"Civita compra Anglo e fará mais aquisições" Por Beth Koike e Cynthia Malta - Reproduzido do Valor Econômico Em uma transação de apenas dois meses, a Abril Educação adquiriu 100% do Anglo, conhecido pelos seus sistemas de ensino e curso pré-vestibular. A negociação é o pontapé inicial da Abril Educação para uma fase de fusões e aquisições de empresas ligadas à área de ensino. A compra do Anglo foi feita pela família Civita e não pela Abril S.A. Em janeiro, a Abril Educação foi separada do grupo, que continua tendo o sul-africano Naspers como sócio, com 30%. Hoje as editoras de livros didáticos Ática e Scipione e os sistemas de ensino Ser e Anglo pertencem a Roberto Civita e seus três filhos. Ao adquirir o Anglo, a Abril Educação deixou para trás concorrentes de peso como a inglesa Pearson, dona do Financial Times, e a espanhola Santillana, que também disputaram a empresa brasileira, considerada uma das mais renomadas entre os sistemas de ensino. "A participação dos grupos internacionais deixou o jogo mais emocionante. Vou ligar para a Marjorie [Scardino, CEO da Pearson]", disse, sorridente, Roberto Civita, presidente do conselho de administração do grupo Abril. O contato com a sua colega Marjorie não é à toa. Em 2008, a Pearson tentou comprar, sem sucesso, as editoras Ática e Scipione e agora perdeu a disputa para a Abril. O valor da transação não foi divulgado. Segundo o ex-sócio do Anglo Guilherme Faiguenboim, o Crédit Suisse avaliou a empresa em R$ 600 milhões, mas o mercado é unânime em afirmar que esse valor é muito alto. Segundo estimativas feitas pelo consultor especializado em educação, Ryon Braga, a transação saiu, no máximo, por R$ 450 milhões, considerando que o Anglo faturou R$ 150 milhões em 2009 e a margem lajida (ou ebtida) é de 50%. "O mercado não paga mais do que seis vezes o ebtida para uma instituição de ensino", diz o consultor. "Mas pode ter chegado até R$ 450 milhões porque o Anglo é a bola da vez. É uma das últimas empresas de sistemas de ensino que não estavam nas mãos de grupos consolidadores", observou Ryon. Com o Anglo, Civita comprou também cursinho para vestibular e para concurso público. Abertura de capital A Abril Educação entra para o grupo das cinco maiores empresas de sistemas de ensino do país, com mais de 330 mil alunos. Até então, a Abril tinha 85 mil alunos usando as apostilas do sistema Ser. Seus principais concorrentes são Positivo, Objetivo, além do COC e Pitágoras. Estas duas pertencem, respectivamente, a SEB e Kroton, que já estão na bolsa. "Com o Anglo vamos entrar na área pública, onde o Ser não atuava. Existe um grande mercado a ser explorado", disse Manoel Amorim, novo presidente da Abril Educação. Ele, que estava na instituição americana Laureate até maio, teve como primeira missão comprar o Anglo. "Nossa meta é aumentar, em cinco anos, a atual receita de R$ 500 milhões para R$ 2,5 bilhões, o equivalente ao faturamento da Abril", disse Civita, que recebeu a reportagem do Valor na tarde de ontem [12/7], ao lado de Amorim, na sede do grupo Abril. Para atingir esses patamares, a Abril Educação inicia um forte processo de expansão, que inclui mais aquisições e eventuais fusões. Estão no foco ensino profissionalizante, idiomas e ensino à distância. "A ideia é diversificar nossa atuação", disse Amorim, que já está em conversações para fechar um novo negócio, a ser concluído ainda neste ano. A operação do Anglo dentro da Abril será comandada pelo próprio Guilherme e seu filho Assaf Faiguenboim, que foram contratados como executivos da Abril. O outro sócio, Emílio Gabríades, vendeu sua participação de 50% e saiu totalmente do negócio. A outra metade estava dividida entre Guilherme e sua irmã. Outro projeto que pode ajudar a Abril Educação a aumentar sua receita em cinco vezes é um IPO (oferta inicial de ações). "Achamos que podemos nos financiar, abrindo o capital", diz Civita. E ir à bolsa tendo o estrangeiro Naspers como sócio não seria possível. Amorim observou que o IPO poderá ser feito bem antes de a empresa chegar a um faturamento de R$ 1 bilhão. *** Com Naspers, grupo vai focar em mídia e internet Com a compra do Anglo, o Grupo Abril, o maior do país no setor de revistas, tem nova configuração e nova estratégia. Sem a área de educação, que fica nas mãos da família Civita, o grupo foca em mídia e internet, com planos de expandir as áreas de distribuição e gráfica. "O Naspers, nosso sócio, não quer investir em educação. Ele quer mídia e internet. Com a separação, podemos fazer as duas coisas", disse ao Valor o presidente do conselho de administração do Grupo Abril, Roberto Civita. O grupo de mídia sul-africano Naspers, que ficou com 30% da Abril em 2006, comprou no terceiro trimestre do ano passado 91% do site de comparação de preços Buscapé, por US$ 342 milhões. Nos últimos quatro anos, o sócio da Abril já investiu mais de US$ 800 milhões em aquisições no Brasil. Brilho nos olhos Para Roberto Civita, o futuro das publicações impressas – revistas ou jornais – passa pela internet. Mas países em desenvolvimento como Brasil, China e Índia, ainda há muito espaço a ser explorado pela mídia impressa. "O Brasil vende duas revistas per capita/ano. Em país de primeiro mundo essa relação é superior a 20", diz Civita, que não abre mão de imprimir em seu cartão de visitas o cargo de "Editor de Veja". Essa é a revista semanal mais vendida no país e significa 40% do negócio de revistas da Abril. Tamanha dependência, diz o empresário, só será reduzida com o lançamento de novas revistas. Neste ano foram lançados dois títulos: Minha Casa e a feminina Máxima. As duas são dirigidas para a classe média emergente. A primeira, que fala de decoração, teve todos os 250 mil exemplares da primeira edição vendidos. Em agosto deve começar a circular a masculina Alfa, mais sofisticada do que a Playboy. E até o fim do ano, mais uma feminina deve chegar às bancas. Os olhos de Civita brilham quando o assunto é "revista". Lembra-se que tem dados fresquinhos na sua sala. Quando volta, traz um papel: a audiência total da Abril é de 42 milhões de pessoas – 21 milhões leem revista e não acessam sites do grupo; 14 milhões não leem revista, mas acessam os seus sites e 7 milhões fazem as duas coisas. "Você vê? Estamos em um mundo novo!". (CM e BK) |
quinta-feira, 29 de julho de 2010
A educação é mercadoria no Brasil!
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