patrícia está sendo vítima de uma perseguição política, com a qual a reitoria ataca vários lutadores, pois quer se livrar desse sindicalismo que impede a implementação do modelo de universidade projetado pelo governo, com trabalhadores mal pagos e ensino barato, produzindo conhecimento que sirva pra dar lucro, e não para atender às necessidades da maioria da população.

O processo contra Patrícia, parado há mais de 2 anos, foi retomado porque ela continua na linha de frente da luta por nossos direitos, por melhores salários e em defesa de uma universidade melhor. É nossa obrigação defendê-la contra essa punição absurda, com a qual querem fazer dela um exemplo, para atacar a vontade de luta de todos os trabalhadores e destruir nossa organização. Não defendê-la significa, além de abandonar uma companheira, deixar espaço para que outros sejam os próximos, até que não se possa lutar mais por nada!




Seguir em unidade na luta contra os ataques!

Ao contrário do que a reitoria e a direita de dentro e de fora da universidade querem fazer parecer, não fossem as greves – especialmente quando unificam trabalhadores e estudantes -, os ataques que foram feitos pelo governo e reitorias ao longo das últimas décadas teriam deixado a universidade numa situação ainda pior do que ela está. Essas greves se constituíram como principal força de defesa da universidade.

Com a crise econômica, os ataques ao serviço público e à educação pública vão aumentar muito (basta ver o que Serra e Marina declaram publicamente, e Dilma afirma nas entrelinhas). É se preparando para impor essas medidas (como as que em países da Europa demitem até 45% do funcionalismo público, deixando milhões desempregados e destruindo educação, saúde, transporte e outros serviços) que os governos cortaram pontos e atacaram o direito de greve de tantas categorias do funcionalismo no semestre passado. Têm esse mesmo sentido os processos, demissões e punições a estudantes e trabalhadores da USP, que só vão aumentar, começando pelas recentes retaliações a essa greve, como a suspensão de Patrícia. Têm esse mesmo sentido todos os ataques à qualidade de ensino na universidade: Rodas, por exemplo, acabou com a recontratação automática de professores que morram ou se aposentem, o que vai lotar ainda mais as turmas e acabar com matérias e cursos.

Para combater esses ataques na USP, devemos seguir com o espírito de luta, entendendo que agora nada é mais fundamental do que combater as retaliações com que a reitoria quer pôr fim a nossas lutas. Mal acabou a greve e, além da suspensão contra Patrícia, já foram reabertos 11 inquéritos judiciais contra diretores do nosso sindicato. Precisaremos nos reorganizar para lutar contra isso, construindo atos e paralisações até que as punições sejam revogadas e as perseguições parem, e uma grande campanha, desde o sindicato e de toda a categoria, em defesa do direito de greve e dos que lutam em defesa da universidade.

Além disso, essa luta não é somente nossa e, por isso, é preciso que nosso sindicato siga fazendo chamados a outras categorias que também estão sendo atacadas e à central sindical à qual é filiado, a Conlutas-CSP, para uma luta em comum que, neste momento em que se começa a falar somente das eleições, construa a unidade de todas essas categorias e sindicatos numa campanha em defesa do direito de greve, contra todas as punições e perseguições aos lutadores, que só aumentarão com o aprofundamento da crise no Brasil.

E, nas universidades estaduais, é preciso dar continuidade aos exemplos dos setores que estiveram em luta e à aliança que se forjou entre os trabalhadores da USP, estudantes das estaduais – como em Marília –, funcionários da UNICAMP que fizeram sua maior greve contra a posição do sindicato aliado de Lula, e valiosos (ainda que poucos) professores que estiveram na luta. Essa aliança não deve se encerrar com a luta que se fechou, e será fundamental para resistir às punições e retaliações que já começaram. É preciso unificar estudantes, trabalhadores e professores combativos para enfrentarmos um poderoso inimigo que temos em comum, defendendo o interesse geral de boas condições de trabalho, uma boa educação e uma universidade que sirva à população, contra os ataques que aumentarão na crise, ameaçando inclusive nossos empregos!

Comissão de Funcionários da FFLCH

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